“A Verdade Dupla: Relativa e Absoluta” Chagdud Tulku no livro “Vida em Relação à Morte” (Tradução)

Tradução do primeiro capítulo (“The Twofold Truth: Relative and Absolute”) de “Life in Relation to Death” de Chagdud Tulku Rinpoche

zhiOmn Ormando
Ormando zhiOmn
7 min readOct 22, 2018

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Nossas percepções de eu e objeto, e nossa vacilação entre apego e aversão, são processos dualistas que ocorrem em nossa mente. Eles são desde o princípio um modo fictício de percepção. Uma vez que este processo dualista começa a operar, nós balançamos de uma confusão a outra, sem fim. E assim nós sofremos, sem fim.

OUR PERCEPTIONS OF SELF AND OBJECT, and our vacillation between attachment and aversion, are dualistic processes that occur in the mind. They are from the very outset a fictitious mode of perception. Once this dualistic process comes into play, we swing from one confusion to another, endlessly. And so we suffer, endlessly.

Todo o sofrimento realmente vem de não conhecermos nossa verdadeira natureza e do apego e da aversão, que são subprodutos da nossa ignorância. Por causa destes venenos nós complicamos mais o espiral de sofrimento com ações não-virtuosas, fala não-virtuosa e pensamentos não-virtuosos. Esta mentalidade dualista produz a verdade relativa. A fim de compreender este termo, considere o exemplo de ir para a cama a noite. Lá está você, entre seus lençóis quentes. Tudo está seguro. Não há problema. Mas, através da sua mente, você abandona a sua experiência acordada e começa sua experiência de sonho.

All suffering really comes from not knowing our true nature and from attachment and aversion, which are byproducts of our ignorance. Because of these poisons we further complicate the spiral of suffering by non-virtuous actions, speech, and thoughts. This dualistic mentality produces relative truth. In order to understand this term, consider the example of going to bed at night. There you are, between your warm sheets. Everything is safe. There is no problem. But through your mind, you leave your waking experience and begin your dream experience.

Esta experiência não é menos real para você do que sua realidade acordada. O ambiente é sólido. As pessoas são realmente pessoas. Elas sorriem para você ou elas franzem a testa para você. O que quer que aconteça parece bem real. Se você ganha na loteria, você fica extasiado. Você se torna preocupado com encontrar lugares para enterrar o seu dinheiro. Se alguém está batendo em você, isso dói. Se você prova açúcar, é doce. Mas apesar do sonho parecer bem real, ele não é real fora do contexto do sonho. Similarmente, nosso estado acordado não é real fora do seu contexto auto-produzido.

That experience is no less real to you than your waking reality. The environment is solid. The people are really people. They smile at you or they frown at you. Whatever happens feels very real. If you win the lottery, you are ecstatic. You become concerned with finding places to bury your money. If someone is beating you, it hurts. If you taste sugar, it is sweet. But though the dream seems quite real, it is not real outside of the dream context. Similarly, our waking state is not real outside of its self-produced context.

Do dia que nós nascemos até o dia que nós morrermos, nossa experiência de vida é uma verdade relativa, sempre mudando, que nós consideramos como sendo muito real. Ela não é, no entanto, absolutamente real ou permanente. Isso é muito importante de entender. Quando você acorda do seu sonho da vida, não há posses, não há relacionamentos, não há dramas emocionais. Todas as suas experiências, que pareciam verdadeiras, não eram realmente verdadeiras no sentido absoluto.

From the day we were born until the day we die, our life experience is an ever-changing relative truth that we hold to be very real. It is not, however, absolutely real or permanent. This is very important to understand. When you wake up from your dream of life, there are no possessions, no relationships, no emotional dramas. All of your experiences, which seemed true, were not really true in the absolute sense.

O critério que nós podemos usar para entender a verdade absoluta é a permanência. Se algo é permanente, é verdadeiro. Se é impermanente, não é verdadeiro, porque vai desaparecer. Em breve será apenas memória. Tudo em nossa realidade é apenas imagens oníricas, que nós consideramos como verdadeiras e significativas porque nós estamos tão envolvidos dentro disso. Nossa experiência é um produto da nossa delusão fundamental. Se não houvessem venenos na nossa mente, nossa percepção da realidade seria diferente.

The criterion we can use for understanding absolute truth is permanence. If something is permanent, it is true. If it is impermanent, it is not true, because it is going to disappear. It will soon be only a memory. Everything in our reality is only dreamlike imagery, which we hold to be true and meaningful because we are so involved in it. Our experience is a product of our fundamental delusion. If there were no poisons in our mind, our perception of reality would be different.

Nos acordar para que nós possamos ver a qualidade ilusória da nossa realidade relativa e entender nossa natureza absoluta fundacional é o objetivo do Budadarma. De outra forma nós apenas continuamos sonhando. Nosso sonhar pode ser agradável ou desagradável, mas ele nunca permanece o mesmo. Nós nascemos, nós adoecemos, nós envelhecemos, nós morremos, e nós nunca acordamos do sonho da delusão.

To wake us up so that we can see the illusory quality of our relative reality and understand our foundational absolute nature is the goal of the Buddhadharma. Otherwise we just continue to dream. Our dreaming can be pleasant or unpleasant, but it never stays the same. We are born, we get sick, we get old, we die, and we never awaken from delusion’s dream.

Um estado completamente acordado é a iluminação, o reconhecimento inabalável da natureza absoluta do nosso ser. A natureza absoluta permeia todas as coisas e não é separada de nada, mas nós fomos tão longe na tangente, tão longe na delusão dualista da mente, que nós perdemos a visão do que é absoluto. Nós seguimos a tangente da verdade relativa e pensamos que o absoluto está em algum outro lugar, em algum tempo diferente. Vendo separatividade onde não há, nós sofremos nas nossas experiências de verdade relativa e na nossa ânsia por um absoluto imutável e imortal.

A completely awakened state is enlightenment, the unwavering recognition of the absolute nature of our being. Absolute nature pervades everything and is separate from nothing, but we have gone so far on a tangent, so far into mind’s dualistic delusion, that we have lost sight of what is absolute. We follow the tangent of relative truth and think that the absolute is somewhere else, at some different time. Seeing separateness where there is none, we suffer in our experience of relative truth and in our longing for an unchanging, deathless absolute.

Em um sentido espiritual não é muito efetivo tentar mudar o mundo exterior a fim de prevenir nosso próprio sofrimento. Por exemplo, se nós olharmos em um espelho e vermos um rosto sujo nós podemos pensar, “Ó, que rosto sujo!”; Então nós rapidamente pegamos um pano e esfregamos o espelho. Esta não é a forma de se livrar do rosto sujo que nós vemos. Uma vez que nós percebemos que o reflexo é o nosso rosto, nós podemos mudar a aparência no espelho ao simplesmente lavar o nosso rosto. Limpar o sofrimento das nossas circunstâncias não vai funcionar, mas ao reconhecer nossa mente como a causa original nós podemos mudar a nós mesmo.

In a spiritual sense it is not very effective to attempt to change the outside world in order to prevent our own suffering. For example, if we glance into a mirror and see a dirty face we might think, “Oh, what a dirty face!” Then we quickly grab a cloth and scrub the mirror. This is not the way to get rid of the dirty face we see. Once we realize that the reflection is our own face, we can change the appearance in the mirror by simply washing our face. It will not work to wash away the suffering of our circumstances, but by recognizing our mind as the original cause we can change ourselves.

Pessoas vêem coisas de formas diferentes. Por exemplo, um homem come chili, e ele ama tanto o chili que se ele fosse privado disso sobrariam poucas coisas dignas de serem comidas. Mas outro homem come chili e sufoca com dor. A substância em si não é diferente. As tendências habituais de percepção, experiência, e reação, são diferentes. É assim com a vida.

People see things in different ways. For instance, one man eats chili and he loves it so much that were he deprived of it, there would be little left worth eating. But another man eats chili and chokes in pain. The substance itself is not different. The habitual tendencies of perception, experience, and reaction are different. So it is with life.

Uma pessoa vê as coisas de uma certa forma, e outra pessoa vê as mesmas coisas de uma forma completamente diferente. Um homem considerado pelos seus amigos como maravilhoso pode ser considerado por outros como um bruto. Ainda assim o homem não é diferente. O homem é simplesmente o homem. Substância é simplesmente substância. O mundo é simplesmente o mundo. Mas nós percebemos e interagimos com ele de acordo com o nosso próprio nível de entendimento.

One person sees things in a certain way, and another person sees the same things in an altogether different way. One man considered to be wonderful by his friends may be thought a brute by others. Yet the man is no different. The man is simply the man. Substance is simply substance. The world is simply the world. But we perceive and interact with it according to our own level of understanding.

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