O adeus a Marinho Peres, líder na zaga e na direção do time do América em 1980/81

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14 min readSep 24, 2023

Emmanuel do Valle

Marinho Peres no América — Revista Placar de 1981

Falecido no último dia 18, coincidentemente no aniversário do América, o ex-zagueiro e técnico Marinho Peres viveu fase importante de sua carreira no Andaraí. Jogador experiente, conhecido de boa técnica e pela liderança, fez no clube justamente sua transição entre a aposentadoria dos gramados e o começo da trajetória como treinador, entre as temporadas de 1980 e 1981. Se o América não vivia a melhor das fases, Marinho nunca deixou de impor sua categoria em campo. E fora dele, levou um desacreditado elenco rubro a um surpreendente vice-campeonato na Taça Guanabara em 1981. Contamos aqui sua passagem pelo clube.

A CARREIRA ATÉ CHEGAR AO AMÉRICA

Filho de espanhóis, Mario Peres Ulibarri nasceu em Sorocaba, interior paulista, em 19 de março de 1947. Começou no futebol no São Bento local e no início de 1968 mudou-se para a capital, contratado pela Portuguesa. Na Lusa, rapidamente teve destaque, sendo chamado para a Seleção Brasileira dirigida por Aymoré Moreira em junho, quando tinha apenas 21 anos. Em 1972, mesmo ano em que voltou a atuar pela Seleção, Marinho encerrou seu ciclo no clube ao ser negociado com o Santos, ainda de Pelé, após o Campeonato Brasileiro.

Pelo time da Vila Belmiro, o zagueiro levantaria seu primeiro grande título, o Campeonato Paulista de 1973, ironicamente dividido com a Portuguesa, após um anedótico erro nas contas do árbitro Armando Marques na disputa de pênaltis. No ano seguinte, ele estaria mais uma vez na Seleção, convocado para a Copa do Mundo de 1974, na Alemanha Ocidental. Titular da equipe de Zagallo durante toda a competição, ele ainda herdou a braçadeira de capitão a partir da segunda fase, após seu antigo detentor Piazza perder a titularidade.

Seu notável senso de liderança o colocou naquela posição numa equipe que, vale lembrar, contava com Rivelino, Paulo Cézar Caju, Jairzinho, Carpegiani, Leão e Luís Pereira, entre outros. Entretanto, o mau desempenho do Brasil na Copa acabou inviabilizando sua continuidade na Seleção. O jogo contra a Polônia, pela decisão de terceiro lugar, seria seu 12º e último jogo oficial pelo Brasil. Por outro lado, suas boas atuações individuais no Mundial chamaram a atenção de um clube da terra de seus ancestrais, o Barcelona, que logo o contratou.

A experiência no clube catalão — onde jogou ao lado do holandês Johan Cruyff, adversário na Copa do Mundo — durou cerca de um ano e meio, terminando no início de 1976, quando ele voltou ao Brasil para defender o Internacional. Formando dupla de zaga com Figueroa, foi campeão gaúcho e brasileiro. Depois, seguiu para o Palmeiras, onde chegou a mais uma decisão de Brasileirão, em 1978, mas foi derrotado pelo Guarani. E o Parque Antártica seria sua última parada antes de chegar ao América, no início de 1980.

UM NOVO XERIFE

Os rubros trabalharam em sigilo: a contratação, fechada no dia 6 de fevereiro, pegou todo mundo de surpresa, uma vez que as negociações não vinham sendo divulgadas. Viajaram a São Paulo para concretizar a vinda do jogador o presidente Álvaro Bragança, o vice de Futebol Paulo Cortines e o dirigente Ildo Nejar. Marinho alugou seu passe por um ano por Cr$ 60 mil, entre luvas e salário, e chegava para ser a referência de experiência e liderança na defesa, perdidas com a saída do velho ídolo Alex Kamianecky para o Sport no fim do ano anterior.

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O novo xerife da zaga já demonstrava ambição e confiança logo que aportou no Andaraí: “Não vim para o América apenas para participar de campeonatos, mas para disputar títulos”, declarou. Marinho era o principal nome do pacote de reforços do América para 1980 junto com outro nome com passagem pela Seleção, o atacante Neca, ex-Grêmio, São Paulo e Corinthians. Além deles, chegavam os meias Nedo (ex-Palmeiras), Carlinhos (ex-Paysandu) e Luís Ferreira (ex-Leônico, da Bahia) e o ponta-direita Alcides, emprestado pelo Vasco.

Jornal dos Sports destacando a presença de Marinho Peres no América, edição de 11 de fevereiro de 1980

A estreia de Marinho seria logo no clássico diante dos cruzmaltinos no Maracanã pela primeira rodada do Brasileirão, em 23 de fevereiro. O zagueirão quase ficou de fora ao sentir uma fisgada na coxa direita, mas acabou escalado pelo técnico Paulo Emílio e fez grande partida, embora não pudesse evitar a derrota por 1 a 0, ainda que deixasse o campo com um corte no supercílio direito. “Sabe tudo da posição. Foi o melhor dos zagueiros e mesmo machucado fez questão de continuar em campo. Boa atuação”, avaliou o Jornal dos Sports.

Marinho seria poupado do jogo seguinte, contra o Maranhão em São Luís, mas atuaria em outros cinco jogos do time naquela primeira fase do Brasileiro contra Grêmio, Gama e Atlético Goianiense no Rio, São Paulo no Morumbi e Santa Cruz no Arruda. Nessas partidas, porém, o América não venceu: os únicos triunfos do time naquela etapa vieram no jogo já citado contra o Maranhão (1 a 0) e diante do Nacional de Manaus (4 a 0) em São Januário, quando Luís Carlos Quintanilha já havia assumido o time no lugar de Paulo Emílio.

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Assim, a primeira vitória de Marinho como jogador do América viria apenas na segunda fase, em que os rubros integraram um grupo com Santos, Guarani e Joinville. E seria um jogo memorável: o Mecão derrotaria o Peixe por 1 a 0 dentro do Morumbi — estádio em que o clube da Vila Belmiro fazia na época suas partidas de grande porte. Um gol relâmpago do atacante Porto Real na saída de bola no segundo tempo deu a vitória, mas a atuação de Marinho no miolo de zaga também foi fundamental para conter o perigoso ataque santista.

“Perfeita atuação. Esteve absoluto no seu setor e ganhou praticamente todas as disputas de bola com os atacantes do Santos”, elogiou o Jornal dos Sports. Outra grande atuação viria na partida seguinte, diante do Guarani no Maracanã: Marinho anulou Careca e, com gol de Neca, o Mecão venceu por 1 a 0. “Sua experiência e disposição, além da liderança, tornaram-no uma peça importante no time. É ele quem orienta todos os jogadores. Ontem foi uma barreira para o ataque do Guarani”, comentou o Jornal do Brasil sobre o zagueiro.

A classificação para a terceira fase parecia encaminhada. Porém, o América outra vez conseguiu se complicar: perdeu do Peixe no Maracanã e do Bugre no Brinco de Ouro e tinha que derrotar o Joinville em São Januário para garantir a passagem de fase. Marinho, porém, estava fora: julgado pelo Tribunal Especial da CBF, pegou dois jogos de gancho. Fez falta. Com a defesa falhando muito, os rubros ficaram no 2 a 2 com os catarinenses, e após um incrível empate com o Guarani em todos os critérios, a vaga seria definida num jogo extra.

Excursão do elenco do América à Bolívia, em 1980
Excursão do elenco do América à Bolívia, em 1980

Marinho acabaria cumprindo seu segundo jogo de suspensão justamente nesse jogo-desempate, o único da história do Brasileirão, cuja história completa foi contada aqui. No campo neutro do Parque Antártica, o América perdeu por 3 a 2 com direito a dois gols contra — um deles, do jovem zagueiro Zedílson, substituto de Marinho — e foi eliminado da competição. No mês seguinte, o time partiria para uma excursão pela Bolívia, de onde voltaria com três empates em três jogos. A seguir, venceria a seleção do Catar por 2 a 0 no Andaraí.

NO FIM DE 1980, UM BREVE AFASTAMENTO

O próximo torneio que o zagueiro disputaria pelo América seria a Taça Guanabara, que naquele ano voltou a ser realizado em separado do Campeonato Carioca, assim como havia sido desde sua instituição, em 1965, até 1971. Os rubros fizeram campanha discreta na competição que reunia apenas seis clubes (os cinco principais da capital, mais o Americano) e terminou na lanterna junto com o Fluminense. Brilhou apenas ao vencer o Vasco por 2 a 0. Empatou com o Botafogo (1 a 1) e perdeu de 1 a 0 para o Fla e de 2 a 0 para Flu e Americano.

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Para o Estadual, que se iniciaria no fim de agosto, o América repatriou o artilheiro Luisinho Lemos, que estava no León, do México, e regressava ao clube após cinco anos rodando pelo país e pelo exterior. Mas perderia Marinho logo no início da competição: afastado em meados de setembro após discutir com o diretor de Futebol Antônio Tavares, o zagueiro ficou na geladeira por cerca de um mês até acertar seu empréstimo ao Galícia, da Bahia, permanecendo até o fim daquele ano. Mas ainda voltaria ao América para sua última temporada.

Em dezembro, após o fim da temporada, tudo mudaria: Antônio Tavares deixou o América e, com a intervenção do presidente Álvaro Bragança (que desde o primeiro momento havia sido contrário ao afastamento de Marinho), as relações entre clube e jogador foram reatadas. Os rubros, aliás, tinham outros planos para ele: agora o queriam como técnico, ou ao menos como auxiliar dentro da nova comissão a ser formada. Mas o zagueiro preferia seguir jogando por mais algum tempo. E assim ficaria pelo primeiro semestre de 1981.

“Volto a afirmar que me identifiquei muito com o América e retorno com vontade de acertar. Esse ano não foi bom para nós e espero dias melhores em 81, quando tenho certeza que todos nós estaremos tentando uma reabilitação total para que a torcida volte a ter alegrias conosco”, disse Marinho. Mas o clube tinha um problema: o decepcionante oitavo lugar no Estadual de 1980 fez o clube descer à Taça de Prata, segunda divisão nacional, no ano seguinte. Pela primeira vez desde 1968, os rubros estavam fora do grupo de elite do país.

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Além disso, Marinho ainda estava preso ao Galícia pelo contrato até o dia 21 de janeiro de 1981, o que o tirou das primeiras partidas do América na Taça de Prata. Com sua situação finalmente regularizada, o zagueiro reestreou pelo clube na vitória de 1 a 0 sobre o Volta Redonda no Raulino de Oliveira, no dia 25. O jogo seguinte seria em sua cidade natal, Sorocaba, contra o clube que o revelou, o São Bento. O América jogava suas últimas fichas pela classificação, mas decepcionou: derrota por 3 a 0 e a precoce eliminação matemática no Grupo E.

OS ÚLTIMOS DIAS COMO ATLETA

Diante da perspectiva de ficar sem nenhum jogo oficial para fazer dentro de quase quatro meses, o América, dirigido desde o início do ano por Antônio Lopes, teve de se embrenhar pelo Brasil e pela América do Sul em excursões caça-níqueis. Foi à Paraíba, ao Rio Grande do Sul, ao Paraguai e ao Equador, além de fazer um amistoso com o Volta Redonda de novo no Raulino de Oliveira e jogos-treino no Andaraí contra a seleção da Nigéria e o Taag, de Angola. Mas os resultados foram bons, e o time ganhava liga perto de estrear no Estadual.

E o time começou com o pé direito sua campanha na Taça Guanabara, que havia voltado a valer pelo primeiro turno do Estadual: com gols de Luisinho Lemos e Nélson Borges, o América venceu o Vasco por 2 a 0, repetindo o resultado obtido na mesma competição no ano anterior. Marinho foi mais uma vez soberano na zaga: “Veterano e muito experiente, esbanjou classe e categoria na área. Levou vantagem na maioria das bolas divididas que disputou com os seus adversários. Foi um dos destaques do time”, aplaudiu o Jornal dos Sports.

Nos jogos seguintes, o time empatou em 0 a 0 com o Campo Grande no Caio Martins, venceu o Madureira por 1 a 0 em Marechal Hermes e foi a Campos para derrotar o Americano por 2 a 0. A primeira derrota só veio na quinta rodada, diante do Bangu em Moça Bonita. No dia 18 de junho, o América disputou seu segundo clássico no campeonato tendo pela frente o Flamengo, vindo de rápido e vitorioso giro europeu. Mas mesmo com a grande fase do adversário, a defesa rubra fez ótima partida, barrando as investidas do time de Zico: 0 a 0.

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O grande destaque do jogo foi o goleiro Ernâni, mas os dois zagueiros também mereceram muitos elogios. O Jornal dos Sports opinou o seguinte sobre a atuação de Marinho: “Formou com Heraldo uma dupla de área praticamente imbatível. Experiente e com muita categoria, chegava sempre junto nas divididas”. A campanha rubra chamava a atenção, principalmente pelo desempenho de sua defesa: em seis partidas, havia sofrido apenas um gol. O destino de seu nome mais experiente do setor, entretanto, mudaria muito em breve.

SURGE UM TREINADOR

Com uma distensão, Marinho desfalcou o time no empate em 1 a 1 com o Serrano em Petrópolis em 21 de junho. Três dias depois, o técnico Antônio Lopes pediu demissão do cargo alegando incompatibilidades com a diretoria. A pedido dos jogadores, o zagueiro foi alçado como interino ao posto — e acabou ficando. O empate com o Flamengo havia sido sua 41ª e última partida como atleta do clube (sem gols marcados) e a derradeira da carreira de jogador. Entrava em cena a partir daquele momento o treinador Marinho Peres.

Marinho Peres, agora treinador | Pacar (1981)

Sua primeira partida na nova função foi no dia 27, vencendo o Volta Redonda por 2 a 0. A seguir, o time não deixou a peteca cair: derrotou o Olaria por 2 a 1, empatou em 0 a 0 com o Botafogo e venceu o Fluminense por 2 a 1. Terminou a Taça Guanabara como o surpreendente vice-campeão, só atrás do Flamengo, mesmo assim por um ponto. Além disso, continuou invicto nos clássicos, e a defesa — que ganhou no meio do caminho o reforço do volante Pires, ex-Palmeiras — foi a menos vazada do turno: só quatro gols sofridos nas 11 partidas.

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Apesar de tudo isso, Marinho seguia apenas como interino. Depois de abrir o segundo turno com uma vitória sobre o Americano no Andaraí (1 a 0), o time aproveitou uma brecha no calendário e embarcou para Honduras, onde fez dois amistosos com a seleção local, que se classificaria para a Copa do Mundo da Espanha no ano seguinte. A boa atuação da equipe nos dois confrontos — que terminaram ambos empatados em 1 a 1 — é que valeu enfim a efetivação do agora ex-zagueiro no comando técnico do Mecão para o restante da temporada.

No segundo turno, o time oscilou mais: além da vitória sobre o Americano na estreia, derrotou o Madureira (3 a 0) e o Serrano (1 a 0) no Andaraí, o Campo Grande (1 a 0) em Ítalo del Cima e o Volta Redonda (2 a 1) na Cidade do Aço. Empatou com o Olaria na Rua Bariri (0 a 0) e o Bangu no Maracanã (1 a 1). Mas ao contrário do primeiro turno, não teve bom desempenho nos clássicos: o único ponto veio no empate em 2 a 2 com o Botafogo. Em seguida, o time perdeu do Flamengo (3 a 1), do Fluminense (3 a 2) e do Vasco (1 a 0) no Maracanã.

Durante aquela etapa, a revista Placar publicou matéria em sua edição de 28 de agosto abordando os casos de Marinho no América e de Carpegiani, seu velho companheiro de Internacional e de Copa de 1974, no Flamengo. Ambos, recente e subitamente, haviam trocado o status de líderes de seus times em campo pelo comando técnico no banco de reservas. Indagado a respeito das dificuldades de se adaptar à nova função, Marinho declarou: “Estou tão ligado ao grupo que ainda continuo a trocar de roupa no vestiário dos jogadores”.

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Marinho chegou a ficar invicto em suas dez primeiras partidas no comando rubro. Na véspera da primeira derrota (3 a 1 para o Flamengo em 23 de agosto), o Jornal dos Sports publicou um perfil do novo treinador. Segundo o texto, o ex-zagueiro havia introduzido no América a filosofia de jogo que aprendera com o holandês Rinus Michels, seu técnico no Barcelona: marcação por pressão na saída de bola do adversário e o avanço em bloco dos jogadores de defesa para surpreender os oponentes com a conhecida “linha de impedimento”.

O DECLÍNIO E A SAÍDA

Sempre às voltas com problemas financeiros, o América acabou aceitando mais uma proposta de excursão pelo exterior no meio do campeonato, entre o segundo e o terceiro turnos. O giro que passou por El Salvador, Haiti e Equador terminou em quatro empates nas quatro partidas. Mas na volta, outro tipo de prejuízo colocaria em risco a campanha do time: na derrota para o Madureira por 2 a 1, Luisinho — que até ali já somava 16 gols no Estadual — levou entrada dura de um defensor e teve de gessar o pé: perderia o resto do campeonato.

Naquela altura, Marinho Peres também se encontrava apreensivo: a chapa da oposição, liderada por Lúcio Lacombe, havia vencido as eleições do clube e, além de ter recusado a proposta da atual diretoria de começar a trabalhar de imediato e em conjunto na transição, sinalizava com muitas mudanças. O que se comentava pelos corredores do clube era que Marinho até poderia ser mantido na nova comissão técnica, mas não como treinador. Nesse compasso de espera, e sem seu goleador, o América foi se perdendo no campeonato.

No primeiro jogo após a lesão de Luisinho, a equipe ainda conseguiu vencer o Olaria por 1 a 0, gol de Porto Real. Mas logo começaria a acumular maus resultados: perdeu para o Vasco (1 a 0), empatou fora de casa com o Volta Redonda (1 a 1) e foi goleado pelo Flamengo (4 a 0), derrota que fez desabar de vez o moral da equipe. A seguir, o América parou num 0 a 0 com o Americano no Andaraí; foi batido pelo Fluminense por 1 a 0, pelo Serrano em Petrópolis por 3 a 1 e, por fim, com o time esfacelado, foi humilhado pelo Botafogo: 5 a 0.

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A goleada praticamente liquidou as chances do América de disputar a elite do Brasileiro em 1982. E após o jogo, Marinho Peres anunciou que colocava entregaria o cargo ao fim do campeonato. O empate em 0 a 0 com o Campo Grande em Ítalo del Cima no dia 18 de novembro sacramentou o novo descenso do clube à Taça de Prata, resultado do declínio que a equipe enfrentou ao longo do Estadual: vice-campeão na Taça Guanabara, ainda havia terminado o segundo turno em quarto na classificação geral. Mas agora acabaria só em sexto.

Ainda haveria, porém, um último alento na despedida do campeonato — e de Marinho Peres no comando: a goleada de 4 a 1 sobre o Bangu em São Januário no dia 21 de novembro, com dois gols de Porto Real, um de Jurandir e outro de um atacante que despontava como revelação nos juvenis: Moreno. Em 1º de dezembro, Marinho deixava o cargo, acompanhado por sua comissão, que incluía o jovem preparador físico Paulo Autuori. No cartel pelo América, 32 jogos, dez vitórias, 13 empates e nove derrotas (seis delas no terceiro turno).

Seu sucessor, logo anunciado, seria Dudu, ex-volante da Academia do Palmeiras nos anos 1960 e tio de Dorival Júnior (que então iniciava a carreira de jogador na Ferroviária de Araraquara). Com vários reforços trazidos pela nova diretoria, o América prometia fazer bonito em 1982 — o que se concretizou. Sobre o trabalho de Marinho Peres, entretanto, não houve questionamentos: tanto dentro de campo quanto fora dele, além da conhecida liderança, o ex-zagueiro e treinador se mostrou sempre cordial e humilde, deixando lembrança positiva.

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*Emmanuel do Valle é jornalista e pesquisador da história do futebol brasileiro e internacional

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