Solta o ponto

Um raio-x do que temos como elenco para iniciar 2020/21

Vinícius Nascimento
Galo de Kalsa
13 min readSep 12, 2020

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Sentiram saudade do Tottenham? Caso a resposta seja positiva, boa sorte. Caso não seja — é o meu caso — , meus pêsames. Para bem ou mal, a temporada vai começar logo mais e já temos uma pequena maratona de jogos importantes: o segundo jogo será um eliminatório contra o modesto Lokomotiv Plovdiv da Bulgária. Logo de cara, é vencer ou dar adeus à Europa League.

O elenco ainda não está fechado. Carências na zaga e principalmente no ataque devem ser preenchidas no decorrer da janela, que fecha dia 5 de outubro. Para que você já vá se ambientando, trouxemos um raio-x dos inscritos do Tottenham até essa véspera de estreia.

Goleiros

1 — Hugo Lloris

Ainda capitão e cada vez mais próximo de renovar o seu contrato para (muito provavelmente) até o final de sua carreira, Hugo Lloris vive uma fase de transformação na sua personalidade que o documentário da Amazon deixou bem claro. O título da Copa do Mundo e a chegada de José Mourinho contribuíram para que o goleiro francês se tornasse mais ambicioso. E é algo que pode ser positivo para o Tottenham nesta temporada em que vencer alguma coisa tem ares de obrigação. Os quase 34 anos — a serem comemorados em dezembro — não diminuíram a capacidade do camisa 1. Futuras glórias certamente terão assinaturas de suas mãos.

12 — Joe Hart

Mourinho vem deixando claro na montagem de seu elenco que precisa de jogadores que saibam carregar responsabilidades. Mais liderança que cobre e não apenas passe a mão na cabeça ou blinde os jogadores. Hart chega para preencher esse perfil (e para jogar Gazzaniga pra trás na hierarquia da posição). O goleiro é vencedor, é pilhado e mesmo que as entradas em campo estejam condicionadas a uma lesão de Lloris ou rotação do elenco, deve ser importante para essa transição de mentalidade e busca por resultados concretos.

22 — Paulo Gazzaniga

O goleiro argentino não é mais o reserva imediato de Lloris. Que bom! Isso porque a competição com Hart pode ser interessante para Gazzaniga tentar subir o seu próprio nível, que sabemos que não é ruim, mas também não é nada demais. No entanto é sempre bom lembrar que ele já está próximo dos 30 anos e pode querer explorar algum desafio que lhe ofereça mais minutos. Uma negociação de última hora — ou lá pra janeiro — não deve ser surpresa para ninguém.

40 — Brandon Austin

O goleiro de 21 anos está no clube desde os 15 e vem recebendo alguns elogios nas últimas temporadas. Foi capitão em seis dia oito jogos que disputou no gol da equipe sub-19 na Champions League da categoria. No time profissional, já chegou a compor o banco na partida contra o Watford que acabou empatada em 1x1 no Vicarage Road. Logo depois foi emprestado ao time dinamarquês do Viborg FF sofrendo 23 gols nos 14 jogos que esteve debaixo das traves. Após o empréstimo, renovou seu vínculo com o Tottenham até 2022. Atualmente é goleiro do time sub-21 da Inglaterra e tem a curiosidade de também ter defendido as equipes de base da seleção norte-americana.

41 — Alfie Whiteman

Nascido e criado no bairro de Tottenham, Alfie carrega consigo a identidade do clube onde vive desde 2014. Foi um dos goleiros da equipe sub-17 da Inglaterra que foi campeã do mundo com nomes tipo Sancho, Foden e o colega Oakley-Boothe. Na temporada passada, chegou a ir pro banco na partida contra o Olympiacos vencida em casa por 4x2 pela Champions League, mas assim como o seu rival também não teve minutos no time de cima.

Laterais direitos

2 — Matt Doherty

Para além dos memes e bom humor da apresentação que “enterrou” seu antigo amor pelo Arsenal, Doherty chega com a missão de ser o dono da lateral direita. Aurier fez uma temporada passada regular, mas nunca transmitiu muita confiança e deixa o irlandês com os caminhos abertos para ocupar o seu lugar — independente de uma eventual negociação que venha a acontecer e faça o marfinense deixar Hotspur Way. Além disso, Mourinho é fã do futebol do ala ex-Wolverhampton e deve fazer parte de seus sistemas defensivo e ofensivo penderem para o lado direito.

24 — Serge Aurier

Serge foi um dos atletas que mais esteve em campo na temporada passada — e também um dos mais perseguidos. Talvez por isso tenha colocado na cabeça que quer deixar o clube, mas isso só acontecerá se alguém pagar os 20 milhões de euros exigidos por Daniel Levy. Caso fique em Londres, será uma boa peça para rotação de elenco e será importante para que o time não sofra tanto com a falta de boas opções no setor, como acontece desde a saída de Kyle Walker.

30 — Gedson Fernandes (?)

Meia de origem, Gedson já atuou como lateral nas categorias de base do Benfica e da Seleção Portuguesa. Mourinho o testou por ali em dois amistosos e elogiou a participação do menino naquele setor. Com a possibilidade saída de Aurier, reinventar peças dentro do próprio elenco pode ser uma boa saída para José Mourinho não ter que ir ao mercado em tempos de vacas magras e pouca bala na agulha para contratar.

Zagueiros

4 — Toby Alderweireld

Mais do que nunca, o belga tem a missão de liderar o sistema defensivo do Tottenham. A saída de Vertonghen o deixa no posto de zagueiro mais experiente e uma das lideranças do elenco dentro de campo — fora dele, sabemos que Toby não é dos mais influentes. De toda maneira, Alderweireld é um zagueiro que nos seus bons dias já deu várias mostras de que pode ser essencial com sua velocidade, técnica e senso de cobertura acima do normal. Também é uma ótima arma lá na frente com seus lançamentos e cabeceios em bola parada. Que volte a ser um dos melhores da posição na Europa.

5 — Davinson Sánchez

Dao está longe de ser o zagueiro que todo o mundo imaginava após as passagens bem sucedidas no Atlético Nacional campeão da Libertadores em 2016 e no Ajax campeão holandês e vice da Liga Europa em 2017. Foi a contratação mais cara da história do clube até a chegada de Ndombélé na última temporada. Instável, chegou a perder a vaga para Eric Dier no fim de 2019. Tem técnica e é bom jogador, mas a insegurança parece prevalecer na cabeça do colombiano. Espera-se que essa campanha o amadureça de vez, se não, é provável que sua negociação passe a entrar em pauta.

15 — Eric Dier

O homem virou zagueiro de vez e já assumiu que é por lá onde gosta de jogar. Southgate também aproveitou o bom desempenho de Eric como zagueiro central e lhe rendeu bons jogos pela seleção inglesa. Dier está seguindo uma trajetória de retomada de confiança, mas ainda é preciso ter um pé atrás por não se saber até que ponto o peixe perdido pode buscar as correntezas de volta para o cardume.

25 — Japhet Tanganga

Mais integrado ao time profissional do que nunca, o nosso novo aspirante a Ledley King deve ter mais minutos nesta temporada e será importante para a rotação que será muito necessária com o calendário caótico. Por ser um zagueiro muito veloz, também pode jogar na lateral — como fez na temporada passada.

2 — Juan Foyth

Após a boa Copa América que disputou no Brasil, ficou a esperança de que poderia se firmar de vez como uma peça importante dentro do elenco. O problema é que Foyth consegue ter mais lesões do que jogos pelo time principal dos Spurs e aí fica difícil defender. Foi inscrito, mas é objeto de desejo de Marcelo Bielsa no Leeds.

Laterais esquerdos

33 — Ben Davies

Com a saída de Danny Rose, que finalmente vai seguir para o norte como tanto sonhou — no caso será o norte da Itália — , Davies assume completamente o posto de titular no setor desde que chegou no clube. Ele faz bem a função de ficar como um terceiro zagueiro nos momentos ofensivos do time e essa característica será algo fundamental para liberar Doherty para fazer o que mais gosta do lado direito: agredir, agredir e agredir.

19 — Ryan Sessegnon

Talentoso e cheio de potencial, mas ainda com pouco tempo para mostrar a que veio. Na última temporada, ficamos sem saber se era um lateral ou um ponta. Decidir onde vai jogar será fundamental para o jovem inglês. Caso queira jogar como lateral, ainda precisa melhorar muito suas capacidades defensivas. Numa opinião pessoal, vejo um desperdício colocá-lo por lá.

49 — Dennis Cirkin

Foi um dos atletas que mais chamou atenção na série de amistosos desta pré-temporada. Com bons atributos físicos e técnicos, o irlandês radicado em Londres pode ser a grata surpresa da temporada. Diferente de Sessegnon, já sabe muito bem qual o seu lugar no campo e isso pode ser determinante para conseguir alguns minutinhos no time de cima.

Volantes e meias centrais

5 — Pierre-Emile Højbjerg

Principal contratação do clube na janela até então, o dinamarquês já é uma peça fundamental. Tem ótima leitura de jogo, é maduro e sabe lidar com pressão muito melhor do que Harry Winks, antigo titular da posição. Sua chegada pode ajudar (e muito) Tanguy Ndombélé, por compensar o péssimo jogo sem bola do francês. Em termos mais concretos, também pode ser fundamental para aproximar Lo Celso do gol e torná-lo mais uma peça importante no ataque. Højbjerg será não só um novo líder, mas também um importante facilitador.

8 — Harry Winks

Ótima peça de reposição, Winksy caiu em fogueiras que o fizeram amadurecer bastante nas últimas duas temporadas, mas ainda não tem o necessário para se sustentar como titular absoluto em uma posição tão delicada quanto a proteção da zaga. No entanto, vai ter um papel interessantíssimo sendo -finalmente- um suplente.

17 — Moussa Sissoko

Felizmente o momento de baixa do francês já passou. Sissoko agora assume um papel de liderança dentro do elenco que chama atenção. Tem mentalidade de jogador que quer vencer e se mostra um porto seguro para os jogadores dentro e fora de campo. Mesmo que suas capacidades ofensivas não sejam das melhores, seu poder físico faz do Tottenham mais imponente e disposto a enfrentar grandes desafios.

18 — Giovani Lo Celso

Os números tímidos em relação a gols e assistências enganam. Lo Celso foi um dos jogadores mais importantes do Tottenham na última temporada, estreia do argentino em solo inglês. Após ser um dos meias com mais participações em gols em sua última temporada pelo Betis, Lo Celso não se escondeu do desafio de jogar mais recuado e pegou o bastão da mão de Christian Eriksen de forma muito natural. Tem margem para evoluir ainda mais. A chegada de Højbjerg pode aproximá-lo do gol e deixá-lo ainda mais perigoso para as defesas adversárias.

20 — Dele Alli

A preguiça de nosso tesouro às vezes esconde que é um jogador de apenas 24 anos e com ótimos números na carreira até aqui. No documentário da Amazon, Mourinho dá o tom e mostra o que Dele Alli precisa decidir: se o que ele conquistou já é o suficiente e a partir de agora está tudo bem abraçar a mediocridade ou se quer abraçar o talento absurdo que tem a sorte de chamar de seu. A direção e comissão técnica precisam ser rigorosos com Bambam para que ele diga a resposta sincera. Caso não seja a que interessa, é hora de abraçar a sua escolha bem longe do Tottenham.

28 — Tanguy Ndombélé

É muito difícil ser otimista após a temporada de estreia em que o francês se mostrou problemático dentro e fora de campo. Por mais que os lapsos de genialidade com a bola no pé encantassem oferecendo uma luz no fim do túnel, a cada cara de sofrimento após 2m de pique, displicência sem a bola e lances que tomava nas costas, o que dava para fazer é perguntar: onde foi que a gente errou? Ndombélé não deu qualquer resultado e não parece muito disposto a mudar essa situação. Pochettino dizia que ele precisaria de 18 meses até se adaptar ao futebol inglês. Esse período já passou. E a nossa contratação mais cara na história não completou nem 15 jogos do início ao fim. Talvez ele seja a maior dúvida para este começo: vale a pena insistir ou é melhor negociar para recuperar uma parte do prejuízo e dar espaço na folha para trazer alguém que seja mais confiável?

48 — Harvey White

Não será uma grande surpresa se aparecer em campo na estreia da Liga Europa. Harvey teve minutos em todos os momentos que José Mourinho teve de pré-temporada dentro do clube e correspondeu muito bem à confiança depositada pelo treinador, mostrando técnica, habilidade e inteligência acima da média de sua safra.

Pontas

7 — Heung-Min Son

Foi um dia desses quando um mocinho coreano que era canhoto no PES chegou ao Norte de Londres vindo da Alemanha. O tempo passou tão rápido quando uma arrancada do próprio Sonny, que já está com seus 28 anos e sabe que em breve o corpo vai te oferecer menos força para ele utilizar o que tem de melhor: a explosão. Son entra em uma corrida contra o tempo para fazer com que seu nome entre na história com a mesma potência de seu sorriso, carisma e sadismo na frente do gol. Se para nós, torcedores, ele não precisa provar mais nada, os olhares de fora ainda estão ávidos por ver o camisa 7 levantando um troféu e deixando incontestável a afirmação de que é o maior e melhor jogador da história do continente asiático.

11 — Erik Lamela

Perto de completar uma década no clube, Lamela não quer abrir mão de Hotspur Way e não sabemos muito bem se é por ser muito cômodo jogar no Tottenham e viver de grandes entregas pontuais; se é por realmente amar o clube ou um pouco dos dois. O fato é que ele vai para a sua 8ª temporada vestindo lilywhite e, depois de tanto tempo, já sabemos exatamente o que esperar. Um punhado de partidas apagadas, outras ruins, um brilho aqui, outros acolá e muitas lesões.

27 — Lucas Moura (por @reinertp)

Até que Bergwijn tome a posição de roubo, gostemos ou não, o brasileiro é dono da “camisa 11” no esquema de Mourinho. E não posso ser injusto: Lucas foi muito bem nos pontuais momentos da última temporada em que decidiu jogar com a cabeça levantada. Incisivo e habilidoso, Moura procura infiltrações, tabelas e dribles curtos o tempo todo. Com a companhia certa ao seu lado (e de preferência entrando em campo já com os adversários cansados), pode finalmente tirar a boca da teta de De Ligt.

23 — Steven Bergwijn

A grande esperança que ficou da temporada passada. Em pouco tempo, o jovem holandês conseguiu mostrar que foi um grande acerto: tem tesão por jogos grandes, consistência e vontade de vencer. Junto a Lo Celso, se mostrou uma das grandes contratações dos últimos anos. Agora já aclimatado, tem tudo para tomar a posição que hoje é de Lucas e, caso aconteça de não contratarmos um atacante reserva para Kane, é nele e em Heung-Min Son que se direcionam as esperanças para tapar os dias sem Harry Kane.

47 — Jack Clarke

A descoberta de Marcelo Bielsa é uma grandíssima… incógnita. Ninguém sabe se vai ou fica. Ninguém sabe se vai ser útil ou não. Com tantas dúvidas, o que é mais próximo de certo é que não terá tanto tempo em campo a não ser que algo de excepcional aconteça.

Atacante(s)

10 — Harry Kane

Quanto mais o tempo passa, mais Kane se torna uma certeza e maior é nossa angústia em não saber ao certo até quando ele vai aguentar viver com essas condições: o salário está longe de ser o que pode ganhar, o time não ganha troféus e nem pode investir o suficiente para ter certeza de vencer alguma coisa. Mesmo assim, Kane continua conosco. Apaixonado. Vibrante. Encantador. Decisivo. Ídolo. Fazer o que Harry Kane faz jogando no Tottenham é algo que realmente fica difícil dizer se outra pessoa no mundo conseguiria o mesmo. A cada chute colocado dobrando o tornozelo e inclinando o corpo sabemos que aquilo é possível porque é ele. E só ele pode fazer por nós.

O Pofexô

A primeira temporada de Zé Mário foi medíocre por vários fatores. Alguns deles são responsabilidade do treinador: Mourinho já não vive os dias gloriosos e mesmo que tenha dado sinal de uma versão “Paz, Amor e Ofensividade” em sua chegada isso não passou da página 3. Mas, já fora de sua alçada, além das incontáveis lesões que vieram uma em cima da outra em todos os setores do campo, é preciso ressaltar os problemas que o clube enfrentou no ano passado.

Romper um vínculo como aquele construído com Pochettino não é uma missão fácil. Também havia uma série de frutas podres ou desgastadas dentro do plantel que, pouco a pouco, foram se retirando. Assim vimos as partidas de Eriksen e Rose, principalmente. Fechar o ciclo de Vertonghen foi tão duro quanto necessário, assim como mandar Michel Vorm embora de vez.

Mourinho tem nas suas mãos a oportunidade de fazer um time competitivo e sua única obrigação para ganhar um voto de confiança de vez é vencendo um troféu. Uma Copa da Liga que seja. É dessa maneira que o gajo gosta de ser avaliado e foi pra isso que foi contratado. No entanto, mais um ano de mediocridade rebaixa Mourinho de uma vez por todas a um escalão inferior no panteão dos técnicos de ponta do futebol atual. Agora é All or Nothing.

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