Ganhe autoconhecimento assistindo a vida

Daniel Muñoz
Soixante-huit
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3 min readMay 18, 2019

Neste último mês, os que acompanharam Soixantaine viram muito bem que uma boa história se define por um bom personagem. Talvez possamos vincular este fato pelo repórter que vos escreve estar atualmente estudando a construção de personagens, como já mencionei na carta de Mel de Vespas, ou talvez porque o existencialismo tenha voltado a voga com força para o imaginário das pessoas.

De uma cena linda deste filme, Rodrigo Santoro encena com a brilhante Maricel Álvarez.

E para os que não acompanharam, explico. Começando pelo filme que até agora provocou maior reação de minha parte entre todos que já resenhei por aqui. Estou falando de O Tradutor, filme cubano protagonizado por Rodrigo Santoro. Note que não sou eu que constato que este filme teve um grande impacto, mas a minha esposa que não demorou a dizer que era visível que era o filme que eu mais tinha gostado, entre todos que assistimos.

https://medium.com/soixantaine/cuba-nua-em-o-tradutor-7d9dcff7c573

Eu acredito que seja porque este filme conversou com uma ideia de sociedade muito emblemática que ronda meus pensamentos desde a formação do meu ser político. O filme mexe com os sentimentos de ego e da visão do social, com as ideias de coletivo e de individual, o que para mim se torna quase uma seção gratuita de psicanálise, junto com uma boa história e tantos atores incríveis.

Se ainda não falei vezes suficientes, leiam estes livros!

Além do filme, vale mencionar dois livros que me causaram profundo existencialismo também, estou falando da série de J. M. Coetzee, A Infância de Jesus e A Vida Escolar de Jesus. Talvez os dois livros juntos deem o tamanho de um Ilusões Perdidas, de Balzac, porém acho que ainda são menores. Mas o grande destaque não é nem o tamanho, mas a incrível facilidade em lê-los. Acredito que Coetzee mereça todos os elogios por produzir uma literatura de alto nível reflexivo, tão simples de ser lida.

https://medium.com/soixantaine/inc%C3%B4modos-bem-estruturados-por-j-m-coetzee-f31c92414cc9

E mais uma vez falamos de personagens, porque o garoto Davíd, estrela da narrativa de Coetzee, foi um personagem que me fez ter os mais diversos sentimentos antagônicos, simultaneamente. Minha esposa que também leu a obra não conseguiu não detestar o garoto, porém eu fiquei sempre no meio do caminho entre o achar uma terrível criança mimada e um gênio a frente de seu tempo. Talvez os livros também foram uma sessão psicanalítica para mim.

Não passaram somente anos entre estes álbuns, mas o fim da banda, que foi um dos fatores que construiu as produções fantásticas que Lennon e McCartney fizeram sozinhos.

Finalizo com a minha reflexão desta última sexta-feira, em que contei a história do processo solitário de composição musical. Esta história me custou muito a ser escrita, até pela incessante busca pelas melhores referências para um texto que poderia ter um trilhão de exemplos. Lidar com estes artistas que carrego como ídolos é um exercício de autoconhecimento, ao avaliar a forma como produziram peças de tamanha maestria, muitas vezes destilando sentimentos tristes tão mundanos como os meus.

https://medium.com/soixantaine/a-solid%C3%A3o-das-composi%C3%A7%C3%B5es-musicais-f21bce08e447

A conclusão que chego é que os personagens são grandes fontes de autoconhecimento para quem os assiste, afinal sempre podemos trazer uma realidade de alguém para dentro da nossa. No fundo fico muito feliz que seja este o caso, porque talvez seja o que mostre que ainda tenho uma quantidade grande de empatia a oferecer.

Da redação Soixantaine dentro da minha cabeça, um abraço e até a próxima!

Daniel Muñoz

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Daniel Muñoz
Soixante-huit

Um dia jornalista, hoje historiador. Escrevo só sobre o que quero e quando acho que tenho algo a dizer. Para mim é importante a diferença entre Ochs e Dylan