POLARIZAÇÃO PARA DUMMIES, parte 3: LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Marco Antonio Barbosa
Telhado de Vidro
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4 min readFeb 11, 2021

Bem-vindo ao terceiro episódio de nossa série ilustrada sobre as origens da polarização ideológica que tomou conta da vida digital — e os mecanismos, involuntários ou não, que nos arrastam para o bate-boca sem fim. (Se perdeu os anteriores, comece por aqui: POLARIZAÇÃO PARA DUMMIES, parte 1 e POLARIZAÇÃO PARA DUMMIES, parte 2: O ISENTÃO).

Capítulo VI: o quê é que eu vou fazer com essa tal liberdade (de expressão)?

O termo “liberdade de expressão” tem estado em voga nos últimos anos. Em especial no contexto de polarização fomentado pelas redes sociais.

*Artigo 19º da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)

Ninguém discorda disso.

Entretanto, o termo significa coisas diferentes para pessoas diferentes.

Vamos ver o que diz a Constituição brasileira, no título II, capítulo I (“Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos”), artigo 5º.

Assim como a manifestação do pensamento é livre, o direito de resposta é assegurado e as violações da honra e da imagem alheias são passíveis de sanção legal. Em resumo:

Muita gente, no entanto, só presta atenção na primeira fala da figura acima. Para essas pessoas, a liberdade de expressão é uma via expressa de mão única, sem radares nem bafômetros.

O reacionário acredita que a liberdade de expressão é, na prática, um salvo-conduto para dizer o que quiser sobre qualquer assunto, a qualquer pessoa, em qualquer situação, sem sofrer qualquer consequência. Ele pratica a parte do “todo mundo pode falar o que quiser…”

…mas quando é confrontado com as consequências de seu discurso, entra na defensiva.

Esse é o raciocínio (?) que justifica demonstrações de intolerância…

…arengas contra as mudanças nos valores da sociedade…

…a confusão entre fatos consumados e opiniões…

…incitações públicas à prática de crimes…

…e grosserias gratuitas disfarçadas de “franqueza”.

E ainda abre espaço para contradições e paradoxos dentro do discurso reacionário.

Já o conservador costuma usar a liberdade de expressão para justificar a criação de falsas equivalências…

…e/ou dar visibilidade para opiniões que contrariam o pensamento progressista (e, eventualmente, o bom senso ou mesmo a lei).

Liberdade de expressão sem responsabilidade + confusão entre opinião e fato + contaminação ideológica nos discursos = polarização ao cubo.

As redes sociais, como sempre, têm seu papel no cenário. Em nome da liberdade de expressão, as plataformas fazem “vista grossa” para fake news, discurso de ódio e outras manifestações de intolerância e desinformação. (Mas depende de quem posta, claro.)

“Puxa, pena não termos meios para impedir que isso aconteça… o que? Nós temos meios?

Daí, quando as plataformas afinal resolvem aplicar suas próprias regras para coibir o “excesso” de liberdade de expressão…

…dá nisso:

Nesse momento, costuma surgir o isentão (que, como vimos na parte 2 dessa série, se diz isento mas sempre está do lado do conservador e do reacionário) pra dar aquela passada de pano…

…complicando ainda mais o panorama.

A liberdade de expressão é um direito fundamental. Mas como todos os direitos, também tem seus limites e sua contrapartida em deveres. Pense nisso antes de exercê-la. Quem não pensa nisso, acaba contribuindo para o grande mal contemporâneo disseminado pelas redes sociais: a polarização.

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Jornalismo & etc. por MARCO ANTONIO BARBOSA. Reportagens e artigos sobre cultura, sociedade, política, comportamento, humor, em textos inéditos e republicados.

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Dono do medium.com/telhado-de-vidro. Escrevo coisas que ninguém lê, desde 1996 (Jornal do Brasil, Extra, Rock Press, Cliquemusic, Gula, Scream & Yell, Veja Rio)