Boraros: Campeões dos Povos Tradicionais.

Releitura dos Kiths Oficiais de Bellatierra para o cenário de Ewarë.

Brasil In The Darkness
Brasil na escuridão
11 min readAug 13, 2021

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Por Porakê Martins, Alex Pina, Eros Rosado & Jessele Damasceno.

Versão em Português-BR | Versión en Español

Art by Keoma Calandrini

“Este dia é tão bom quanto qualquer outro. E não adianta vir arreganhando os dentes, isso não vai te tornar menos feio.”

- Dina, Membro do Conselho de Anciões da Anama de Belém.

Raros eruditos Kithain, que se dedicaram a estudar as origens e as peculiaridades da cultura Caapuã, especulam que os Boraros teriam surgido a partir dos sonhos dos primeiros povos a dominar a agricultura nas planícies amazônicas. De acordo com tais especialistas, embora ainda muito ligados à natureza sul-americana, os Boraros carregam a essência do que a conquista da agricultura representou para os povos indígenas nativos, fornecendo fontes abundantes e confiáveis de alimento, diante das incertezas da vida como nômades coletores, bem como a necessidade de defender suas lavouras e colheita do assédio de eventuais saqueadores.

Os demais Povos Caapuãs traçam a origem dos Boraros até os sonhos inspirados por antigas histórias sobre os grandes heróis, heroínas e legisladores ancestrais, cuja coragem, determinação e sacrifício lançaram as fundações das identidades, organizações sociais e tradições dos povos nativos.

Os próprios Boraro, porém, não costumam dar muita atenção a tais especulações, eles sabem e sentem que possuem uma forte conexão com os territórios onde vivem e isso reverbera em distintas formas de agricultura e de interpretação da natureza que o cerca. Entendem que um terreno é muito mais que a terra fonte de riquezas como muitos mortais e Kithain entendem, um terreno é sim o solo, mas também todas as relações que sobre ele crescem, prosperam e se reproduzem. É dessa essencial relação entre cultura, território e tradição que surgem os Boraros, os campeões do povo comum que estão na linha de frente da defesa de suas tradições e de suas terras desde tempos imemoriais.

Na tradição Caapuã, enquanto Caiporas representam a relação dos povos nativos com a fauna local e os Curupiras representam sua ligação com a flora, os Boraros encarnam os vínculos dos povos com suas tradições mais veneráveis, rituais mais sagrados e seu próprio senso de identidade e pertencimento. Eles são o “sal da terra”, a materialização dos ideais da cultura nativa a qual pertencem.

As comunidades tradicionais, seus mutirões, seus rituais ancestrais, seu trabalho árduo e suas lutas de resistência são o próprio ar que os Boraros respiram. Também por isso este Povo Caapuã sempre esteve intimamente relacionado à guerra e os elaborados rituais que os povos nativos da América do Sul desenvolveram para regulá-la, eras antes da chegada dos colonizadores europeus. Afinal, a guerra sempre esteve presente no “Novo Mundo”, ela não desembarcou com a colonização, mas os povos originários possuíam regras elaboradas para a guerra e objetivos claros, que nunca eram a total aniquilação do inimigo.

Os povos indígenas guerreavam entre si pelas melhores terras para cultivo; por alimento nos períodos de estiagem; por parceiros quando a endogamia ameaçava enfraquecer o sangue. Estas tradições poderiam ser diversas e contraditórias e até parecerem bizarras aos olhos estrangeiro, como a antropofagia ritual, onde guerreiros capturados durante a guerra eram sacrificados e se consideravam honrados por ser devorados por seus inimigos; ou a exigência de que, antes que pudessem retornar ao convívio de seus familiares, os guerreiros precisavam se purificar, em longos retiros espirituais, após derramarem o sangue de seus inimigos.

Tais ritos possuíam profundo significado espiritual e os Boraros acreditam que eles foram instituídos para manter a harmonia entre os povos nativos, uma harmonia ameaçada pela colonização europeia e que os membros deste Povo ainda lutam para restaurar, tanto como guerreiros, quanto como defensores de suas tradições. No presente essa essência não mudou e se manifesta de muitas formas diferentes. Seja na defesa da manifestação cultural, na luta por demarcação de terras indígenas e quilombolas, pela reforma agrária e contra grileiros e seus jagunços, os Boraros estarão lá.

Aparência: De aparência amarga e rude, os Boraros têm o tipo de rosto que seria facilmente esquecido em uma multidão, porém, eles costumam ser tão reconhecidos e admirados pelos membros de sua própria comunidade, quanto são vistos com desconfiança por aqueles que não pertencem a ela. Em seu semblante feérico, suas grandes orelhas pontiagudas e presas grotescas transparecem sua essência guerreira e intimidadora. Pessoas que não pertençam à sua comunidade origem ou círculo mais íntimo, mortal ou Changeling, sempre considerarão os Boraros desagradáveis, mesmo em seu Aspecto Mortal, para estes, os membros deste Povo possuirão uma aura perturbadora que irradia desconfiança e inquietação, ainda que não seja nada de óbvio para apontar em sua aparência física.

Estilo de Vida: Os Boraros costumam se vincular a povos tradicionais, passando pelo expediente Changeling entre membros de comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, extrativistas, mas principalmente entre as populações rurais onde impera a agricultura familiar trabalhando como agricultores, carpinteiros, pastores, leiteiros, criadores de animais ou outras atividades do campo.

Aqueles poucos que deixam o recanto de seus lares, quando adentram as universidades ou mercado de trabalho, acabam se inserindo em espaços voltados ao ambiente rural, como agroecologia, agricultura familiar, economia solidária, cooperativismo dentre outras. Por conta do seu ímpeto e instinto protetor da tradição, podem também se envolver nas áreas culturais, seja na defesa, manutenção ou estimulação da cultura local, do campesinato e da tradição. Bem como na guarnição direta dos interesses dos povos tradicionais, como polícia ambiental, civil e militar, fiscalização e etc.

Possuindo um forte senso de identidade, podem ser encontrados também em comunidades de migrantes ou imigrantes, habitantes das periferias de outras comunidades marginalizadas e hostilizadas pelo status quo.

Seus Infantes demonstram um interesse precoce pelas histórias e as tradições da cultura tradicional na qual nasceram e adoram brincar na terra com os pés descalços e interagir com a natureza local. Muitas vezes são aquelas crianças que sentam aos pés dos mais velhos para ouvir suas histórias, sempre muito atentos e impressionados com as aventuras dos grandes heróis. São as crianças que acreditam fielmente em todas as crenças populares contadas pelos mais velhos, elas nunca vão passar debaixo das escadas e podem correr em prantos se a vassoura cair sem nenhum motivo.

Estouvados são os ativistas mais abnegados e aguerridos das causas do povo em que nasceram, é possível vê-los em espaços onde se encontram movimentos sociais ligados à terra, cultura e tradição, o chamado do guerreiro ancestral ascende em sua alma instigado pelas mazelas que ele mesmo conhece de perto. Podem facilmente se envolver em brigas ou discussões quando algo que trazem de sua trajetória é invalidado, sendo essa uma fonte dolorosa de banalidade.

Muitos Boraros acabam tropeçando na presença dos metamorfos, por ocuparem, na maioria das vezes, os mesmos nichos sociais nos espaços rurais. A relação com estes Pródigos costuma ser proveitosa uma vez que os objetivos de ambos costumam se correlacionar, mas nunca deixa de ser arriscada.

E seus Rezingões são mananciais vivos das histórias e tradições desses povos e verdadeiros pilares de sua comunidade. São sábios respeitados que sabem ler a natureza, a terra e a vida que sob ela se ergue, que estão sempre saudáveis e hábeis ao combate na defesa de seus lares. Ao ver aquela senhora com as mãos calejadas do trabalho, com muito vigor e lucidez que pratica costumes imemoriais ou então aquele senhor ranzinza que não suporta ver a tradição ser trocada, alterada ou ignorada por alguma pessoa desinformada ou desrespeitosa, é bem possível que sejam ambos Boraros.

Boraros filiados ao Aspecto Dia são fonte de segurança e inspiração, como heróis e heroínas ancestrais de seu povo, encarnando seus ideais mais elevados, tanto do ponto de vista físico, como de valores e comportamentos tradicionais. Embora tendam a ser tranquilos podem se revelar criaturas terríveis e determinadas diante de qualquer ameaça, demonstrando sua aptidão para o combate direto ou uma argumentação agressiva. Porém, aqueles cujo Aspecto Noite é o dominante são criaturas temíveis, cheias de ódio e rancor contra forasteiros e qualquer um que ouse invadir seus territórios ou zombar de suas tradições, possuindo uma ira lendária, sem paralelo com nenhum outro Povo Caapuã, e quase tão destrutiva quanto a do mais descontrolado Mapinguari. Porém, nunca deixam de ser criaturas racionais e são unos com o povo com os quais convivem, mantendo viva as tradições e práticas do mesmo, defendendo os seus com determinação.

Símbolo Caapuã para o Povo Boraro.

Organização: Os Boraros estão distribuídos por todo o Brasil, se concentrando nas áreas rurais e marcam grande presença em Ewarë, e indo cada vez mais além, prosperando em comunidades tradicionais remanescentes por toda a América Latina e seguindo os rastros dos imigrantes destes povos, que formam suas próprias comunidades e tradições pelo mundo. Eles superam em número e diversidade qualquer outro povo Caapuã. E não chega a ser raro encontrar Anamas formadas majoritariamente, ou mesmo inteiramente, por representantes desse único Povo.

Embora não seja incomum que Boraros liderem a comunidade mortal a qual estão vinculados, na sociedade Changeling eles parecem preferir seguir ordens a comandar. Eles não possuem representante no Grande Conselho de Ewarë e costumam estar muito ocupados com a luta do povo mortal ao qual pertencem e com suas obrigações para com sua própria Anama para se preocuparem com a política Changeling mais geral.

Contudo se destacam com frequência como alguns dos membros mais leais e comprometidos de qualquer Anama Caapuã, seguindo sem titubear as determinações do Conselho de Anciões Local, o que os torna valiosos soldados na defesa Caapuã e de Ewarë, desde tempos imemoriais. Os Mapinguaris podem ter sido um trunfo importante na recente guerra contra os Kithains, de fato foram, mas ninguém duvida que o grosso dos combatentes que o Grande Conselho conseguiu mobilizar, quando se mostrou capaz de coordenar as ações das diversas Anamas por todo o Território, foi mesmo formado por valentes e determinados guerreiros e guerreiras Boraros. Sua lealdade, entretanto, costuma ser entregue aos Anciãos Locais e não, necessariamente, ao Grande Conselho, o que pode tornar desafiador reunir e comandá-los em grande número em campo de batalha.

Quando ocupam posições no Conselho de Anciões Locais, Boraros costumam ser bastante tradicionalistas e extremamente desconfiados de estrangeiros, como condiz com sua natureza, e exigem dos membros de sua Anama a mesma lealdade e respeito que estariam dispostos a dar aos seus Anciões. Entre os membros de seu grupo de caça, eles costumam ser celebrados pela dedicação e lealdade a seus companheiros, sendo capazes de dar a própria vida de bom grado para defendê-los.

Uma antiga história, contada e recontada entre os Boraros de Ewarë, nos dá conta de um líder lendário deste povo que um dia retornará para liderar todos os Boraros e, talvez, reivindicar um assento do Grande Conselho de Ewarë.

Segundo esta tradição essa figura lendária é Ajuricaba, um Cacique Manáos que se opôs a dominação dos portugueses que escravizavam seu povo no vale do Rio Negro, no século XVIII, e liderou hordas de Sonhadores indígenas e guerreiros Caapuãs para se vingar de colonos portugueses que haviam assassinado seus parentes por se oporem a escravidão indígena. Após importantes vitórias, Ajuricaba foi capturado e teria sido enviado para a prisão na capital da Província do Grão Pará se não tivesse preferido morrer ao se lançar às águas do grande rio, mesmo com as pernas e os braços acorrentados, do que ser julgado por seus algozes. Histórias sobre Ajuricaba são contadas até hoje mesmo entre os mortais daquela região e os Boraros ainda aguardam ansiosos, esperando que sua alma feérica renasça e reivindique sua posição.

Nos reinos que compõem o Império do Crepúsculo, embora sua presença seja bastante comum, Boraros tendem a tentar se manter longe da política Kithain e das intrigas palacianas, se mantendo como plebeus reclusos e muito dificilmente possuindo qualquer Título de nobreza.

Características: Boraros tendem a ser atléticos, astutos e vigorosos, costumam priorizar os atributos físicos aos mentais e os mentais aos sociais. Em relação aos Talentos, eles apreciam em especial: Esportes, Prontidão e Briga. Suas perícias preferidas costumam ser Ofícios, Performance (ambas relacionadas às práticas tradicionais da cultura a qual estão associados), Sobrevivência e Armas Brancas. E têm predileção por pelos conhecimentos conferidos por Tradição Oral, uma vez que são adeptos das culturas e crenças populares. Mas costumam ter pontuações significativas nos Antecedentes Sonhadores e Séquito, e eventualmente investem alguns pontos em Lembranças e Posses.

Artes: Possuem acesso livre às Artes comuns dos Caapuãs (andanças, chicana, prestidigitação e princípio) alguns poucos, entretanto, desenvolvem a arte do Vaticínio ao aprender a ler os sinais da natureza e do mundo, a partir de coisas simples como adivinhar o clima à sinais de sucesso em algo simples como encontrar uma joaninha, os meios para ler os sinais variam de acordo com a cultura e complexidade. Eventualmente, eles podem tentar se aproximar de Mapinguaris em busca de desenvolver os conhecimentos sobre A Ira de Boiaçu (Ira do Dragão) para buscarem se tornarem guerreiros ainda mais temíveis e assim poderem defender melhor aquilo que prezam. Muitas vezes encarnam a figura da benzedeira ou do curandeiro, utilizando como peta elementos das crenças populares, como chifre de boi para afastar mal agouros (vaticínio ou chicana) e colher a erva certa na lua cheia para curar as enfermidades do corpo.

Afinidade: Natureza.

Euforia: Os Boraros sentem a Euforia quando honram as tradições do povo ao qual pertencem ou compartilham suas histórias e tradições e também quando passam algum tempo em contato com a natureza, quer se trate de uma natureza intocada ou de espaços recuperados em ambientes mais urbanos. Também é possível que uma vitória honrada em nome da defesa de sua comunidade, território ou tradição os alimente com glamour.

Desencadear: O uso primordial do Glamour por um Boraro é acompanhado pelos sons de cânticos tradicionais do povo ao qual pertencem e pela repentina sensação de ser perseguido por alguma criatura assustadora. As sombras se alongam, a natureza se torna selvagem e ameaçadora, enquanto a tecnologia parece inútil e os ambientes urbanizados, vazios.

Raízes Profundas (Herança): Como os Curupiras, os Boraros também tiram seu poder da terra, embora de forma bem mais combativa. Mesmo nas grandes cidades, sempre haverá bolsões de vida e vegetação. Esses locais servem como ligações mágicas com o solo e a cultura que sobre ele se ergue para qualquer Boraro, e eles instintivamente sabem como encontrá-los. O Boraro pode gastar 1 ponto de Glamour para subtrair -1 de todas as dificuldades pelo restante da cena, desde que esteja em contato com o solo natural.

Coração Guerreiro (Herança): Desde o primeiro sonho que lhes soprou a vida, os Boraros têm sido guerreiros, campeões dos povos nativos, lutando contra as ameaças a seus territórios e modo de vida. Quando seu povo está ameaçado, um Boraro nunca se desvia da batalha. Mesmo o mais jovem entre eles é regido pela necessidade de superar mesmo as maiores provações e tribulações. Os Boraros são imunes a surpresas em combate e recebem 1 sucesso adicional em todos os testes de dano e absorção em um ambiente natural ou quando têm “solo de verdade” sob seus pés.

Aura Ameaçadora (Fragilidade): Como genuínos defensores dos povos tradicionais, Boraros são amados pelos seus e temidos pelos forasteiros. Embora a sua aura aterradora possa ocasionalmente tornar suas vidas difíceis, ajuda a proteger suas casas e os seus territórios, assegurando que poucos estranhos se atrevam a permanecer por muito tempo. Eles sofrem uma dificuldade de +2 para todos os testes baseados em Carisma, exceto quando usam Intimidação ou quando interagem com membros de sua própria comunidade ou amigos de longa data, normalmente representados pelos Antecedentes Séquito e Sonhadores. Eles podem gastar 1 ponto de Força de Vontade para evitar isso em uma rolagem específica, mas nem mesmo os Boraros podem ocultar sua real natureza por muito tempo.

Pontos de Vista

Com um olhar severo e cara de poucos amigos, uma Boraro Estouvada dispara aquilo que pensa sobre seus Parentes e demais Nações Changeling:

ALICANTOS: Traidores!

BOIÚNAS (Sachamamas): Poderosas.

CAIPORAS: Empáticos.

CURUPIRAS: Sábios.

KARUANAS: Perigosos.

MAPINGUARIS: Grandes, em todos os sentidos.

MATINTAS (Lloronas): Necessárias.

UIARAS (Encantados): Irresponsáveis.

EBORÁS: Amigos.

KITHAIN: Tolos!

| ALICANTO | BORARO | BOIÚNA | CAIPORA | CURUPIRA |

| KARUANA | MAPINGUARI | MATINTA | UIARA |

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Então conheça mais detalhes de nossa proposta de cenário alternativo o jogo no link abaixo:

Ewarë, o “Reino” Encantado da Amazônia.

A Nação Caapuã: Herdeiros dos Sonhos Nativos.

Cosmovisão Caapuã

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