Coisas que aprendi fazendo hamburgers #5

Beto Galetto
Perestroika Blog
4 min readMay 11, 2016

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Normalmente, acabo dando um intervalo maior entre um texto e outro. Porém, ontem li um artigo de um fotógrafo no August que fechou muito com um pensamento que volta e meia aparece por aqui.

Não é fácil (e pouca gente fala sobre isso).

Largar um emprego formal pra fazer o que se gosta. Parece um ótima ideia, né? “Vá atrás dos seus sonhos”, “faça o que você gosta e você nunca mais vai trabalhar na vida” e mil outras frases parecidas costumam aparecer em 9 a cada 10 textos de ~empreendedorismo~ compartilhados no Facebook.

Trabalhar 4 horas por semana, acordar sem despertador, ter a segunda de folga, não ter chefe, trabalhar de pijama e de qualquer lugar do mundo. A vida lá fora parece tão incrível!

Com o tempo, foram surgindo outros textos dizendo que não era bem assim, que não adianta só sonhar, que o negócio precisa ter um propósito, que tem que ser rentável, etc, etc. É só dar uma volta aqui pelo Medium que vão brotar dezenas de textos dando todos os tipos de sugestões pra empreendedores e criativos começando a andar com as próprias pernas.

Só que o que pouca gente parece se dispor a falar abertamente sobre é como isso é difícil pra caralho. Não sei se existe um contrato social onde somos obrigados a aparentar que tudo está sempre bem ou se escolhemos focar só em bons momentos pra compartilhar com os amigos, seja pra manter uma imagem de que “fizemos a coisa certa” ou mesmo pra favorecer nosso negócio (afinal, melhor contratar aquele cara que tá toda hora viajando. A empresa dele certamente deve estar bombando).

Vejo muita gente reclamando dos empregos, dos lugares que trabalham, do mercado, dos clientes ou do cafezinho ruim que a tia nova faz, especialmente quando se encontram pra almoçar ou naqueles happy hours que ninguém convida o chefe. Alguns mais “corajosos” (e que entendem como funcionam os filtros de privacidade nas redes sociais, por que né, justa causa tá aí) fazem isso abertamente e parecem conquistar a simpatia imediata de todos que os seguem. O que até hoje não vi (ou pelo menos não lembro de) foram amigos que têm seus próprios negócios postando sobre como o verão é uma época fodida de grana ou como às vezes é foda achar motivação pra sair da cama quando tudo depende só de você.

Life kicks everyone at some time or another but when you don’t know where or when the next gig is coming from and the money to survive, then that life kick sure can send your mind into a downward spiral and leave you wondering what the heck you are doing in life. I mean if I had a day job and lost it then people would want to come to my rescue and see what the problem is and try to find a way to help. But wow, if you own your own business and have struggles then no one wants to hear about it, they want to say something is wrong with you or they just don’t understand. So it’s like you have to hide in this little bubble by yourself that feels like it will slowly close in on you until you suffocate from lack of air.

Claro que essa conversa existe em alguns momentos. Mas é velada. É escondida, carregada de culpa e sempre rola num cantinho longe da galera. Será medo de que pensem que estamos fracassando? Será que a gente tenta uma “autossugestão”, focando só nas coisas boas? Por que ninguém parece falar sobre o lado ruim da coisa? É chato demais? Não lembro de ver ninguém postando sobre como estourou o cartão de crédito e entrou pro SPC (não a banda) naquela época que o negócio não engrenava, por exemplo. Me nego a acreditar que a vida é uma Disney pra todos. Sejamos francos.

(…) But then there are those that don’t have a business that has a steady stream, because it is dependent on so many variables and who wants to hire you at this time for x or you bid on a job and you get beat out by x person. I understand it is all part of business, but it’s part of the ugly side people don’t tell you about. Then there is the realizing that you didn’t get the gig you thought for sure you were going to get and now you need to decide between paying the bills or getting food on your table for your wife and kids.

E não falo nem só sobre empreendedorismo. Conversemos mais sobre as coisas “feias” da vida. Aquelas que nenhum filtro de Instagram ou de Snapchat deixa mais bonitas ou engraçadas.

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Você pode ler os outros textos da série aqui, aqui, aqui e aqui.

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