Medellín: como foi, onde fui e quanto gastei

Meu roteiro pela agradável cidade onde os marrons e os verdes apagaram o sangue vermelho do passado.

Igor Mariano
Revista Passaporte
12 min readJun 19, 2018

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MEDELLÍN ESTÁ LONGE de ser uma ilha deserta no Pacífico ou um lugarzinho escondido no meio do nada, mas essa metrópole colombiana me transmitiu um gostoso ar de despretensão. Algo mais “moradores locais pegando o metrô para o trabalho” e menos “gringos passeando com malas de rodinhas”. Talvez essa impressão seja culpa da extremamente turística Cartagena, de onde eu tinha acabado de partir antes de chegar a Medellín, ou talvez do baixo interesse dos brasileiros pela segunda maior cidade da Colômbia.

Essa falta de interesse é até compreensível. Primeiro porque é difícil competir com as praias paradisíacas de San Andres, a efervescência urbana de Bogotá e o charme colonial de Cartagena. Em segundo lugar porque o passado de Medellín ainda mancha o seu presente. Até poucos anos atrás a cidade estava tomada por cartéis de drogas, guerras civis, homicídios frequentes e uma altíssima criminalidade. Foi lá que Pablo Escobar, conhecido como o mais rico poderoso traficante da história, ergueu o seu império.

Mas essa realidade mudou. Medellín é uma fênix que renasceu do pó (nos mais variados sentidos) a ponto de receber o título de cidade mais inovadora do mundo. Não que lá seja um lugar altamente tecnológico e futurista, não. Porém a cidade teve a capacidade de se reinventar magistralmente. Venceu o crime, o tráfico e a insegurança em um nível quase milagroso e hoje é um lugar desenvolvido, bonito e que vale a pena ser visitado.

Um dos aspectos que surpreendem logo de cara é a segurança. É até difícil imaginar que aquelas ruas tranquilas um dia tenham sido palco de tantos momentos sangrentos. Mesmo no alto da favela onde o próprio Escobar viveu reina uma aparência geral de paz.

A locomoção também se destaca positivamente, com uma imensa rede de transporte público que mescla linhas de ônibus, metrô e até de teleférico (por lá chamado metrocable). Desse modo, é fácil chegar em qualquer lugar, incluindo os principais pontos de interesse de Medellín, sem precisar recorrer a Táxis ou Ubers. Eu diria que é até melhor evitá-los, pois o trânsito lento e caótico não favorece os carros.

O terceiro item da minha lista de atributos de Medellín seria a perceptível qualidade de vida. O enorme ginásio esportivo que visitamos logo ao chegar na cidade foi só o primeiro impacto que eu teria. Ele é só um de uma série de ações que visam o bem estar do povo e geram boas opções de lazer para a população. Isso explica o avanço social da cidade nos últimos anos.

Em Medellín eu fui obrigado a encarar a minha própria ignorância. Precisei admitir que não sabia de nada. Eu conhecia tão pouco da história da cidade e a subestimei de tal maneira que, ao descobrir como de fato ela era, fui pego de surpresa. No melhor dos sentidos.

Eu e o Thiago escolhemos visitar Medellín ao invés de Bogotá por mera pesquisa de preços de passagens aéreas, mas definitivamente a sorte nos levou para o lugar certo. Essa grande e monocromática cidade, com seus tons terrosos e áreas verdes, felizmente excedeu as nossas expectativas.

Como foi:

Como contei no texto anterior, nós começamos nossa viagem pela Colômbia passando três dias em Cartagena, no litoral. Depois das fortes emoções do começo da viagem e quando finalmente nos adaptamos ao calor caribenho, pegamos um voo doméstico para Medellín, onde passamos quatro dias e quatro noites.

O voo entre Cartagena e Medellín é muito rápido, tendo aproximadamente uma hora de duração, mas nós optamos por um voo que fazia escala em Bogotá, pois era mais barato. Esse percurso nos tomou toda a manhã, considerando o check-in, deslocamentos, esperas, embarques e desembarques, mas não foi complicado e nem muito cansativo, portanto acredito que valeu a economia.

O imprevisto da vez foi pequeno e repetido. Assim como no Chile, onde estive em janeiro deste ano, eu passei por Medellín bem na época das eleições presidenciais. Isso quer dizer que por um dia inteiro a venda de bebidas alcoólicas estavam proibida. Nada que tenha prejudicado o nosso passeio, claro, e ainda tive a oportunidades de conhecer a política de mais um país.

Outra feliz coincidência foi ter encontrado o Rafael por lá. Ele é um ex-colega de trabalho do Thiago que viu uma foto nas redes sociais e descobriu que estávamos na Colômbia. Ele mora em Medellín e nos acompanhou em alguns passeios, além de ter nos dado ótimas dicas. Foi nosso guia surpresa!

Onde fui:

Atanásio Girardot — Por ser perto de onde estávamos hospedados, foi o primeiro lugar que conhecemos. Este é um complexo esportivo público com ginásios, quadras, praças, piscinas, pista de caminhada e um estádio de futebol, que era onde o Chapecoense iria jogar. É sempre cheio de pessoais locais fazendo atividades físicas. Vale o passeio. Grátis.

Parque Lleras — Esta praça fica no bairro de El Poblado e é rodeada por bares, restaurantes e boates, o que faz com que ela seja um point da vida noturna de Medellín. Quando fomos não estava tão cheio porque tinha acabado de parar de chover, mas costuma ficar tão lotado nos fins de semana que não sobra espaço nas ruas nem para os carros passarem. Grátis.

É muito legal ver com os próprios olhos aquilo que eu só tinha visto através de fotos.

Jardín Botanico — Quando eu pesquisei sobre Medellín antes de ir, uma das primeiras fotos que vi foi dessa estrutura de madeira que fica dentro do jardim botânico. Além dessa impressionantes área coberta, lá tem também pistas de caminhada, lagos e diversos jardins muito bonitos. Grátis.

Parque Explora — Não sei qual a melhor forma de descrever o Parque Explora, mas eu diria que é um museu interativo sobre a vida. Dentro dele existe um aquário, um vivário, um museu a céu aberto e quatro pavilhões temáticos sobre a comunicação, o tempo, a mente e a ciência (porém este último estava em reforma). Foi um dos programas mais legais que fizemos em Medellín e fica bem em frente ao Jardim Botânico, então pode ser feito no mesmo dia. O valor do ingresso é 25.500 pesos (R$ 35,87), mas também existe um combo que inclui o Planetário de Medellín por 38.500 pesos (R$ 54,59).

Planetário de Medellín —Também próximo ao Parque Explora, pode ser visitado no mesmo dia. Dentro dele há um pequeno museu sobre o espaço e a sala de exibição, que reveza cerca de quatro apresentações diferentes. Assistimos à que estava começando quando chegamos, porém fiquei com vontade de ter visto outra, então vale a pena checar a programação já que o ingresso só te dá direito a uma exibição. A lojinha de lá é ótima e tem bons preços, então aproveite para comprar lembrancinhas! O ingresso individual do Planetário custa 15.500 pesos (R$ 21,98), porém preferimos comprar o combo que incluía o Parque Explora.

Peñol de Guatapé — O Peñol não é exatamente em Medellín e sim em uma cidade próxima que fica menos de 100 km de distância. Existe a opção de contratar um passeio turístico até lá, mas é perfeitamente possível ir por conta própria, pois é bem simples de chegar, sai mais barato e ainda te permite fazer seus próprios horários. Uma vez lá, tem que subir 659 degraus até o topo (sem considerar as escadas que você sobe para chegar até a bilheteria). É cansativo, mas vale a pena! A vista lá de cima é uma das mais bonitas que eu já vi na vida. O ingresso no Peñol custa 18.000 pesos (R$ 25,52).

Guatapé — A colorida cidade que fica quase aos pés do Peñol merece uma horinha do seu tempo, mas não muito mais que isso. É um passeio rápido e agradável por um pequeno vilarejo que é famoso por seus zócalos, que são os rodapés das casas. Eles tem cores contrastantes e chamativas de uma forma quase brega, porém charmosa. Eu também fiz uma ótima refeição no restaurante Porton de Antonio, que fica na praça principal e aceita cartão, ao contrário da maioria do comércio de Guatapé. Grátis.

Comuna 13 — Um dos bairros mais perigosos de Medellín se tornou um símbolo de sua recuperação e hoje é famoso por, entre vários motivos, ser a primeira favela do mundo a ter escadas rolantes. Demos sorte de encontrar um Free Walking Tour começando em frente ao metrô bem na hora que chegamos. Foi um ótimo jeito de conhecer a região, aprender sobre a história local e entender os Grafittis que estão por todos os lados. Grátis, porém é incentivado dar uma contribuição para o guia.

Metrocable — Não é bem um passeio turístico, porém queríamos andar de teleférico e aproveitamos que estávamos na estação San Javier, onde tem tanto o metrô quanto o bondinho. Fizemos um passeio de aproximadamente 20 minutos por cima das comunas, parando para tirar foto no ponto mais alto e retornando para a estação de onde saíamos. A passagem custou 5.200 pesos (R$ 7,37).

Pueblito Paisa — O Thiago achou chato, porém eu achei o passeio agradável. É uma cidade cenográfica que reproduz um vilarejo paisa (como são chamados os povos locais) tal qual era no passado. Tem uma bela vista da cidade de Medellín, um parque ao seu redor e um museu no topo. A entrada no Pueblito é grátis, porem o museu custa 2.000 pesos (R$ 2,51).

Plaza Botero — Cartão postal da cidade de Medellín, esta praça está cercada pelo Museu de Antioquia, o Palácio da Cultura, o renomado Hotel Nutibara e uma grande estação de metrô. Ela é preenchida pelas estátuas rechonchudas do famoso artista Fernando Botero, então é o alvo alvo principal das fotos de turistas que visitam Medellín. Grátis.

Museu de Antioquia — Infelizmente tivemos menos tempo do que gostaríamos para ver o acervo desse Museu, pois ele fecha às 17h30 e nós chegamos só uma hora antes disso. Ele tem três andares de salas cheias de obras de arte, com exposições fixas e temporárias, incluindo quadros e esculturas do Botero. Vale a visita, de preferência com mais calma. O ingresso custa 18 mil pesos (R$ 25,52).

La 70 — Encerramos a última noite na La 70, uma rua não muito longe de onde estávamos hospedados. Ela é uma avenida larga e bem comprida que tem bares e restaurantes dos dois lados. A noite por ali me pareceu menos agitada que a do Parque Lleras, mas com muitas opções de lugares para jantar.

*Todos os valores foram calculados de acordo com o câmbio da data que eu realizei a troca e já incluem os 10% de gorjeta (quando aplicável).

Ficou para a próxima vez:

Parque Arví — Mesmo considerando que conseguimos fazer muita coisa para o número de dias que tínhamos, não sobrou tempo para conhecer alguns pontos turístico, como sempre. O Parque Arví foi um deles. Esta reserva ambiental tem 16 mil hectares de extensão e conta com 54 km de trilhas, (incluindo algumas suspensas sobre as árvores) e um bondinho turístico.

Parque de los Pies Descalzos — Como o próprio nome diz, é um parque que deve ser aproveitado sem os sapatos. Existem fontes, gramados, areia, caminhos de pedras e várias outras áreas lúdicas para que os visitantes sintam tudo com os pés.

Museo El Castillo — Esse castelo em estilo medieval possui um grande jardim francês do lado de fora e várias exposições de arte do lado de dentro, incluindo peças de porcelana, cristal, pinturas, esculturas, entre outros.

Onde me hospedei:

Como éramos duas pessoas, mais uma vez optamos por alugar um apartamento no AirBnb. Ficamos um apartamento com ótimo custo-benefício na região de El Estadio, o que foi uma excelente escolha. O apartamento em si era confortável, moderno, bem-equipado e muito bonito. Sem falar que a vista era maravilhosa!

Até deitado na cama dava para ver as luzinhas subindo as montanhas.

Além disso, a localização era perfeita, bem centralizada e literalmente em frente a um gigantesco hipermercado Exito, onde fizemos compras algumas vezes. Também estava a poucas quadras de distância de uma estação de metrô, então era fácil chegar em qualquer lugar.

As quatro noites saíram por R$ 414,27, o que eu considero um bom valor. Apenas nós dois ficamos no apartamento, porém ele tem um sofá cama que permite acomodar mais duas pessoas tranquilamente. Se tiver interesse, procure pelo apartamento da Margarita em Medellín no AirBnb.

Quanto gastei:

Medellín é uma cidade menos turística e isso me manifesta no preço das coisas. A alimentação é mais barata e até os pontos turísticos são mais econômicos do que em Cartagena. Sei que os dois destinos são muito diferentes, porém para mim é inevitável compará-los já que foram as duas cidades que eu conheci na Colômbia.

Além disso, estávamos em frente a um supermercado e tínhamos uma cozinha bem equipada à nossa disposição, o que nos ajudou a poupar. Não tomamos café da manhã na rua em nenhum dia, por exemplo, e no dia das eleições preferimos jantar no apê também.

Até porque dentro do apê era permitido tomar vinho.

Dito isso, é hora de fazer as contas. Excluindo a passagem aérea e a hospedagem, somando todos os gastos (alimentação, transporte, passeios, compras, bebidas) e dividindo pelo número de dias (quatro) cheguei à média de R$ 124,47 por dia.

O almoço mais caro foi em Guatapé. Ele custou 24.200 pesos por pessoa (R$ 32,91), incluindo a bebida — o que está longe de ser um preço absurdo. A refeição mais barata foi uma Oblea, que é um doce de waffle recheado com doce de leite, frutas vermelhas e leite condensado. Custou só 2.700 pesos (R$ 3,83) em uma barraquinha de rua. Ou seja, no geral as coisas em Medellín tem preços justos e o custo de vida é bom.

*Todos os valores foram calculados de acordo com o câmbio da data que eu realizei a troca e já incluem os 10% de gorjeta (quando aplicável).

Mais algumas dicas:

  • Uma das minhas decepções é que as bicicletas compartilhadas de Medellín não servem para turistas. Adoraria ter andado de bike no Atanásio Girardot, porém para alugá-las é necessário fazer um cadastro bem burocrático, no qual é exigido a entrega de vários documentos físicos. Bem diferente das bicicletas no Brasil, em que tudo pode ser feito pelo aplicativo, e inviável para quem está apenas visitando a cidade.
  • Assim como em Cartagena, quando eu fiz o câmbio saiu um pouquinho mais lucrativo trocar real por dólar e depois dólar por peso, mas é sempre bom fazer os cálculos na época da viagem, pois pode ter mudado agora que o preço do dólar subiu. Em Medellín estavam pagando em média 25 pesos a mais por dólar do que em Cartagena. No final deste post eu conto os valores que paguei no câmbio.
  • Se estiver em dúvida sobre quanto tempo ficar em Medellín, recomendo passar entre cinco e seis dias, assim será possível conhecer todos os lugares que eu fui e ainda ir onde eu não consegui por falta de tempo.
  • Pousamos no Aeroporto Internacional José María Córdova, que fica fora da cidade e é longe! Como Medellín é uma baixada cercada por montanhas e esse aeroporto fica no alto delas, o percurso de lá até o centro da cidade e vice e versa demora quase uma hora. A dica é não recorrer ao Uber nem táxis, porque sai muito caro. Prefira utilizar o ônibus do aeroporto que custa apenas 9.500 pesos, bem mais em conta.
Parque das Luzes, que fica próximo à Plaza Botero.

De Medellín eu voltei para Cartagena, onde passei mais uma noite (dessa vez hospedado no bairro de Getsemaní) e em seguida retornei para o Brasil, onde o Thiago voltou ao trabalho e eu refiz as minhas malas para começar oficialmente a minha volta ao mundo. Próxima parada, Peru!

Vá para o próximo texto: Lima, no Peru

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Igor Mariano
Revista Passaporte

Brasileiro, gestor de marketing, apaixonado por viagens, café, cerveja, livros e tudo que nos distrai • www.instagram.com/igor_mariano