04. Solte o freio

Accenture Song Design Brasil
FJORD Fala
Published in
8 min readFeb 18, 2019

Nossas cidades estão mudando. No mundo todo, as linhas estão se confundindo entre transporte público e privado, trânsito de passageiros e entrega de itens. O problema é que as cidades não estão acompanhando, uma vez que a regulamentação é insuficiente e a falta de um plano central resultam em conflitos entre todos. Isso está levando à desorganização do serviço móvel urbano e a uma experiência de usuário fragmentada.

Em 2019, as organizações devem começar a consolidar os serviços de mobilidade em um ecossistema único e coerente, construído com base nas necessidades em tempo real.

O que está acontecendo?

O transporte nas cidades costumava ser simples. Todos sabiam seu lugar: havia entrega, transporte privado para indivíduos e transporte público para mover as massas. Agora, uma gama diversificada de startups de mobilidade em rápida expansão está se movendo rapidamente em muitas direções.

Tudo isso é alavancado pela transferência da população das áreas rurais para as urbanas. Segundo as Nações Unidas, o número de pessoas que vivem nas cidades pode dobrar para 6,5 bilhões até 2050. Até 2030, esperamos que mais de 9% da população mundial viva em apenas 41 megacidades (aquelas com mais de 10 milhões de habitantes), mas as infraestruturas da cidade estão lutando para acompanhar.

Diferentes meios de transporte começavam a se sobrepor ou a se tornar polivalentes quando as cidades começaram a publicar suas APIs, criando um playground para qualquer pessoa interessada em atender à crescente demanda por novos modelos e serviços. Mas o grande volume de interesse e a falta de sistemas de mobilidade centralizados resultaram em provedores de mobilidade que hackeiam os modelos antigos. Entraram novos jogadores privados para captar as oportunidades resultantes, e de repente nossas cidades ficaram sobrecarregadas.

As cidades de São Paulo e Rio de Janeiro estão em 5º e 7º lugar no ranking de cidades com mais trânsito, respectivamente. Novos meios de transporte estão buscando soluciona essa questão. No América Latina, acompanhamos a fusão da Yellow (bicicletas compartilhadas) com a Grin (patinetes elétricas compartilhadas), criando a Grow. O propósito da nova empresa é transformar não apenas o transporte mas também melhorar os serviços de infraestrutura e impulsionar a atividade econômica na região.

As ruas de Paris também abriram espaço para patinetes elétricas dos operadores californianos Lime e Bird, que competiam com o esquema de ciclismo operado pela cidade Vélib. Porém, as calçadas tornaram-se tão lotadas e perigosas como resultado, que o governo francês proibiu as patinetes em outubro.

Nos Estados Unidos, um estudo recente sugere que os serviços novos de carros “on-demand” não apenas estão agravando o congestionamento — eles estão estimulando que as pessoas usem mais carros, canibalizando o trânsito e aumentando criticamente as mortes por acidente em 2% a 3%.

Também estamos vendo empresas explorando novos meios de transporte. As empresas de entrega UPS, DHL e FedEx, por exemplo, estão construindo frotas de carros elétricos no solo; e empresas de transporte como a Rolls Royce, Uber e a Airbus estão correndo para pilotar carros voadores. Na Alemanha, a Siemens lançou o primeiro tram autônomo do mundo. E no Reino Unido, a Aeroespacial Vertical, de Bristol, recentemente revelou detalhes de sua própria solução: o táxi voador eVTOL.

Uma próxima geração de produtos, serviços e modelos de negócio estão chegando aos mercados ao redor do mundo. Em Singapura, a Startup finlandesa MaaS Global juntou-se ao transporte local ComfortDelGro para o lançamento de um aplicativo que permite aos usuários transitarem entre táxis, ônibus, trens, aluguel de carro e bicicleta. Fabricantes automotivos como a Daimler — que já oferecem compartilhamento de carros — estão começando a emitir bilhetes integrais enquanto o aplicativo de transporte Citymapper está rodando uma frota táxi-ônibus em Londres. São Paulo está dando pequenos passos para a integração, conseguimos pagar a Bike do Itaú com o Bilhete Único.

A expansão não termina aí. Organizações que começaram regionalmente estão expandindo nacional e internacionalmente. A Hellobike, chinesa de compartilhamento de bicicletas, se renomeou Hello TransTech e em seguida iniciou um serviço de táxi sob demanda com parceiros em Chengdu, Nanjing e Xangai; em Xangai, a empresa também está desenvolvendo um sistema de transferência inteligente que integra estações com estacionamentos de bicicletas populares. Um de seus concorrentes, a também chinesa Mobike, ramificou-se para 200 cidades em 15 países em todo o mundo.

Da mesma forma que o varejo on-line continua a florescer, o mesmo acontece com a oportunidade de soluções para “reta final”, aproximando o depósito de entrega e a porta do cliente. Nos EUA, o programa Flex da Amazon paga pessoas comuns para entregar pacotes em seus próprios veículos em mercados específicos. A Amazon também está desenvolvendo seu próprio serviço de transporte. No Brasil, a Startup de entregas colaborativas Cabenocarro conecta viajantes para transportar encomendas entre cidades. Na China, empresa de tecnologia JD.com está testando drones de entrega e recrutando moradores para entregar pacotes para seus vizinhos.

Aqueles que historicamente trabalharam fora do mercado de mobilidade estão começando a abrir um caminho. A Nike, por exemplo, introduziu um serviço de pick-up (uma espécie de drive-through) como parte de sua nova loja conceito de Los Angeles.

Numa tentativa de abordar a desordem e confusão, um grupo diversificado e influente de stakeholders de transporte lançaram a iniciativa Mobilidade Sustentável para Todos após o Summit de Ação Climática de 2016. Eles agora estão trabalhando para desenvolver uma estratégia para transformar o setor de transportes globalmente. Com uma visão de livre acesso à mobilidade, eles estão procurando definir as regras de engajamento para a iminente batalha pelo domínio da mobilidade.

Apesar desses esforços, a mobilidade nas cidades ainda é um ecossistema fragmentado de empresas privadas, indivíduos e governo — muitas vezes não regulamentado e universalmente desorganizado.

O que vem aí?

No próximo ano, veremos uma corrida para clareza e dominância no fragmentado ecossistema de mobilidade de cidades.

Até 2021, podemos esperar que o transporte público e individual seja totalmente mesclado e, provavelmente, sentiremos uma mudança de atitude dos viajantes pensando em chegar de A para B, em vez de ruminar sobre o meio de transporte.

Serviços e plataformas multimodal e intermodal se tornarão lugar comum, assim como ferramentas de planejamento de mobilidade. Serviços estarão integrados em vários modos de transporte, com base em modelos de pagamento por assinatura, incluindo uma taxa fixa em todas as opções. Os futuros sistemas de pagamento estarão integrados, abrangendo múltiplos operadores e fornecedores.

As empresas devem procurar maneiras de projetar para comportamentos e contextos que vivem em transformação — e as apostas são altas. A experiência dos consumidores será mais do que apenas um diferenciador. Será pré-requisito para competir.

As pessoas vão querer experiências de trânsito unificadas e fluidas e as grandes empresas vencedoras serão aquelas que consolidarem e comoditizarem os serviços de mobilidade.

Em março de 2019, um ônibus sem motorista projetado pela varejista minimalista japonesa Muji, em colaboração com o Sensible 4, aparecerá nas ruas de Helsinque. Esse é um dos primeiros exemplos de algo que podemos esperar cada vez mais: marcas sem histórico na mobilidade integrando-o em sua camada principal de serviços. Eventualmente, podemos até ver iniciativas privadas oferecendo alternativas gratuitas para desafiar o público tradicional e modelos pagos atuais.

Novos dados da cidade e novas parcerias irão moldar o futuro da mobilidade, equilibrando os sistemas existentes e novas iniciativas. Serviços serão integrados e infraestruturas para diferentes modos de transporte, sistemas de pagamento e emissão de bilhetes serão compartilhadas.

O digital oferece as mais imediatas possibilidades para melhorar os sistemas de transporte. Comparado com o rastejo dos projetos de infraestrutura pública, é rápido e relativamente barato, e oferece inúmeras maneiras de melhorar sistemas de transporte existentes e realçar projetos futuros. Isso também oferece uma maneira de conectar e unir partes incoerentes para criar um ecossistema de transporte integrado.

Nós podemos começar a ficar animados quando planejamento e design urbano adotarem uma abordagem mais ágil, resultando em sistemas que respondam a dados em tempo real e às diferentes necessidades dos cidadãos. Já vemos algumas partes ativamente coletando e compartilhando dados para melhorar o planejamento urbano. Por exemplo, por meio do Uber Movement, a Uber livremente compartilha dados em torno do fluxo de tráfego em cidades onde opera e com o auxílio de planejadores e pesquisadores procura maneiras de melhorar a mobilidade urbana. Com outros seguindo o exemplo, vamos começar a construir os dados necessários para criar um único ecossistema de mobilidade confiável.

Só nos EUA, o número de pacotes entregues anualmente deverá subir de 11 bilhões em 2018 para 16 bilhões em 2020. Como todos nós fazemos compras on-line cada vez mais, “serviços de entrega” precisam inovar para lidar com os desafios do congestionamento de tráfego e falhas nas entregas quando os destinatários não estão em casa. A entrega vai se tornar uma experiência de marca.

Haverá muitos candidatos tentando dominar a mobilidade mercado. Por enquanto, não está claro quem estará na melhor posição: aqueles que fornecem experiências fluidas ou aqueles que fornecem a experiência mais integrada de ponta a ponta. Precisaremos de um ponto de acesso único, que virá por meio da consolidação e aquisição — e quem ganha aqui estará na pole position para ganhar o futuro da mobilidade.

Fjord Sugere

01 Projete para mover de A a B

As pessoas logo deixarão de pensar sobre o modo de transporte e, em vez disso, começarão a pensar em simplesmente ir do ponto A para o B. Permita que as necessidades dos clientes flutuem, dependendo do contexto. Forneça serviços de escolha sem complicações. Pense além da segmentação de mercado clássica e aborde os arquétipos regionais e locais que compartilham as mesmas características de mobilidade — além das fronteiras.

02 Foque nos ganhos, não dores

Você não precisa ser um provedor de transporte hoje para incorporar mobilidade ao seu serviço. Considere novos modelos de negócios que aproveitem os benefícios da adição de mobilidade à sua camada de serviço.

03 Lembre-se da reta final

À medida que a mobilidade se torna um ecossistema, muitos aspectos se conectam ou se fundem. Nesse ponto, o principal valor econômico e social está no gerenciamento inteligente do sistema. Será essencial vincular esse sistema de mobilidade a infraestruturas existentes, gerenciar o acesso a ele e permitir conexões perfeitas com outras áreas de serviço adjacentes.

04 Parceiros alimentam plataformas

Muitas necessidades de mobilidade não são atendidas, mas qualquer um pode remediar isso com o parceiro certo. A massa crítica necessária para fornecer um ecossistema de trabalho exigirá plataformas de colaboração e white-label, consolidações e parcerias de APIs, tanto públicas quanto privadas.

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