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10 livros que li no primeiro semestre de 2024 e que podem te interessar

Leonardo Fuita
Escrevendo a vida
Published in
8 min readJul 1, 2024

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Da mesma maneira que fiz nos últimos anos (2018.1; 2018.2; 2019.1; 2019.2; 2020.1; 2020.2; 2021.1; 2021.2; 2022.1; 2022.2, 2023.1, 2023.2), vou compartilhar os livros que li no semestre através desse post. A ideia é fazer pequenas resenhas de todos eles e tentar indicar algo interessante para todo mundo que me lê por aqui. Está na ordem de leitura que eu tive no ano. Então vamos lá:

01. Comporte-se: A biologia humana em nosso melhor e pior — Robert M. Sapolsky / Nota: 10

Somos capazes de cometer atos terríveis de violência, mas também de agir de forma igualmente bondosa e empática uns para com os outros. Neste livro, Sapolsky explora as diferentes camadas que compõem cada um dos comportamentos humanos, buscando entender como nosso cérebro evoluiu em paralelo com a cultura — e como essa complexa dinâmica ajuda a definir os impulsos que nos moveram ao longo da história.

Esse livro é uma puta de uma aula. Consegue tirar uma série de concepções que nós, leigos, temos sobre o nosso funcionamento e em nenhum momento tenta simplificar coisas que não são simples, um pecado que muito livro desse tipo comete. É um livro bem grande, mas acho que vale cada página por conta de tanta informação, falando sobre o nosso cérebro e a associação com a agressividade.

02. Neuromancer (Trilogia do Sprawl Livro 1) — William Gibson / Nota: 5

No futuro, existe a matrix. Uma alucinação coletiva digital na qual a humanidade se conecta para saber de tudo sobre tudo. Mas há uma elite que navega por essa rede de informação — os cowboys. Case era um deles, até o dia em que tentou ser mais esperto do que os seus patrões. Eles fritaram suas conexões, tornando-o um pária entre seus iguais. Ele vaga pelos subúrbios tentando destruir a si próprio, até ser contatado por Molly, uma bela e perigosa mulher que desconfia de tudo e de todos. Os dois acabam se envolvendo numa missão cheia de mistérios e perigos.

Eu juro que entendo a importância dessa obra, mas infelizmente ela não me pegou. É tudo confuso demais com uma história que em nenhum momento conseguiu me prender. Os personagens carecem de carisma e as resoluções dos conflitos são baratas e simples. Quem sabe em uma segunda leitura eu consiga aproveitar mais, já que não foi dessa vez que eu consegui curtir essa história.

03. Peles Negras, Máscaras Brancas — Frantz Fanon / Nota: 8

Fanon se apresenta como uma interpretação psicanalítica da questão negra, tendo como motivação desalienar pessoas negras do complexo de inferioridade que a sociedade branca lhes incute desde a infância. Assim, descortina os mecanismos pelos quais a sociedade colonialista instaura a interiorização de uma inferioridade associada à cor. Não se compreende a questão negra fora da relação negro-branco.

Meu único problema com esse livro é quando ele entra com tudo na psicanálise. De resto, é um livraço que nos apresenta uma série de análises sobre a questão da inferioridade cultural da população negra, mesmo quando mais escolarizada e mais influente do que sua contraparte branca. Uma aula de como isso afeta não só a maneira como o mundo é, como também a subjetividade de cada pessoa. É bem diferente de tudo que já li, mas para mim só engrandece a mensagem que está tentando passar.

04. Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico — Friedrich Engels / Nota: 10

Em três capítulos, Engels aponta a distinção entre o método científico do marxismo e os pensamentos socialistas anteriores. A primeira parte da obra é dedicada ao socialismo utópico, ainda focado na mudança de mentalidade para a superação das relações de produção sem considerar as bases materiais. O segundo aponta a importância da dialética, que permite uma interpretação dos movimentos e transformações da natureza. Por fim, o autor apresenta sua visão materialista da história, com embasamento econômico, descrevendo o funcionamento do capitalismo.

Eu acho esse livro muito didático. Não sei se é por conta das outras leituras e o que eu assisti antes, mas ele explica muito bem como o socialismo saiu da utopia para chegar na materialidade. Os conceitos são claros e a leitura é bem mais simples do que a maioria dos textos marxistas que tive contato. Talvez seja uma boa para iniciar nesse tipo de leitura.

05. A era do Capital Improdutivo: a Nova Arquitetura do Poder, sob Dominação Financeira, Sequestro da Democracia e Destruição do Planeta — Ladislau Dowbor / Nota: 10

Ladislau investiga como a riqueza do mundo é capturada pelos bancos. Ele revela os mecanismos usados para exercer o poder político diretamente e influenciar as principais decisões dos poderes públicos. Destrinchando como a financeirização dilacera as economias no Brasil e mundo afora ao forçar os governos eleitos a cumprir agendas refutadas pelas urnas. Sobretudo quando desviam o orçamento público para pagamento de juros da dívida, engordando as forças do capital financeiro em detrimento de políticas públicas.

Essa talvez seja um dos livros mais didáticos que eu já vi falando sobre como o sistema financeiro e outros intermediários sugam a produtividade da economia dos países. Explicando de maneira simples como esse complexo sistema se organiza para manter e aprofundar as desigualdades que vivemos hoje. E nos mostrando definitivamente como ele é talvez o maior cancêr da sociedade moderna.

06. Prelúdio à Fundação — Isaac Asimov / Nota: 7

O Império Galáctico é uma extraordinária conquista da humanidade, abrangendo 25 milhões de mundos. Trantor, sua capital, é uma metrópole em torno da qual orbita uma civilização avançada e complexa. Mesmo assim o imperador Cleon I sente seu poder ameaçado e busca a todo custo se antecipar a qualquer situação de perigo. Quando o jovem matemático Hari Seldon chega à cidade para divulgar sua psico-história o imperador encontra nele a garantia de sua segurança e posição. Em pouco tempo, Seldon se torna o homem mais procurado da Galáxia, e enquanto luta para impedir que sua teoria caia em mãos erradas, começa a vislumbrar a chave para o futuro.

O Asimov escreve muito bem. O problema é como ele usa o mesmo artifício narrativo para resolver o conflito final de muitos livros. Novamente temos um final messiânico onde tudo parece ser resolvido por esse artifício. Acho que esse livro é melhor que os outros porque é interessante o tempo todo, e apesar de mais uma vez apelar para o deus ex-machina no fim, consegue divertir até esse momento.

07. Social: Why Our Brains Are Wired to Connect — Matthew D. Lieberman / Nota: 10

Matthew explora a pesquisa sobre neurociência social revelando que a nossa necessidade de nos conectarmos com outras pessoas é ainda mais fundamental, mais básica, do que nossa necessidade por comida e abrigo. Por causa disso, nosso cérebro usa o seu tempo livre para aprender sobre o nosso mundo social — outras pessoas e nossa relação com elas. Acredita-se que precisamos de 10 mil horas para dominar uma habilidade, e de acordo com Lieberman, cada um de nós gastou 10 mil horas aprendendo a fazer as pessoas e grupos fazerem sentido, isso tudo até os 10 anos.

Esse é típico livro que todo mundo que adora o individualismo deveria ler. Já que por ele conseguimos entender algo básico mas que parece que está cada vez mais esquecido: somos um animal social. Mostrando porque evoluímos para isso e como as teorias mais atuais explicam essa nossa predileção. Além de ainda tocar em tópicos como aprendizado e como podemos usar essa nossa característica para aprimorá-lo.

08. Ordem Vermelha: Crianças do silêncio Vol. 2 — Felipe Castilho / Nota: 9

Raazi e Yanisha arriscaram a própria vida para revelar a farsa da deusa Una, na esperança de acabar com um sistema de servidão milenar. Esse feito foi o estopim de uma grande rebelião, que o exército maculado esmagou de forma violenta. Aqueles que conseguiram escapar de Untherak adentraram um deserto imenso, onde não parece haver nada além de areia. Porém, é nesse território inóspito que uma vingança vem sendo planejada há gerações pela última representante de um povo esquecido.

Livraço! Gostei porque cobriu não só a fulga de Untherak, como também a vingança dos refugiados na sua antiga casa. Nos apresentando novos ótimos personagens, um lore ainda mais rico que existia fora daquela redoma, e expandindo ainda mais esse universo. Acho que faltou um pouco mais de consequência e mortes na luta final, mas entendo que todo o resto é tão bem planejado que até faz sentido que não tenhamos perdido mais algum personagem importante. Preciso ver se a questão da voz de Harun tinha alguma lógica do primeiro livro, mas não é algo que prejudica em nada na conclusão.

09. Matéria Escura — Blake Crouch / Nota: 8

Jason Dessen se despede da esposa e do filho, e não olha para trás. Pouco tempo depois, raptado por um homem mascarado, Jason é levado para uma usina abandonada e deixado inconsciente. Quando acorda, um estranho sorri para ele dizendo: “Bem-vindo de volta, amigo.” Neste mundo, ele leva outra vida. Sua esposa não é sua esposa, seu filho nunca nasceu e, em vez de professor numa universidade mediana, ele é um gênio da física quântica que conseguiu um feito inimaginável. Será que é este seu mundo, e o outro é apenas um sonho?

Eu gosto como esse livro é competente em fazer reviravoltas. Todas são muito bem construídas e fazem com que você queira ver o que vai acontecer a seguir. Acho que o final é um pouco forçado, na parte da cabana, mas nada que prejudique a história bem contada. Os conceitos científicos são muito bem utilizados, e temos ótimos personagens. Vale a pena para quem gosta de ficção científica.

10. O descontentamento da democracia: Uma nova abordagem para tempos periculosos — Michael J. Sandel / Nota: 8

A tradição política que deu origem à maior economia do mundo é exposta de ponta a ponta nesse livro, desde as ideias que motivaram a Revolução Americana e a Independência, em 76, até o furor conspiratório que culminou na invasão do Capitólio, em 2021. O resultado é um texto de fácil leitura com argumentos baseados em uma pesquisa refinada. Sandel resume as principais questões que impuseram à democracia americana uma batalha entre as benesses do Estado de direito e o obscurantismo das redes de ódio, das fake news e da intolerância política.

O diagnóstico e a pesquisa são 10/10. Só que eu sinceramente cansei de livros de diagnóstico. Eu quero saber o que fazer. Ele até pincela isso, mas de uma maneira bem lateral e com pouquíssimas ações concretas. Ficando sempre em coisas etéreas que não parecem que vão ajudar de verdade. Ainda é um bom livro, mas me falta essa questão mais importante do que se pode fazer.

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