“Ensinando a Transgredir”: a visão de bell hooks sobre pedagogia

Resenha de Ensinando a Transgredir: A Educação como Prática de Liberdade

Carol Correia
Revista Subjetiva
3 min readMar 6, 2020

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Capa do livro.

Informações sobre o livro

Ensinando a transgredir: a educação como prática de liberdade foi escrito em 1994 por bell hooks, somente sendo traduzido para o português em 2013 por Marcelo Brandão Cipolla. Contém 288 páginas, divididas em 14 capítulos e uma introdução.

Apesar de ser uma obra da década de 90, é notável que este ensaio ainda têm relevância — especialmente quando se observa o ataque a educação pública (e aqui) e a herança de Paulo Freire (e aqui).

Neste livro, hooks fala sobre a pedagogia que apoia e aplica em suas aulas como professora e ativista — uma pedagogia engajada. Uma pedagogia engajada que propõe “um jeito de ensinar que qualquer um pode aprender”, como a mesma fala.

O livro defende uma abordagem transformadora da educação em que professores conseguem ensinar alunos a transgredir barreiras raciais, sexuais, de classe, dentre outras e atingirem a liberdade.

Com uma linguagem acessível, hooks argumenta através de anedotas de sua experiência enquanto professora e aluna sobre a aplicação de uma pedagogia engajada.

Temas abordados

bell hooks observa que há um problema na educação dos Estados Unidos [país onde a mesma mora e leciona]: os alunos não querem aprender e os professores não querem ensinar. Isto é, há uma crise na educação.

A mesma acredita que o modelo de Educação Bancária, em qual há uma autoridade, o professor, que detêm conhecimento e o repassa unilateralmente aos alunos, que são passivos nesse processo não funciona bem.

A solução para resolver a crise na educação é a pedagogia engajada. No entanto, a mesma é deveras exaustiva, pois exige que os professores tenham um compromisso com a autoatualização e promovam o bem-estar, assim como exige que os alunos sejam participativos na sala de aula.

Outro tema que é abordado é a própria pessoa de Paulo Freire. hooks fala de como as obras de Freire foram um sopro de ar fresco para a mesma pensar na forma que poderia aplicar uma pedagogia engajada. E que, embora, possua críticas à primeiras obras de Freire, o mesmo aceitou-as e afirmou que estava trabalhando em cima das críticas feitas a ele.

Pensando no espaço da academia, hooks comenta sobre o racismo e o elitismo, da qual existe. Assim como, comenta sobre sua experiência enquanto aluna na disciplina de Estudos Feministas e sobre sua experiência enquanto professora ao pôr em voga um viés feminista.

Ainda pensando no espaço acadêmico, hooks fala como ser uma das poucas professoras focadas em promover uma pedagogia libertadora é difícil. Além da dificuldade por si só de promover um espaço democrático, tal espaço ruir devido a falta de uma comunidade pedagógica que a promova e a sustente.

Ademais, ela percebe a forma como a linguagem molda suas aulas e o mundo e como é percebido os corpos [tanto dos alunos quanto do professor] no processo pedagógico.

E, por fim, sobre o êxtase de ensinar e aprender.

Considerações finais

O livro é impressionante, trazendo à tona uma discussão imperiosa sobre como vermos e usamos a educação em uma sociedade que procura manter o ciclo de dominação vigente.

Como não sou da área da pedagogia, considero um livro particularmente denso para minha compreensão. Com toda a certeza, este livro me possibilitou a discussões que eu nem tinha sequer cogitado. Válido para os que buscam uma alternativa para defender de educação libertadora.

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Carol Correia
Revista Subjetiva

uma coleção de traduções e textos sobre feminismo, cultura do estupro e racismo (em maior parte). email: carolcorreia21@yahoo.com.br