Amor livre

Me afogo nas letras dos poemas que não escrevi

Me afobo nas tetas das mães que nunca serei

Me atolo nas frestas das portas que não me cercam

Me cubro na dor do choro que nunca calei

Amor é palavra batida

Na máquina de lavar roupa

Perdida em bilhete dobrado

Meditação

Estaciono os óculos no criado.

O embaço dos contornos do meu quarto ganha a nitidez do meu silêncio.

Me preencho da ausência do dia.

Me desfaço do que pode ser amanhã.

A tristeza envelhece

Bom mesmo é o tempo

Passa e floresce

Carmim

Tinta vermelha pinta o luto

Recente vazio no tiro

Feito ferrugem, o silencio corroeu o brilho do que não era real.

Eu nunca quis ser aquele casal de margarina sorridente e sem sal.

Prefiro a rima torta e ingrata ao vazio dos seus lábios de lata.

Fria ferrugem, me come por dentro, me cala o lamento do que eu nunca pude chamar

de amor.

Ensaio sobre pequenos consertos domésticos

Poesia concreta se faz com amor e martelo

Nessa casa poema, somos lar um do outro

Dia útil

O comum não inspira

Nos passa despercebido

Olhei ras

Ras

Onomatopeia do tempo

Colore o momento

De preto, de perto

Embaixo dos olhos, carregou o luto

Do que passou

Só um fenômeno

Se você se lembrar

Vai ver que o peso todo

Não passa de mero adjetivo

Julgamento tolo

Por isso, não se esqueça

Esta chuva é só mais um fenômeno

Brotando antes que o jardim

Floresça