Caiporas: Guardiões da Fauna Sul-Americana

Novos Kiths Changelings Amazônicos

Brasil In The Darkness
Brasil na escuridão
10 min readJun 25, 2020

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Versão em Português-BR | Versión en Español

Por Alex Pina, Jessele Damasceno & Porakê Martins

Art by Keoma Calandrini

“Cirilo não gostou de você. Ele é desconfiado de quem tem cheiro de gato. Ele não gosta de gatos… Mas também sinto cheiro de ração fresca, lavanda e café. E não tenho nada contra gatos. Você parece cuidar bem da gatinha que deixou em casa… O que?… Quem é Cirilo?… Meu amigo bem-te-vi, é claro! Desculpa, esqueci de apresentar vocês.”

Os Caiporas representam a íntima ligação dos povos nativos da América do Sul com a fauna local. Para muitos povos indígenas, não havia a noção contemporânea e “ocidental” de uma separação absoluta entre homens e animais. Os animais eram vistos como “parentes”, como outros Povos e Nações, que apenas possuíam modos, culturas e perspectivas diferentes das humanas. Suas pelagens, penas e escamas são como suas vestimentas e ornamentos.

Os Caiporas são os herdeiros desses sonhos antigos de um convívio harmônico entre homens e animais, como lembranças vivas da compreensão desses povos de que humanos também são animais, e que animais também possuem espíritos. Segundo a tradição Caapuã, no passado os Caiporas eram responsáveis por acompanhar secretamente os Caçadores nas florestas e outras regiões selvagens da América do Sul, certificando-se de que eles fossem respeitosos com suas presas e honrassem as antigas tradições. Infratores estavam sujeitos a punições impiedosas, mas caçadores honrados em apuros também tinham a quem recorrer.

Porém, desde a invasão dos caraíbas (os colonizadores europeus), muitos dos povos que lembravam e reverenciavam os Caiporas e as antigas tradições, foram dizimados por guerras desonrosas e por pestes trazidas pelos estrangeiros. Apesar disso, os Caiporas resistiram o quanto puderam, com o auxílio de seus aliados entre os humanos que habitavam os rincões mais distantes, seus amados animais e os espíritos da natureza, até receberem, da própria Boiaçu, a Cobra Grande, o segredo do Caminho Changeling que, desde então, permite que suas almas feéricas possam coabitar em corpos humanos para resistir ao avanço da Banalidade e da Descrença sobre nosso Mundo.

Ao longo dos séculos, muitos Caiporas pereceram diante do avanço da Descrença e da Banalidade trazida pelos estrangeiros, nas guerras de resistência dos povos nativos contra a dominação colonial, no processo de destruição dos povos e ecossistemas nativos e na recente guerra contra os Kithain do Império do Crepúsculo.

Cada caipora é um guerreiro veterano de muitas batalhas do passado, lutando uma guerra que não parece ter fim. Cada nova espécie extinta diminui o Mirakamby (Glamour) no Mundo e desafia cada Caipora remanescente a se manter firme em sua exaustiva missão.

Aparência: É difícil olhar para um Caipora e não reconhecer um espírito inquieto e indomável, mesmo em seu aspecto mortal, embora sua aparência possa variar do desleixado ao imponente. Seu aspecto mortal pode ter qualquer tipo de aparência que seja capaz de emergir do caldeirão étnico e cultural que é a América do Sul. Em seu semblante feérico, ainda que claramente humanoides, Caiporas sempre possuem traços animalescos como: presas, garras, cauda, olhos fendidos, escamas, penas e orelhas peludas. Embora isoladamente tais características possam remeter a animais determinados, no conjunto, sua aparência será sempre uma amálgama única de características de diversos animais diferentes. Afinal, cada Caipora, em si, não representa o vínculo da humanidade com uma espécie animal particular, mas a ligação da humanidade com os animais como um todo, em toda a sua rica diversidade, e sua aparência deixa isso muito claro. Porém, algumas características costumam ser mais comuns que outras: sua pele é quase sempre vermelha, como se pintada pela tinta de urucum, seus corpos costumam ser fortes e resistentes e é comum que exibam adornos e pinturas que façam referência a animais da Floresta o que enriquece ainda mais a amálgama de características que eles já possuem.

Estilo de Vida: Caiporas são seres inquietos, curiosos e desconfiados, muitos deles se sentem mais à vontade na companhia de animais do que na de seres humanos. O movimento é seu estado natural. Além disso, costumam buscar profissões que os aproximem dos animais como biólogos, veterinários, guardas florestais, tratadores de zoológicos, adestradores, ativistas dos direitos dos animais, etc.

Seus Infantes são ativos e brincalhões, eventualmente podendo ser confundidos com Pookas pelos desavisados. Estouvados são temerários e sedentos por aventuras, nesta fase é comum que empreendam viagens para conhecerem outros ambientes, pessoas, óbvio, outros animais. Os Rezingões costumam ser figuras sábias e veneráveis que elegem uma espécie ameaçada, ou os animais de uma determinada área, como seus protegidos pelo resto de suas vidas. Em qualquer dessas fases não costumam estar longe de seus amados aliados animais.

Caiporas cujo aspecto dominante é Dia (Seelie), são vigilantes engajados nas causas ambientais, já aqueles cujo aspecto dominante é Noite (Unseelie), costumam ser figuras soturnas, amarguradas e vingativas que usam sua ligação com o mundo natural para atormentar sadicamente os mortais. Conforme a destruição dos ecossistemas nativos avança e acelera na América do Sul, mais e mais Caiporas em desespero decidem abraçar seu aspecto Noite e se lançar contra os humanos, mergulhando em regiões selvagens e jurando entregar a própria vida para defender alguns dos últimos representantes de uma determinada espécie ameaçada ou fazer o próximo invasor humano pagar com a vida por sua arrogância, egoísmo e ousadia. Entretanto, ainda há muitos Caiporas que insistem em se dedicar a conscientizar e inspirar humanos sobre formas de preservar a fauna através de projetos de conservação ambiental, militância social junto a comunidades tradicionais, sociedades protetoras de animais, etc.

Organização: No papel de Anciões de Famílias Caapuã, os Caiporas costumam dar vazão a todo o instinto maternal que eles próprios costumam associar à Boiaçu como “Mãe de Todos os Animais”, usando suas habilidades e os serviços de seus aliados animais para se manterem informados dos passos de cada Caapuã dentro de seu território, aconselhando-os com o melhor de sua sabedoria para se mantenham longe de problemas, porém, sem jamais deixar de punir transgressões. Dentro de Grupos de Caça, os Caiporas costumam se sentir mais à vontade no papel de batedores, espiões e guerreiros do que no de líderes, embora seus conselhos e observações normalmente sejam valiosos para qualquer um que ocupe essa posição.

Este Povo em si é um dos quatro pilares da comunidade que compõem o Território Livre de Ewarë, embora como criaturas originalmente nômades, possam ser encontrados por diversas regiões do país, mesmo nos territórios reivindicados pelos Reinos que compõem o Império do Crepúsculo, desde as Caatingas no coração do Reino dos Castelos Esquecidos, no Nordeste, até o Reino dos Pampas no extremo Sul do Brasil, governado por uma Rainha Caipora chamada Yv Vera e seu Rei Troll, Flamínio Agripa, ambos associados à Casa Liam dos Kithain do Império do Crepúsculo, para desgosto dos membros deste Povo em Ewarë.

O representante dos Caiporas no Grande Conselho de Ewarë é o Síocháin, conhecido apenas como Mestre Pedro, nativo do município de Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó, um dos dois Rezingões que compõem o Conselho, um vaqueiro fascinado pela natureza e as histórias da região e que também é um artesão afamado, que produz réplicas da cerâmica marajoara para os turistas, um homem rústico, mas especialmente sábio, contemplativo e paciente, que de várias formas parece contrariar o estereótipo dos membros de seu Povo, embora seja visto quase sempre acompanhado por três curiosos personagens: Eutanázio, um grande búfalo branco quimérico de chifres e cascos prateados, que eventualmente lhe serve como montaria; Alfredo, um simpático araçari (espécie rara de tucano característica da região); e Félix, seu esposo, um Changeling Eborá do Kith Obambo.

Características: Caiporas são criaturas ativas e diversificadas, costumam ter atributos físicos pelo menos como secundários e tendem a priorizar Talentos como Prontidão, Esportes, Briga e Tino; e Perícias como Empatia com Animais, Furtividade e Sobrevivência; no lugar de Conhecimentos, embora Investigação e Enigmas costumem ser muito valorizados por eles. Também tendem a adquirir níveis dos Antecedentes Séquito, Sonhadores e Contatos para representar igualmente seus laços tanto com humanos como com animais, e não é incomum que adquiram Quimeras que representem criaturas lendárias de sua região de origem ou moradia. Eles também podem possuir níveis consideráveis do Antecedente Vínculo Espiritual.

Artes: Como todo Caapuã, Caiporas têm acesso irrestrito às Artes mais comuns (Andanças, Chicana, Prestidigitação e Princípio). Mas tendem a ter predileção por: Andanças, devido a sua natureza irrequieta e tendências nômades; e Princípio, que eles costumam usar para se comunicar com animais e se aproveitar das óbvias vantagens que ela oferece em combate. Além disso, Metamorphosis é sua marca registrada, ao ponto dos Caapuãs se referirem a ela como “O Toque da Caipora”, eles a usam para se transformar em animais e assim experimentar suas vivências, eventualmente podem diminuir ou aumentar seus aliados animais ou a si a mesmos para facilitar sua ocultação ou, até mesmo, usarem porcos selvagens como montaria e chegam a punir caçadores inescrupulosos transformando-os na presa que perseguiam, apenas para fazê-los “provar de seu próprio veneno”.

Afinidade: Natureza.

Euforia: Caiporas adoram explorar lugares novos e passar algum momento se divertindo com animais, encontrar um animal de uma espécie com a qual nunca tenha se deparado antes é uma maneira clássica de experimentar a Euforia. Caiporas também podem recuperar Mirakamby (Glamour) passando algum tempo em um lugar aberto e selvagem, relaxando livre de preocupações e interagindo com seus amados amigos com pelos, penas ou escamas.

Desencadear: Sons e cheiros de animais selvagens estão muito associados aos Caiporas, o que nem sempre gera uma boa impressão, manifestações mais “palpáveis” como uma revoada de penas, borboletas ou outros insetos menos amigáveis também são bastante comuns.

Xerimbabo (Herança): Caiporas costumam estar sempre cercados por animais, porém, entre todos esses amigos cobertos de pelos, penas ou escamas, há sempre um com o qual compartilham um vínculo ainda mais estreito e especial. Cada Caipora possui um Xerimbabo, algo mais do que um amigo querido e muito amado, o Xerimbabo é um fragmento de sua alma feérica. Quando ele rompe a crisálida, de alguma forma, uma parte de sua alma feérica se liga imediatamente a um animal mundano nas proximidades. Em ambientes rurais ou selvagens, onde espera-se que hajam muitos animais nas proximidades, o animal escolhido tende a ter alguma afinidade natural com o Changeling em questão. Porém, em ambientes urbanos, com opções mais restritas, as coisas podem ficar menos confortáveis para um incauto Caipora.

Caiporas possuem uma noção instintiva do estado geral e da localização de seu Xerimbabo a qualquer momento. Xerimbabos podem se comunicar falando com qualquer criatura tocada pelo Sonhar (Changelings, Quimeras, humanos ou outras criaturas encantadas). Além disso, a partir do momento em que o vínculo é criado, junto com parte da alma feérica, o Xerimbado recebe as mesmas estatísticas de Inteligência, Raciocínio, Carisma e Manipulação do Changeling ao qual passa a estar vinculado, além de quaisquer Talentos, Perícias e Conhecimentos que o Changeling possua naquele momento, embora não têm acesso às Artes ou Antecedentes de seu patrono nem recebem qualquer outras habilidades ou características que já não possuísse antes, como um animal mundano. Além disso, a partir de que o vinculo seja criado as estatísticas do Caipora e de seu Xerimbabo passam a ser desenvolvidas separadamente.

O Presente de Boiaçu (Herança): Caiporas percebem o Mundo, tanto a Superfície (Mundo Outonal) como o Fundo (o Sonhar), mais como animais do que como seres humanos. Eles atribuem à Cobra Grande o dom que lhes permite ter uma profunda compreensão de seus parentes animais, além e lhes fornecer uma série de vantagens. Eles possuem o melhor dos sentidos dos animais: visão, audição e olfato incrivelmente aguçados. Ao emergirem da Crisálida, eles recebem +2 níveis de Percepção, mesmo que isso eleve este atributo acima de 5. Estes sentidos aguçados permitem que os Caiporas ouçam sons que são inaudíveis para humanos, enxerguem perfeitamente, mesmo com muito pouca iluminação, e consigam discernir odores com precisão. A critério do narrador, feitos realmente notáveis, como enxergar na mais completa escuridão, acompanhar um diálogo sussurrado, de uma distância segura, ou rastrear um completo estranho através de quilômetros, apenas seguindo seu cheiro, podem estar ao alcance de um teste de Percepção, mediante o gasto de um ponto de Glamour. Além disso, Caiporas jamais obtêm falhas criticas em testes de Prontidão ou Empatia com Animais.

Alma Errante (Fragilidade): O vínculo dos Caiporas com seus Xerimbabos pode tornar o Caipora especialmente vulnerável. Uma vez que o Xerimbabo tenha sido destruído o Caipora perderá seus poderes e todas as memórias relacionadas aos Caapuãs e seu Semblante Feérico, pelo menos até que sua alma feérica possa retornar ao Ciclo Changeling e se ligar a outra casca mortal. Xerimbabos não podem morrer por “causas naturais” enquanto durar seu vínculo com um Caipora. Se o Xerimbabo for destruído com o uso de Ferro Frio, a Alma Feérica do Caipora ao qual ele estava vinculado estará perdida para sempre.

Pontos de Vista

Uma desgrenhada e simpática Infante Caipora comenta sobre seus Parentes enquanto brinca distraída com seu amigo quati:

ALICANTOS: Eles são quase tão ruins quanto os Kithain, mas ainda são nossos Parentes, então, a gente precisa suportá-los. Né?

BOIÚNAS (Sachamamas): Sim, eu gosto de cobras, a fama delas costuma ser injusta. Elas são muito observadoras e sentem cheiros com a língua, sabia?

BORAROS: Eles são fortes e estão ligados à terra, só queria que não fossem tão calados e mal humorados.

CURUPIRAS: Eles conseguem se esconder de quase todo mundo, menos da gente. Estamos ligados a eles, como as formigas e à terra, ou os pássaros aos galhos das árvores.

KARUANAS: Acho eles muito esquisitos. Eles deveriam ser mais próximos dos animais, já que podem vestir sua pele, mas costumam estar sempre muito ocupados com seus próprios assuntos.

MAPINGUARIS: Não há amigo mais fiel que um Mapinguari, você vai ver que eles nem são tão ruins quanto se diz por aí.

MATINTAS (Lloronas): Elas me metem medo. Mas ouvi dizer que são sábias e que nem todas são malvadas.

UIARAS (Encantados): Eles são legais, só acho engraçado como sempre arrumam um jeito de desaparecer quando um problema aparece.

EBORÁS: Adoro ouvir suas histórias e eles estão sempre dispostos a nos ouvir. O que mais poderia esperar de verdadeiros amigos?

KITHAIN: Esnobes e tolos, estaríamos bem melhor se simplesmente nos deixassem em paz.

| ALICANTO | BORARO | BOIÚNA | CAIPORA | CURUPIRA |

| KARUANA | MAPINGUARI | MATINTA | UIARA |

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Então conheça mais detalhes de nossa proposta de cenário alternativo o jogo no link abaixo:

Ewarë, o “Reino” Encantado da Amazônia.

A Nação Caapuã: Herdeiros dos Sonhos Nativos.

Cosmovisão Caapuã

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