Speedrun: Avaliando Minhas Leituras de 2020

Para iniciar 2021 com descontração, avaliei todos os 29 livros, de autoajuda a filosofia, passando por ficção científica, que li em 2020

Amanda de Vasconcellos
O Prontuário
18 min readJan 11, 2021

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Ter passado a esmagadora maioria do ano de 2020 confinada à minha casa teve um ponto positivo: eu recuperei meu hábito de leitura. Não que o fim do ano não tenha representado a perda de vários dos meus hábitos (inclusive o da escrita… Eu peço desculpas, não vai acontecer de novo), mas consegui, ao longo dos meses ainda produtivos, ler um total de 29 livros.

Resolvi então que, para iniciar minhas postagens de 2021 em um tom um pouco mais descontraído, seria interessante fazer algo um pouco diferente e dar meus pitacos sobre as leituras que fiz, dedicando a cada livro 1 parágrafo. Sem mais delongas, então, minhas mini resenhas estão apresentadas em ordem cronológica, e nada me impede de escrever algo mais longo posteriormente (comente no fim do post sobre qual livro você gostaria que eu falasse!).

12 Regras para a Vida — Jordan B. Peterson

Resolvi ler o livro do Jordan Peterson porque imaginei que ele seria uma coleção de verdades dolorosas, considerando que a maioria dos meus conhecidos que aprecia a obra de Peterson aprecia também a prática de repetir feito um papagaio que “fatos não se importam com seus sentimentos”. Mas, na realidade, 12 Regras para a Vida é exatamente o que se propõe a ser: uma coleção de princípios para orientarmo-nos em um mundo caótico. Talvez seja um livro merecedor de uma releitura, porque não é tão fácil compreender todas as suas digressões. Quase um ano após concluir minha leitura, finalmente li uma resenha que alguns amigos haviam recomendado, feita pelo blog Slate Star Codex, e o momento em que o fiz deve ter sido o mais próximo que cheguei de compreender este livro. As regras de Jordan certamente não são universais, mas são um caminho possível para a busca de significado em um mundo que parece tão desesperador.

Autocompaixão — Kristin Neff

Minha decisão por seguir o conselho da minha psicóloga e ler esse livro teve a motivação inversa à que me levou a ler 12 Regras para a Vida: e se meus hábitos de autodepreciação não forem verdades, mas sim afirmações vazias dolorosas? E os argumentos que esse livro apresenta para parar de acreditar no lado autodepreciativo da minha mente são até razoáveis, porém não fui capaz de comprá-los pela tonalidade em que são expressos. Fiquei irritada por quão positiva é a mensagem da autora, Kristin Neff, embora hoje, meses após a conclusão da leitura, eu reconheça seu valor. Não é um livro que te incentivará a ser autocomplacente e aplaudir até mesmo seus fracassos, mas a maneira como ele incentiva a ter paciência com o fato de que você vai fracassar em algum momento é hippie demais para o meu gosto.

O Conto da Aia — Margaret Atwood

A palavra que eu usaria para descrever O Conto da Aia é “engajante”. Foi uma leitura que me prendeu do início ao fim, por motivos exatos que eu não saberia enumerar muito bem. O universo em que se passa a história é muito bem apresentado ao leitor, o que acredito que me ajudou a adentrá-lo. Embora a trama não prossiga com um rumo óbvio, é fácil se conectar com a protagonista anônima e torcer por seus anseios. Foi uma leitura genuinamente prazerosa.

Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas — Dale Carnegie

Devo admitir que sou naturalmente péssima em fazer amigos e influenciar pessoas: minhas habilidades sociais surgem todas sob esforço consistente. Em busca de melhorá-las, resolvi ler o livro que muitos amigos me haviam indicado como uma leitura obrigatória para lidar com gente. De fato, Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas merece sua posição como clássico, oferecendo técnicas essenciais para manejar os mais diversos tipos de circunstâncias sociais. Eu talvez discorde um pouco da alegação de que elas seriam capazes de ajudar alguém a Fazer Amigos, porque não consegui me convencer de que baseiam-se em laços genuínos, mas isso não diminui a importância dos ensinamentos de Dale Carnegie. Querendo ou não, muitas de nossas amizades acabam surgindo das conexões que fazemos por obrigação.

Para Toda a Eternidade — Caitlin Doughty

Eu havia lido e adorado o outro livro da Caitlin Doughty, e resolvi ler este em companhia da minha amiga que me apresentou a autora. Embora não tenha funcionado bem, acredito que não teria lido este livro se não fosse pela proposta de pseudo-clube-do-livro. Já acompanho o canal da Caitlin há algum tempo, e sempre apreciei mais seus comentários sobre o hábito ocidental de negar nossa mortalidade que suas histórias de funerais. Neste livro, ela traz relatos de sua viagem pelo mundo, documentando os ritos mortuários de diversas culturas. Embora interessante, não foi uma leitura que me tocou profundamente. Eu teria apreciado mais se esse livro fosse uma coleção de documentários.

Columbine — Dave Cullen

Por indicação justamente de um vídeo da Caitlin Doughty, resolvi ler este livro para entender melhor a história do Massacre de Columbine, que havia me parecido bastante interessante em outros contatos que eu tivera com ela. No entanto, este livro se aprofunda bastante nos detalhes que levaram ao crime, o que pode ser um ponto positivo ou negativo para diferentes leitores. Para mim, acabou deixando a leitura maçante, mais apropriada para guiar uma pesquisa que para integrar meus momentos de lazer.

Factfulness — Hans Rosling

Sou há anos apaixonada pelas TED Talks ministradas pelo finado Hans Rosling, e não sei por que demorei tanto para ler seu livro. Em um ano tão caótico quanto 2020, algumas notícias boas caem bem, e o que Factfulness faz é demonstrar que, ao analisarmos as estatísticas, podemos perceber que nosso mundo tem tido consistente melhora nas últimas décadas. Cheguei a fazer um post no Instagram discorrendo sobre as razões dadas por Rosling para nossos erros de percepção sobre nosso mundo. Francamente, é um livro brilhante, em especial para aqueles que têm problemas com uma visão de mundo catastrófica.

O Cérebro Autista — Temple Grandin

Outro livro brilhante desta lista, O Cérebro Autista explica em linguagem acessível a leigos o Transtorno do Espectro Autista. A autora, Temple Grandin, é ela mesma autista, o que torna a leitura ainda mais esclarecedora. Ao mesmo tempo que apresenta as descrições da ciência sobre o que se conhece sobre o espectro, Grandin é capaz de expor sua perspectiva ao leitor, que pode, então, ter uma percepção ainda mais nítida do que significa ser autista. Seja a título de curiosidade ou para se conectar melhor com um conhecido autista — e, com a estimativa de que 1 em cada 160 pessoas esteja no espectro, você provavelmente tem sim um conhecido autista —, a leitura vale a pena. E, se não estiver com paciência para ler um livro inteiro, mas quiser aprender mais sobre autismo, confira os posts que já fiz sobre o tema.

A Lei — Frédéric Bastiat

Considerando que me considero liberal desde 2016, é estranho que eu só tenha lido este livro em 2020. Digo isso porque é uma leitura que eu recomendaria a qualquer um que busque entender os princípios que norteiam o liberalismo político. Certamente liberais mais utilitários terão suas discordâncias com as ideias de Bastiat, mas não se pode negar o grande mérito deste livro: em poucas páginas, ele consegue delinear um raciocínio sólido capaz de embasar um dos princípios mais cruciais do liberalismo clássico, o ceticismo quanto ao poder. Em tempos de adesão cega a figuras carismáticas, acredito que, mais que nunca, seja importante resgatar obras que buscam delinear princípios fundacionais para as sociedades.

O Quebra-Nozes — Alexandre Dumas e E. T. A. Hoffman

Fui presenteada em meu aniversário, em março, com uma edição de bolso d’O Quebra-Nozes que incluía duas versões deste clássico: a de Alexandre Dumas e a de E. T. A. Hoffman. A de Dumas é, a meu ver, mais romântica, o que fez com que eu a preferisse. Apesar disso, ambas conseguem ser capturas estupendas da inocência infantil de Clara/Marie, o que fez deste livro uma das minhas leituras mais prazerosas do ano passado. A experiência leve de ser cativada por uma narrativa tão mágica foi impagável.

A Lógica do Cisne Negro — Nassim Nicholas Taleb

Em contraponto, A Lógica do Cisne Negro — que poderia se chamar apenas O Cisne Negro sem qualquer prejuízo — é uma leitura pesada, embora não menos prazerosa. O Taleb apresenta em sua obra várias visões contraintuitivas, mas tremendamente lógicas. Cada capítulo é uma nova oportunidade de sentar em silêncio por alguns minutos e repensar as várias crenças que essa leitura desmonta. Por mais que nem sempre as ideias aqui apresentadas sejam de fácil digestão, são todas fascinantes, e, creio eu, essenciais para que sejamos capaz de compreender melhor um mundo como o nosso, que é tão facilmente impactado por eventos outrora impensáveis.

Antifrágil — Nassim Nicholas Taleb

Por outro lado, Antifrágil me gerou mais cansaço que fascínio. Não que Taleb apresente aqui ideias menos sólidas, mas a fama foi um ótimo adubo para seu ego, e isso já está evidente neste livro, em que ao menos um terço dos parágrafos é dedicado a insultar pessoas de quem o autor discorda. O que é inicialmente divertido torna-se rapidamente tedioso. As problemáticas levantadas em A Lógica do Cisne Negro são amplamente trabalhadas aqui, então eu recomendaria que esses dois livros fossem lidos em ordem. E, francamente, este já não é uma obra tão essencial para compreender o mundo, embora seja um complemento necessário aos leitores que, como eu, ficaram deslumbrados pela genialidade com que Taleb se refere ao acaso.

O Grande Gatsby — F. Scott Fitzgerald

Normalmente, leio os livros antes de ver os filmes, mas fiz o oposto com O Grande Gatsby. Meses após ter me apaixonado pela beleza que esta obra adquiriu no cinema, aproveitei que já tinha o ebook disponível em meu Kindle e resolvi lê-la. Para ser sincera, eu não me entreti tanto. Li o livro em inglês, e tive uma dificuldade grande em acompanhar a prosa (mais até que em livros até mais eruditos, como o de Adam Smith, que também li em seu idioma original no fim do ano). Talvez esse seja o livro de minha lista que mais mereça uma releitura mais atenta.

The Mind Illuminated — Culadasa (John Yates)

Recebi a recomendação deste livro (sem tradução para o português) de um amigo no início do ano. Depois de perceber que ele estava ficando de saco cheio (embora ele próprio negue) de todas as minhas perguntas sobre meditação, preferi ler sobre o tema antes de prosseguir com o tormento. As críticas que tenho a este livro são de coisas com as quais não me identifiquei por questões pessoais: o autor, por exemplo, parte do budismo como base, só que essa não é minha religião. Apesar disso, a perspectiva da obra como um todo é bastante secularizada e, sobretudo, esclarecedora. Recomendaria a leitura sobretudo àqueles que já meditam há algum tempo, mas ainda possuem dúvidas e dificuldades significativas quanto à prática.

We the Living — Ayn Rand

Eu ter prosseguido com a leitura deste livro após os primeiros capítulos é um sinal claro de masoquismo. Quando, aos 16 anos, li A Revolta de Atlas e A Nascente, obras mais conhecidas de Ayn Rand, não consegui compreender àqueles que diziam que ela era má escritora. Em We the Living (sem tradução para o português), consegui entender perfeitamente. O livro tem um componente autobiográfico, já que Rand chegou a viver na União Soviética após a revolução, mas é sobretudo uma coleção dos maneirismos da autora, com o agravante de que ela era ainda mais imatura ao escrever esta obra. A menos que você já tenha lido os clássicos da Ayn Rand, este livro não traz nada que não possa ser obtido com mais clareza em outras obras.

Meditações — Marco Aurélio

Entre os que foram seduzidos por autores contemporâneos que eu consigo, com consciência limpa, chamar de coaches e os que compraram edições de capa dura de livros escritos por sábios romanos, boa parte dos meus amigos começou a apreciar o estoicismo durante o período da quarentena. É óbvio que isso faz certo sentido: os estoicos acreditavam em concentrar nossos esforços naquilo que podemos controlar, o que fez com que sua alegada paz de espírito fosse eternizada pela história. O que eu farei, todavia, é ir na contramão da opinião popular e afirmar que Marco Aurélio — o imperador romano cujos escritos pessoais se tornaram uma referência de estoicismo — me pareceu um homem absurdamente infeliz. Se eu não estivesse restrita a um parágrafo, certamente falaria muito mais sobre esse livro, sobre estoicismo, sobre coaches que leram filósofos estoicos, etc, mas, nesse curto espaço, acho mais importante ressaltar apenas o quanto Meditações não me parece o diário de um homem imperturbável, com muito a nos ensinar. Pelo contrário, me parece o diário de um homem cansado que, embora sábio, me pareceu sobretudo um exemplo de melancolia.

Fahrenheit 451 — Ray Bradbury

Com toda a sinceridade, eu não entendi muito bem este livro. A mensagem central é óbvia e de alerta aos perigos de rejeição da leitura em prol de entretenimento fácil e alienante. No entanto, não consegui me sentir tão imersa no universo construído aqui. Não consegui entender muito bem o que estava acontecendo no mundo em que a história se passa, e quais exatamente as razões para seu funcionamento distópico. Certo, não é como se toda distopia fosse explicada por seu autor nos mínimos detalhes, mas sinto que, no caso de Fahrenheit 451, isso impediu que eu conseguisse me conectar com o que estava lendo.

Agilidade Emocional — Susan David

Eu recomendaria este livro a qualquer um que tenha dificuldade em lidar com suas emoções — e sejamos francos, quem é que lida perfeitamente bem com elas? Longe de adotar um discurso vazio de positividade, em que todas as emoções negativas devem ser reprimidas, Susan David trata emoções como fragmentos de informação que podem nos ser úteis para entender o que está ou não em ordem nas nossas vidas. Assim, sempre argumentando com os pés firmes no chão, ela nos instrui como podemos observar e vivenciar nossas emoções sem deixá-las tomar o controle de nossas vidas, o que permite que possamos nos orientar por valores que genuinamente nos sejam caros.

O Fim da Guerra — Denis Russo Burgierman

Devorei este livro em um fim de semana. Não é que ele tenha me trazido muitos argumentos novos para ser contrária à Guerra às Drogas, essa é uma posição que mantenho há anos, mas ele traz uma síntese excelente deles. Em prosa fluida, o autor conta a história da guerra às drogas, as suas falhas, e as alternativas à proibição. Considero um material incrível para quem tiver interesse em compreender os problemas do proibicionismo (mesmo que sua conclusão final seja de que ele deve continuar), e também para quem já tem uma posição de oposição formada, mas busca embasá-la melhor com o estudo de caso de vários locais que estão flexibilizando suas proibições à maconha e/ou a outras drogas ilícitas.

O Século dos Cirurgiões — Jürgen Thorwald

A recomendação deste livro veio de um amigo cirurgião, embora eu já tivesse ouvido colegas de curso mencionarem anteriormente sobre sua existência. Eu confesso que fiquei bastante confusa quanto ao narrador dessa história, e cheguei a me perguntar se estava lendo um livro de ficção ou não-ficção. Acredito que as expectativas excessivamente altas tenham prejudicado minha experiência com O Século dos Cirurgiões, porque cheguei a me entreter com as histórias e com os aterrorizantes relatos de cirurgias realizadas antes da anestesia e dos antibióticos, mas não pude desenvolver por esta obra o mesmo fascínio com o qual alguns comentavam sobre ela.

The Moon Is a Harsh Mistress — Robert A. Heinlein

Seria má fé da minha parte dizer que esse livro foi traduzido para o português, porque o leitor terá sorte de encontrar em algum lugar uma cópia de Revolta na Lua, o péssimo nome que este livro recebeu n’a última flor do Lácio. Assim como em O Século dos Cirurgiões, a expectativa elevada pode ter sido prejudicial. A parte que mais me interessou em The Moon Is a Harsh Mistress foi a ficção científica, e não a filosofia libertária embutida em seus temas. Só depois de concluir a leitura é que descobri que o livro não trazia mensagens liberais aleatoriamente: ele era uma alegoria para a Independência Americana. Provavelmente, relê-lo com isso em mente aumentaria minha apreciação por ele.

Bronze Age Mindset — Bronze Age Pervert

Recebi de um amigo a recomendação de ler este livro em um dia em que eu o havia feito de ouvinte. No contexto, imaginei que viria algo como autoajuda, e, como eu estava precisando mesmo de ajuda, pensei: por que não? O livro já começa se propondo como uma exortação, um desabafo de seu autor anônimo sobre o mundo atual. Porém essa deve ter sido uma das leituras mais bizarras que fiz na minha vida, sem nenhum exagero. Na realidade, o livro é abertamente racista. Não que eu tenha entendido metade do raciocínio do autor, mas a metade compreensível terminou em segregação racial na maioria dos casos. Como era de se imaginar, acabei não gostando muito da leitura.

A Virtude do Egoísmo — Ayn Rand

Por algum motivo, a decepção com We the Living não me impediu de continuar lendo a obra de Ayn Rand, e não me arrependo de ter lido A Virtude do Egoísmo. Este livro tem todas as falhas clássicas do objetivismo, sobretudo a arrogância intelectual de seus autores, mas fiz sua leitura já dessensibilizada a esses pontos negativos. Ao desviar meu foco para os aspectos mais positivos, meu veredito é que essa é uma obra valiosa. São ensaios curtos de extrema relevância mesmo àqueles que tenham repulsa ao objetivismo enquanto filosofia. Os argumentos são facilmente internalizáveis, e trazem a importante recordação de que, por mais que se exalte a abnegação, há também virtude na capacidade de colocar a si próprio em primeiro plano.

O Estranho Caso de Benjamin Button — F. Scott Fitzgerald

O Estranho Caso de Benjamin Button é um conto bastante curto, que certamente poderia preencher um livro maior. Não à toa, essa história inspirou um filme homônimo, que ainda não assisti. O tamanho reduzido fez com que eu tivesse mais dificuldade em me engajar com a história, o que não quer dizer que eu não tenha me divertido em lê-la. Pelo contrário: pude devorá-la em um só dia, e, embora seja bastante previsível, isso não diminui o quanto as desventuras de Benjamin entretêm.

Iludidos pelo Acaso — Nassim Nicholas Taleb

Inicialmente, a opção por mais um livro do Taleb depois do trauma que fora a leitura maçante de Antifrágil me pareceu um sinal claro de masoquismo. Todavia, Iludidos pelo Acaso foi um livro absolutamente terapêutico para mim. Não foi apenas uma leitura interessante, engajante, e absurdamente esclarecedora: foi um livro que me trouxe clareza e paz de espírito, foi o livro que fez com que eu finalmente entendesse por que não estava mais aguentando papo de coach na minha vida. E embora a visão de que o mundo é mais regido pela sorte do que costumamos admitir possa aterrorizar a muitos, a mim ela deve ter sido a crença mais reconfortante que consegui internalizar em 2020, e dou graças ao brilhantismo argumentativo de Taleb por ter conseguido fazê-lo.

Me Poupe! — Nathalia Arcuri

Apesar de ter amado Iludidos pelo Acaso, a leitura foi um pouco densa, e decidi buscar por um livro leve na minha lista do Goodreads. Recomendado havia anos por uma amiga, o livro da Nathalia Arcuri me pareceu ideal para essa finalidade. O problema foi o veredito final: o livro é leve demais, ao ponto que não me acrescentou muito além do que eu já sabia — por fontes que incluem, inclusive, o próprio canal Me Poupe!. É um livro que orienta as pessoas a pouparem e a terem noções de seus gastos, algo que tive o privilégio de aprender a fazer desde a infância (obrigada, papai). Para além disso, tem alguns comentários sobre a mente milionária que sempre me incomodaram por motivos que eu não conseguia enumerar. Por ter lido este livro logo após o do Taleb, entretanto, eu soube assinalar exatamente o que não consegui engolir bem da leitura: as mentes milionárias costumam ser vítimas de ilusão pelo acaso.

Rápido e Devagar — Daniel Kahneman

A abordagem de Daniel Kahneman dentro da psicologia cognitiva é a de viéses e heurísticas, e uma das heurísticas que eu utilizo é a de evitar livros muito populares entre coaches. Isso, somado à sinopse de Rápido e Devagar não ter me chamado a atenção inicialmente, fez com que eu postergasse essa leitura, e acabei selecionando-a apenas por causa das inúmeras menções de Taleb a Kahneman em Iludidos pelo Acaso. No entanto, como eu estava errada! Por mais que alguns dos experimentos citados neste livro não tenham sobrevivido ao escrutínio mais profundo, a leitura continua interessantíssima, e também bastante útil: conhecer os erros cognitivos aos quais estamos sujeitos nos ajuda a evitá-los. Todavia, ressalto que esta é uma obra bem densa, e a leitura não foi fluida a todo momento.

Esquerda e Direita — Murray N. Rothbard

Li esse livro por acidente, quando uma das edições da newsletter do Students For Liberty Brasil recomendou a leitura de uma palestra do professor Roderick Long sobre os flertes de Rothbard com a esquerda e com a direita. Por algum motivo que não me recordo, acabei colocando parte do título no Google, em vez de simplesmente clicar no link da newsletter. Só depois, quando fui trocar uma ideia com o Ivanildo (remetente dos emails da newsletter, entre outras funções), descobri que havia lido o texto errado. Minha leitura foi, no entanto, um bom exemplo de serendipidade: Rothbard trouxe neste ensaio uma perspectiva da história dos conceitos de esquerda e direita, correlacionando-a sobretudo com a posição que o espectro político atribuiu ao longo dos anos aos defensores da liberdade. Uma posição contraintuitiva, mas que a mim pareceu especialmente inspiradora.

Teoria dos Sentimentos Morais — Adam Smith

Em sua Teoria dos Sentimentos Morais, Adam Smith concentra-se mais em descrever a natureza humana que em prescrever comportamentos que nossa sociedade deveria buscar (embora, de fato, ele chegue a fazer constatações sobre virtude, e as entrelinhas deixam clara a todo momento a posição de Smith). Não diria que é uma leitura especialmente importante para compreender o liberalismo econômico que nasce no século XVIII, mas vale a pena para ler com calma e disposição para refletir sobre o que está sendo apresentado. Além disso, é fenomenal que o autor tenha conseguido capturar, munido tão somente de sua percepção, boa parte do que a psicologia compreende hoje em dia dos sentimentos humanos.

Conclusão

Eu poderia ter lido mais em 2020. Não é nem questão do número de livros que li, é questão do esforço que dediquei às leituras. Poderia ter sido melhor. Em compensação, percebi que refleti mais sobre o material lido em 2020 mais que em qualquer outro ano, o que permitiu que eu colocasse as avaliações no papel dessa vez. Talvez seja um bom hábito para processar melhor o que leio, e talvez seja uma boa forma de produzir conteúdo.

Então, se você tiver apreciado acompanhar minhas leituras, mantenho minhas listas e (algumas das) avaliações atualizadas no Goodreads. Mas se além disso você tiver gostado do texto de forma geral, não se esqueça de deixar seus aplausos (de 1 a 50) aqui embaixo e de me acompanhar nas outras redes sociais.

Quais foram suas leituras favoritas de 2020? Já leu algum livro dessa lista? Pretende ler? Me conta aqui nos comentários!

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