Realizando um Discovery: Parte 2

7 min readMar 1, 2023

Mitigando Riscos e Alinhando Expectativas

COMO MITIGAR RISCOS

Quais são os riscos a serem mitigados?

O Discovery busca mitigar diferentes tipos de riscos que resultam em tempo e esforço técnico desperdiçados em soluções que não gerem valor para o negócio e nem para os usuários.

De acordo com Marty Cagan, existem 4 tipos de risco em produto: Risco de Usabilidade, Risco de Viabilidade Técnica. Risco de Negócio e Risco de Valor.

Risco de Usabilidade (Product Designer)

Para evitar que o seu usuário não consiga usar seu produto, é necessário entender:

Se os conceitos e termos utilizados são conhecidos pelos usuários;
Se o ganho do usuário compensa o trabalho de aprender a usar o produto;
Se o produto funciona nos contextos que o usuário precisa utilizá-lo e
Se o sistema é simples e responsivo para permitir que os usuários concluam suas tarefas.

O Risco de Usabilidade é aquele que demanda mais atenção da Product Designer para mitigá-lo. Para reduzir esse risco, deve-se aplicar testes de usabilidade:

Atente-se às 10 heuristícas da usabilidade de Jacob Nielsen ao criar um protótipo da solução
Recrute 5 usuários (essa quantidade de usuários consegue encontrar 80% dos maiores problemas)
Monte o plano do teste, definindo: objetivo, local e recompensa do teste
Realize o teste, dando tarefas para o usuário realizar, e não o guie ou ajude a realizá-las.
Anote os principais pontos de dificuldade durante a utilização do produto pelo usuário
Realiza um plano de ação sobre as dores alcançadas para que se possa atuar nas melhorias do seu produto

Risco de Viabilidade Técnica (Tech Lead)

Para mitigar esse risco, pode-se também consultar o time de desenvolvimento, a fim de verificar:

Se o produto que se deseja construir precisa ser desenvolvido do 0 ou se é possível utilizar produtos já existentes no mercado
Se existe viabilidade técnica e profissionais com as habilidades necessárias dentro da empresa
Se existe acesso a tecnologias certas que permitam escalar a solução
Se há tempo e recursos necessários para construir a solução desejada

Algumas boas práticas para mitigar esse risco são:

Envolver desenvolvedores e designers em sessões de groomings, para que a proposta não seja rejeitada por débito técnico futuramente
Caso a solução vá ser construída desde o início: dê tempo ao time para estudar e conhecer as soluções técnicas já disponíveis, bem como realizar uma prova de conceito (POC) para ver se a solução funciona
Quebre o problema em problemas menores, a fim de buscar solucionar os mais simples e, depois, os mais complexos, avançando na solução de forma progressiva

Risco de Negócio (Product Manager)

Para garantir que a solução vai atender às necessidades do negócio antes de criá-la, deve-se verificar:

Se o produto vai trazer o resultado esperado para a empresa;
Se todas as leis foram respeitadas: a solução pode gerar algum risco legal para o negócio ou algum problema para outras áreas da empresa (marketing, vendas, customer success)?;
Se o custo de produção do seu produto está dentro do esperado e
Se o produto será construído de acordo com a visão e a estratégia da empresa

Ações que podem mitigar esse risco:

Envolver as demais áreas em dinâmicas de co-criação, buscando entender o impacto que as soluções podem gerar no business
Manter o jurídico informado das suas ações e descobertas
Estimar o custo de desenvolvimento e de operação da solução
Ter métricas de sucesso claras desde o princípio

Risco de Valor (Product Manager + Product Designer)

Para evitar o risco de valor, é necessário entender:

Se o problema atacado é um problema real dos usuários;
Se existe demanda suficiente para o uso do produto/feature;
Se o conhecimento do problema é suficiente para resolvê-lo e
Se os usuários veem valor no produto/feature criado, a ponto de usá-lo ou comprá-lo.

Um framework para mitigar esse risco, envolve 4 etapas:

Entrevista sobre o problema: o roteiro para este tipo de entrevista consiste em: dar as boas-vindas ao usuário convidado à entrevista, perguntar alguns dados demográficos, explicar o contexto do problema e o que está sendo investigado e, por fim, perguntar sobre os problemas que as pessoas tem no dia a dia, rankeando estes problemas de acordo com sua frequência e impacto negativo

*Outline of a problem interview script — Fonte: Ash Maurya — Running Lean*

Value Proposition Canvas: este método tem por objetivo identificar os trabalhos que o usuário deve realizar e ouvir sobre as dores e os ganhos do usuário ao realizar as tarefas. Tendo estas informações, você pode realizar a listagem dos produtos e serviços a serem desenvolvidos para ajudar seu usuário. Dessa forma, os ganhos que podem ser gerados para o usuário e as dores que ele enfrenta serão atacados a partir dessas soluções.

Entrevista sobre a solução: o roteiro para este tipo de entrevista consiste em: dar as boas-vindas ao usuário convidado à entrevista, perguntar alguns dados demográficos, explicar o contexto do problema e apresentar uma demonstração ao seu usuário do que está sendo proposto. Se possível, nesta entrevista você já buscará entender qual preço o entrevistado estaria disposto a pagar pelo seu produto.

*Outline of a solution interview script — Fonte: Ash Maurya — Running Lean*

Teste Fake Door: Nesta etapa, você pode realizar um teste com usuários reais. Exemplo de como aplicar: disponibilizando um produto para venda, verifica quantas pessoas se interessam ao comprá-lo. Durante o checkout de compra, explica-se que o produto ainda não está disponível, mas que será lançado em breve e que a pessoa será avisada por email, caso tenha interesse

ALINHANDO EXPECTATIVAS

Objetivos Claros

Ao definir o objetivo da pesquisa, entenda se será realizada uma pesquisa exploratória (utilizada quando se precisa entender mais sobre determinado domínio) ou específica (já existe um domínio claro e tem objetivo de validar ou invalidar hipóteses).

É necessário, então, comunicar o time (para que ele entenda o objetivo a ser alcançado) e as lideranças (explicando a motivação e o valor da pesquisa).

Contexto Claro

Além do objetivo, o time precisa entender bem o contexto. Somente assim, você consegue obter um time:

Proativo: sabe quais foram os objetivos definidos e buscam alcançá-los;
Autônomo: sabendo o contexto e objetivos, não dependerá sempre de alguém que diga o que deve ser feito;
Assertivo: sabendo o problema e o cenário atual da empresa, buscará as melhores soluções possíveis.

Também é importante alinhar as decisões com stakeholders do projeto, afim de setar expectativas sobre o que é importante, para não haver surpresas a médio e longo prazo.

Passo a Passo da Pesquisa

Alinhe seu cronograma de pesquisa com os stakeholders, apresente todas as etapas e defina um timebox para cada uma delas, considerando o quanto deve ser investido em pesquisa.

Tendo a pesquisa iniciada, mantenha uma rotina de updates:

Para o time: atualizações diárias, de forma mais informal (como Slack), a fim de fazer o time se sentir parte da pesquisa e entender o contexto do desafio que está sendo desenhado.
Para lideranças e stakeholders: apresente relatórios periódicos de evolução e descobertas da pesquisa, permitindo que os stakeholders deem feedback sobre a atuação e os métodos utilizados em pesquisa. Assim, é possível mudar o curso da pesquisa ou se preparar para a apresentação final dos resultados.

Um cronograma de pesquisa costuma ter as seguintes etapas: definição do escopo, objetivos e contexto; planejamento inicial da pesquisa; definição das técnicas que serão utilizadas; definição do perfil de cliente alvo; execução da pesquisa; fechamento da pesquisa e confecção de relatórios e, por fim, uma apresentação dos resultados finais.

Kick-off

Realize um kick-off da pesquisa com todos os envolvidos, assim, é possível alinhar com todos: os objetivos, o contexto, a forma com que a pesquisa será feita e as etapas que ela terá.

No kick-off, será resumido tudo que foi discutido e possibilitará a resolução de eventuais discordâncias finais, abrindo a largada pro início das pesquisas.

Gerenciar Frustrações e Ansiedades

Ao fim das pesquisas e análise de dados obtidos, será realizada a priorização dos problemas a serem atacados. É necessário comunicar com clareza para o time e stakeholders o que será priorizado.

Apresente as oportunidades mapeadas, onde e como elas surgiram no processo de discovery, os resultados a serem alcançados e os critérios de priorização. Mostre, então, as oportunidades priorizadas e as que poderão estar em um backlog.
É comum que os envolvidos apresentem certa ansiedade ou frustração com a priorização. Permita que o time e stakeholders expressem sua opinião e sentimentos em relação à priorização.
Caso se frustrem por não ter sido priorizada alguma oportunidade, reforce o seu objetivo e os critérios de priorização. Deixe claro que ainda existirão muitos passos até a entrega da solução final e apresente uma estimativa macro de tempo para que sejam realizadas as diferentes entregas de valor.

Lembre-se: o mais importante é resolver a oportunidade priorizada, sem se comprometer com uma solução específica e, então, mantenha todos atualizados das novidades, evidenciando a evolução do processo de Delivery.

Quais as referências utilizadas nesse guia?

ALMEIDA, Marcell. Técnicas de Priorização. Material Digital do Curso de Product Management. Aula 3.3. PM3.

ALVES, Helder. Usando OKRs em conjunto com Product Discovery. Material Digital do Curso de Product Discovery. Aula 5.2. PM3.

CANTADORI, Maria Luísa. Como um PM e UX Trabalham Juntos. Material Digital do Curso de Product Management. Aula 4.2. PM3.

NEGRÃO, Adriano. Reuniões mais produtivas com Parking Lot. Medium, Janeiro, 2018. Acesso: 20/07/2022. Disponível em: https://medium.com/@adrianonegrao/faça-reuniões-focadas-com-parking-lot-7d4b0d3c61b2

PRINTES, Dan. Como fazer Discovery no Dia a Dia. Material Digital do Curso de Product Discovery. Aula 1.3. PM3.

REIS, Valéria. Facilitando dinâmicas em UX. Medium, Maio, 2020. Disponível em: https://medium.com/uxmpretas/facilitando-dinâmicas-em-ux-65d41bc4d252 Acesso: 20/07/2022.