Revista Torta — Edição 06

E agora, José?

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Por João Vitor Custódio

Editado por Arthur Almeida, Giovana Silvestri e Rafael Junker

Planeta enfrenta crise de recursos naturais, afetando a população. Em julho deste ano, ele atingiu o esgotamento de seus recursos naturais mais cedo em toda a história. Países desenvolvidos e em desenvolvimento, juntos à sociedade do consumo e ao capitalismo, têm a maior parcela da culpa.

No último dia 29 de julho, a Terra atingiu a negatividade de recursos naturais. Agora, a tendência é que tudo aquilo consumido por nós, seres humanos, não seja reposto pelo planeta, tendo em vista que precisaríamos de quase duas Terras para suprir o nosso consumo.

Esse consumo, aliás, intensificou-se na Segunda Revolução Industrial. No final do século XIX, a industrialização estendeu-se para além da Inglaterra, atingindo países da Europa Ocidental e Oriental, Japão e Estados Unidos.

Foi nessa época que surgiu o capitalismo financeiro, ou seja, banqueiros passaram a investir na economia, financiando as produções industrial, agrícola e mineral. Também houve um grande fluxo de pessoas da área rural em direção à área urbana.

As indústrias necessitavam de mão de obra e exigiam um maior número de trabalhadores que não precisavam de especialização para trabalhar. No entanto, a jornada chegava a 16 horas diárias e, em alguns casos, incluía mulheres e crianças na linha de produção.

Surgiram, assim, os oligopólios, empresas que tinham muito poder econômico. As principais divisões ficaram conhecidas como:

  1. truste (empresas que se fundem com o objetivo de controlar o mercado, por meio dos preços e da produção);
  2. cartel (empresas independentes que, às vezes, estabelecem acordos para combater os concorrentes);
  3. e holding (empresa que controla outras empresas do ramo por meio da posse da maioria das ações).

No final do século XX e começo do século XXI, o conceito de globalização, que se refere à ampliação dos fluxos de mercadorias, inovações tecnológicas, rápida propagação de informações e maior integração entre os países capitalistas, foi difundido.

As empresas, inclusive, por meio dessas integrações, passaram a abrir transnacionais. Essas corporações são instaladas em territórios internacionais e são oriundas de países industrializados e desenvolvidos. Um exemplo é a rede estadunidense de fast-food McDonald’s.

Tais avanços, porém, acarretaram problemas ambientais. Por muito tempo, os recursos naturais foram utilizados sem planejamento, desconsiderando as possíveis consequências do uso excessivo.

É nesse contexto que surge, por volta dos anos 90, o conceito de sustentabilidade: conservar hoje para utilizar amanhã.

Pegada ecológica

Dentre esses problemas, podemos destacar a poluição do ar, a escassez da água potável, o desmatamento e o aquecimento global. Conforme disse a Ecological Footprint Network, organização especializada em calcular a pegada ecológica:

“Os custos deste excesso estão se tornando cada vez mais evidentes em todo o mundo, sob a forma de desflorestação, erosão dos solos, perda de biodiversidade e acumulação de dióxido de carbono na atmosfera, levando a alterações climáticas e a secas, incêndios e furacões cada vez mais graves.”

Por pegada ecológica, entende-se o rastro que a humanidade deixa no meio ambiente por meio do uso de transportes, de atividades industriais, comerciais (incluindo o consumo) e agrícolas. A partir de cálculos, é possível saber quanto uma pessoa contribui para a diminuição dos recursos naturais.

Por exemplo, para a produção de 1 Kg de carne, são utilizados 15.500 litros de água, a cada 1 Kg de frango, 3.900 litros de água e a cada copo de cerveja, 75 litros de água.

De acordo com a Agência Nacional das Águas (ANA):

“Estima-se que 97,5% da água existente no mundo é salgada e não é adequada ao nosso consumo direto nem à irrigação da plantação. Dos 2,5% de água doce, a maior parte (69%) é de difícil acesso, pois está concentrada nas geleiras, 30% são águas subterrâneas (armazenadas em aquíferos) e 1% encontra-se nos rios. Logo, o uso desse bem precisa ser pensado para que não prejudique nenhum dos diferentes usos que ela tem para a vida humana.”

Uma pesquisa da Akatu disponibilizou dados sobre a emissão de dióxido de carbono (CO2) por meios de transportes. De acordo com a equipe, “uma pessoa que vai para o trabalho de carro contribui para o aquecimento global, em dois dias, o mesmo que se tivesse feito essa trajetória de metrô durante um mês inteiro”.

Isso acontece porque um carro emite 150 gramas de CO2 por dia, enquanto o metrô emite 12 gramas. Nas grandes cidades, começaram a fazer rodízio de carros devido ao agravamento do aquecimento global e a situação caótica no trânsito, gerada pela superpopulação.

Protocolo de Kyoto e a problemática de países desenvolvidos

Em 1997, na cidade de Kyoto (Japão), países integrantes da Organização das Nações Unidas (ONU) firmaram um protocolo com a intenção de reduzir a emissão de gases tóxicos na atmosfera. Surgiu, assim, o Protocolo de Kyoto.

Tendo como principal alvo a emissão de CO2, o objetivo do protocolo é amenizar o impacto de problemas ambientais causados pela industrialização e consumo exagerado.

Por conta disso, países como os Estados Unidos (responsável por 36,1% da emissão mundial) e a Croácia assinaram o acordo, mas não o validaram. De acordo com os EUA, as metas aplicadas prejudicariam seu desenvolvimento.

Em 2002, inclusive, o então presidente George W. Bush anunciou um plano alternativo ao protocolo. Eles pretendiam diminuir a “intensidade dos gases que provocam o efeito estufa” na proporção equivalente ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), algo que não aconteceu.

Essa problemática dos Estados Unidos com a emissão de gases tóxicos não parou por aí. Em 2017, o atual presidente, Donald Trump, anunciou a saída do país do Acordo de Paris, que também tem por objetivo minimizar as consequências do aquecimento global.

Situação no Brasil

O Brasil ocupa a quinta posição no ranking de produção de lixo no mundo. Entretanto, podemos ser capazes de reaproveitar 25% desses resíduos sólidos (cerca de 20 milhões de toneladas), algo que não acontece, contribuindo para a escassez dos recursos naturais.

Para a Global Footprint Network, o Brasil consome recursos naturais em um ritmo mais acelerado que a média mundial:

“O Brasil está no sentido de consumir mais recursos e aproveitar menos os resíduos do que a média mundial. Então esse é um problema que precisa ser encarado de frente”.

Em relação à água, o Brasil enfrenta severas crises hídricas. De acordo com a ANA, 2017 foi o mais crítico quanto aos impactos da estiagem sobre a população. Isso porque quase 38 milhões de brasileiros foram atingidos pela seca — 80% dos casos aconteceram no Nordeste.

Em relação ao desmatamento, a situação não é diferente. No mês passado, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou dados sobre o desmatamento da Amazônia nos últimos três anos, gerando críticas por parte do governo e a demissão do diretor do instituto, Ricardo Galvão.

De acordo com os documentos, a área sob desmate, de agosto de 2018 a julho deste ano, conforme alerta, poderia ser de 6.800m². Comparada ao período de agosto de 2017 a julho de 2018, houve um aumento de 2.300m². Entretanto, pesquisas indicam que a taxa oficial é sempre maior que os alertas.

No período anterior, por exemplo, essa taxa chegou aos 7.500m², sendo 68,4% maior que os alertas emitidos (casos que também foram vistos em 2016 e 2017). A divulgação oficial do último período analisado ainda não foi divulgada.

Para o presidente eleito Jair Bolsonaro, a divulgação de dados foi uma ação que feriu o patriotismo brasileiro, podendo manchar a imagem do país:

“A questão ambiental aí fora é na verdade psicose ambiental. Você tem que combater se tiver desmatamento, não é justo aqui dentro fazer campanha contra o Brasil. No mínimo, se o dado for alarmante, ele [Ricardo Magnus Osório Galvão, diretor do Inpe] deveria, em tom de responsabilidade, respeito e patriotismo procurar o chefe imediato, no caso o ministro e dizer: olha ministro, temos uns dados aqui, vamos divulgar, devemos divulgar, o senhor se prepare. Assim que deve ser feito e não de forma rasa como ele faz, que coloca o Brasil em situação complicada. […] Um dado desse aí, da maneira de divulgar, prejudica a gente”.

A situação ambiental, tanto no Brasil, quanto no mundo, é alarmante. Esta edição analisa a sociedade do consumo e o consumo consciente, desmistifica o vegetarianismo e o veganismo, apresenta as políticas públicas voltadas ao combate do desmatamento no Brasil e os casos de queimadas na Amazônia.

Citando o grande poeta Carlos Drummond de Andrade e sua obra “E agora, José?”, com modificações acerca do tema proposto: as florestas estão sendo desmatadas e queimadas, a água potável está acabando, a sociedade está consumindo, o planeta está se esgotando… E agora, José?

Sumário do Dossiê

Redação:

A desordem do consumismo na sociedade de consumo

Consumo Consciente

O melhor modo de ajudar os animais é deixando-os fora do prato

A vida não são só flores

Amazônia pede socorro

ESPAÇO FARINHA (charges)

Ensaios Fotográficos:

CONSUMIDOS

59.050 LITROS DE ROUPA

CARNÍVORO?

ONG’S EM AÇÃO

ESGOTAMENTO

O QUE OS OLHOS NÃO VEEM

EFEITO Homo demens

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