VERDINHA

IMPASSES NA PESQUISA

Uma erva que gera tabus científicos e sociais. Confira as burocracias e as limitações enfrentadas pelos pesquisadores.

Revista Torta
revistatorta

--

Por Agnes Faria

Editado por Arthur Almeida, Giovana Silvestri e João Vitor Custódio

Enquanto, nos EUA, foram realizadas mais de 10 mil pesquisas científicas que foram analisadas pelas Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos (Nasem), no Brasil, ainda há dificuldades para se ter acesso à planta || Foto por Vinicios Rosa

Conhecida popularmente como maconha, a Cannabis é uma planta que cria estigmas sociais e científicos. No Brasil, assim como em outros países, a erva não é descriminalizada, tampouco, legalizada.

Como trabalhado no textoUm tabu construído historicamente, da Revista Torta, a Cannabis possui seu primeiro registro histórico datado em 2.700 a.C. Foi a partir do século XVI, que ela foi trazida para a América do Sul pelos colonizadores.

As primeiras plantações foram feitas por espanhóis em território chileno. Em 1783, o Império Lusitano instalou no Brasil, a Real Feitoria do Linho Cânhamo. A Feitoria era um importante incentivo de cultivo da Cannabis para o comércio de produtos a base de fibras.

Foi no início século XX que a Cannabis passou a ser mal vista pela classe alta, isso porque a erva representava hábitos de fumo de ex-escravos, mestiços, índios e trabalhadores rurais.

Apesar da planta ser utilizada como matéria-prima para a indústria têxtil, aos poucos ela passou a ser reprimida. Até que, a partir de 1930, com a influência dos Estados Unidos da América (EUA), a maconha passou a ser proibida no Brasil.

E a pesquisa científica da planta, como fica?

O Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) catalogou um total de 470 artigos de brasileiros sobre maconha publicados nos séculos XX e XXI (até 2010). || Foto por Vinicios Rosa

Apenas três países do globo fazem o uso recreativo da maconha. O Uruguai, o Canadá e os EUA. Neste último caso, cada estado tem independência em sua legislação, sendo o uso recreativo da maconha em 11 estados.

Já a utilização medicinal é descriminalizada na Argentina, Austrália, Áustria, Bélgica, Belize, Bermuda, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Croácia, Equador, Espanha, Estônia, Finlândia, Geórgia, Holanda, Israel, Itália, Jamaica, Luxemburgo, Malta, México, Moldávia, Paraguai, Peru, Portugal, República Tcheca e também em 33 estados dos EUA.

Como colocado na reportagem “A redescoberta medicinal do uso medicinal da Cannabis”, da RT, o Brasil apresentou um grande avanço nessa área. Porém, ainda, há um longo caminho pela frente. Isso diz respeito a mais estudos e pesquisas sobre a erva e o tabu causado por um maior aprofundamento do tema.

Nos últimos tempos, as declarações do ministro da Educação, Abraham Weintraub, no qual alegava que as Universidades Federais abrigam extensas plantações de maconha, contrastam com as dificuldades enfrentadas por pesquisadores que tentam estudar a Cannabis.

Em contrapartida às insinuações do ministro, Virgínia Carvalho, coordenadora do projeto “Farmacannabis”, alegou que se fosse tão fácil os cultivos, a saúde pública estaria em melhores condições.

“As pesquisas científicas são importantes ferramentas para a construção de conhecimento empírico sobre a cannabis.”, dito no artigo: Cannabis na mira da pesquisa científica: veja quatro estudos sobre a planta. || Foto por Vinicios Rosa Modelo: Felipe Campos

A Legislação Brasileira permite o cultivo da Cannabis, mas não há uma lei específica sobre o tema. Na prática, nenhuma instituição pública ou privada tem autorização para o cultivo da erva com o objetivo de estudo. Para conseguir o direito à plantação, é preciso uma autorização regulamentada.

Desde 2010, foram apenas 22 novas autorizações nesse modelo e, sem o acesso, os pesquisadores precisam recorrer a importação ou solicitar plantas apreendidas à polícia.

Virgínia Carvalho informou em uma entrevista à Folha de São Paulo que 1 mg de Canabinoide utilizado em suas pesquisas custam em torno de R$ 7.000,00 para importar.

Há dois anos, a pesquisadora iniciou um projeto para dar apoio a famílias que têm aval judicial para o cultivo da erva. A iniciativa faz com que o grupo receba a planta e produza extratos à base de Canabidiol. Os cultivos são acompanhados pelo Ministério Público Federal.

Em muitos casos, a espera é maior. Na Universidade de Brasília (UnB), a coordenadora do Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associados, Andrea Gallassi, esperou três anos para sua pesquisa sair do papel.

Os estudos de Andrea visam testar o uso de canabidiol em usuários de crack. O motivo alegado para a demora era a exigência de autorização e recursos para financiar a importação de 200 frascos de Canabidiol.

Bem longe daquilo que o ministro apontou a respeito das plantações de maconha em Universidades Federais, os estudos sobre a Cannabis ainda são limitados e burocráticos e os tabus sociais que cercam essas pesquisas, complicam ainda mais a situação.

Ainda segundo o artigo Cannabis na mira da pesquisa científica: veja quatro estudos sobre a planta, 75% dos idosos israelenses fizeram uso de Cannabis medicinal para dores crônicas durante 6 meses, e 93% relataram melhora nos sintomas. || Foto por Vinicios Rosa Modelo: Felipe Campos

--

--

Revista Torta
revistatorta

Divulgando informações. Projeto de revista digital com contextualização e difusão acadêmico-científica. Faça parte da Torta!