Um sonho recorrente

Marcela Leon
Design pra Vida
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3 min readMay 10, 2018
Photo by Meiying Ng on Unsplash

A primeira vez que me lembro desse sonho não tinha mais do que 8 anos. Morava em um pequeno prédio amarelo em uma avenida movimentada no centro de Curitiba.

Nós brincávamos de casinha, eu e as outras crianças do prédio, e ocupávamos o hall dos andares como se fossem nossas casas. Cada um dos andares era a casa de um dos “casais”, formados ali, na ingênua distribuição de meninos e meninas que espelhavam o comportamento adulto.

Meu marido de brincadeira se chamava Beto.

Já em São Paulo, quando estava na 5a série, tinha uma amiga chamada Rafaela – curiosamente o nome da minha irmã que iria nascer anos depois – que lembro bastante por ela habitualmente enrolar a franja com os dedos e prender na lateral dos cabelos. Ela tinha cabelos loiros, longos e cacheados.

O sonho aqui, acontecia silenciosamente, enquanto eu observava um jovem casal na sala de aula. Eles eram namorados.

Alguns anos depois, me lembro de continuar esse sonho, enquanto passava boa parte do meu dia conversando com uma turma de amigos imaginários. Nessa brincadeira, que acontecia enquanto eu lavava a louça do almoço, conversamos amenidades da rotina de jovens de 13 anos. Mas eu tinha um outro nome e meu namorado imaginário se chamava André.

Naquela época, eu me lembro que voltar da escola, almoçar e fazer as tarefas domésticas de casa – como lavar a louça do almoço, cuidar dos irmãos mais novos, estender uma roupa no varal – faziam parte da minha rotina. Assim como essa turma de amigos e todas as suas histórias.

Logo os amigos imaginários deram espaço ao sonho que me acompanhou bons anos da minha adolescência: um vizinho que, coincidência ou não, tinha o mesmo nome do meu pai (psicologia freudiana em polvorosa nesse momento).

Logo que nos conhecemos – e aqui peço licença pois a cronologia se sobrepõe com os amigos imaginários – rolou um pedido. Um pedido que logo foi barrado pelo meu pai, que achava que eu era muito nova.

Eu fiquei sonhando e o vizinho foi vivendo. E eu pude ver boa parte dessa vida, já que além de vizinhos, estudávamos na mesma escola.

Foi em 1997 que o sonho ganhou uma nova narrativa: ele veio com um dos sorrisos mais lindos que já tinha visto e coloriu meus dias com músicas e descobertas.

Até hoje sou capaz de fechar meus olhos e reviver a sensação de quando o vi pela primeira vez, caminhando com seu jeans e a polo listrada, um óculos estilo John Lennon. E, quando minutos depois, sentou do meu lado na grama onde adormecemos enquanto ele tocava Leãozinho do Caetano Veloso no violão.

Já foram mais de 20 anos. O sonho não é exatamente o mesmo. Eu não sou exatamente a mesma.

Mas de alguma maneira ainda sonho. Algumas vezes esse sonho é vivo e colorido. Outras, sombrio e silencioso.

#Desafio30diasdeescrita #ninhodeescritores

Desafio 30 dias de escrita — Ninho de Escritores

Ninho de Escritores
  • esse devaneio faz parte da série 2018 de textos que me comprometi a compartilhar na jornada de Design da Vida. Se ainda não teve a oportunidade de ler os anteriores: Desenhando a minha bússola, Vestindo minhas orelhas de girafa, Jogabilidade e Letra por Letra; escolha um lugar gostoso e mergulhe comigo :)
  • quer conhecer o meu #laboroflove — aquele projeto que conto com brilho nos olhos e sorriso na alma — vem ouvir o Baseado em Fatos Surreais, um podcast que conta histórias de outras mulheres, em primeira pessoa, com empatia, intimidade e leveza ❤
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Marcela Leon
Design pra Vida

oi! eu sou criadora e produtora do podcast de histórias Baseado em Fatos Surreais. tô no www.papodeprodutora.com.br compartilhando sobre produção em áudio 😉