Curupiras: Os Sentinelas das Matas

Novos Kiths Changelings Amazônicos

Brasil In The Darkness
Brasil na escuridão
10 min readJul 2, 2020

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Versão em Português-BR | Versión en Español

Por Alex Pina, Jessele Damasceno & Porakê Martins

Art by Keoma Calandrini

“Pra que time você torce mesmo?… Ah, beleza! Tá ligado que aqui é território bicolor, né?… Intolerante?! Eu?! Olha só…Quem cuida da casa é que escolhe seus convidados. Tá ligado? Hahaha...”

Muitos dos povos originários da América do Sul mantêm com a terra uma relação bastante diferente daquela com a qual nos acostumamos na atualidade. Eles não se veem como os donos dela, ela não pertence a eles, nem sequer é algo que alguém poderia, ou deveria, possuir. São eles quem pertencem a ela, estão intimamente ligados a terra, são seus filhos, parte dela. Os Curupiras são os herdeiros destes sonhos de harmonia entre a humanidade e o ambiente que os abriga e alimenta.

Histórias compartilhadas entre os próprios Caapuãs dão conta de que foram os Curupiras, por ordem da Mãe do Mato (também conhecida como ManhaCaá ou, simplesmente, Ci), os responsáveis por instruir os heróis ancestrais dos primeiros humanos a se estabelecerem na região, aqueles que são reconhecidos atualmente como indígenas, a obter da terra seu sustento em harmonia com o ambiente local.

Primeiramente, os Curupiras os ensinaram a reconhecer, em meio à rica biodiversidade local, as plantas medicinais, as tóxicas, as comestíveis e àquelas capazes de fortalecer os vínculos com o mundo espiritual, para que pudessem colhe-las sem prejudicar a floresta e demais ecossistemas nativos.

Mais tarde, também foram os curupiras que orientaram os mais sábios entre esses povos a aproveitarem os nutrientes depositados pelos rios, durante a Cheia, para cultivar a terra na época da Vazante. Pois, em Ewarë, sempre houve apenas duas estações, ditadas pelos rios da região: a Cheia, que é quando as chuvas se tornam ainda mais intensas e o nível dos rios sobe, fazendo parte da floresta submergir; e a Vazante, que é quando as chuvas diminuem e o nível dos rios desce, deixando a mostra os campos férteis na várzea.

Assim, os Curupiras os ensinavam a respeitar o ritmo da natureza local para que os humanos usufruíssem da generosidade da natureza e dos espíritos, sem colocar em risco o frágil equilíbrio da intrincada rede da vida que mantêm de pé a floresta.

Além de orientar os humanos, os Curupiras também zelavam pelas paisagens da América do Sul, literalmente semeando florestas, cerrados e caatingas, moldando a terra e propiciando ambientes ideais para que a vida pudesse prosperar em suas mais diversas formas.

Enquanto os Caiporas se ocupavam dos animais, os Curupiras estavam felizes em cuidar do solo e de seus jardins, fornecendo aos animais o ambiente ideal para que eles pudessem prosperar. Esta “simbiose” fez com que, desde sempre, Caiporas e Curupiras estivessem tão próximos que muitas vezes foram confundidos por aqueles que não estão suficientemente familiarizados com os Caapuãs.

Porém, desde a chegada dos Caraíbas, a floresta foi mais e mais explorada até a exaustão, sem sua cobertura vegetal, as águas das chuvas carregam os nutrientes, assoreando os igarapés e os rios e convertendo a paisagem em desertos estéreis. Essa tragédia fez com que muitos Curupiras, originalmente pacíficos e benevolentes, se voltassem contra os mortais, usando seu conhecimento e domínio único sobre o ambiente local para fazer exploradores incautos se perderem e morrerem de fome e sede na mata fechada, fazendo os Caraíbas temerem adentrar as regiões selvagens que batizaram de “Inferno Verde”.

Aparência: Em seu aspecto mortal, Curupiras podem ter qualquer aparência de alguém que tenha nascido na América do Sul, embora normalmente não passem de 1,7m de altura e tendam a ter feições rústicas, mãos calejadas, pés descalços e trajarem roupas leves e despojadas. É em seu semblante feérico, porém, que revelam todos os seus traços mais característicos: cabelos ruivos e revoltos, orelhas pontudas, dentes esverdeados e, seu traço mais emblemático, os pés voltados para trás.

Estilo de Vida: Os Curupiras tendem a ser rústicos e pacientes, afeitos ao trabalho duro, confiáveis, apegados às tradições e, acima de tudo, valorizam o contato com a terra e a natureza. Eles adoram caminhar descalços, repousar sob a copa das árvores e semear a terra. Em suas vidas mundanas eles tendem a buscar por atividades e profissões que os mantenham ligados à terra como pequenos agricultores, seringueiros, guias turísticos, jardineiros, agrônomos, engenheiros florestais, botânicos ou paisagistas.

Seus Infantes são pequenos exploradores que passam o dia desbravando os segredos de algum lugar em especial, talvez uma mata próxima ou o sítio da família, sempre de pés descalços e sumindo com frequência das vistas dos adultos. Eles adoram brincar de se esconder e se deleitam pregando peças em visitantes atônitos. Histórias sobre crianças que desaparecem por dias apenas para reaparecer, como se nada houvesse acontecido e contando as aventuras mais mirabolantes, costumam envolver Curupiras Infantes. Estouvados costumam ser quase tão sedentos por viagens e aventuras quanto os Caiporas e muito mais efetivos em desaparecer da vista dos mortais sem deixar rastros, porém, ao se juntarem a um Grupo de Caça Caapuã, são renomados por jamais deixarem seus companheiros para trás e se ligarem a eles por toda a vida. Seus Rezingões são os mais confiáveis pilares de sustentação das famílias Caapuã, sábios, confiáveis e resistentes, mantendo-se ligados pelo resto de suas vidas a um território específico, como as grandes sumaumeiras que abrigam sob suas imponentes copas trechos inteiros de floresta.

Curupiras também são famosos por seu senso de humor incomum, desenvolvido ao longo dos anos observando as pessoas sem serem notados ou se divertindo em vê-las os procurando. Este senso de humor pode variar do escrachadamente brincalhão ao perigosamente sádico. Aqueles cujo aspecto dominante é Dia (Seelie) costumam ser sábios guardiões de locais que consideram sagrados e lançam mão de humor e engenhosidade para ensinar lições valiosas aos visitantes. Porém, aqueles cujo aspecto dominante é Noite (Unseelie) tendem a ser anfitriões cínicos e cruéis que se divertem atormentando os visitantes incautos.

Organização: Curupiras costumam ser membros de destaque em qualquer Família Caapuã, devido ao seu vínculo particular com seu território, eles também são considerados Membros especialmente apropriados de qualquer Conselho de Anciões Locais, pela mesma razão.

Entre seus companheiros de Grupo de Caça, Curupiras podem ocupar tanto a posição de batedores intrépidos, como a de líderes sábios ou poderosos pajés, embora não costumem ser considerados guerreiros especialmente habilidosos e valorizam a companhia de Caiporas e Boraros como aliados na defesa de seus territórios.

Apesar de sua tendência a fixarem-se em um determinado território pela maior parte da vida, a inclinação dos membros mais jovens deste Povo de se unirem aos Caiporas em suas andanças para explorar o mundo em busca de um local apropriado para se fixarem, fez com que os Curupiras possam ser encontrados em territórios muito distantes das fronteiras de Ewarë, muitas vezes associados a ecossistemas complemente diferentes de suas florestas tropicais de origem e, em alguns casos, até mesmo se vinculando a ambientes urbanos, para horror dos membros mais tradicionalistas deste Povo.

No interior do Território Livre de Ewarë, os Curupiras são uma importante força política, pelo respeito que usufruem diante dos demais Povos Caapuã. Fora de suas fronteiras, porém, costumam ser vistos como pouco mais que plebeus exóticos e ignorantes, altamente territoriais, que preferem se manter o mais longe possível, tanto das intrigas das cortes Kithain, quanto das conspirações para tentar derrubar o nobre arrogante de plantão, uma vez que costumam estar muito cientes do risco que eventuais contendas representam para a manutenção dos territórios ao qual decidiram se vincular.

O representante dos Curupiras no Grande Conselho de Ewarë é a Síocháin conhecida como Xibure Mendes, uma jovem indígena da etnia Kaxinawá, estacionada, ninguém sabe exatamente há quanto tempo, em seu aspecto Estouvado. Aparentemente, Xibure nasceu no Peru, mas se fixou em uma aldeia nas imediações do Rio Tarauacá, no Acre, onde se divide entre suas obrigações mundanas como tecelã de uma Associação das Produtoras de Artesanato das Mulheres Indígenas Kaxinawá e como uma das mais respeitadas lideranças Caapuã em todo o Território Livre de Ewarë.

Características: Curupiras são astutos e sorrateiros, costumam priorizar atributos mentais e sociais aos atributos físicos, sobretudo Raciocínio, Carisma e Manipulação. Eles também valorizam Talentos como Prontidão, Tino, Lábia, Persuasão e, no caso de Curupiras mais voltados ao ambiente urbano, Manha; além de Perícias como Ofícios, Furtividade e Sobrevivência; e Conhecimentos tais como Enigmas, Gramática Mágica, Tradição Oral e Herborismo. Eles também costumam adquirir níveis dos antecedentes: Posses, Lembranças, Vínculo Espiritual e Aliados Espirituais. O que lhes confere vantagens adicionais e uma compreensão ainda mais profunda dos detalhes e segredos ocultos de seus territórios.

Artes: Como todos os demais Caapuãs, Curupiras têm acesso irrestrito às Artes: Andanças, Chicana, Prestidigitação e Princípio. Dentre elas, tendem a ter predileção por Chicana, usando-a para pregar peças em seus alvos e fazerem visitantes incautos se perderem nas matas. Além disso, os Curupiras compartilham entre si, e apenas entre si, os segredos de uma arte muito particular, que os Caapuãs conhecem como A Benção de Ci (Spring), que eles usam para fertilizar a terra, fazerem plantas crescerem em ritmo acelerado, curar ferimentos e criar círculos de proteção.

Afinidade: Cena.

Euforia: Curupiras são criaturas fortemente vinculadas a terra, cultivar bosques e jardins especialmente planejados e/ou intrincados, reflorestar áreas desmatadas e disputas de esconde-esconde entre Curupiras e Caiporas (desde que estes não se conheçam previamente), são formas dos Curupiras experimentarem a Euforia. Eles também podem recuperar Glamour passando algum tempo usufruindo ou explorando belas paisagens e planejando formas de modificá-las ou aprimorá-las, segundo seus próprios gostos.

Desencadear: O farfalhar de ramos e folhas e o cheiro da terra molhada após uma chuva rápida, uma revoada de folhas e poeira são manifestações comuns que acompanham as demonstrações de poder dos Curupiras.

Despistar (Herança): Curupiras possuem um vínculo e uma compreensão tão profunda do ambiente a sua volta que, desde que estejam de pés descalços, são capazes de se mesclar de forma sobrenatural e inata à paisagem, sendo impossíveis de rastrear, mesmo pelos caçadores mais experientes. Esta habilidade, por si só, não torna os Curupiras realmente invisíveis ou aptos a sumirem no ar diante de olhares incrédulos, mas é impossível encontrar seu rastro depois que você tira os olhos de cima de um deles.

Do ponto de vista mecânico, Curupiras têm direito a um teste de Raciocínio + Furtividade com dificuldade -2, variando conforme o ambiente ao seu redor e o julgamento do Narrador. Além disso, Curupiras são capazes de se esconder em situações que pareceriam simplesmente impossíveis para mortais, mesmo a sombra de um poste seria mais do que suficiente para ocultar o mais rechonchudo Curupira. Contudo, eles jamais podem invocar esse direito inato enquanto estiverem sendo observados.

Um com a terra (Herança): O vínculo único que os Curupiras compartilham com a terra, torna impossível que eles possam sofrer falhas críticas em testes de Furtividade ou Sobrevivência. Além disso, Curupiras recebem vantagens adicionais quando decidem se vincular a um território específico. Enquanto estiverem dentro dos limites de seu território e desde que esteja descalço, com os pés tocando o chão, o Curupira é capaz de determinar a localização de qualquer criatura inteligente que se encontre tocando o solo ou a vegetação dentro dos limites do território reivindicado (piso de casas e prédios é considerado “solo” para curupiras que reivindicam territórios em ambientes urbanos). Este poder permite discernir a identidade do alvo, mas apenas daquelas pessoas com as quais o Curupira já esteja familiarizado, ou, tenha visto pelo menos uma vez (mediante um teste de inteligência contra dificuldade 7, neste último caso). Curupiras também são capazes de perceber qualquer ato de depredação perpetrado contra o território ao qual estejam vinculados, sem nem sequer precisarem se concentrar.

Ligado a terra (Fragilidade): Enquanto não estiverem vinculados a um território feterminado, os Curupiras são especialmente suscetíveis à Banalidade. Nesta situação eles contabilizam dobrados os pontos temporários de Banalidade que adquirem. Estar vinculado a um território lhes oferece proteção contra a corrosão pela Banalidade além de lhes conferir alguns benefícios extras (vide Um com a Terra). Em troca, o Curupira precisa zelar pelo local que reivindica. Curupiras negligentes podem perder parcialmente ou completamente os benefícios que o vínculo concede, até que possa se redimir. Territórios reivindicados desta maneira se estendem por um raio de 100 metros por ponto de Glamour permanente do personagem, a partir de um centro sinalizado por uma árvore encantada, com a qual o Curupira possuí uma ligação ainda mais especial.

Pontos de Vista

Um Curupira Estouvado com um sorriso malicioso e olhos inquisitivos releva o que pensa sobre seus Parentes Caapuãs:

ALICANTOS: Esses caras cuidam da terra e valorizam suas riquezas, mas se deixam seduzir por pedras e mentiras reluzentes.

BOIÚNAS (Sachamamas): Boiaçu moldou a terra para receber nosso Povo e os Boiúnas são seus filhos prediletos. Não somos ingratos, por isso a gente dá uma moral pra eles.

BORAROS: Esses Parentes tiram seu poder da terra, mas nem sempre a compreendem como deveriam.

CAIPORAS: Eles podem ter pisado na bola com a gente no passado, mas também são nossos Parentes mais próximos. Rivalidade não quer dizer inimizade. Tenha senso esportivo!

KARUANAS: Eles podem ser bacanas, mas só deixam seu orgulho e vaidade de lado.

MAPINGUARIS: Um único desses caras pode destruir anos de seus esforço num picar de olhos. Mantenha-os por perto, mas não perto demais.

MATINTAS (Lloronas): Estas terras têm história e elas conhecem essas histórias.

UIARAS (Encantados): Eles poderiam cumprir melhor seu papel se nos ajudassem a separar a briga ao invés de apenas sumirem quando as cadeiras começam a voar.

EBORÁS: Poucos visitantes tem histórias tão interessantes, tenho sempre um corote reservado para quando um deles resolve aparecer. Hahaha…

KITHAIN: Mantenha eles o mais longe que puder e desconfie de tudo que escorrer de seus lábios.

| ALICANTO | BORARO | BOIÚNA | CAIPORA | CURUPIRA |

| KARUANA | MAPINGUARI | MATINTA | UIARA |

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Então conheça mais detalhes de nossa proposta de cenário alternativo o jogo no link abaixo:

Ewarë, o “Reino” Encantado da Amazônia.

A Nação Caapuã: Herdeiros dos Sonhos Nativos.

Cosmovisão Caapuã

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