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4 min readApr 22, 2019

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Diário de Leitura #5: O Mito da Beleza, Naomi Wolf — O Sexo

O Mito da Beleza: como as imagens de beleza são usadas contras as mulheres foi o primeiro livro de Naomi Wolf, publicado em 1991 e relançado no Brasil em 2018. Wolf é uma escritora reconhecida por trabalhos sobre feminismo e democracia. A equipe do Más Feministas Podcast está realizando uma leitura compartilhada de O Mito da Beleza. Nesta quinta parte, comentaremos o capítulo O Sexo.

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Em 2017 o Buzzfeed publicou uma lista com 14 coisas que as mulheres fazem nas propagandas e que não têm sentido NENHUM. A lista inclui itens como:

“Segurar e acariciar o rosto, demonstrando toda a sua alegria após passar algum creme”

“Chegar ao orgasmo simplesmente tocando no cabelo recém-lavado” (com aquele shampoo que todas as atrizes juram estar usando)

“Fechar os olhos enquanto toma sorvete, para tornar a experiência mais ~sensual~”

Ao discutir a relação entre sexo e o mito da beleza, Naomi Wolf nos mostra que imagens como essas têm sentido sim. Para ser desejável sexualmente, a mulher precisa ser uma versão das mulheres das propagandas da TV e dos anúncios de revista, adquirindo produtos que prometem prazer e sucesso com os homens.

A partir dessa constatação, Wolf nos apresenta dois conceitos:

Pornografia da beleza: mulheres simulando prazer e posições eróticas nas propagandas

Sadomasoquismo da beleza: imagens de submissão feminina nas propagandas

Segundo Wolf, a difusão de imagens de mulheres submissas seria uma reação às mudanças provocadas pela revolução sexual da segunda metade do século XX e pela tentativa de ascensão das mulheres ao poder. Longe de serem manifestações inofensivas ou aleatórias, a pornografia da beleza e o sadomasoquismo da beleza costuraram ideais de beleza, expectativas do mercado, sexo e violência. A partir dessa colcha de retalhos, a sexualidade foi remodelada de uma forma perversa, resgatando formas de submissão e reforçando sentimentos de culpa e vergonha entre as mulheres.

Numa sociedade em que a beleza de uma mulher é validada pelos homens, eles aprendem a objetificar mulheres, enquanto elas aprendem que o ápice da satisfação é ser um objeto que desperta o desejo masculino. Em outras palavras, esse sistema funciona com uma falsa recompensa para as mulheres: ser desejada é o prêmio por todos os sacrifícios feitos para tentar alcançar padrões de beleza.

Ainda que o desejo seja uma parte importante dessa conversa, a repulsa ao corpo feminino é outra consequência nociva da associação entre o mito da beleza e o sexo. Wolf observa que seios, coxas, nádegas e ventre são os principais alvos tanto da pornografia da beleza quanto da violência cometida por misóginos. A violência contra a mulher é erotizada nas propagandas, na literatura, cinema, séries de TV e clipes: é importante lembrar que o estupro é amplamente adotado (e defendido!) como recurso narrativo.

Somos o que Wolf chamou de geração pornográfica: o despertar da sexualidade é promovido por uma avalanche de imagens que nos indicam como executar uma espécie de coreografia sexual. Por vezes essa coreografia é violenta, frustrante e expressa um conveniente desconhecimento sobre os corpos de mulheres. O mito da beleza gera lucro, assim como a insatisfação sexual. Até mesmo nossos desejos são reféns de padrões de beleza e dos mecanismos de objetificação!

O panorama é pessimista, mas Wolf apresenta uma saída. A solução seria a construção de relações heterossexuais baseadas num amor terno: “As mulheres que se amam são ameaçadoras; mas os homens que amam mulheres de verdade o são ainda mais”. Esse amor seria uma “sublevação política”, a força que derrubaria o domínio masculino. Apesar da defesa empolgada de Wolf ao longo do capítulo, essa perspectiva nos pareceu uma idealização pouco frutífera do amor romântico. Ainda assim, Wolf nos anima a combater a interferência do mito da beleza em nossas experiências sexuais:

A beleza sexual é uma porção igual que pertence tanto a homens quanto a mulheres, e a capacidade de se deslumbrar é comum aos dois sexos. Quando os homens e as mulheres se olharem fora dos limites do mito da beleza, haverá maior erotismo entre os sexos, da mesma forma que maior honestidade. Nós não somos tão incompreensíveis uns aos outros quanto neste momento querem que acreditemos ser.

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