Como será o desenho das cidades do futuro?

Espaços urbanos contarão com tecnologia de dados, mas também faixas compartilhadas e espaços para todos

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Para onde vamos?
5 min readMay 8, 2018

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Ruas residencias modeladas de maneira compartilhada (Fonte: Guia Global de Desenhos de Ruas)

Quando se discute o futuro da mobilidade urbana, o debate muito provavelmente trata de carros elétricos e autônomos. Porém, além da tecnologia dos veículos e da inteligência dos dados, o futuro pode estar ligado ao desenho das cidades.

De fato, praticamente todas as montadoras e as grandes empresas de tecnologia estão investindo na produção de sistemas e protótipos de carros que circulam sem motoristas. Ainda não se sabe quando essa tecnologia será de fato realidade — alguns especialistas dizem que em cinco anos, enquanto outros apontam que vai demorar ao menos quinze anos — mas é certo que chegará às ruas.

E serão carros sem motoristas movidos a energias limpas.

Hoje, antes mesmo do lançamentos dos autônomos, os veículos elétricos despontam como uma alternativa. As vendas dos carros movidos a eletricidade devem alcançar números inéditos nos próximos anos. Devem ser alavancadas, entre outros fatores, pela queda no preço do lítio, usado nas baterias, e pelo desenvolvimento de tecnologia que permite carregar os carros de maneira mais rápida.

Brasileiros conscientes

As pessoas estão mesmo cada vez mais conscientes da necessidade de escolher opções de transporte menos agressivas ao meio ambiente. Um estudo encomendado pela ONG Instituto Clima e Sociedade (ICS) e divulgado no fim do ano passado aponta que os brasileiros estão cientes da importância de priorizar a energia limpa.

Segundo a pesquisa, 74% dos entrevistados reconhecem que os combustíveis fósseis têm impacto negativo na qualidade do ar e 69% entendem que a queima desse tipo de combustível contribui para as mudanças climáticas.

Ainda de acordo com a pesquisa, 86% das pessoas disseram que votariam em um candidato que propusesse a recuperação de calçadas e praças, facilitando, assim, a locomoção a pé pela cidade. Portanto, que propusesse cidades mais compartilhadas.

Essa é também uma tendência para o futuro das nossas cidades: espaços urbanos integrados.

A tecnologia da informação — o uso de dados dos deslocamentos dos cidadãos nos transportes públicos e nos aplicativos de mobilidade urbana — vai permitir aumentar a eficiência do trânsito, por meio de, entre outras coisas, gerenciamento de tráfego e de controle de semáforos.

Mais que isso, cidades conectadas e compartilhadas serão aquelas em que as pessoas poderão trafegar em diferentes modais num mesmo espaço, de maneira harmoniosa.

Já há cidades implantando políticas nesse sentido.

Os VLTs compartilham espaços com carros e bicicletas (Foto: Shutterstock)

Em Berlim, na Alemanha, trens leves, ônibus, carros e bicicletas circulam em harmonia. Os moradores da cidade fazem, em média, três viagens e meia por dia, e a taxa de tráfego de pedestres é muito parecida com a taxa de tráfego de carros. Moradores de Berlim andam ou pedalam, em média, em 40% de suas viagens.

Além disso, a cidade investe em carros elétricos — há mais de quinhentas estações de recarga e já se contabiliza 7,9 mil veículos elétricos em Berlim .

Cidades compartilhadas

Um guia de desenhos de cidades, elaborado pela Iniciativa Global de Desenho de Cidades (GDCI), com apoio da Associação Nacional de Oficiais de Transportes Municipais (NACTO), propõe novas formas de pensar os espaços urbanos e demonstra como tornar as cidades mais compartilhadas.

Partindo da ideia de que é necessário pensar nas ruas como um ecossistema, e que elas precisam ser para todos, multimodais e um lugar seguro, o guia mostra como a transformação das ruas pode alterar a maneira que as pessoas se apropriam do espaço público e como isso pode melhorar a vida dos cidadãos.

Proposta de vias compartilhadas (Fonte: Guia Global de Desenhos de Ruas)

As vias não seriam apenas roteiros de deslocamento, mas também espaços de estar.

As propostas de desenhos de cidades da Iniciativa Global possuem calçadas largas, confortáveis para os pedestres, incluindo áreas de comércio, com vendedores ou mesas nas calçadas; área exclusiva para ciclistas; faixa dedicada ao transporte público, seja para ônibus ou trens leves; faixas para carros, em que poderia circulam os motoristas de serviços de transporte individual; e um espaço próximo ao meio-fio para descarga de produtos e mercadorias e para embarque e desembarque de passageiros dos aplicativos de mobilidade.

Fica mais evidente na comparação abaixo como seria possível fazer isso.

Comparação de desenhos de modelos de cidades (Fonte: Guia Global de Desenhos de Ruas)

A proposta para tornar a grande avenida mais harmoniosa e integrada, além de ter arbustos, árvores e jardins para controlar melhor a vazão de água das chuvas, inclui:

1. a introdução de um serviço de veículo leve sobre trilhos nas faixas centrais para aumentar a capacidade total de deslocamento de passageiros e aumentar o acesso ao transporte público;

2. a implementação de uma calçada intermediária, perto das paradas de ônibus e de VLT, com a intenção de diminuir a distância necessária para cruzar a avenida. Além disso, as calçadas são mais largas, o que oferece acessibilidade e mais conforto aos pedestres, assim como aumenta a área para atividades comerciais.

3. a eliminação de grades e o alinhamento das faixas de pedestres com os fluxos das calçadas, a fim de garantir que os pedestres atravessem a rua com de maneira natural.

4. a criação de uma faixa compartilhada entre carros e ciclistas, com áreas destinadas para estacionamento ou para embarque e desembarque de passageiros, sem pontos de ônibus. Uma observação: nesse caso, as conversões — que costumam ser causas de conflitos no trânsito — deveriam ser proibidas, ou liberadas apenas em faixas exclusivas de conversão, com sinalização adequada e com semáforo de fases.

Administração do meio-fio

Diante disso, fica mais claro o que foi exposto no artigo da semana passada: a administração e organização do meio-fio das ruas pode ser o começo do futuro da mobilidade urbana.

É extremamente importante o gerenciamento dos espaços, com flexibilidade e divisão entre áreas. Diversificar locais hoje usados para estacionamentos por tempo ilimitado, para incluir também pontos de embarque e desembarque de passageiros, de descarga de mercadorias, áreas destinadas a pontos de ônibus e estações de bike compartilhadas, assim como para parklets e comércio de rua.

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