Prioridades de gente grande? Ainda não conheço não

Quando penso em guardar dinheiro, o objetivo quase sempre é fazer uma viagem.

Regiane Folter
Revista Passaporte
3 min readJan 19, 2020

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Bom, 2019 foi atípico nesse sentido. Com meu companheiro tivemos a grande meta de organizar (e pagar) uma festa para celebrar nosso casamento. Acho que foi a primeira vez que não pensei em economizar com o objetivo de ter outro carimbo no passaporte. Normalmente associo dim dim no cofrinho com passagens, Airbnb, moedas desconhecidas e todas as outras ferramentas necessárias para sair do aqui e agora e conhecer o que está lá, em outra terra, em outro fuso-horário.

Às vezes acho que isso de ser “viajeira-wannabe” é fruto da falta de maturidade. To chegando nos 30, será que não seria hora de começar a juntar grana pra abandonar o busão e comprar um carrinho? Parar de pagar aluguel e dar entrada num apartamento? Comprar uns eletrodomésticos legais? Começar um investimento que me ajude a ter uma vida mais tranquila no futuro?

São grandes perguntas, com grandes pontos de interrogação, relacionadas a coisas que sempre associei com a VIDA ADULTA, assim mesmo, no caps lock. Quando eu era mais nova, essa VIDA ADULTA estava distante. Parecia uma etapa remota na qual eu chegaria um dia, no momento correto e com uma mentalidade acorde. Naquela época, período mágico entre infância, adolescência e faculdade, eu pensava que tava tudo bem sonhar com intercâmbios e férias na Disney. Tinha todo o tempo do mundo para amadurecer!

Mas um dia acordei e percebi que eu já estava vivendo a VIDA ADULTA. Não tinha mais escapatória! Só que parece que a mentalidade de gente grande nunca nasceu. Pelo menos não no que diz respeito a viajar. Nunca consegui despriorizar esse fascínio pelo desconhecido, por desbravar novos caminhos e por me perder em lugares inimagináveis… Essa adoração por escutar sotaques distintos, provar sabores estranhos, ver cenários misteriosos… Essa fixação em ter alertas de passagens baratas em todos os sites de vôos existentes e por existir…

Claro que sempre tive muita sorte, porque desde muito jovem pude viajar, e com bastante frequência. Nem todo mundo pode arcar com os gastos que uma viagem requer, infelizmente. Nunca tive que escolher entre viajar e ter comida na mesa ou um teto sob minha cabeça. Sempre tive as duas coisas, os dois mundos: as necessidades pé no chão que precisamos para sobreviver e os sonhos em forma de passagens, fotografias e passeios por lugares incríveis.

Fico aqui na dúvida se terminei de crescer, tal qual Peter Pan presa por essa mania de conhecer a próxima Terra do Nunca. Mas não reclamo não, viu? Que coisa mais linda é poder manter alguns aspectos do tempo de criança, como acreditar que podemos ir além da nossa imaginação e visitar mundos que parecem de mentirinha, só que na vida real.

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Regiane Folter
Revista Passaporte

Escrevi "AmoreZ", "Mulheres que não eram somente vítimas", e outras histórias aqui 💜 Compre meus livros: https://www.regianefolter.com/livros