Os 6 melhores livros sobre o futebol brasileiro, segundo o Yellow & Green

Em inglês, site escreve sobre o futebol do país e brinda uma visão distinta a respeito dos campeonatos e jogadores tupiniquins

Bruno Rodrigues
Futebol Café
7 min readMay 22, 2019

--

Futebol, samba e o apelo ao Cristo para que o Brasileirão melhore (Crédito: Futebol Café)

Houve uma época em que o futebol brasileiro era admirado por praticamente todo o planeta bola. Tempos em que fãs de outros países ainda viam o Brasil como sinônimo do “jogo bonito”, uma definição que, sabemos, retratava com pouca fidelidade o futebol praticado por aqui e pela própria seleção há anos, décadas. Foi preciso escancarar nossa crise com o 7 a 1 para que o mundo do futebol, lá fora, soubesse disso.

Porém, mesmo com essa realidade, o jogador brasileiro e a história vitoriosa do nosso futebol ainda despertam a curiosidade de muita gente. Antes mesmo de Rodrygo colocar pela primeira vez o uniforme do Real Madrid em uma partida oficial, um tailandês de 17 anos já terá vestido uma camisa pirata com o nome e o número do reforço, fazendo companhia ao amigo que traja, orgulhoso, a 39 do Milan com o nome de Paquetá. É o futebol globalizado.

Globalizado também pode ser uma boa definição para definir o encontro do blog com o inglês Joshua Law, do Yellow and Green Footbal, numa loja de doces portugueses em um shopping da zona sul de São Paulo.

Joshua é um dos editores do Y&G, que há dois anos publica conteúdos sobre o futebol brasileiro em língua inglesa. Torcedor do Newcastle, o britânico veio ao país para a Copa do Mundo de 2014 como espectador e se apaixonou por uma brasileira. Ele terminava um Mestrado em Leeds enquanto o casal tentava conciliar idas e vindas entre a Inglaterra e o Brasil para se ver. Terminado o curso, decidiu vir morar em São Paulo com a mulher que hoje é sua esposa. Daqui, acompanha de perto o futebol jogado em solo brasileiro.

O site alcança cada vez mais curiosos pelo esporte bretão tupiniquim, e esse crescimento fez com que a publicação chegasse ao jornal “O Globo”. Em parceria com o diário carioca, publicam todas as terças-feiras (em português no Globo e em inglês no Y&G) um perfil do “Brasileiro da Semana”, com o destaque brasileiro na rodada do futebol europeu. Ao final da temporada, ranking elaborado pela parceria premiará o melhor atleta brasileiro da temporada 2018/2019.

Nosso café com pasteis de nata foi celebrado na semana em que o volante Fernando, do Galatasaray, foi eleito o destaque. “É impressionante como na Turquia eles gostam do futebol brasileiro”, diz Joshua, que revela ter uma parcela considerável de leitores vindos do país, assim como da Índia.

A convite do Futebol Café, ele e a equipe do Yellow and Green reuniram uma seleção com as melhores leituras sobre o futebol brasileiro. Livros que, sob a ótica de quem observa com a distância que nós, muitas vezes, não conseguimos, explicam nossas mazelas, nossos fracassos retumbantes e nossos heróis decadentes.

Estrela Solitária: Um herói chamado Garrincha, de Ruy Castro (1995)

Uma das melhores biografias do futebol brasileiro (Crédito: Divulgação)

O livro é um mergulho na alma de um dos principais jogadores da história do Brasil, um personagem que unia diversão circense, quase um Chaplin dos gramados, com tragédia pura.

Garrincha foi muito mais que o companheiro ideal de Pelé na seleção, do que o herói da Copa do Mundo de 1962 e o maior da história do Botafogo.

O tocante e minucioso relato do jornalista Ruy Castro descortina um ídolo frágil, principalmente quando o talento no futebol começou a desaparecer. Um retrato seco da derrota de Garrincha para o alcoolismo, um dos únicos adversários que ele não conseguiu driblar.

A obra também detalha a importância da cantora Elza Soares na vida do cultuado camisa 7. Pode ser lido como um romance e chegou a inspirar um filme biográfico sobre o craque.

Anatomia de uma derrota, de Paulo Perdigão (1985)

Leitura fundamental sobre o Maracanazo (Crédito: Reprodução)

Trata-se de um raio-X completo, com minúcias espantosas sobre uma das derrotas mais emblemáticas da história do futebol brasileiro.

Ainda criança, Paulo Perdigão viu de perto o fracasso da seleção na decisão da Copa de 1950 diante do Uruguai — era uma das 200 mil testemunhas nas arquibancadas do Maracanã. Depois, fez do trauma pessoal quase uma busca de vida e, no fim, uma obra-prima do jornalismo literário.

Perdigão gasta parte considerável do livro para transcrever, palavra por palavra, a transmissão da Rádio Nacional do Rio de Janeiro naquele fatídico 16 de julho de 1950.

Não há um detalhe que escape ao autor em seu diagnóstico da derrota: bastidores pitorescos na concentração da seleção e uma análise tática quase quadro a quadro, em forma de texto, dos erros brasileiros na jogada do gol decisivo do uruguaio Alcides Ghiggia.

Dossiê 50, de Geneton Moraes Neto (2000)

Autor falou com os 11 brasileiros da final de 50 no Maracanã (Crédito: Divulgação)

Desta vez, uma visão mais humana sobre o Maracanazo. Durante os anos 80, mais de três décadas depois da derrota para o Uruguai, o jornalista Geneton Moraes Neto foi atrás dos 12 personagens envolvidos na decisão da Copa de 1950 — os 11 jogadores brasileiros que entraram em campo e o técnico Flávio Costa. Um capítulo para cada uma dessas perspectivas pessoais da partida.

Entre os relatos, destaques para a história de Friaça. O atacante marcou o único gol do Brasil na derrota de virada para o Uruguai, abrindo o placar no começo do segundo tempo. O então jogador do São Paulo conta no livro que perdeu a memória após o jogo e só recobrou os sentidos no dia seguinte, embaixo de uma jaqueira em Teresópolis, a 100 quilômetros do estádio.

Menção ainda para o martírio do goleiro Moacyr Barbosa, escolhido como vilão do Maracanazo, e da estranha relação telepática que o craque Zizinho desenvolveu com o capitão uruguaio Obdulio Varela.

Futebol: The Brazilian Way of Life, de Alex Bellos (2002)

Livro de Alex Bellos tem edição em português (Crédito: Divulgação)

Um dos livros essenciais para quem quer enxergar o Brasil do ponto de vista estrangeiro, o autor Alex Bellos não conta a história, mas sim as histórias do futebol brasileiro.

Ele expõe várias faces do chamado ‘jogo bonito’, com capítulos relatando o peladão, tradicional torneio amador em Manuas, o carnaval com uma das maiores torcidas organizadas do Brasil, as vidas de alguns grandes personagens, e jogos de ‘autoball’ no Rio, entre muitos outros contos.

É uma divertida, e às vezes surpreendente, viagem por este país quase continental, mostrando a diversidade e peculiaridades do seu futebol. Livro ganhou edição em português, publicada pela Editora Zahar.

Futebol Nation: A Footballing History of Brazil, de David Goldblatt (2014)

Obra foi publicada pouco tempo antes da Copa de 2014 (Crédito: Reprodução)

O autor David Goldblatt, inglês, professor de faculdade e um dos grandes historiadores do futebol mundial, lançou este livro logo antes da Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, contando a história social do país através da lente do futebol.

Um aviso para quem pensa que futebol e política não se misturam: evite o trabalho do Goldblatt! Para quem acha o oposto, vale muito a leitura. Ele começa com a chegada do futebol no país e conta como o esporte se desenvolveu ao longo do século 20, se transformando de uma atividade da elite para ser o jogo do povão brasileiro.

Escreve sobre os grandes times da história da seleção, como os de 1958 e 1970, e no último terço do livro desabafa sobre a corrupção política no futebol e como esse problema está abduzindo o jogo das pessoas que o apoiaram e o amaram durante décadas.

Doctor Sócrates: Footballer, Philosopher, Legend, de Andrew Downie (2017)

Editado em cinco línguas, ainda não foi publicado no Brasil (Crédito: Divulgação)

O livro mais recente na nossa lista relata tudo sobre a vida de um dos maiores ídolos (e nomes) do futebol brasileiro: Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira.

Andrew Downie, autor e correspondente da agência Reuters no Brasil, usou as histórias escritas pelo próprio Doutor antes da sua morte em 2011 e fez várias entrevistas com as pessoas que melhor conheciam o craque do Corinthians e da seleção.

O livro conta a sua vida dentro e fora dos gramados, com destaque especial para a Copa do Mundo de 1982 e a participação do jogador na campanha para democratizar o país depois de duas décadas de ditadura militar.

No final, explora a destrutiva relação de Sócrates com o álcool e as dificuldades que tinha para manter saudáveis relacionamentos pessoais. Em parte alegre, em parte triste, mas sempre fascinante, essa é uma das grandes biografias do futebol mundial.

--

--