Dois meses antes do inverno, que agora chega

Daniel Muñoz
Nativo Estrangeiro
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3 min readJun 7, 2019

Quem lê esta carta já sabe, como já disse da última vez, que Nativo Estrangeiro é onde eu escrevo o que me é mais pessoal e diretamente relacionado à minha vida. Por isso estranhei em perceber que a última carta que mandei por aqui para esta publicação chegou às suas caixas de entrada no dia oito de abril, há quase dois meses.

Muita coisa definitivamente aconteceu, algumas que valem a menção e outras que não me darei ao trabalho. A maioria dos conteúdos que produzi neste período foi para Soixantaine, talvez por estar mais confortável falando de coisas que estejam um pouco mais fora da minha vida por agora.

https://medium.com/soixantaine

Estas últimas semanas traí o meu calendário editorial e deixei de publicar alguns dias previstos, simplesmente porque percebi que não havia muitos temas a falar que despertavam em mim vontade de escrever, aquela vontade similar à que eu tinha no começo desta empreitada pelo Medium.

Dizer isso não é dizer que escrever não me dá mais prazer, porém percebi que quanto mais fazemos algo, mais acreditamos que para continuar fazendo, precisamos estar constantemente subindo o nível. Engraçado que a chamada inspiração suma justamente quando deixei de escrever sobre coisas que não acredito, e passei a acreditar em coisas maiores a se produzir.

Leiam o poema de Emily Dickinson no meu texto abaixo e entenderão a referência desta foto conceitual que tirei.

Neste último mês de maio me peguei revendo um vasto conteúdo sobre depressão que produzi com um grupo de grandes amigos, percebi então que fazia já um tempo que não falava sobre este assunto que tanto apareceu nesta minha publicação. Entre novas palestras que assistia de Andrew Solomon, autor do Demônio do Meio-Dia, sobre o assunto, resolvi que deveria mais uma vez conversar sobre esta situação que Emily Dickinson metaforizou tão bem em seu poema, que aparece dentro do texto.

https://medium.com/nativo-estrangeiro/o-retorno-do-funeral-e-dos-quadros-em-branco-dcb5a15810af

A discussão eterna entre a salubridade de se tratar destes momentos melancólicos com a ajuda da produção artística ainda é bastante controversa e escrever sobre o assunto me permite continuar me questionando sobre esta questão, que provavelmente não tem realmente uma boa resposta ainda, como muitos outros fatores que concernem esta condição.

Ainda há espaço no mundo para coisas inalteráveis e ineditáveis?

Ainda em maio escrevi sobre a falta de valor do que se produz hoje virtualmente, que parece ter dissolvido a habilidade das pessoas de respeitar algo, já que hoje tudo pode sempre ser eternamente apagado e reescrito, ao gosto das defesas pessoais contra os tribunais alheios.

https://medium.com/nativo-estrangeiro/malabarismo-de-almas-virtuais-6b868aef350c

O valor documental da vida se perdeu quando fatos e opiniões passaram a se equivalerem, além das pessoas acreditarem que serem corrigidas e estarem erradas é a maior humilhação que podem ter. Os que não notam os absurdos por trás desta nova linha de pensamento, que muitos andam seguindo, me assustam profundamente.

A vontade de perfurar os céus continua uma obsessão destes seres humanos que habitam este pequeno planeta.

Abro então este mês de junho com uma reflexão sobre a felicidade real, além das ambições e arrogâncias da vida cotidiana. Me inspirei numa velha lembrança induzida da minha família recordando a minha incansável brincadeira no mesmo brinquedo de um parque aquático por todo um dia, como uma pequena loucura do meu pequeno ser, que talvez sabia mais de felicidade que o meu atual crescido ser.

https://medium.com/nativo-estrangeiro/a-perspectiva-do-olhar-humano-e66d7367c107

Com o inverno, chegou novamente um pouco de um tom de melancolia nas reflexões desta publicação, peço desculpas por isso, mas acredito que aqueles que leem o que eu escrevo, entendem também o valor de se falar sobre estes dias frios.

Carinho do seu ainda presente Nativo Estrangeiro

Daniel Muñoz

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Daniel Muñoz
Nativo Estrangeiro

Um dia jornalista, hoje historiador. Escrevo só sobre o que quero e quando acho que tenho algo a dizer. Para mim é importante a diferença entre Ochs e Dylan