Como fazer a gestão de ecossistemas de inovação por meio de capacidades?
Vivemos em um mundo caracterizado por mudanças que vêm a um ritmo cada vez mais rápido, tornando difícil acompanhar e manter-se atualizado as transformações que ocorrem nos mercados, nos setores, no padrão de consumo dos clientes e, principalmente, nas tecnologias. Novas tecnologias digitais deram origem a modelos de negócios inovadores que vem desafiando empresas estabelecidas e até mesmo setores.
Neste novo panorama, onde a incerteza e a complexidade são a norma, as empresas precisam desenvolver capacidades para responder com agilidade frente às transformações e buscar alternativas para lançar produtos, desenvolver inovações e crescer além dos seus limites internos. Neste sentido, participar de um ecossistema de inovação pode trazer muitas vantagens e oportunidades que não existem quando se olha apenas para dentro do negócio. Em um mundo de complexidade e incerteza, as empresas não conseguem fazer tudo sozinhas, é preciso interagir com parceiros que podem trazer recursos e capacidades que ajudem a se transformar.
Em um texto anterior, já abordamos sobre o assunto de ecossistemas, explicando sobre sua estrutura de atores e a respeito dos diferentes tipos de capacidades que podem ser desenvolvidas por meio destes. Em um outro texto, exemplifiquei por meio do caso da Tesla como esta empresa construiu suas capacidades para moldar o setor automotivo por meio da construção de um ecossistema de inovação. Caso você queira entender como desenvolver capacidades por meio do ecossistema, tenho um texto onde apresentei um modelo para auxiliar nesse processo.
Partindo disso, existem diferentes tipos de capacidades que estão presentes em ecossistemas de inovação e que precisam ser gerenciadas e fortalecidas para que o ecossistema se desenvolva. Clique aqui se você quiser entender quais são as 10 capacidades para a gestão de empresas operando em ecossistemas, pois nesse texto darei um passo além mostrando as implicações dessas capacidades para a gestão dos ecossistemas de inovação. Então para compreender esse texto, é importante estar ciente dos tópicos já discutidos anteriormente, pois partirei destes para desenvolver o modelo. Este modelo foi resultado de uma pesquisa realizada em duas bases de dados internacionais e envolveu uma análise de 789 artigos científicos.
Os resultados dessa pesquisa indicaram que ambas as capacidades dinâmicas e operacionais são importantes para os três atores do ecossistema: empresas focais, fornecedores, e por último nos complementadores. Todavia, para que um ecossistema de negócios se desenvolva não basta que apenas um tipo de ator possua capacidades dinâmicas e operacionais. Pelo contrário, a gestão das capacidades do ecossistema requer uma distribuição coordenada das capacidades entre os diferentes atores. A partir da identificação e mapeamento que empreendi neste texto, apresento uma primeira estruturação da gestão das capacidades no ecossistema:
Figura 1: Modelo de Gestão das Capacidades do Ecossistema
O modelo apresenta as capacidades dinâmicas como elo central e impulsionador do conjunto das capacidades para a sustentação das empresas e do ecossistema, assim como, para o alinhamento e crescimento do ecossistema. Isso porque as capacidades dinâmicas, como explicado no texto de capacidades, faz a transformação de todas as outras.
As capacidades dinâmicas são as capacidades de nível superior que permitem com que as capacidades operacionais, que são as de ordem inferior, sejam transformadas. No caso da Tesla, esta empresa desenvolveu capacidades dinâmicas por meio de sua atuação com empresas do ecossistema. As tecnologias e capacidades da Tesla foram desenvolvidas por meio de parcerias com empresas que ela atraiu para seu ecossistema, como a Lotus e Toyota no caso dos veículos, e a Panasonic no caso das baterias. Foi a atuação da Tesla com outros atores do ecossistema, que permitiu com que ela desenvolvesse suas capacidades dinâmicas. Como resultado, todo o setor automotivo foi transformado. Empresas já estabelecidas como Ford e General Motors precisaram se adaptar e reconfigurar suas capacidades tecnológicas para se adaptar a disrupção causada pela Tesla, como por exemplo investindo em capacidades para produzir veículos autônomos e motores elétricos.
Nos próximos textos, serão abordadas as capacidades para alinhamento do ecossistema, capacidades para sustentação do ecossistema, capacidades para crescimento do ecossistema e por fim, as capacidades para sustentação das empresas.
