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4 min readMay 7, 2019

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Diário de Leitura #6: O Mito da Beleza, Naomi Wolf — A Fome

O Mito da Beleza: como as imagens de beleza são usadas contras as mulheres foi o primeiro livro de Naomi Wolf, publicado em 1991 e relançado no Brasil em 2018. Wolf é uma escritora reconhecida por trabalhos sobre feminismo e democracia. A equipe do Más Feministas Podcast está realizando uma leitura compartilhada de O Mito da Beleza. Nesta sexta parte, comentaremos o capítulo A Fome.

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Naomi Wolf inicia este capítulo com uma narrativa que deixa qualquer um abalado. Mostrando que se aos homens fossem impostas regras como são para as mulheres, as estruturas sociais seriam facilmente modificadas e reestruturadas, garantindo seus prazeres e sua liberdade.

Garotos, jovens e brilhantes, passam a rejeitar alimentos. Aos poucos, sombras invadem seus rostos e seus ossos saltam sob a carne. Eles conseguem engolir apenas bolinhas de pão e um pouco de leite. Rapazes estão morrendo cedo. São o capitão do time de futebol, o diretor do clube de debates, o editor, um quarto da equipe de rúgbi.

São os herdeiros, que mal conseguem falar em voz alta. Eles agem de forma estranha e se escondem para vomitar tudo o que comeram. Eles são os filhos do privilégio, eles são o futuro.

É neste contexto que a fome se apresenta. São gerações de mulheres deixando de se alimentar por vontade própria enquanto a sociedade cumpre sua parte e finge que não vê.

Aqui, dieta não serve apenas como efeito estético, mas como controle. A obediência feminina se dá não perante chicotes, mas diante da fita métrica e balança. É neste cenário que se encontram mulheres que preferem, por exemplo, perder peso a ter sucesso profissional.

Para Naomi Wolf, a pressão do corpo e da dieta é uma reação aos avanços do movimento feminista e de uma sociedade que não quer ver mulheres assumindo posições que incomodam o patriarcado. Assim como demonstra o documentário Miss Representation, o papel da mulher não é construído por ela mesma e esta representação está adoecendo centenas, levando-as aos transtornos alimentares.

No livro Garotas de Vidro, da autora Laurie Halse Anderson, a personagem Lia, convivendo com a anorexia, mostra principalmente seus diálogos internos, lutando contra os alimentos e personificando a fome, como uma presença necessária. É negando seus desejos que ela poderá ter seu valor reconhecido. O mesmo tem acontecido com centenas de meninas e mulheres.

A culpa também desenvolve um papel importante para a manutenção da obediência. É a culpa que mostra que para a mulher dá-se o resto, o farelo, que ela é a última a (merecer) comer. É este sentimento que leva qualquer uma de nós a evitar a comida, a validar a fome, a esquecer esta necessidade mais básica. É assim que carregamos o ódio ao nosso corpo, verdadeiro motor para a falta de saúde.

Wolf nos mostra que a fome é o que enfraquece mulheres frente aos homens. É o que nos paralisa e que a distração entre o prato e a balança é a arma para nosso controle. É aqui, nesta lacuna, onde nos rendemos e obedecemos ao que nos ditam.

Como complemento ao tema, é importante citar a autora Roxane Gay, que também trabalha este tema em sua obra Fome, dialogando sobre a relação entre o papel feminino, corpo, comida e nosso papel na sociedade. Também falamos sobre essas questões relacionadas à gordofobia neste episódio.

Afinal de contas, se um corpo feminino está sujeito a questionamentos e vigilâncias, o corpo gordo de uma mulher é, além disso, impróprio, passível de punições e restrições.

No entanto, é quando nos esforçamos para não perder de vista essas informações e para quebrarmos essas amarras que conseguimos avançar para ocupar os lugares que nos pertencem. Mudar as relações com nosso prato e nossa imagem é o primeiro passo para ocupar posições negadas pelo patriarcado.

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