A Nação Caapuã: Herdeiros dos Sonhos Nativos.

Brasil In The Darkness
Brasil na escuridão
19 min readApr 11, 2021

Versão em Português-BR | Versión en Español

Por Porakê Martins, Alex Pina, Aredze Xukurú, Eros Rosado & Jessele Damasceno

Arte de Keoma Calandrini, original para Brasil in the Darkness

“Esta é mais uma das histórias que os antigos contam, mas não é qualquer história. Esta é a lenda de Cobra Norato e Maria Caninana, os filhos gêmeos de Boiaçu, a Cobra Grande, os primeiros de nosso Povo.

Diziam os antigos que, em uma noite de luar, Cobra Grande veio até uma indígena formosa que se banhava sozinha nas águas de um igarapé. Não era considerado coisa direita mulher-moça se banhar no igarapé em noite de luar, principalmente quando estava ‘naqueles dias’, mas essa dita cuja não parecia se importar com nada disso. Por sorte, ou azar, Boiaçu se agradou da moça e veio ter com ela.

A barriga da indígena cresceu e no tempo certo, na beira do igarapé, apavorada, ela pariu duas cobrinhas, um casal, que eram capazes de virar gente e virar cobra, a quem deu o nome de Maria Caninana e Norato, a primeira foi tomada como afilhada de Jaci e o segundo, por ciúme, foi reclamado por Guaraci. Logo ao nascer os dois rastejaram para um igarapé e sumiram na imensidão do Grande Rio.

Caninana veio ao mundo primeiro, pouquinho antes do irmão, desde cunhã era geniosa a danada, malvada mesmo. Ela virava os barcos, furava as redes, afogava os homens e devorava os peixes pequenos. Tinha raiva de gente e não considerava nem a mãe que a pariu, pois se sentia rejeitada por ela.

Já Noratinho, o caçula, era rapaz direito, ainda pequeno vinha visitar a mãe e à noite mamava o leite de seu peito enquanto ela dormia. Visitando as aldeias, ele se afeiçoou às pessoas, fez amizade entre os homens e sucesso com a mulherada.

O tempo passou e os dois cresceram, e quando viravam cobra eram muito maiores que os batelões que cruzavam o rio. Caninana, a mais velha, como não perdia tempo no mundo dos homens e tinha crescido sozinha na mata, entre os bichos, era a maior, mais feroz e mais forte dos dois e sua raiva de gente cresceu junto com ela.

Eles eram como água e azeite, como as águas do Amazonas e do Tapajós. Havia muito desentendimento entre os irmãos e o desentendimento cresceu até virar briga de verdade, e briga feia.

Certo dia, numa luta entre os dois, Caninana arrancou um dos olhos de Cobra Norato, que acabou caolho, coitado. Foi então que ele decidiu colocar um fim naquilo. Não era por causa de que ele tinha perdido o olho, mas porque tinha entendido que sua irmã havia enlouquecido com o ódio e rancor que envenenavam seu coração.

Ele, rapaz sabido, arrumou um jeito de colocar um ponto final nas maldades de Caninana e, virado cobra, saiu para procurar pela irmã. Quando a encontrou, tratou de chamar sua atenção exigindo uma revanche. Desatinada, a malvada saiu furiosa atrás dele, mas Noratinho era menor e mais rápido e Caninana penou para tentar alcançá-lo.

Os dois subiram o rio até chegarem de fronte à Aldeia de Pauxis, onde hoje fica a cidade de Óbidos. Lá, no ponto mais estreito e profundo do Grande Rio, Norato saltou e passou para o outro lado, Caninana, porém, bem maior e encegueirada pelo ódio, não conseguiu saltar a tempo e acabou presa nas profundezas do Estreito de Óbidos, onde permanece até os dias de hoje.

Lá tem vez que se forma um redemoinho traiçoeiro que leva mulher, homem, velho ou menino, gente que não aparece nunca mais. Dizem que é ela que, puxando a respiração, engole os desavisados. Nem presa a danada deixa de ser péssima.

Mas ainda há quem se pergunte se Cobra Norato agiu certo, pois sem o medo que Caninana despertava, os homens se tornaram cada vez mais prosas e desalmados, e hoje a floresta e os sonhos que ela alimenta minguaram até o ponto de ameaçar desaparecer para sempre. Talvez fosse este o destino que ela tentava evitar.”

̶ Dona Belém, Boiúna Rezingona, Anciã da Anama de Belém do Pará.

Arte de Alyne Leonel, original para a Brasil in the Darkness.

Quando os primeiros Kithain aportaram por aqui, se depararam com estranhos seres feéricos nativos, que chamavam a si mesmos de Nanatüs ou Caapuãs. Os Caapuãs se viam como intermediadores entre os povos nativos e a natureza selvagem, uma missão que teria sido conferida a eles por seu criador, uma entidade chamada Boiaçu, a Cobra Grande. Segundo eles, foi Boiaçu quem abriu caminho, criando com seu rastro o leito do Rio Amazonas e, assim, permitiu à Grande Floresta florescer, a partir de suas águas e dos nutrientes que ele carrega.

Para manter a harmonia entre sua criação e os primeiros humanos que chegaram a esta terra, cujos descendentes são os povos indígenas, Boiaçu teria criado todos os Caapuãs. Mas este legado foi ameaçado pela chegada dos colonizadores europeus e pelo extermínio dos povos nativos, o que, teria forçado Boiaçu, por desgosto, a mergulhar de volta ao Fundo, a realidade Além do Mundo Outonal, para adormecer nas profundezas, deixando para trás seus Caapuãs.

Assim, como filhos maduros diante da inevitável perda de seus pais, muitos Caapuãs decidiram resistir bravamente à colonização, honrando a missão pela qual foram criados, buscando preservar a natureza selvagem do “Novo Mundo” e as lendas e costumes dos povos originários. Embora alguns entre eles guardem rancor por se sentirem abandonados por Boiaçu e até mesmo tenham buscado se aliar aos forasteiros Kithain por conveniência ou desespero.

Como os Kithain, os Caapuãs possuem suas facetas de sonhos e pesadelos e reconhecem três aspectos distintos conforme a experiência e sabedoria dos seus. Entre eles, os Infantes são tradicionalmente chamados de Kurumim (meninos) ou Cunhantãin (meninas); os Estouvado são chamados de Kuirão (rapaz) ou Cunhã (moça); E os Rezingões são conhecidos simplesmente como Anciões.

Além de poderem interagir com o Sonhar, Caapuãs também podem acessar a Umbra, aquela frequentada pelos Zoomorfos, através do intermédio de espíritos Totens. Eles costumam se referir a ambos, o Sonhar e a Umbra, como diferentes domínios do “Fundo”. Os Caapuãs também podem nutrir seu aspecto feérico e poderes, tanto através do Glamour que flui de recantos intocados do mundo natural, quanto do Glamour que surge a partir de Sonhadores mortais, chamando esta energia feérica de Mirakamby.

Apesar dos acontecimentos recentes terem resultado na incorporação de alguns Caapuãs à Estrutura Social Feudal do Império Kithain que dominas os territórios ao sul de Ewarë, de forma geral, Caapuãs não dão a mínima para Títulos e Cortes, na verdade muitos deles desprezam completamente tais tradições estrangeiras, que lhes parecem absurdas e impositivas.

Eles possuem uma inclinação nata para liberdade e mesmo quando se agrupam em suas Anamas ou Grupos de Caça, existe pouca formalidade entre eles. Seus líderes costumam ser aclamados por seu carisma e sabedoria, precisando provar constantemente seu valor e capacidade para não serem substituído por alguém ainda mais valoroso. A experiência, o caráter e o poder individual, são aspectos fundamentais que evocam grande respeito entre estes herdeiros dos sonhos nativos.

Conheça maiores detalhes sobre os segredos místicos e a mitologia peculiar dos Changelings nativos no Brasil no Link Abaixo:

A Cosmovisão Caapuã.

Arte de Luis Edu, original para a Brasil in the Darkness.

Léxico Caapuã

Alicanto, O Povo: Um dos Povos que tradicionalmente compõem a Nação Caapuã, embora tenham recentemente escolhido abraçar a cultura Kithain. São seres seres altivos e reluzentes, de aparência aviana, com grande afinidade pelo trabalho em metal e que traçam sua origem aos povos andinos, por aqui costumam ser relacionados à Lenda da Mãe D’Ouro.

Anama: O conjunto de Changelings que moram e atuam em um mesmo território delimitado, normalmente uma grande cidade, Reserva Ambiental ou vasta região geográfica equivalente.

Boiaçu: A mítica entidade criadora dos Caapuãs, considerada a manifestação espiritual do próprio grande Rio Amazonas, que se retirou para as profundezas do Fundo quando a Banalidade se lançou sobre seus domínios e ensinou aos Caapuãs o expediente Changeling.

Boiúna, O Povo: Também conhecidos como Sachamamas, são um dos Povos que compõem a Nação Caapuã. Observadores perspicazes com traços reptilianos e a capacidade de se transformar em cobras constritoras monstruosas, relacionados às Lendas amazônicas da Cobra Grande.

Boraro, O Povo: Outro dos Povos que compõem a Nação Caapuã. Guerreiros indômitos com um forte vínculo com a terra, vinculados à Lenda indígena colombiana de mesmo nome.

Caapuã, A Nação: Os seres feéricos nativos do Brasil. A Nação Caapuã compreende os Changelings dos Kiths Alicanto, Boiúna, Boraro, Caipora, Curupira, Karuana, Mapinguari, Matinta e Uivara, além de qualquer outro kith oriundo dos sonhos dos povos indígenas, incluindo os Sacis. Embora os Sacis tenham sido adotados pela Nação Eborá e se identifiquem mais com ela.

Caipora, O Povo: Outro dos povos que compõem a Nação Caapuã. Criaturas com traços animalescos que possuem o vínculo estreito com a fauna sul-americana, associados à Lenda brasileira de mesmo nome.

Clareiras: Fontes naturais de Glamour em torno das quais os Caapuãs costumam estabelecer suas Anamas.

Conselho Local: Os líderes locais de uma Anama Caapuã, tradicionalmente formada pelos três indivíduos, aqueles que vivem por mais tempo dentro dos limites de seu território.

Curupira, O Povo: Outro dos Povos que compõem a Nação Caapuã. Seres com os pés voltados para trás e uma aparência muito peculiar, que usufruem de um estreito vinculo com a flora sul-americana, associados à Lenda brasileira de mesmo nome.

Desterro: Punição máxima conferida pelo Conselho de Anciões de uma Anama, corresponde ao Banimento irreversível de um membro da Anama por um crime realmente grave contra seus Parentes.

Dia, O Aspecto: Termo Caapuã análogo à Seelie para os Kithain ou Ojo para os Eborás.

Eborá, A Nação: Os Changelings vinculados às tradições afro-brasileiras. Entre os Caapuãs, este termo costuma ser usado para se referir aos membros de kiths de origem africana como Biloko, Djedi, Exu, Kuino, Oba, Obambo e Okubili. Os Sacis, embora tenham uma origem que remete aos povos indígenas nativos, abraçaram a cultura Eborá e também costumam ser incluídos entre os kiths que compõem a Nação Eborá.

Ewarë: Os domínios ancestrais de Boiaçu, todo o território banhado pela bacia do Rio Amazonas, considerado território sagrado e ancestral pelos Caapuãs.

Ewareté: Os lendário local de repouso de Boiaçu no Fundo, o lugar onde o Sonhar de Gente e e o Sonhar da Terra se encontram, a terra natal de todos os Caapuãs, Taiguaras e Umuanas, vetado a eles desde que Boiaçu deixou para trás a Superfície. O equivalente Caapuã à Arcádia dos Kithain.

E’yia: Termo arcaico e formal para Grupos de Caça Caapuã.

Fundo, O: Termo genérico usado para que os Caapuãs se refiram às realidades além da Superfície (Mundo Outonal), abarca tanto o Sonhar, quanto a Umbra dos Garou, e, até mesmo, o Mundo Inferior de Wraith.

Galego: Termo pejorativo usado para se referir aos membros da Nação Kithain.

Grande Anciã ou Ancião: Título honorífico conferido aos membros de Um conselho Local ou do Grande Conselho de Ewarë.

Grande Conselho, O: O Conselho formado por Anciões Síocháin com o objetivo de lidetar os Changeling em todo o território de Ewarë.

Grupo de Caça: Um grupo mais ou menos perene formado por Caapuãs, ou Changelings de outras Nações que adotaram os modos Caapuãs, que pertencem a uma mesma Anama e escolheram se unir em torno de interesses comuns, por afinidade ou necessidade. Um termo análogo à Mixórdia entre os Kithain.

Império do Crepúsculo, O: Os territórios ao Sul de Ewarë sob controle de Reinos Kithain.

Karuana, O Povo: Outro dos Povos que compõem a Nação Caapuã. Changelings passionais e misteriosos que dominam os segredos d’O Fundo e encantam os mortais, associados às lendas ribeirinhas sobre o Boto e a Mãe D’Água.

Linha D’Água: A barreira mística que separa a Superfície, Mundo Outonal, do Fundo, o Sonhar e demais domínios mais além.

Kithain, A Nação: Os changelings de origem europeia, como os membros dos kiths Boggan, Nockers, Pooka, Redcap, Sátiro, Sidhe Arcadiano ou Outonal, Sluagh e Troll. Ironicamente, na perspectiva Caapuã, os Gallain de origem europeia como Clurichauns, Ghille dhu, Korred, Merfolk, Morganed, Piskies, Selkies, etc, também são lidos como membros desta Nação.

Mapinguari, O Povo: Outro dos Povos que compõem a Nação Caapuã. Guerreiros relutantes de aparência monstruosa que encarnam o poder destrutivo da natureza, associados à lenda indígena de mesmo nome.

Matinta, O Povo: Também chamados de Lloronas, são outro dos Povos que compõem a Nação Caapuã, criaturas lúgubres e misteriosas, temidas e renomadas por seu vinculo com a morte e as Terras sem Sonhos, associados aos mitos latino-americanos das Matintas Pereiras e Lloronas.

Mirakamby: Termo Caapuã análogo à Glamour ou Axé.

Nanatüs: Termo arcaico e formal para se referir aos Changelings Caapuãs.

Noite, O Aspecto: Termo Caapuã análogo à Unseelie para os Kithain e Iku para os Eborás.

Panema, A Nação: Termo Análogo à Thallain. Visto como irmãos pelos Changelings Caapuãs e eventualmente protegidos por eles, podendo integrar uma Anama, embora, tradicionalmente, tenham sua participação vedada nos conselhos de Anciões por serem considerados instáveis demais.

Parente: Termo Caapuã usado sempre de forma respeitosa para se referir à outros Caapuãs, no geral, ou aos membros de sua própria Anama, de maneira mais específica.

Povo: Termo Caapuã análogo à Kith para os Kithain ou Ipin para os Eborás.

Sonhar da Terra, O: Termo Caapuã usado para se referir à parte do Fundo que corresponde ao Mundo Espiritual, a Umbra.

Sonhar de Gente, O: Termo Caapuã usado para se referir à parte do Fundo que corresponde ao Sonhar dos Kithain.

Saci, O Povo: Um kith de origem nativa, formado por espíritos livres e brincalhões, que escolheu se unir à Nação Eborá e honrar as tradições Afro-brasileiras.

Superfície, A: Termo análogo à Mundo Outonal.

Taiguara, A Nação: Seres feéricos que se recusam se ligar à Superfície (Mundo Outonal) de forma definitiva, como Umuanas ou Changelings. Estão Exilados ou auto-exilados no Fundo e só podem visitar ocasionalmente a Superfície (Mundo Outonal), quase sempre possuindo os corpos de mortais. Podem ser vistos com reverência ou desconfiança pelos Changelings Caapuãs e quase nunca fazem parte formalmente de nenhuma Anama. Termo Análogo à Adhene.

Terras sem Sonhos, As: Termo Caapuã usado para se referir à parte do Fundo que corresponde ao Mundo Inferior, lar das Aparições.

Uivara, O Povo: Também conhecidos simplesmente como Encantados, outro dos Povos que compõem a Nação Caapuã, criaturas pacificas e festivas que se divertem interagindo com os mortais e costumam servir os Caapuãs como emissários e diplomatas, evitando conflitos a todo o custo. Associados às lendas ribeirinhas sul-amerianas.

Umuana, A Nação: Seres feéricos que há incontáveis eras escolheram se fazer presentes no Mundo Outonal se unindo à objetos inanimados no lugar de recorrer ao expediente Changeling. São vistos com grande reverência pelos Changelings Caapuãs por serem, quase sempre literalmente, parte do território reivindicado por uma Anama. Termo Caapuã análogo à Inanimae.

Estrutura Social e Política em Ewarë

Símbolos Caapuãs para as Seis Nações das Terras dos Sonhos

“Família, família
Vovô, vovó, sobrinha

Família, família
Janta junto todo dia
Nunca perde essa mania

Mas quando o nenê fica doente
Procura uma farmácia de plantão
O choro do nenê é estridente
Assim não dá pra ver televisão.”

– Antonio Bellotto & Arnaldo Antunes, “Família”.

Ewarë é uma área explosiva onde a tensão das guerras recentes ainda pode ser sentida no ar e a dura hierarquia das cortes Kithain é substituída por um caos pulsante de diversas Nações e Povos de Gallain de origem nativa e africana, além de plebeus Kithain dissidentes, cansados das cortes e que foram capazes de conquistar a confiança dos Changeling locais e adotar seu modo de vida.

Exóticos e misteriosos Thallain também são comuns por aqui, onde encontram refúgio e se multiplicam nas sombras das regiões mais selvagens dessa parte distante dos territórios sul-americanos. Licantropos e zooantropos variados guerreiam entre si e contra seus inimigos. Vampiros vêm se esconder. Poderosos pajés humanos evocam suas exóticas Encantarias sob aqueles que se aventuram no interior da Floresta. E muitos conflitos ainda são registrados entre os próprios Caapuãs, entre aqueles que aceitam a autoridade do Grande Conselho de Ewarë e aqueles que recusam até mesmo esse frágil equilíbrio de poder. A comunidade Changeling de Ewarë é uma tapeçaria multicolorida formada por uma impressionante diversidade de Nações, Povos, Anamas e Grupos de Caça.

Três grandes Nações são reconhecidas neste território: a Nação Caapuã, formada Povos Changeling cuja origem é traçada até os sonhos dos povos nativos (Boiunas, Caiporas, Curupiras, Karuanas e Mapinguaris) ou pelo menos fortemente influenciada por eles (Alicatos, Boraros, Uivaras e Matintas), além de outras criaturas feericas nativas como Panemas, Taiguaras e Umuanas; a Nação Eborá, formada por Povos Changeling oriundos dos sonhos dos povos trazidos da África para serem escravizados no Brasil (Biloko, Djedi, Exu, Kuino, Oba, Obambo e Okubili); e a Nação Kithain, também conhecida pelos Caapuãs como Nação Caraíba, Warazus ou simplesmente como Pariwat (estrangeiros), formada pelos kiths Kithain e outros seres feéricos de raízes europeias.

Alguém que seja aceito como parte da comunidade Caapuã, normalmente sendo admitido ritualisticamente como Membro por uma determinada Anama, passa a ser reconhecido como um Parente, independente de sua origem, seja Caapuã, Eborá, ou mesmo, em casos mais raros, um Kithain.

Qualquer Caapuã ou Eborá é considerado um Parente dentro dos limites de Ewarë e possui todas as prerrogativas dessa condição, estando sob a proteção do Conselho de Anciões local, em primeira instância, e nos casos extremos, sob a proteção do Grande Conselho de Ewarë, a óbvia exceção a essa regras são os membros dessa nação que notoriamente aceitaram se integrar às Cortes Kithain, em especial aqueles que aceitaram possuir Títulos de Nobreza ou vínculos com as Casas de Nobres Kithains. Em geral tais Changelings nativos são considerados traidores de seu povo, algumas vezes sendo encarados com ainda mais desconfiança que os próprios Kithain, e quase sempre tratados com todo o desprezo que lhes é devido, em virtude dos rancores remanescentes da guerra.

As Anamas

A estrutura básica tradicional da sociedade Caapuã são as Anamas, ou Famílias, formada pela comunidade Changeling de uma determinada região geográfica sempre em torno de uma ou mais Clareiras que fornecem o Mirakamby (Glamour) necessário à sobrevivência Changeling.

Originalmente tais regiões geográficas costumavam ser delimitadas por marcos naturais bem amplos como, “a floresta entre o Rio Guamá e o Rio Maguari”, contudo, o mais comum na atualidade é que os próprios Caapuãs se referiram a municípios, conjunto de municípios, ou ainda, reservas indígenas ou ambientais para delimitar as divisas dos territórios reivindicados por uma Anama.

Curiosamente, os Panemas (Thallain) que se fixam dentro do território de uma Anama costumam ser tolerados e até mesmo encarados como Parentes, portanto membros da Anama, desde que não ameacem a integridade das Clareiras dentro de seu território, nem dos integrantes da Anama, sendo comum que sejam encarados como uma “espécie de cães de guarda” com potencial para manter distantes as presenças indesejadas, muito embora eles jamais sejam considerados dignos de ocupar assentos em Conselhos de Anciões, não importa o quão antiga seja sua presença no território.

Este ponto costuma ser fonte de conflito entre Kithains e Caapuãs, com os primeiros acusando os segundos de se associar à criaturas essencialmente malignas e os últimos argumentando que os Thallain também são parte do Sonhar, e portanto, dignos de existirem como todos os demais.

Umuanas (Inanimae nativos) tradicionalmente são admitidos como membros formais de Anamas Caapuãs, embora sua presença no Mundo Outonal se torne cada vez mais rara, e não é incomum que tais criaturas ocupem posição de destaque em Conselhos de Anciões Locais.

Porém, é muito raro que um Taiguara (Adhene nativo) aceite fazer parte ou seja admitido como Membro de qualquer Anama, afinal, eles não costumam passar tempo suficiente no Mundo Outonal e muito menos se ligarem a um lugar específico por aqui.

Uma Anama inclui, ainda, as quimeras e os espíritos que se manifestam no reflexo de seus territórios e, se por um lado, desrespeitar uma desses criaturas pode colocar um Changeling incauto em apuros, por outro, estas alianças asseguram poderosos aliados para as Anamas Changeling em tempos difíceis.

Os membros de uma mesma Anama são ligados, acima de tudo, por laços de respeito, pela afinidade, pela necessidade de sobrevivência em defender as Clareiras em seu território e por uma intrincada rede de favores, dívidas e solidariedade, mais ou menos como uma Corte Kithain, porém, normalmente, sem toda a rígida hierarquia, títulos, protocolos e hipocrisia. O que tão pouco significa que não exista atritos e intrigas entre os membros de uma mesma Anama.

Ainda que estes conflitos quase sempre existam, espera-se que os membros de uma Anama se ajudem mutuamente em casos de real necessidade e sejam capazes de colocar os interesses da comunidade acima de quaisquer interesses particulares. Disputas mais sérias são mediados pelo Conselho de Anciões Local, que também é responsável pelas grandes decisões que afetem toda a Anama, como a punição dos infratores das Tradições Locais, que podem variar bastante de uma Anama para a outra.

Num passado não tão distante disputas territoriais e até mesmo guerras entre diferentes Anamas foram bastante comuns e resultaram até mesmo na destruição de Clareiras e de inúmeros Changeling nativos. Embora isso tenha diminuído significativamente desde a criação do Grande Conselho de Ewarë, algumas rivalidades do passado ainda persistem.

O Conselho de Anciões

Cada Anama é liderada por um Conselhos de Anciões Locais, tradicionalmente formado por pelo menos três dos membros mais experientes da Anama em questão, independente de a qual Nação ou Povo pertençam. Anamas maiores tendem a ter um número maior de membros em seu Conselho de Anciões, mas, por bom senso, o total de membros é sempre um número ímpar, pois, embora suas decisões tradicionalmente sejam tomadas por consenso, votações podem ser realizadas em situações extremas de discordância entre os Anciões.

No entanto, não há eleição, o critério é sempre o da experiência, considerando o tempo em que o Changeling em questão se mantêm ativo dentro dos limites daquele determinado território e não a idade aparente de seu semblante mortal, de seu aspecto feérico ou qualquer outro critério.

Espíritos locais, aliados da Anama em questão, sempre são consultados para atestar quais são de fato os Changeling mais experientes vinculados àquele território específico, e assim legitimam as prerrogativas dos Anciões do Conselho. A manifestação desses espíritos sobre este tema tradicionalmente não pode ser questionadas.

Além disso, apenas ações muito graves, como atentar contra a existência de membros de sua própria Anama (Changeling ou Espíritos), contra a integridade de seus territórios ou a saúde de suas Clareiras, estão suscetíveis a mais grave das punições: o Desterro, quando o Membro da Anama passa ser considerado um procrito e é banido de seu território, perdendo o acesso a sua fonte de Mirakamby.

Por outro lado, nada impede que qualquer Changeling individual ou Grupo de Caça parta do território de sua Anama original em busca de outro território, eventualmente se unindo a outra Anama, o que não chega a ser incomum entre Caapuãs Estouvados. Ainda assim, se não tiver passado formalmente pelo ritual do Desterro, Caapuãs que partem por sua livre vontade serão sempre bem vindos e costumam ser recebidos de braços abertos pelos membros de sua Anama.

Normalmente, o conhecimento sobre a cultura Caapuã e a palavra de um Caapuã reconhecido pela comunidade local, e disposto a afiançar a reivindicação do forasteiro, são suficientes para que até mesmo um Kithain, seja aceito como parte de uma Anama e, portanto, como parte da comunidade de Ewarë. O fato de que o Caapuã que afiança a boa fé do forasteiro inapelavelmente compartilhará de seu destino em caso de infrações contra a comunidade local, costuma ser o suficiente para que tal atitude não seja tomada de forma leviana.

Qualquer Caapuã ou Eborá que venha a emergir da crisálida dentro do território reivindicado por uma determinada Anama, passa a ser automaticamente considerado como parte dela. Uma vez aceito por uma Anama, e desde que não seja formalmente punido com o Desterro, um Changeling permanecerá ligado àquela Anama por toda sua vida, mesmo que eventualmente ele parta e seja adotado por outra Anama em uma outra região de Ewarë.

Os Grupos de Caça

Cada Anama costuma ser formada por grupos ainda menores, mas muito mais unidos e dinâmicos, conhecidos como Grupos de Caça ou E’yia em nheengatu, mais ou menos como as Mixórdias Kithain, esses grupos podem congregar changeling que passaram pela crisálida em um período próximo e que decidiram permanecer unidos por toda a vida, ou por Changelings que se reuniram apenas por um período específico ou para uma finalidade específica.

Tais E’yias ou “Grupos de Caça” não costumam ter mais do que seis ou sete Membros, tudo o que os mantém unidos são os laços de afinidade e amizade pelo tempo que durarem. Changelings especialmente instáveis pode pertencer a inúmeros Grupos de Caça diferentes ao longo de sua carreira.

Rivalidades entre Grupos de Caça que pertençam a uma mesma Anama não chegam a ser incomuns. Embora isso possa resultar em muitas dores de cabeça para os Anciões Locais, enquanto tais rivalidades puderem ser deixadas de lado em nome dos interesses comuns da Anama, elas costumam ser encaradas com naturalidade.

O Grande Conselho de Ewarë

Durante a longa Guerra entre as incontáveis Anamas de Ewarë e os Reinos do Império do Crepúsculo a Nação Caapuã e seus aliados da Nação Eborá organizaram o Grande Conselho de Ewarë, uma nova instância de autoridade, acima dos tradicionais Conselhos de Anciãos Locais.

Este Grande Conselho reivindica autoridade sobre todo o território de Ewaë, que abarca a maior parte dos territórios dos Estados da região Norte do Brasil, exceto o sul do Pará e o Estado do Tocantins, embora se estenda até o norte do Maranhão e, a partir de Rondônia, pelo extremo oeste do Mato Grosso.

O Grande Conselho de Ewarë reúne os mais sábios anciões dos Povos Caipora, Curupira, Karuana e Mapinguari, além de uma representante da Nação Eborá. Sendo formado por cinco Síocháin: Mestre Pedro, um contemplativo boiadeiro Marajoara do Povo Caipora, sempre montado em seu lendário búfalo branco; Xiburé Mendes, uma astuta Curupira do Acre; Bartira, uma altiva Karuana da região do Rio Negro, no Amazonas; Ubiratã, um quilombola cabeça dura e de comportamento pacato do Baixo Amazonas, que pertence ao Povo Mapinguari; e Dona Jesuína de Dambirá, a sábia Grande Anciã dos Eborá em São Luís, no Maranhão.

O Grande Conselho de Ewarë reúne-se secretamente, pelo menos duas vezes por ano, durante a mudança de estação de cheia e vazante do Grande Rio. E recentemente foi capaz de selar a paz com o Império do Crepúsculo.

Os termos do Acordo são basicamente: as cidades seriam refúgio para os Kithain e estes se comprometem a não invadir as florestas, respeitar as tradições Caapuã e ajudar contra qualquer inimigo que agredisse essas mesmas nações e seu território. Em troca, os Povos Caapuã e seus aliados Eborá permitiriam a “movimentação”, mas nada de assentamentos, de indivíduos Kithain pela Floresta, cedendo-lhes igualmente ajuda em caso de necessidade e respeitariam as cidades já reivindicadas como territórios Kithain.

Essa política colaboracionista tem funcionado até agora sob a mediação do Capitão Marcelus da Capitania do Rio Negro, um nobre Sidhe muito conhecido em toda Ewarë por sua aliança com as Ikamiabas, uma ordem ancestral de guerreiras Caapuã.

Os Povos Caapuã

“No Rio Tietê mora a minha verdade
Sou caipira, sede urbana dos matos
Um caipora que nasceu na cidade
Um curupira de gravata e sapatos
Sem nome e sem dinheiro
Sou mais um brasileiro”.

– Nilson Chaves,
“Olhando Belém”.

Os Changelings nativos do Brasil reconhecem pelo menos nove Povos Caapuã dentro dos limites de Ewarë, quatro deles formam a base política da Aliança que permitiu a criação deste território livre da autoridade imperial. Além disso, os Eborá, originados dos sonhos dos negros africanos trazidos a força para o Brasil, costumam ser abraçados como irmãos por estes Povos Nativos.

Entre os nove maiores Povos Caapuãs há cinco que, por falta de interesse ou habilidade, não foram capazes de reivindicar uma cadeira no Grande Conselho de Ewarë. Sseus membros, individualmente, podem tanto acatar a autoridade do Grande Conselho, quanto simplesmente não dar a mínima para ele. Falemos um pouco sobre eles:

| ALICANTO | BORARO | BOIÚNA | CAIPORA | CURUPIRA |

| KARUANA | MAPINGUARI | MATINTA | UIARA |

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Brasil na escuridão

Fanpage brasileira do universo clássico de RPG de Mesa, Mundo das Trevas (World of Darkness).