Prólogo: Os nós na garganta que nos trouxeram até aqui

Considerações a respeito dos dois anos que passamos investigando uma morte

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Em um país que sofre à sombra da violência urbana e busca em políticos “linha-dura” soluções que historicamente já se provaram falhas, nada mais adequado que expor ao mundo a história de uma das 61.619 mortes violentas de 2016, que até então havia registrado o maior número de homicídios na história do Brasil, de acordo com dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Porém, essa não é apenas uma história de um assassinato. É um exemplo de como a brutalidade de um homicídio — com fortes indícios de feminicídio — pode ser ofuscada pela dificuldade que a polícia tem em investigar crimes hediondos. Essa é a história da maioria, a história dos 94% dos homicídios que não tiveram a sorte de serem solucionados.

Trata-se da morte de uma garota chamada Maiara Felisbino dos Anjos, enforcada, amordaçada e amarrada numa praia de São José (SC). Tivemos conhecimento desse caso por meio do noticiário, o qual explicava que o delegado responsável tinha fortes suspeitas de se tratar de um de suicídio. Mal lemos a palavra que se refere ao ato de tirar a própria vida e já estranhamos que o responsável pela investigação enxergou alguma possibilidade que não homicídio.

O lançamento do primeiro capítulo será no dia 17 de novembro, no aniversário de dois anos de seu falecimento.

Por quase dois anos investigamos essa triste história que, como qualquer relato brasileiro, começou com a pintura de uma vida prosaica, mas deslanchou para uma série de infortúnios e dramas complexos. Maiara morreu por motivos até hoje não esclarecidos. Seu corpo jazido na areia da praia é um inquérito de 94 páginas, um inquérito de dois anos, largado sobre a mesa de uma repartição pública. Em busca de maiores esclarecimentos para esta história, realizamos mais de oitenta entrevistas em cinco cidades diferentes. Nos aproximamos de família e amigos, tivemos acesso a documentos de quase toda sua trajetória, percorremos todas as cidades na qual viveu, tentando entender como uma garota tão mundana foi parar numa situação tão brutalmente idiossincrática.

Nesta série de reportagens que aqui lançaremos, nós, Matheus Vieira e Gabriel D. Lourenço, vamos destrinchar o processo de investigação que levou a polícia ao nada, e como, de alguma forma, Maiara, apesar de não ter se matado, pode ter facilitado sua própria morte. O lançamento do primeiro capítulo deste trabalho será no dia 17 de novembro, no aniversário de dois anos de seu falecimento.

Autores: Gabriel D. Lourenço & Matheus de Moura

Ilustração: Marcos Keller

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Matheus de Moura
Não Há Respostas Quando Morre Uma Pobre

Jornalista. Escritor. Neguinho. Catarinense no Rio. Co-criador de: N.E.U.R.A Magazine e Não Há Respostas Quando Morre uma Pobre