Faculdade de Jornalismo: O Último Ano

Em um ano bastante difícil, a concretização de um sonho que me acompanha há muito tempo

Alan Alexandrino
Foca em Formação
11 min readDec 31, 2018

--

A pergunta feita pela professora do primeiro ano do ensino fundamental começou a ser respondida pela primeira fileira da sala. Eu estava na terceira. Não lembro a resposta de ninguém, mas me recordo que, até aquele momento, nunca havia pensado seriamente no que queria ser quando crescer.

Naquela época, eu já havia cogitado seguir algumas profissões. Não muitas, é bem verdade. A ideia de que eu poderia ser o que quisesse, bastando apenas me esforçar para tanto, abria um leque gigantesco de opções.

Antes de chegar na minha vez de responder a questão da professora Miriam, da EMEF Marina Vieira de Carvalho Mesquita, tive um tempo para pensar.

Não levava jeito para aquilo que a minha mãe imaginara anteriormente, talvez, que era ser cantor (devia ser isso). Minha voz até então fina logo me fez desistir de seguir essa carreira, reservando-me apenas à intimidade de minha casa cantar os clássicos sertanejos.

Chegou a minha vez. Respondi, no susto: bombeiro.

A questão foi adiante com os demais colegas de turma.

Desde então, comecei a pensar melhor sobre aquela pergunta, que muitos dos meus amigos demorariam anos para responder.

Pouco tempo depois daquela resposta repentina, descobri que a minha vocação não era a de salvar vidas. Ou não exatamente da maneira militar da coisa. Talvez salvasse vidas, mas de outra forma.

Sempre gostei bastante de comunicação. Não que eu fosse alguém muito comunicativo, mas me fascinava os bastidores da televisão, do rádio e do jornal. Estar presente onde a notícia acontece. Ir atrás dela e tudo isso. Gostava também de entender os padrões da comunicação: por quê tal coisa é assim, por quê não é, enfim.

Apesar de nunca ter sido um leitor muito assíduo, eu era um aluno esforçado. Aos poucos, comecei a me interessar por história e notícias factuais, mesmo os meus pais nunca terem sido tão atualizados e interessados nesse sentido.

Naquela época, comecei, na minha mente, a criar uma emissora de TV fictícia e, posteriormente, a criar os meus próprios jornais, dobrando papéis-sulfites ao meio. O primeiro, o “Agora”, com preço de capa simbólicos R$ 0,50. O pequeno jornal, com notícias, jogos e piadas, teve poucas edições e perderam-se após alguma faxina da minha mãe. Ou ainda na nossa mudança de endereço.

Não tinha outra: decidi ainda jovem o que queria ser. Jornalista!

Preparei-me, desde então, para a profissão. Depois da bem-sucedida (pelo menos para mim. Na verdade, nem tanto) experiência com o jornal “Agora”, criei outras publicações. Algumas, em especial, guardo até hoje: “Os Números do Brasileirão 2006”, com edições posteriores dos dois campeonatos seguintes. A minha fictícia editora também lançou outras revistas sobre a tabela de jogos do Campeonato Paulista de 2007 e a de jogos do São Paulo em uma edição da Libertadores.

Eu comprava muitas edições do Diário Lance!. Não tanto quanto eu queria, mas em situações especiais era quase certeza que eu passaria na banca e comprava o diário por, na época, R$ 1,25.

Aos poucos, acumulei uma considerável coleção de jornais, revistas, DVDs e álbuns de figurinhas. Com tudo isso, eu aprendi para caramba sobre esportes e também sobre o jornalismo e comunicação em geral.

Com o passar dos anos, ser jornalista tornou-se uma obsessão e um sonho relativamente distante. Tive muitas incertezas, relacionadas a motivos financeiros e até mesmo pela falta de incentivo dos meus pais. Mas, por outro lado, tive o apoio de muita gente: outros parentes, de amigos e professores.

Terminei o ensino médio com desconfiança e incerteza pessoal sobre o futuro. Precisava trabalhar e, durante onze meses, fui atendente de telecobrança como Jovem Aprendiz. Por esse período, tive ao lado grandes pessoas que me deram um rumo naquilo que eu almejava para minha vida.

E, então, mesmo com todas as dificuldades, fiz a minha matrícula na faculdade. Não sabia quanto tempo seguiria no curso, mas eu, pelo menos, estava tentando.

E finalmente consegui.

O Sétimo Semestre

O ano de 2018 marca o ano do temido Trabalho de Conclusão de Curso (also known as Projeto Experimental).

Por conta disso, todos os eventos do ano estavam relacionados ao trabalho que coroa quatro anos de faculdade.

No primeiro semestre do ano, o penúltimo do curso, foi de certa forma tranquilo. De minha parte, já tinha em mente o que queria tratar no meu TCC.

Ah, nesse ano eu cobri dois eventos relacionados ao jornalismo e que me proporcionaram um texto assinado no site Casa dos Focas, voltado a estudantes de jornalismo. O primeiro, o Encontro de Jornalismo da Folha de S. Paulo e o segundo, o Troféu Mulher Imprensa.

Das matérias da faculdade, nenhuma assim tãaao diferente. Tivemos Técnicas de Documentário, por exemplo, que já tivemos algo semelhante em um semestre passado. Desta matéria, destaco em especial o curta que fizemos no período.

Livro-Reportagem e Jornalismo de Revista, Infografia, Jornalismo Integrado, Jornalismo Investigativo, e Ética e Legislação em Comunicação foram as outras cinco matérias do semestre.

Neste período, tivemos que trabalhar na definição do tema e no pré-projeto. O meu tema foi o acidente com o avião da Chapecoense em 2016 e, como assunto, o jornalismo nessa tragédia, que foi também a maior da imprensa brasileira. Como o TCC de jornalismo na Universidade Paulista é individual, não pensei duas vezes e, como produto, escolhi livro-reportagem.

Durante as férias, confesso, deixei um pouco de lado o TCC. Já havia feito muita pesquisa na virada e começo de ano, o que me deixou tranquilo nesse momento. A realização da Copa do Mundo de Futebol, por exemplo, foi um dos motivos que foram responsáveis por deixar um pouco de lado o meu trabalho. Foi um erro, óbvio. No segundo semestre — um tenso segundo semestre — , tive que correr como nunca atrás das histórias e, por pouco, a conclusão do meu trabalho não ficou em risco.

O Oitavo Semestre

Último semestre, finalmente. Diga-se, eu gosto muito da faculdade. Além de estar no ambiente acadêmico, a companhia e a amizade dos meus amigos fazem toda a diferença na construção de alguém que reconhece avanços sociais e de pensamento. Passados quase quatro anos, sou uma pessoa muito melhor do que eu entrei.

O ano de 2018 foi bastante desafiador em diversos sentidos. Particularmente, estive diante de decisões que nunca antes havia estado. Recebi uma proposta de emprego em uma Assessoria de Imprensa. Optei por mudar de emprego, após exatos três anos em uma agência de marketing digital.

Toda essa mudança foi importante na minha vida. Posteriormente, recebi uma outra proposta, agora para voltar para a mesma agência, porém com outra função. A proposta foi muito boa e decidi retornar.

Tudo isso aconteceu em um único ano. Um desafiador 2018, como dito acima. Mas que, apesar de tudo, me fortaleceu bastante.

Na faculdade, tínhamos a noção do tamanho de tudo isso e da responsabilidade que cada um levava. Tornamo-nos mais próximos do que nunca e, aqueles que há três anos faziam parte de um grupo de quase cem pessoas e que, naquele momento, eram 20, ajudaram uns aos outros e fecharam o curso de forma muito otimista.

Em relação às matérias (sim, tivemos!), foram Regulamentação em Comunicação, Seminário de Atualidades Jornalísticas, Tópicos de Atuação Profissional e Edição Jornalística, além de Jornalismo Aplicado ao TCC (que é a matéria voltada para o temido trabalho).

Este segundo semestre de 2018 também nos reservou a participação no exame governamental que avalia a qualidade do ensino superior, que é o ENADE. A prova foi realizada no final de novembro, e foi, até certo ponto, tranquila.

Queria ter ido à Chapecó, em Santa Catarina, para poder ampliar a pesquisa do meu TCC. Porém, em questões relacionadas a falta de tempo e de respostas do clube, tive que cancelar essa minha ideia.

Entretanto, consegui grandes entrevistas para a execução do meu trabalho: estive na sede da ESPN Brasil e do Fox Sports em São Paulo, por exemplo.

Falei com pessoas que eu admiro muito e consegui fazer algo que me orgulha demais. Cara, imagina a minha emoção ao ver pessoalmente o narrador e jornalista Rafael Henzel, sobrevivente da tragédia. Ainda me arrepio e me emociono ao lembrar.

Com o risco de não concluir meu TCC a tempo, por pouco quase não fui para banca. Tive dificuldades para organizar informações, mas consegui. Por exemplo, a uma semana da entrega, escrevi como nunca na vida.

Mas consegui terminar a tempo para apresentá-lo à banca, naquele 10 de novembro, que se tornou o dia mais feliz da minha vida. Além de ficar emocionado e não terminar como queria a apresentação do livro, aquele sábado foi um dia espetacular com os amigos e professores.

A nota — muito melhor do que eu imaginava (um louvável 9) — foi o de menos. Não por arrogância ou desprezo, mas por todo o contexto que aquele trabalho gerou, me trazendo algo que não se mede por um número. Fiz meus professores e colegas se emocionarem. Vi pessoas que eu pouco falava dizer coisas sobre mim que são incríveis. Isso tudo é impagável.

Não sabemos como será o futuro. Mas tudo aquilo que fizemos valeu muito a pena!

Com exceção de alguns detalhes burocráticos (a colação de grau e o registro profissional, em especial), podemos dizer que, neste momento, somos jornalistas! Sem asteriscos, reticências ou poréns, mas sim diplomados.

Se me fosse dada outra oportunidade de responder a professora Miriam lá no início dos anos 2000, não faria diferença responder outra coisa se não aquilo que de fato eu respondi, simplesmente por poder dizer que “desejo ser jornalista desde que me entendo por gente”, por exemplo.

Nessas mesmas perguntas que me faziam quando menor, eu já declarei torcer por um time de futebol completamente diferente daquele que eu escolhi torcer anos depois. E isso é o de menos. Mas trabalhar com comunicação, sim, é algo que vem de muito tempo.

Esses momentos me marcam até hoje porque sempre fiquei receoso em não ser leal aquilo que eu havia dito na frente de uma professora. Bobagens, eu sei.

Tenho vontade de reencontrar meus professores para contá-los sobre o rumo que a minha vida tomou. Às professoras Vera e Maria, do EMEI Cruz e Souza, das professoras Miriam, Eva, Adriana e Regina, do Fundamental I.

Dos demais professores do Fundamental II no EMEF Professor Mário Schonberg, que, por serem muitos, infelizmente, não lembro o nome de todos, mas que foram tão importantes no meu processo de aprendizagem.

Neste momento, posso citar o professor Paulo Marcos, que, numa conversa com um Alan que estava mais do que nunca desiludido e desesperançoso, foi franco comigo e “mandou a real” sobre quem eu era, e do meu potencial.

Posso lembrar e reverenciar também os professores do EE Lauro Pereira Travassos, uma escola que, confesso, não ter gostado de ir a primeira vez, mas que me foram essenciais para a construção de uma visão de mundo sólida sobre os problemas da sociedade e das dificuldades gerais, e que, apesar de tudo, eu pude superar.

Novamente, é injusto citar apenas alguns nomes de tantos que me foram tão incríveis, mas preciso fazer essa pontuação em relação ao professor José Maria Cravo, de matemática, que, entre as equações de primeiro e segundo grau, era uma pessoa que sempre me indicava conteúdo a mais relacionados a história e política e que debatia sobre esses assuntos comigo. Ele, simpático ao governo no poder na época. Eu, critico.

Ah, também ao “tio” Walter, que era o motorista da van que me levava para a escola no Ensino Fundamental. Entre os assuntos que variavam entre política e futebol, foi um grande professor para mim, lá com os meus onze/doze anos.

Aos amigos e professores do Instituto Profissionalizante Paulista, em especial aos professores Cristiane e Maureci.

Aos colegas de todos esses momentos. Às minhas “crushes” (se é que esse termo existe no plural) que foram responsáveis por muitas desilusões e corações partidos. Aos familiares que me apoiaram e apostaram em mim.

Aos meus amigos/irmãos da faculdade. Aos professores da Universidade Paulista, em especial à minha orientadora Luiza Villaméa e ao professor Eduardo Marcos, que foi importante para iniciar o meu tema de TCC.

Parte da #turma2018 de jornalismo

Aos meus amigos/irmãos das empresas que trabalhei (Mango Digtial/CRP Mango/Time Comunicação), assim como aos meus chefes, que sempre acreditaram em mim e foram tão flexíveis em relação a faculdade.

E amigos, são muitas pessoas para lembrar e agradecer nessa conclusão de um grande objetivo. Tenho certeza que serei injusto ao não citar todos, mas quero, de forma geral, dizer que todos foram extremamente importantes nessa fase da minha vida.

Obrigado!

Os meus objetivos com estes textos anuais são, basicamente, dois: ajudar aqueles que têm dúvidas sobre a faculdade e sobre a Universidade Paulista, que era algo que eu tinha antes de entrar, e que, graças a uma sequência de textos nessa linha, me ajudou a definir a minha escolha. E, em segundo lugar, fazer uma reflexão sobre esses anos. Eu sou apaixonado por jornalismo e quero, de alguma forma, registrar estes momentos, mesmo que resumidamente.

O jornalismo em todo o mundo está passando por momentos complicados. Não que antes fosse mais fácil, mas a profissão corre riscos ainda maiores pela falta de oportunidades nas redações e pela ameaça constante à liberdade de expressão.

Fazer e concluir a faculdade de jornalismo são atos de resistência e de amor.

Não me vejo fazendo outra coisa se não algo relacionado à comunicação. Tenho muito orgulho desses últimos quatro anos e por aquilo que eu alcancei.

Que venham as novas oportunidades!

Se você quiser tirar alguma dúvida sobre jornalismo, quer indicações de livros ou algo nesse sentido, me escreva. ;) Estou nas redes sociais como @AlanSousa01 (principalmente no Twitter, que sou mais ativo) ou no e-mail alansousa@yahoo.com.br, além do meu blog, que pretendo dar continuidade: www.oalanbrado.com.br.

Obrigado pela leitura! Nos vemos e deixo aqui um forte abraço!

PS.1: Este é o quatro e último texto de uma série sobre os anos da faculdade de jornalismo, que cursei na Universidade Paulista. Se não viu os anteriores ou quer reler, veja o primeiro, segundo e terceiro.

PS.2: O meu livro-reportagem do TCC tem como título “Aos que Contaram as Histórias — A Imprensa na Maior Tragédia do Jornalismo Brasileiro”, que traz um olhar de como o jornalismo atuou naquela que foi a maior tragédia da profissão no país. O acidente com o avião que levava a equipe da Chapecoense para a final da Copa Sul-Americana em 2016 vitimou 71 pessoas, sendo 20 profissionais da imprensa. No livro, há entrevistas com a jornalista Lívia Laranjeira, a primeira repórter brasileira a transmitir informações do caso diretamente da Colômbia; do jornalista Guido Nunes, que esteve envolvido em um momento bastante simbólico para o jornalismo; e o narrador Rafael Henzel, único jornalista sobrevivente. Preciso fazer uma última revisão do texto e tenho o objetivo de divulgar o livro na internet. Aviso quando estiver disponível.

--

--