entre o som e o silêncioentre o dizer e o fazerentre o falar e o ouvirhá algo de inapreensível, de inefávelhá o sentir
há tanta dor no mundotanta ausência de cor e um profundodesespero de vivernão sei como não morro a cada cinco minutosnão sei como não corro para o escuro todo oculto
dedico todos meus textos aos analfabetos
aos disléxicos e cegosaos dementes e bárbarosaos bêbados e gagos
aos surdos,dedico meus berros
as raízes cresceram tantotão profundase por tanto tempoque o fruto parecia esquecido
a manhã deixouuma caixa de solsobre minha cama
tenho 9 janelase nenhuma portatenho 15 tramelase nenhuma resposta
somos todos órfãos de paifilhos sem pazatormentados pela lembrança do último dia
da janela da cozinhacontemplo o que tinhasonhos de mentirabobagens de menina
vamos abraçar os vivosporque os mortosesses já são muitos longe reunidosdo lado de lá
nos resta ansiar que atravessemos logoessa ponte partida no fim do diamadrugada afora rolamos…
o mundo acaba no final da ruatenho certezas dia sim dia nãodepois de lá não sei o que háalém da porta um nada cadavácuo fundamentado no passoa funda compreensão de que resta medonão sei do que nem entendoapenas