No canto da mulher que fui,

Poeira

No pranto da mulher que fui,

Olheira

No entanto, a mulher que fui,

Partiu

Na poeira da mulher que sou,

O mundo faz sentido no silêncio

Quando o choro cessa

Quando o sono pesa

Quando a noite fala

Pensar envelhece

Quanto mais louco de si

Mais cedo adormece

2 de novembro

Os anos tecem e ela continha a mesma

Cabelo negro, sorriso de brisa

No porta-retrato, fincou

Dentro de mim, de nós, nossas paisagens não envelhecem

Minha ansiedade caiu no sono

Dormi verão

Acordei outono

Me perdoem os vendavais

Mas sou tempestade

Quando passam os carnavais

Fotossíntese

Amor, te mudei de nome

Ganhou contorno, cheiro e cor

Quando meu peito passou

A matar tua fome

Não tenho medo da morte

Tenho medo da sorte

De não morrer no fim

Me deito

Em cima da hora

Meu leito

É chão que devora

Meu peito

Não chora, apavora

Prevendo meu fim

Aí de mim

Recordar quem eu fui

Se depois de você, meu bem

É o futuro que me traz saudade

Poema atravessou meu deserto

Fez cinema da minha memória

Não queria ver assim tão perto

A maldita miragem que já fui