Expressão em tempos de cólera

Daniel Muñoz
Soixante-huit
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4 min readApr 10, 2019

Se tenho leitores para o meu jornalismo estranho de Soixantaine, começo esta carta saudando todos. Vou usar este espaço que é quase um editorial (se eu puder considerar minha publicação como uma real expressão jornalística), para falar um pouco mais àqueles que gostam dos meus textos, sobre o que está sendo para mim a produção deste conteúdo.

Dar vida a Soixantaine veio do reencontro com uma parte que havia morrido dentro de mim, sufocada por mudanças abruptas no meu cenário profissional, que me levaram para longe de um mundo que eu amava. Já contei esta história em um meu relato Botas de Repórter, publicado na minha outra publicação, Nativo Estrangeiro.

https://medium.com/nativo-estrangeiro/botas-de-rep%C3%B3rter-41d355d5726c

E tudo começou com um museu em chamas, em um dos dias mais tristes da história recente do meu país. Talvez hoje até pouca gente se lembre, mas foi no dia da festa da independência brasileira que eu lancei o meu primeiro artigo mais jornalístico no Medium, sobre o Museu Nacional do Rio de Janeiro, que tinha se incendiado muito pouco tempo antes.

https://medium.com/soixantaine/relato-sobre-o-inc%C3%AAndio-no-museu-nacional-e-como-isso-foi-noticiado-por-jornais-e-pessoas-c1fd03bfd15d

Naquele momento a minha produção ainda não estava dividida como está hoje, em três publicações (também tenho a publicação de ficção, Mel de Vespas). E cronologicamente, quando fui reorganizar meu material, para que coubessem nestas três vertentes, vi que a última a nascer, e a com menos conteúdo, era justamente Soixantaine.

(Para aqueles que também querem acompanhar o Mel de Vespas: https://medium.com/mel-de-vespas)

Não fui totalmente inocente quando percebi isso, pois espontaneamente passei a me mobilizar para escrever mais conteúdos jornalísticos, para que Soixantaine pudesse sobreviver. Só que este não era meu único motivo. Essa relação de ser um jornalista com mais experiência em coberturas culturais, era também o que me aproximava de voltar a me desafiar no meu consumo cultural.

Deixar Soixantaine vivo me permitiu voltar a ser uma pessoa que ativamente busca novos horizontes culturais. Apenas por isso essa publicação já se torna uma das mais importantes partes da minha vida.

Também foi de um conteúdo que escrevi para cá, que surgiu este nome, que na verdade é uma palavra francesa bastante específica e obscura:

Quem busca expressões culturais que não aparecem em mídias mais tradicionais, pode ter certeza que em Soixantaine encontrará.

Para os curiosos, explico: Soixantaine significa de 1968, e veio de uma frase de Christopher Hitchens, falando sobre Phil Ochs. Para aqueles que não conhecem o músico e sua brilhante história, foi por esta reportagem que escrevi, que toda esta minha relação com o este nome começou:

https://medium.com/soixantaine/como-seria-o-mundo-se-fosse-mais-f%C3%A1cil-amar-phil-ochs-do-que-bob-dylan-c78f4aad16d9

Neste último mês, nos tempos de cultura inimiga da nação, com o governo de extrema-direita que temos no país, minhas publicações manifestaram ainda mais o lado político delas, além de falar sobre o jornalismo cultural. Afinal, assim como Phil Ochs, não falarei de cultura ou produzirei nenhuma cultura, que não envolva também a política.

Lollapalooza foi a minha primeira cobertura jornalística de um grande festival.

No dia 13 de março falei sobre as expressões de Jack White, e suas qualidades narrativas singulares, neste artigo que carrega minhas lembranças da minha primeira cobertura jornalística de um festival do tamanho do Lollapalooza:

https://medium.com/soixantaine/jack-white-e-o-jovem-velho-rep%C3%B3rter-do-lollapalooza-26eda1aa3665

Livros esquecidos por nossos tempos atuais.

Dois dias depois, no dia 15, reportei sobre mais uma expressão violenta que aconteceu no Brasil, no primeiro notável massacre escolar com jovens armados no Brasil, importando de vez o modelo do Partido Republicano dos EUA. É profundamente dolorido pensar que esta situação só piora, hoje mesmo não fazem muitos dias desde que o exército no Rio de Janeiro fuzilou e assassinou uma pessoa inocente, com oitenta tiros.

https://medium.com/soixantaine/tiros-importados-por-votos-5f3851288e68

Fachada do lindo Theatro Municipal de São Paulo.

Estreio o mês de abril de Soixantaine com uma história sobre como a cultura vai se apagando dos eventos culturais, como pude perceber na linda e notável apresentação que assisti da Sagração da Primavera, de Stravinsky, no Theatro Municipal de São Paulo. O evento foi apresentado pelo Ministério da Cidadania e este detalhe claramente me incomodou profundamente.

https://medium.com/soixantaine/a-cidadania-oferecendo-o-bal%C3%A9-sensorial-de-stravinsky-a8b0af6a58b7

Soixantaine vive para não me permitir definhar de saudade, por estar muito mais longe do que eu gostaria da minha vida de repórter. Aqui como sou dono, deste veículo que mal existe, mas tem uma boa periodicidade, o jornalismo vai ter a minha cara.

E para meus leitores, prometo qualidade e honestidade no conteúdo. Além de carinho e agradecimentos deste jovem e saudoso repórter.

Da redação de dentro do meu quarto, o seu repórter Soixantaine,

Daniel Muñoz

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Daniel Muñoz
Soixante-huit

Um dia jornalista, hoje historiador. Escrevo só sobre o que quero e quando acho que tenho algo a dizer. Para mim é importante a diferença entre Ochs e Dylan