Um objeto cotidiano
6:15 Stop this Train na voz de John Mayer avisa que é hora de levantar. Estico o braço para alcançar a tela do celular: parar alarme. Me espreguiço e sento na cama.
(Vale uma pausa para contar que durmo em uma cama tipo japonesa chamada futon e que já foi elemento de discórdia sobre o que é considerado uma cama ou não em algumas situações da vida.)
Levanto e vou ao banheiro. Xixi. Ainda estou acordando quando olho para ela. Sempre ali, naquele mesmo lugar ao lado da pia. Branca, fria e calculista. Dou descarga, tiro a roupa e a posiciono no mesmo arranjo do piso — como faço todos os dias. Coloco meus pés sobre ela e seu visor diz: Hi! Aguardo alguns instantes até que ela me peça: Step off e começa seu processo de Thinking. O visor então mostra a numeração do dia. Caminho de volta ao quarto onde procuro o celular para abrir o aplicativo e ver os dados dos últimos dias.
Já faz quase um ano que ela está ali e eu diariamente a encontro. Na habitual mecânica matutina. Mesmo aos fins de semana.
Quem me falou dela a primeira vez foi um amigo. Ele a tinha já desde algum tempo, o que lhe trazia certo alarme. Ela lhe mostrava que aquele vinho do Napa Valley estava pesando. Apontava cada happy hour com os amigos do trabalho ou mesmo aquele jantar no Spot para falar da startup.
O mesmo entusiasmo que ele sentia ao falar dela eu senti e logo quis que ela também estivesse na minha casa. Mesmo com a ambiguidade de sentimentos, ora bons, ora ruins, ela era uma necessidade.
Mas ela não poderia vir só. Na verdade, ela era complemento de um outro sonho antigo. E quando tive a oportunidade, um colega de trabalho viajava para Miami — onde ela poderia ser adquirida sem que eu precisasse vender um rim — fiz o pedido.
Mês e pouco depois, eu já nem estava mais no mesmo trabalho, ela chegou. Meus olhos brilhavam. Cheiro de novidade e curiosidade pelo que viria ali.
Abrir a embalagem, tirar as fitas de segurança, incluir as pilhas, configurar o primeiro uso, baixar o aplicativo no celular, conectar com a rede wif-fi — aqui levei um bom tempo por toda a questão da frequência que deve ser compatível e etc — , escolher o lugar onde deixa-la e fazer o primeiro teste.
Desde então, seguimos nessa dança matinal, eu e a minha balança.
#Desafio30diasdeEscrita #NinhodeEscritores
Desafio 30 dias de escrita — Ninho de Escritores
- esse devaneio faz parte da série 2018 de textos que me comprometi a compartilhar na jornada de Design da Vida. Se ainda não teve a oportunidade de ler os anteriores: Desenhando a minha bússola, Vestindo minhas orelhas de girafa, Jogabilidade e Letra por Letra; escolha um lugar gostoso e mergulhe comigo :)
- quer conhecer o meu #laboroflove — aquele projeto que conto com brilho nos olhos e sorriso na alma — vem ouvir o Baseado em Fatos Surreais, um podcast que conta histórias de outras mulheres, em primeira pessoa, com empatia, intimidade e leveza ❤
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