Em Montevidéu, a livraria de futebol que é parada obrigatória

Localizada no bairro de Pocitos, a Librería de Fútbol reúne boa seleção futebolística, com destaque para obras sobre treinadores

Bruno Rodrigues
Futebol Café
5 min readSep 10, 2019

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Cantinho da Librería de Fútbol dentro da livraria Bonhomía, em Pocitos (Crédito: Futebol Café)

Bastaram dois dias de fotos e postagens de Montevidéu nas nossas redes sociais para que a Librería de Fútbol, especializada no tema, nos mandasse uma mensagem pelo Instagram: “Estamos esperando vocês!”. Eles ainda não sabiam, mas a passagem pela livraria já era parte do nosso roteiro muito antes de pisarmos na capital uruguaia. As boas-vindas virtuais apenas reforçaram a convicção de que deveríamos realmente visitar o espaço.

Assim que entramos, um rapaz alto perguntou do fundo da livraria: “Em que posso ajudar?”, e então me apresentei. “Sou Bruno, do Futebol Café”.

“Claaaro, cómo no? Es un placer. Me llamo Mateo”, disse Mateo Cortés, dono da Librería de Fútbol, já desprendido de qualquer formalidade.

A partir das apresentações começamos, enfim, a conversa que estava prometida quando eles nos mandaram a mensagem no Instagram. Por mais de uma hora, discutimos literatura futeboleira, produção literária na Europa, o futebol uruguaio, leitores brasileiros, ídolos charrúas que jogaram no São Paulo e o clássico Nacional x Peñarol, além de frivolidades da viagem, como o famoso cachorro-quente do La Pasiva.

“Los panchos con mostaza de La Pasiva están buenos, eh”, disse Agostina, namorada de Mateo, que também trabalha na livraria.

Publicitário de formação e com passagens por agências e redações, Mateo começou o projeto da Librería de Fútbol em 2017, vendendo livros somente pela internet. O clique para iniciar a empreitada havia sido a leitura de “Herr Pep”, que no Brasil ganhou o nome de “Guardiola Confidencial”, editado pela Grande Área. Foi quando percebeu que poderia transformar a paixão em negócio e aliar o prazer ao trabalho.

Mas ele queria ter um espaço físico onde pudesse expor o menu futebolístico aos leitores curiosos. Para isso, porém, precisou transformar a ideia. “Não daria para vender só livros de futebol, então abrimos a Bonhomía”, diz.

Fachada da Bonhomía, uma típica livraria de bairro (Crédito: Futebol Café)

Junto de Agostina, abriram há menos de um ano a livraria Bonhomía, encravada no bonito bairro de Pocitos e que trabalha com todos os gêneros literários e os principais lançamentos do mercado literário. Dentro do local funciona a Librería de Fútbol, abrigada em uma grande estante adornada com o logo do projeto.

Eles vendem todos os tipos de livros de futebol, desde biografias e histórias do fútbol uruguayo a títulos para profissionais envolvidos diretamente no jogo, como preparadores físicos e técnicos de categorias de base.

Mas o grande destaque para o futeboleiro apaixonado como eu são as obras dos principais treinadores da atualidade.

Além de livros consolidados no meio da literatura futebolística como os de Pep Guardiola e Carlo Ancelotti, traduzidas para o Brasil pela Editora Grande Área, Mateo importa da Argentina uma série de títulos da Libro Fútbol, livraria online do país vizinho e que também edita trabalhos com foco nos treinadores. Ali na estante da Bonhomía, encontra-se de Juan Carlos Osorio a “Cholo” Simeone, passando por José Pekerman e Loco Bielsa.

O de Bielsa, inclusive, foi um dos livros que eu trouxe de Montevidéu. Segundo Mateo, o autor, Damián Giovino, esteve recentemente no Uruguai para entrevistar o Maestro Tabárez e saber mais a respeito do processo idealizado pelo técnico uruguaio, no comando da Celeste desde 2006.

A proximidade com a Argentina e o contato com editoras europeias, caso da espanhola Contra por exemplo, de certa certa forma aproximam a livraria de Mateo e Agustina do centro do mundo — ao menos na literatura de futebol.

Um país de pouco mais de três milhões de habitantes e que recebe, de acordo com o dono da Librería de Fútbol, de 10% a 15% do que é lançado mundialmente em termos de futebol. Ainda assim, muito do que há de mais relevante no cenário internacional está lá.

Diante disso, não pude deixar de mostrar a Mateo minha indignação com o fato de não termos “Futebol Contra o Inimigo” traduzido para o português. Hoje, 25 anos depois de lançada, a obra de Simon Kuper já está datada, mas não deixa de ilustrar a maneira como a literatura de futebol caminhou no Brasil nessas últimas duas décadas. Um panorama que vem melhorando com o surgimento de editoras independentes, mas ainda distante do ideal.

Feitas as reclamações, os agradecimentos. Mateo e Agostina nos receberam como se fôssemos conhecidos de longa data. Entre outras coisas, porque os uruguaios são amáveis, mas também porque compartilhamos, com projetos distintos, o mesmo desejo: levar a literatura futebolística a cada vez mais gente. Isto é, estamos juntos nessa, mesmo que à distância.

“Y vamo Nacional!”, disse Mateo, antes de se despedir. Um dia depois, o time tricolor venceu o clássico contra o Peñarol por 3 a 0, no Estádio Centenario, e nós estávamos lá no meio da hinchada do Bolso. Mateo também, é claro.

Da Tribuna Olímpica, assistimos ao golaço de Chory Castro e podemos dizer que levamos sorte ao Nacional. Esperamos que nossa visita tenha levado algo de sorte também para a Librería de Fútbol, esse cantinho literário-futebolístico de Montevidéu que nos deixou intrigados com a possibilidade de, um dia, o Futebol Café virar uma livraria. Já pensou? Seguimos sonhando.

Librería de Fútbol
Alejandro Chucarro, 1112 — Pocitos

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