Uma entrevista infinita feita com uma pergunta só

Texto de março para o desafio literário #EscreverEscrevendo

Regiane Folter
Revista Subjetiva

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Me sentei munida de um velho gravador que usava na época da universidade, um bloco de notas, uma caneta e um café. Coloquei tudo em cima da mesa e observei meu kit jornalístico com orgulho; embora tenha me formado nessa área, nunca trabalhei formalmente como jornalista. Terminei indo parar em outras arestas do universo da comunicação, como o marketing. Porém, guardo com carinho a veia jornalística que descobri durante a faculdade e procuro exercitá-la frequentemente escrevendo matérias como voluntária ou freelancer de alguns portais por aí.

Ou em exercícios como esse aqui.

Em pleno março, mês do Dia Internacional da Mulher, o desafio literário #EscreverEscrevendo da vez é criar uma entrevista com uma mulher que admiro. Pensando nesse tema, abro o bloco de notas e começo a listar todas as mulheres que significam algo para mim, desde pessoas de carne e osso, próximas ou distantes, até personagens, mulheres irreais que nem por isso deixaram de me impactar de uma forma muito concreta.

Que indecisão! Qual delas quero entrevistar? São tantas… Depois de alguns minutos, minha lista já tem proporções gigantescas. Preciso me decidir, porque continuar adicionando nomes ao bloco de notas não vai me ajudar a chegar a uma conclusão, muito pelo contrário. Além disso, o tempo urge, o café esfria, e o mês passa sem misericórdia. Já veio o 8M, já foi embora, e eu sem saber com qual dessas mulheres-maravilha quero falar.

De repente percebo, surpresa, que essa lista de mulheres admiráveis nunca vai parar de crescer porque nunca paro de conhecer novas companheiras e me maravilhar com o que são e o que fazem. Muitas delas não conheço nem de nome, mas tive contato com o seu trabalho, com a sua força. Jamais poderia escolher somente uma delas para entrevistar. Na realidade, prefiro pensar em uma única pergunta que faria a todas, a todas essas mulheres apreciadas, únicas, fabulosas. E a minha pergunta para todas elas (para todas vocês) é:

O que é ser mulher?

As escritoras da minha lista responderiam a essa pergunta em prosa ou verso, mas sempre poeticamente. Simone de Beauvoir diria que primeiro é preciso aprender para depois ser mulher. Isabel Allende talvez comentasse que nós somos o resultado do amor que experimentamos. Pode ser que Sylvia Plath opinasse que somos aquele velho e orgulhoso som que carregamos no coração. Acho que Rupi Kaur afirmaria que somos o que fazemos para que as próximas mulheres possam ver um pouquinho mais longe. Clarice Lispector provavelmente responderia que somos palavra.

Mulheres de profissões diferentes e menos glamourosas, mas muito mais próximas de mim, dariam respostas igualmente variadas. Minha mãe e minhas tias diriam que ser mulher é sinônimo de força, de luta. Minhas primas e amigas, mulheres da minha geração, talvez respondessem que significa liberdade. As escolhas que nossas mães nunca puderam tomar no passado são os privilégios do nosso presente. O que será que vai responder a filha que eu tiver um dia?

Há muitas mulheres que nunca conheci e com certeza suas respostas a minha pergunta seriam ainda mais diversas. Ser mulher para alguém pode ser leveza, dureza, tenacidade, amargor, doçura, tristeza, alegria, sina, escolha, e tantas outras definições e combinações que nem me atrevo a chutar.

A mulher esmagada por uma sociedade que só valoriza um único tipo de corpo e uma única existência pode pensar que ser mulher é sofrimento, resignação, ou até mesmo combustível para a rebelião. A mulher que não consegue realizar seus sonhos pessoais ou profissionaos pelo simples fato de ser mulher talvez nos diga que para ela é sinônimo de injustiça, luto, dor, medo. A mulher sortuda que aprendeu que o céu é o limite e que ela pode ser tudo o que quiser, por mais difícil que o trajeto parecer, poderia responder que ser mulher é superação, esforço, vitória.

Quero conhecer todas as definições possíveis! Essa é a beleza de fazer perguntas sem resposta correta. Meu gravador tem bastante pilha, meu bloco de notas está cheinho de folhas em branco, minha mente vibra de curiosidade e decido que vou fazer essa pergunta a todas as mulheres que puder, todas as vezes que puder, durante toda a minha vida. Quero colecionar suas respostas e aprender de suas percepções, quero incrementar essa lista e um dia, talvez, publicar uma entrevista inifinita feita de uma pergunta só.

Tudo isso porque, para mim, ser mulher é acolher a outras mulheres e crescer juntas.

E aí mana, quer compartilhar tua opinião comigo?

O que é ser mulher pra você?

Esse texto é parte do desafio de escrita #EscreverEscrevendo que publiquei aqui na Subjetiva em janeiro de 2021. Bora participar? Aqui está o desafio completinho:

Se você já tiver escrito o teu texto de março, manda pra mim! 😄

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Regiane Folter
Revista Subjetiva

Escrevi "AmoreZ", "Mulheres que não eram somente vítimas", e outras histórias aqui 💜 Compre meus livros: https://www.regianefolter.com/livros