Um resumo do que rolou no ILA19 e as impressões de designers do QuintoAndar

Texto escrito por Esley, Raquel, Lucas e Tatiane

André Matiazzo
QuintoAndar Design

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A edição de 2019 do Interaction Latin America (ou ILA, para os íntimos), maior evento de design da América Latina, recebeu mais de 1300 pessoas de vários países. Foi um total de 91 palestras, da própria comunidade e dos palestrantes convidados. Já é tradição do ILA que todo ano uma cidade diferente seja escolhida para sediar o evento, e a cidade da vez foi Medellín, na Colômbia. E também já é tradição o QuintoAndar ir ao ILA para contar o que vimos e apresentamos por lá.

O mercado de diseño latino americano

Além de um espaço para aprendizado e conexão, o ILA é também um momento para que a gente reflita sobre onde estamos e para onde estamos indo enquanto profissionais.

O tema desse ano foi convergência, e o evento começou enaltecendo a qualidade do design latino americano. Durante algumas palestras (como a inspiradora trajetória profissional de Ángela Guzmán e os aprendizados sobre o futuro do design trazidos pela Maritza Guaderrama), ficou evidente que estamos construindo um mercado com um nível de maturidade elevado e que podemos (e devemos!) nos orgulhar bastante disso.

Os cinco grandes temas desta edição:

  1. Futuro da profissão
  2. Gestão em design
  3. Ética e Inclusão
  4. Design + Business
  5. Operação de design

Futuro da profissão

Quais serão os desafios da nossa profissão? Qual o papel de designers em um mundo superconectado, com dispositivos que coletam cada passo, cada fala e cada momento das nossas vidas?

Aprendizados

  • Precisamos nos preparar para lidar com experiências que extrapolam simples interações com botões em telas de celulares. Interações por voz e gestos já são uma realidade.
  • Vamos ter cada vez mais acesso aos dados das pessoas que usam nossos produtos e isso exige, além do uso com ética e responsabilidade, um novo nível de compliance dado o surgimento de novas legislações.
  • Colaboração é e continuará a ser essencial. Precisamos incluir cada vez mais pessoas no processo de design.

Se quiser saber mais, procure por essas palestras:

  1. A Path for Tomorrow, do Nick Finck
  2. El futuro del Diseño o el Diseño del Futuro: aprendizajes y retos, da Maritza Guaderrama
  3. A.I. is your new design material, do Josh Clark

Ética e inclusão

Nossa profissão está crescendo e isso é ótimo, mas não podemos esquecer que esse privilégio vem com grandes responsabilidades: se os produtos e serviços que colocamos no mundo não são éticos, inclusivos ou se ferem as pessoas de alguma forma, precisamos reconhecer nossa responsabilidade na projeção dessas experiências.

Aprendizados

  • Não pense apenas na jornada perfeita do seu usuário; o pior sentimento que pode afetar uma pessoa é a exclusão.
  • Convide pessoas com deficiência para testar os seus produtos e tenha pessoas com deficiência no seu time.
  • Cuidado com os dados dos seus usuários e com quem vai consumir esses dados dentro da sua empresa. É muito importante manter a discrição e o sigilo de transcrições de entrevistas com usuário, por exemplo. Precisamos deixar claro para usuários entrevistados o que pretendemos fazer com as gravações e transcrições e por quanto tempo vamos armazenar essas informações.

Se quiser saber mais, procure por essas palestras:

  1. Opti-Pessimism, da Cheryl Platz
  2. Ética em pesquisa: quais são as exigências atuais e porque devemos estar preparados?, da Cecília Henriques e da Denise Pilar
  3. Ethics in UX research: When findings harm the users, da Rafaela de Souza da Silva
  4. Design de negócio social para a inclusão de uma população carcerária, da Thaís Falabella

Gestão em design

Conforme a profissão de design cresce, é cada vez mais necessária a nossa presença em posições de liderança. Mas não é comum aprender sobre gestão e liderança na faculdade.

Aprendizados

  • Estamos nos dividindo em dois caminhos: gestão e especialização. Precisamos criar estratégias de crescimento e plano de carreira separados. Pessoas que queiram seguir na carreira de liderança não devem ser avaliadas exclusivamente por suas habilidades técnicas de design de produto, e sim por habilidades de gestão de pessoas, resolução de conflitos e liderança, por exemplo.
  • Da mesma maneira, o caminho de “ICs” (individual contributors, como são chamados designers que pretendem seguir numa carreira de especialistas) está sendo também aprimorado e cada vez com níveis e atribuições mais claras.
  • A mentoria técnica de designers deveria fazer parte das atribuições de designers mais experientes:

“Se você não consegue ensinar aos outros sobre sua especialidade, então você não é sênior” — Kim Goodwin

Se quiser saber mais, procure pela palestra Shaping Designers, do Jason Mesut.

Design + Business

Como designers, é comum termos a percepção de que estratégia é algo abstrato, intangível e pouco claro. As habilidades que temos são incluídas nas discussões para adicionar outro ponto de vista. Nós somos aquelas pessoas que, além de fornecer soluções e embasadas em dados, materializam ideias em estágio inicial. Nossa maior habilidade é testar rápido, o que é é uma postura extremamente necessária para o negócio.

Aprendizados

  • Sempre exercite alternar entre o contexto mais amplo e o mais detalhado de um problema. Dar um passo para a trás é necessário para enxergar novas perspectivas.
  • Fale a mesma língua que as pessoas que trabalham com você — pessoas de produto e de negócios, por exemplo. Levante seus pontos com o viés dos usuários do seu produto.
  • Criação e rápida validação de hipóteses continua sendo uma habilidade essencial — e ainda falhamos em documentar esse processo e aprendizados.

Se quiser saber mais, procure por essas palestras:

  1. Tangibilizando el Diseño Estratégico, do Alberto Zamarrón Pinilla
  2. Align your Product with “Design as Strategy”, do Séamus Byrne
  3. Content Service Design: herramientas para la creación de productos digitales, da Emilia Ronchetti

Operações de design

Design System, ResearchOps, DesignOps: em que pé estão essas iniciativas sobre as quais começamos a ouvir recentemente? Pudemos notar a presença desses temas principalmente nas palestras da comunidade.

Aprendizados

  • É hora de pensar em design systems acessíveis e inclusivos. Faça otimizações nos códigos dos componentes e prepare-os para serem usados em vários contextos (como para leitores de telas).
  • Por mais que tenhamos autonomia para fazer pesquisa nos nossos times, é importante ter alguém para dar suporte, ferramentas e arrumar a casa — nesse contexto, Research Ops é um conceito que também está chegando com tudo.

Se quiser saber mais, procure por essas palestras:

  1. Os desafios de construir um Design System inclusivo, do Lucas Otsuka e da Ana Cuentro
  2. Bootcamps de Design: como formar, atualizar e alavancar o conhecimento da sua equipe, da Tatiane Godoy e da Gioconda Cristina Afonso
  3. Os desafios de criar o primeiro Design System da maior telefonia da América Latina e estruturar sua Design Ops, do Glauber Lana da Costa e do Thiago Hassu

Também gostamos muito de outras três palestras que não se enquadram nos temas acima. Como ainda não temos acesso às apresentações e aos vídeos para colocar aqui, vamos deixar os temas e os autores:

  1. Presenting design work, da Donna Spencer
  2. Outcomes Over Outputs: An Interaction Design Foundation, do Josh Seiden
  3. Moment Prisons, and How to Escape Them, do Louis Rosenfeld

O que o QuintoAndar apresentou no ILA19

Os desafios de construir um Design System inclusivo, do Lucas Otsuka e da Ana Cuentro. Eles falaram sobre como foi convencer a empresa da importância desse projeto; a união com engenharia e produto e sobre como considerar vários tipos de pessoas para tornar os componentes mais inclusivos.

Constrangimento positivo: uma reflexão sobre hábitos e acessibilidade, também da Ana Cuentro. Nessa palestra, a Ana falou sobre os problemas de acessibilidade que ela enfrenta no dia a dia com produtos e serviços mal projetados.

Bootcamps de Design: como formar, atualizar e alavancar o conhecimento da sua equipe, da Tatiane Godoy e da Gioconda Cristina Afonso. Elas contaram como foi implementar bootcamps no QuintoAndar e ajudar a trocar conhecimento dentro da empresa.

A organização deste ano surpreendeu positivamente: desde a estrutura física do lugar do evento até a qualidade das palestras, em especial as palestras da comunidade. Um ponto que sentimos falta foi a preocupação com acessibilidade do evento, que deixou a desejar pela falta de intérpretes de língua de sinais das línguas que o evento suporta.

Em 2020 o evento será na Costa Rica. Estamos ansiosos desde já e queremos encontrar vocês lá!

Foi pro ILA também? Sentiu falta de alguma coisa no nosso resumão? Quais foram as palestras ou temas mais relevantes para você?

Edição e revisão por André, Lívia e Caroline

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