Falta clara

Vinícius Nascimento
Galo de Kalsa
Published in
6 min readNov 20, 2019

O Tottenham jogou sua gratidão no lixo ao demitir Pochettino de maneira tão rude

Neste exato momento, às 19h40 do dia 19 de novembro de 2019, a palavra “Tottenham” está nos Trending Topics do Twitter no Brasil. Cinco anos atrás isso seria simplesmente inconcebível, exceto em caso de alguma tragédia, meme ou coisas afins. O elo que mudou tudo isso e fez com que o Tottenham fosse pautado a mais de 6 mil quilômetros longe do velho White Hart Lane é um só. Você sabe de quem eu estou falando.

De uma forma tão abrupta quanto escrota, a passagem de Mauricio Pochettino no Tottenham acabou. Ou melhor, foi encerrada. Em números, foram 293 jogos, com 159 vitórias, 62 empates e outras 72 derrotas. O aproveitamento é de 54,3%. Contudo, o Pochettino fez no Tottenham não pode se resumir à frieza dos números, por mais aquecidos que o argentino tenha conseguido torná-los.

Pochettino desembarcou em Londres prometendo dar tudo para nos fazer orgulhosos e orgulhosas desse time novamente. Palavras dele cumpridas de uma forma encantadora. Aliás, Mauricio, você entregou muito mais. Além do orgulho, nos deu possibilidades de sonhar como há tempos não se via. Nos fez agressivos, ousados, inquietos e cada vez mais apaixonados. Cada vez mais apaixonantes.

A demissão de Pochettino foi um erro grosseiro do clube com sua própria história. De fato, treinador e elenco estavam em um desgaste ascendente. As coisas dentro de campo não estavam funcionando desde o final da última temporada, mas os feitos do time na Liga dos Campeões serviram para maquiar as coisas. Mas, porra, quem além de você nos daria uma maquiagem tão bela, Mauricio?

Escrevendo esses rabiscos, me pergunto se de fato se tratou de maquiar as coisas com aquela epopeia. Fico, pois, na dúvida de saber se não foi justamente o contrário. Você nos desmascarou. Mostrou que a diretoria do clube fez um trabalho administrativo absurdo, mas não te deu quase nenhuma peça para jogar num nível tão alto. E mesmo assim você fez o time jogar.

Foram cinco anos se virando com o que tinha e fazendo mágica com esses arremedos, como um verdadeiro artista de rua. Como é possível motivar um mesmo grupo por cinco anos? No futebol atual, é impossível. Mas essa foi a condição que lhe foi imposta e uma hora isso se tornaria insustentável.

Mesmo assim, você foi uma das peças que se negou a dar o braço a torcer. Sequer perdeu o brilho nos olhos, por mais sem graça que estivesse na hora de enfrentar as câmeras durante o jogo ou entrevistas coletivas. A imprensa inglesa aponta que Daniel Levy o forçou a pedir demissão, coisa que você não fez. Não era sua vontade sair. Ainda mais pela porta dos fundos. Isso está claro.

Nesse mesmo balaio de hombridade, coloco gente como Danny Rose e Harry Kane, que mesmo nos piores dias, deram de tudo para não deixar a peteca cair. É foda ver que o dono do clube, Daniel Levy, preferiu bancar quem não está nem aí pro clube e vive abrindo a boca para dizer que quer ir embora (sim, Eriksen, você mesmo) em detrimento do nome que liderou a sua própria ascensão. O mesmo Levy que era a favor da manutenção de Sherwood antes de sua chegada.

O mesmo cara que fica numa pão-durice desgraçada em toda santa janela de transferências e agora vai ter que pagar quase 20 milhões de euros para bancar a sua rescisão e da sua comissão técnica, Mauricio. Ah, por este valor, o clube compraria os direitos de imagem de Paulo Dybala, que você pediu no início da temporada e a Juventus aceitou negociar.

Eu imagino a merda que deve ser para motivar um elenco composto por basicamente as mesmas pessoas durante cinco anos. Jogadores que não recebem tanta grana quando comparado a seus colegas de liga e que jogam muito mais. Ora, porra, até um dia desses Kane recebia menos que DARMIAN!!

Mesmo que recebessem montantes de grana, é impossível, no futebol, gerir tanta gente por tanto tempo no mesmo lugar. O Real Madrid tricampeão da Champions League e sua última temporada ridícula não me deixam mentir.

Por essas e outras eu digo que Tottenham rasgou a própria grandeza ao demiti-lo de maneira tão brutal, Mauricio. É bem verdade que seu ciclo estava se fechando — mas por tudo que você fez era obrigação do clube esperar que ele se fechasse. O seu legado é justificativa única e preponderante.

My magic, fuiste nuestra revolución.

O correto era esperar o final da temporada para acabar o vínculo. Que lhe fizessem festas, agradecimentos e tudo que você merece por ter transformado essa bosta em alguma coisa. Independente do que acontecesse na temporada, o respeito que esse clube te deve tem que ir além de uma aspa do dono do clube em sua nota de demissão, Mauricio.

Nos bastidores deste site, cinco membros eram a favor de sua manutenção. Óbvio, com restrições. A principal delas, um choque de gestão no elenco.

Por conta de tudo que você construiu, era possível esperar até janeiro para saber o que você faria. Afastaria alguém? Tentaria subir alguém da base? Contratar alguma peça? Essas perguntas ficarão sem resposta.

Ah, apenas duas pessoas aqui do Galo votaram a favor de sua demissão imediata. Mauricio, você foi vítima de seu próprio sucesso.

Ingratidão!

por Laura Ferre

Existem duas palavras que não podem ser vistas juntas: “gratidão” e “Tottenham”.

De fato, não se pode dizer que Pochettino teria um cargo vitalício, principalmente no futebol, mas ir embora de forma tão vaga e fria?! Isso não combina com o técnico que levou os Spurs a um lugar que nem o mais fanático torcedor imaginaria.

Poch nos prometeu e cumpriu. Poch nos fez sonhar novamente. Poch nos fez ver algo que há muito tempo não se via no futebol; um técnico que sente, que vibra, que chora. Poch nos mostrou toda sua raça de um zagueiro que nunca desiste da jogada. Poch nos mostrou toda paixão argentina.

Apesar de tudo, Mauricio, sua demissão não me surpreende. Você foi embora em sua própria grandeza. Tem uma coisa que me marcou muito… lembra da palavra “gratidão”?

Foi a que eu mais li ao ver a escalação daquela final de Champions sem Lucas Moura titular. Talvez, para grande parte dos brasileiros, torcedores ou não, você tenha se queimado na escalação ou qualquer coisa do tipo. Mas sabe o que eu acho? Que você foi o único capaz de levar (ou chegar perto) esse time à glória.

Há apenas uma palavra para seu legado cortado na frieza de uma nota oficial: Obrigada. Mauricio. você é gigante. Espero que nos encontremos em breve.

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