Oklahoma City Thunder — Guia NBA 2017/18

Felipe Haguehara
buzzerbeaterbr
Published in
8 min readOct 2, 2017

Em um ano, a estrela solitária encontrou sua constelação

O período entre a offseason de 2016 e a final da NBA foi cheio de emoções para qualquer torcedor ou jogador do Oklahoma City Thunder. A tensão geral causada pela saída de Kevin Durant para se juntar ao esquadrão do Golden State Warrior foi um deleite para a mídia montar um verdadeiro soneto épico em torno da situação.

Russell Westbrook conseguiu o papel principal nessa nova aventura de Hércules. Apesar da campanha na temporada regular ou os playoffs não terem sido o final feliz que muitos gostariam, foi algo esperado considerando as deficiências do elenco.

Agora, porém, o armador não brilha mais sozinho. Sam Presti fez o que foi contratado para fazer em 2007, transformar o time num candidato a título. Para isso trouxe duas estrelas reais, para fortalecer ainda mais a competição no Oeste.

A maior questão agora é: Como organizar um time com três monstros acostumados a trabalhar com a bola na mão?

Como foi temporada passada?

Creio não ser necessário fazer uma pesquisa quantitativa para arriscar que o assunto mais pautado nos veículos de imprensa que tratam sobre basquete foi a narrativa de Westbrook, o OKC e Durant.

Não distante disso, aqui no Buzzer Beater abordamos o assunto diversas vezes. E por mais que na maior parte duvidamos um pouco da possibilidade do armador conseguir o prêmio de Jogador Mais Valioso — considerando que anteriormente as campanhas coletivas também influenciavam nos votos — tínhamos a certeza de que o Brodie faria números absurdos ao brilhar sozinho na equipe.

Como nós — e a grande maioria — imaginou foi exatamente o que aconteceu.

Os detalhes sobre seus números, já comentamos aqui diversas vezes, mas é sempre bom massagear a memória recente! 31.6 pontos, 10.7 rebotes e 10.4 assistências de média em 81 jogos. Segundo jogador na história a fazer um triplo-duplo de média. Primeiro colocado em pontos pro partida, terceiro colocado em assistências e 10º colocado em rebotes. Na terceira estatística, foi o único guard a aparecer no top 15, os mais próximos foram James Harden com 8.1 — Giannis Antetokounmpo até poderia entrar mas diferentemente de 2015/16, em 16/17 voltou a atuar primordialmente como um small forward.

Os números absolutos não mentem, a temporada foi digna do prêmio de MVP. O que o fez então ser contestado durante a maior parte do campeonato? O mesmo motivo pelo qual não se deu o mesmo prêmio a Oscar Robertson quando ele foi o primeiro a conseguir a façanha em 1961/62, o desempenho coletivo.

Westbrook dominou as porcentagens da equipe de tal maneira que o filme da temporada praticamente não tem coadjuvantes. Mesmo os jogadores importantes para suportar a estratégia montada em torno de sua individualidade, tiveram papeis tão reservados e específicos que se tornava até fácil para os outros treinadores montar esquemas para combater o OKC.

Basicamente tudo se dividia entre o armador, chutadores, reboteiros e defensores. Não havia alguém com qualidade múltipla notável como um 3-and-D. No time titular esse seria Andre Roberson, mas a defesa digna de seu Second All-Defensive Team não vinha na mesma qualidade nos arremessos do perímetro, onde seu aproveitamento era de 24.5% em 2.3 tentativas por jogo.

Steven Adams e Enes Kanter, também não fugiram à regra, estavam lá para defender o garrafão — sendo o primeiro mais versátil e podendo guardar outras posições — e, principalmente, pegar os rebotes ofensivos gerados pelos insanos 24 chutes por partida de Westbrook. Entenda aqui, que são especificamente ressaltos ofensivos, afinal na defesa suas funções eram fazer a proteção para que o armador pudesse ficar com os rebotes defensivos. Enquanto a dupla de pivôs pegou 13.0% e 14.1% dos rebotes ofensivos do time enquanto estavam em quadra, Russ liderou nos defensivos com 28.8%.

“Mas eles também faziam os pick and rolls!”. Menos do que você imagina. Enquanto James Harden, rival direto pelo prêmio individual, tinha Clint Capela e Nenê fazendo paredes em altas porcentagens das jogadas em que participavam, 28% e 31.7% — 8º e 5º lugar em toda a liga entre jogadores com mais de 35 partidas jogadas, respectivamente — , Adams, o pivô titular, fazia 24% menos que jogadores secundários como Salah Mejri e Mo’ Speights.

No entanto, isso tudo foi a receita que segurou o Thunder pegar o mando de quadra, ou título da divisão. Mas, a presença de Westbrook e um treinador de ponta comandando a equipe, como Billy Donovan, foram o bastante para manter o time em vaga absoluta para os playoffs.

A queda na primeira rodada da pós-temporada não colocou sombras sobre a façanha histórica do franchise player da equipe. Ele foi o MVP, sim, mesmo sem ter conseguido 60% de vitórias, e mesmo quem discorda precisa ter um momento para ceder ao homem que conquistou o apelido de Mr. Triple Double.

Enfim, o time apesar dos fogos de artíficio e alguns pesares o time acabou com 47 vitórias, sendo o quinteto inicial formado por: Westbrook, Oladipo, Andre Roberson, Sabonis e Adams.

O que mudou?

Uma coisa não podemos negar. Sam Presti, gerente geral do Thunder, toma decisões bastante lógicas em seu trabalho e podemos até dizer que ele é muito bom no que faz.

O jogador principal da franquia cumpriu sua missão, foi um monstro e conseguiu a premiação individual que queria. Mas o nível de competitividade do elenco estava longe do ideal, e se não para 2017/18, mais para frente algo teria de ser mudado. Pois Presti falou: “Quer saber, vamos fazer isso agora!”

Do time titular anterior ficaram o armador, o ala e o pivô. A franquia não tinha lá muito interesse no draft, está longe de necessitar um jovem para desenvolver. Usaram sua escolha para selecionar Terrance Ferguson na 21ª posição, um ala armador atlético e com bom chute de longa distância, mas ainda bastante cru e fraco fisicamente. Alguém que vai passar bastante tempo no banco e entrar principalmente como uma opção para espaçar a quadra.

O peso mesmo começou a ser colocado no período posterior. Paul George estava pressionando o Indiana Pacers para achar uma troca para ele, principalmente um time competitivo, dentre vários rumores, incluindo até o Los Angeles Lakers, time de sua cidade natal. Quem faturou a estrela foi o OKC.

O ala custou apenas Victor Oladipo, Domantas Sabonis e um pote de geleia. As mesmas peças que o time havia recebido quando enviou Serge Ibaka ao Orlando Magic — exceto pela geleia!

Show de fogos em Oklahoma novamente Westbrook era colocado ao lado de um atleta de alto calibre. Tudo poderia ter acabado por aí, não fosse mais um movimento sorrateiro de Presti.

Carmelo Anthony, infeliz com sua situação no New York Knicks buscava uma nova casa. O Rockets estava em todas as manchetes como destino mais próximo de se concretizar. Eis que explode a bomba. O Thunder envia Enes Kanter, Doug McDermott e uma escolha de segunda rodada para levar o ala.

Obviamente que a junção de três jogadores acostumados a serem o primeiro ball-handler, precisará ser trabalhada. Uma certeza nós temos, quem manterá tal status, depois de uma renovação de 205 milhões de dólares por 5 anos, será o armador. Creio que a própria torcida não aceitaria o contrário.

De qualquer maneira já discuti isso quando comentei a troca. A questão agora é que o time tem uma carga pesada de talento. O banco de reservas é bastante limitado, mas nada que um treinador do nível de Donovan não consiga aproveitar. O que realmente importa é esse time titular de peso formado por: Russell Westbrook, Andre Roberson, Paul George, Carmelo Anthony e Steven Adams.

Jogador destaque

Nem a adição e dois craques em nível de All-Stars tira do Mr. Triple-Double a posição de face da franquia. Isso já seria indiscutível antes, depois de um troféu de MVP para colocar na cabeceira da cama, o contrário se transforma em piada.

O número de pontos vai cair? Muito provavelmente. Não terão tantos triplos-duplos na temporada 2017/18? A lógica aponta para que sim. Será mais difícil conquistar o título de Jogador Mais Valioso? A lógica de que ao cercar-se de estrelas o destaque de suas atuações individuais diminuirá nos faz pensar que sim.

Entretanto, na disso exclui o fato de que o homem é um dinossauro no corpo de ser humano. A regularidade com que colocava estatísticas absurdas poderá não ser a mesma, mas a chance de vermos alguns jogos com 40 ou 50 pontos continua lá.

Potencial revelação

Oklahoma tem o interessante caso de não possuir um jovem de valor futuro tão em relevo. Com as peças de seu quinteto inicial sendo um tanto quanto absolutas, fica difícil para alguém ter tempo de jogo significante o bastante para alguma evolução notável.

Como havia dito, o calouro Terrance Ferguson dificilmente terá chances o bastante para se provar, bem como evoluir os aspectos nos quais peca durante situações reais de jogo.

Vejo dois atletas com a possibilidade de oferecer melhor produção a partir do banco. A função de sexto-homem, antes dominada por Kanter pode muito bem rodar entre a segunda unidade. O ala-armador Alex Abrines, caso consiga se provar mais consistente nos arremessos de três pode comer alguns minutos da posição. O outro, seria Jerami Grant, ala-pivô atlético que disputará minutos na segunda unidade com Patrick Patterson.

Porém, ambos, caso se mostrem como revelações, não será nada absurdo, apenas uma pequena subida na curva de produção.

Expectativa na temporada

O mar de monstros que é a conferência Oeste conseguiu mais um. O quão bem o time pode ir, vai depender da efetividade da ordenação das responsabilidades das três estrelas. Afinal será uma transição meio brusca de estrategia. Antes a bola era recebida primordialmente por um, agora chegaram mais três opções.

Dito isso, ficar fora dos playoffs está fora de opção para um quinteto como esse. Pra mim a maior dúvida é o quanto faram frente para conquistar um mando de quadra na pós-temporada.

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