O turbulento agosto do América Campeão da Guanabara em 1960

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14 min readSep 13, 2020
América 1x1 Fluminense, no Maracanã, pela quarta rodada do Carioca de 1960

Emmanuel do Valle

Atenção, esse resgate é a segunda parte de uma série mensal começada aqui: Em julho de 60, América iniciava campanha rumo ao título da GB

O América teve desempenho um tanto irregular no mês de agosto de 1960, o primeiro “cheio” do calendário do Campeonato Carioca daquele ano. Após ter batido o Vasco na estreia, no fim de julho, o time seguiu vencendo ao enfrentar os bons times de Olaria e Bonsucesso, mas parou no empate diante do Fluminense (apontado como o favorito ao título) e logo em seguida sofreu sua primeira — e única — derrota no certame, diante do Bangu. Uma apertada vitória sobre o São Cristóvão em Figueira de Melo fechou aquele período complicado, mas que deu ao time de Jorge Vieira a casca necessária para se manter na briga pela conquista.

O jogo ríspido e a indisciplina por parte dos atletas na rodada de abertura — em especial a quase batalha campal observada no clássico entre América e Vasco — foram o assunto da semana seguinte. “Onda de violência ameaça o campeonato”, mancheteou o Jornal dos Sports na quarta, 3 de agosto. Sobre o caso, o presidente americano Waldyr Motta opinou que os árbitros deviam ser mais enérgicos, “mas com justiça, contra grandes e contra pequenos sem discriminações”, ressalvou. “Não se pode olhar com menos rigor os atos dos grandes”.

A segunda partida do América no campeonato seria contra o Olaria, na tarde de quinta-feira em Campos Sales, com o pontapé inicial marcado para as 15h15 — horário comum para jogos diurnos na época. Seria uma partida emblemática por mais de um motivo: além de ser a única do clube em seu estádio em toda a campanha de 1960, seria ainda a última do América em sua antiga casa na história dos Campeonatos Cariocas — ainda que não se tivesse consciência desse dado naquele momento. E a despedida veio com um resultado apertado.

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O Olaria tinha uma equipe bastante perigosa. Além de vencedora do Torneio Início, conforme já citado no texto anterior, a equipe bariri apresentava uma safra repleta de nomes que sairiam para fazer carreira em clubes importantes. O lateral-direito Murilo mais tarde se transferiria para o Flamengo (junto com o meia Nélson), onde seria titular por quase uma década. O zagueiro Haroldo defenderia o Santos. Os atacantes Jaburu e Da Silva seguiriam para Fluminense e Vasco, respectivamente. E o ponta Cané, ausente daquele jogo, iria para o Napoli.

Além disso, treinava aquele Olaria um homem que conhecia muito bem o América: Délio Neves, comandante rubro no vice-campeonato carioca de 1950 e também no certame de 1959. Ou seja, havia trabalhado com praticamente todos os jogadores daquela equipe americana, que acabaria levando a campo a mesma escalação da estreia contra o Vasco, depois que Amaro — cuja volta era esperada — voltou a sofrer distensão muscular na coxa. Menos mal que Calazans e Antoninho haviam se recuperado da gripe que quase os tirou do jogo contra o Vasco.

TIME GANHANDO, TORCIDA INSATISFEITA

Como era esperado, o América teve enormes dificuldades para dobrar os alvianis. Se a defesa se portou sempre muito bem e teve Jorge como o grande destaque, o meio-campo não conseguia criar e o ataque não demonstrava a rapidez, inteligência e precisão necessárias. Somente quando Jorge Vieira inverteu as posições de Wilson Santos e Leônidas — recuando o primeiro, com nítida falta de mobilidade, para a zaga e avançando o segundo para o meio-campo — o time ganhou mais desenvoltura ofensiva, favorecendo o futebol de Nilo, o melhor do ataque.

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Antes disso, porém, o Olaria já havia chegado com duas chances claras de abrir o placar nos pés de Jaburu. Numa, a bola foi para fora. Na outra, Ari teve de fazer uma defesa espetacular. Até que, aos 23 minutos, Nilo recebeu lançamento de João Carlos e, mesmo muito longe da área, resolveu arriscar um chute. O tiro seco, à meia altura, veio bem na direção de Antoninho, goleiro olariense, que chegou a defender, mas não conseguiu segurar. A bola escapou de seu controle e pingou mansamente até entrar na meta. Um frangaço que colocava o América na frente.

Não satisfeito, o Antoninho do Olaria voltaria a falhar quatro minutos depois, quando Calazans percebeu a falta de firmeza do arqueiro e também decidiu tentar um chute de longe. A bola veio alta e o goleiro tocou nela num primeiro momento, mas não o suficiente para agarrar. Veio então um defensor do Olaria, que afastou a jogada em cima da linha, mas entregou nos pés do outro Antoninho, o do América, que não perdoou e fuzilou para as redes. Aparentemente, o placar de 2 a 0 obtido dessa maneira faria o América crescer no jogo e abateria o Olaria.

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Não foi, entretanto, o que se viu em campo. Reanimada por Délio Neves, a equipe da Leopoldina continuou melhor e ameaçou por várias vezes a meta defendida por Ari. Até descontar com um chute malicioso do ponta-direita Válter, aos 22 minutos do segundo tempo. Só aí então Jorge Vieira fez a troca de posições já mencionada, que valeu por conter a reação olariense e colocar o América enfim no comando das ações da partida. Mas não impediu que, ao fim da partida, o time deixasse o gramado sob vaias de sua torcida, apesar da vitória garantida.

O atacante Antoninho, que viveu um dia bastante intenso, foi o principal alvo das vaias, mesmo tendo marcado o gol que, no fim das contas, valeu o resultado favorável. No vestiário, chegou a chorar. Horas antes do jogo, ele havia sido indiciado pelo auditor do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) por tentativa de agressão na partida contra o Vasco. Seu julgamento — juntamente com o meia cruzmaltino Écio, denunciado por agressão — seria no dia seguinte. Outros jogadores americanos também se manifestaram em tom de desabafo após o jogo com o Olaria.

“Eu tenho família, sou um profissional cumpridor dos meus deveres e jogo duro para ganhar a partida. Não posso é dar beijos no ponta-esquerda”, exasperou-se Jorge em declaração publicada pelo Jornal dos Sports. “Suamos, ganhamos e ainda reclamam”, protestou Calazans à Última Hora. Entre as cicatrizes da batalha, Leônidas e Jorge deixaram o jogo com entorses no joelho direito e no tornozelo direito, respectivamente. Havia a expectativa de que a troca de posição entre Wilson Santos e Leônidas feita durante o jogo por Jorge Vieira fosse efetivada.

PERDENDO LEÔNIDAS

O Bonsucesso seria o terceiro adversário do América em jogo disputado no estádio rubroanil de Teixeira de Castro na tarde de domingo, 7 de agosto, num fim de semana em que o futebol teve de dividir o destaque nas páginas esportivas dos jornais com o Grande Prêmio Brasil de turfe. O time rubro teve de ser alterado pela primeira vez no campeonato: a entorse no joelho direito de Leônidas se agravou, e o zagueiro teve de ceder seu lugar no time a Décio — o que também acabou inviabilizando a troca de posição com Wilson Santos pretendida por Jorge Vieira.

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No sábado, Décio havia sido muito elogiado entre os dirigentes por um gesto nobre: devolveu ao funcionário da tesouraria uma quantia a mais — Cr$ 1.500 — que havia sido inadvertidamente incluída em seu pagamento do mês. Por falar em valores, Antoninho se livrou de uma suspensão em seu julgamento por tentativa de agressão, mas acabou multado em Cr$ 1.000. Página virada, ele estaria pronto para comandar o ataque americano contra o Bonsucesso. E teria participação muito importante na terceira vitória rubra, diante do time comandado por Gradim.

Mesmo atuando na casa do adversário, o América fez prevalecer sua maior qualidade técnica diante de um time rubroanil muito forte fisicamente, mas de futebol nitidamente inferior. Porém, não foi um jogo fácil. O América abriu o placar aos dez minutos quando Antoninho chutou forte e o goleiro Jorge deu rebote para Quarentinha aproveitar. Mas a vantagem ruiu dois minutos depois, quando Ari tentou espalmar um chute para escanteio, mas a bola acertou a trave e sobrou para Artoff, o experiente goleador rubroanil, que tocou para empatar.

O domínio do América era evidente, mas o ataque demonstrava preciosismo nas finalizações. Daí o primeiro tempo ter se encerrado com o placar de 1 a 1. Mas na etapa final, o desempate veio logo aos 14 minutos, outra vez com Antoninho servindo Quarentinha, que fuzilou o goleiro Jorge. E o mesmo Antoninho faria o terceiro, num lance de esperteza aos 40 minutos: o lateral rubroanil Bibi tentou proteger a bola para a saída de seu goleiro, mas não percebeu a chegada do atacante rubro, que se intrometeu na jogada e encobriu o arqueiro com um leve toque.

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O Jornal dos Sports não poupou elogios ao time na crônica do jogo. Além de destacar que a vitória havia sido obtida na casa do adversário, “que vem ainda mais valorizar a conquista do time rubro”, arrematou a análise da partida afirmando que “o trabalho de Jorge Vieira está começando a aparecer, não tenham dúvidas”. Já a Última Hora exaltava a ótima atuação de Quarentinha, autor de dois gols e o destaque da partida na opinião do jornal: “Está jogando uma enormidade”. Sua dupla com Antoninho, que decidiria muitos jogos, começava a dar liga.

Descontração: jogadores jogam totó na concentração do América

Na semana seguinte, nem tudo seria boa notícia. O exame de Leônidas constatou uma possível fratura no menisco do joelho direito e ele precisaria encarar uma cirurgia, desfalcando o time por dois meses. Com isso, Décio era mantido na quarta-zaga para o jogo contra o Fluminense. Por outro lado, quem enfim se apresentava em condições de atuar era o atacante baiano Fontoura, retornando aos treinos após um imbróglio que o fizera voltar a Salvador. Na sexta à noite, um show de Oscarito (torcedor Americano) e Grande Otelo animou a concentração.

ENCARANDO O FAVORITO

Se havia um favorito ao título carioca de 1960, este era o Fluminense. Detentor do título do ano anterior, conquistado com uma rodada de antecedência, iniciou a temporada vencendo também o Torneio Rio-São Paulo com excelente campanha, que incluía uma goleada de 7 a 2 sobre o São Paulo. Com o time mantido para tentar o bi do Rio, os tricolores esbanjavam confiança em seu forte sistema defensivo: “Para chegar ao meu gol, Quarentinha terá de suar muito”, declarou o goleiro Castilho ao jornal Última Hora antes do jogo com o América.

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No domingo, o clássico se mostrou bastante equilibrado, com um time melhor em cada tempo. A primeira etapa foi do Fluminense, que marcou seu gol com Escurinho, depois que Waldo e Maurinho vieram tabelando desde a intermediária. O ponta-esquerda tricolor recebeu passe de calcanhar do centroavante e chutou forte para vencer Ari, enquanto Décio, na zaga do América, apenas assistia. Minutos depois, Waldo ainda perdeu gol feito depois de driblar Ari, num lance em que Djalma apareceu antes para aliviar para escanteio.

Como castigo, aos 37 minutos veio o empate do América, numa bola que o zagueiro tricolor Pinheiro rebateu de cabeça para o meio da área e João Carlos chegou chutando com raiva. A bola ainda acertou o travessão e quicou dentro do gol. Na etapa final, o América cresceu muito em virtude de ganhar o duelo do meio-campo, com a dupla Wilson Santos e João Carlos superando Edmílson (este, em especial) e Paulinho. O time rubro criou ótimas chances, mas seus atacantes demonstraram afobação, impedindo novas mudanças no placar.

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E houve ainda um lance discutível: João Carlos recebeu passe de Nilo e chutou de longe. A bola carimbou o travessão e voltou para a pequena área, onde se formou uma confusão. No meio do lance, o zagueiro tricolor Clóvis tocou com a mão na bola, mas o árbitro Alberto da Gama Malcher não viu, e o jogo seguiu para terminar mesmo empatado em 1 a 1. Num jogo entre dois times que arriscaram pouco, Mario Filho comentou no Jornal dos Sports que o América esteve mais perto da vitória, mas não soube aproveitar seu momento de domínio.

O empate manteve as duas equipes juntas na ponta da tabela depois que, na noite de sábado, o Flamengo parou no 1 a 1 com o Madureira no Maracanã. Quem decepcionava era o Vasco, que parecia já ter ficado pelo caminho ao cair de maneira surpreendente diante do Canto do Rio por 2 a 1 em Caio Martins. O Botafogo, por sua vez, sofrera para bater o Olaria por 4 a 3 em Laranjeiras, mas ainda seguia os ponteiros de perto. Já o Bangu vinha embalado depois de vencer com facilidade o Bonsucesso por 3 a 0. E seria o próximo adversário americano.

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O jogo contra os alvirrubros — que duas semanas antes haviam vencido o Torneio de Nova York — era tido como um ótimo teste para o time do América. Uma vitória poderia fazer com que os torcedores deixassem a desconfiança de lado e passassem a acreditar na capacidade da equipe conquistar o título. Na avaliação da Última Hora, o América contava com uma defesa “sólida, dura, viril e até certo ponto violenta” e um meio-campo “perfeito”, mas um ataque ainda “indeciso”, pecando nas finalizações, o que levava a vitórias apertadas.

NA CONTA DO AZAR

Irmão de Calazans, do América, Zózimo marcou o gol do Bangu, na única derrota rubra

Na sexta-feira, a dois dias do jogo, o goleiro Ari se desentendeu com Jorge Vieira e foi barrado, entrando Pompéia no gol. Assim como contra o Fluminense, o clássico foi equilibrado, com cada time dominando um tempo. No primeiro, o Bangu foi melhor e marcou seu gol aos 17 minutos em jogada confusa. Primeiro, Zózimo se livrou de Djalma e bateu para o gol, mas Jorge apareceu para salvar. A bola então voltou ao banguense Beto, que alçou para a área, no meio do tumulto. Quando ela já tomava o caminho das redes, bateu nas costas de Zózimo e entrou.

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Na etapa final, o América amassou o Bangu, que só se defendeu. Mas a má pontaria dos atacantes rubros e a atuação excepcional de Ubirajara na meta banguense impediram o empate. E assim caiu o invicto. Jorge Vieira não se deixou abater, afirmando que, embora derrotado, o time não perdera seu valor nem sua chance. “Continuo esperando muito do América neste campeonato”, ressaltou. E creditou o resultado à atuação crucial do goleiro adversário: “Ubirajara pegou uma barbaridade. Mas, além disso, em muitos lances foi favorecido pela sorte”.

Assim como escrevera após a partida contra o Fluminense, Mario Filho mais uma vez considerou o América melhor diante do Bangu. Depois de afirmar em sua crônica que o jejum enfrentado pelos dois clubes (e que aumentava a cada ano) tendia a tornar exageradas as dimensões de eventuais tropeços, ele elogiou a postura americana em campo: “Daí a importância da luta sem tréguas que o América travou, não desanimando nem diante da pouca sorte. É um team que quer se firmar. Que parece sentir-se capaz de grandes feitos”, prenunciou.

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Continuidade do lance que resultou no gol de Zózimo

A derrota fez o América descer da liderança (ao lado do Fluminense) para a terceira posição, ao ser ultrapassado pelo Flamengo, que bateu o Olaria na Gávea por 1 a 0, mesmo placar da vitória tricolor sobre o São Cristóvão em São Januário. Junto com os rubros em terceiro vinha o Botafogo, que derrotou o Canto do Rio por 2 a 0 no Maracanã. Um ponto atrás vinha o Vasco, que vencera o Madureira de virada por 4 a 2 em Conselheiro Galvão. Mesmo com a vitória, o Bangu vinha apenas em sexto, já que tropeçara jogando com reservas no início do certame.

No meio da semana, o América viajou a Campos para enfrentar o Goytacaz num amistoso que marcava a inauguração de melhorias no Estádio Ary de Oliveira e Souza. O jogo realizado na noite de quarta-feira, 24 de agosto, terminou com vitória rubra por 3 a 1, gols de Jaílton, Antoninho e Nilo, com Jorge Daniel marcando para os azuis. Na volta, era confirmada uma distensão muscular sofrida por Décio, que se tornava desfalque para o jogo do fim de semana contra o São Cristóvão. Em seu lugar, o recuperado Amaro finalmente estrearia no campeonato.

VIDA DURA NO ALÇAPÃO

A entrada do médio no time fazia com que Wilson Santos fosse recuado para a zaga ao lado de Djalma. Assim, na tarde de sábado em Figueira de Melo, Jorge Vieira escalaria pela primeira vez no campeonato os dez jogadores de linha que ficariam eternizados como os titulares daquela campanha. No entanto, esse conjunto não teria uma estreia fácil: o campo pequeno e o gramado irregular do estádio do São Cristóvão somados à péssima arbitragem de Wilson Lopes de Souza dificultaram enormemente a atuação rubra, na vitória apertada por 2 a 1.

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O América começou pressionando com o apoio constante dos laterais Jorge e Ivan. Porém, o jogo de bolas alçadas sobre a área adversária não funcionava, já que o São Cristóvão tinha zagueiros altos. Calazans também desperdiçou uma boa chance ao girar na área e chutar por cima. Outro fator que prejudicava a fluência do jogo rubro era a falta de ritmo de Amaro, que errava em jogadas simples. Com isso, aos poucos o time cadete foi ganhando confiança e, já na reta final do primeiro tempo, estava melhor em campo que os americanos.

Premiando sua melhor atuação, os donos da casa saíram na frente logo aos três minutos da etapa final: o ponteiro Olivar bateu falta para a área, Pompéia saiu mal e Russo cabeceou. Ivan tentou afastar, mas a bola bateu em seu pé e entrou. O São Cristóvão, porém, recuou demais logo após abrir o placar e começou a chamar o América para o seu campo. Até que o empate chegou aos 20 minutos, em outro gol contra. Calazans cobrou escanteio e Antoninho passou a Nilo, que bateu forte. A bola resvalou em Azeitona e saiu do alcance do goleiro Pichau.

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O jogo, que já era truncado e faltoso, esquentou de vez depois do primeiro gol americano. Um entrevero entre Calazans e o zagueiro Medeiros logo após o lance levou ambos a serem expulsos pelo árbitro. E aos 26, o atacante cadete Expedito fez falta violenta em Jorge e teve o mesmo destino. Com um jogador a mais, o América acabou chegando enfim à virada aos 32 minutos, mas num lance um tanto fortuito: um cruzamento rasteiro de Antoninho que sairia pela linha de fundo bateu nas pernas do zagueiro Osmindo e tomou o caminho das redes.

Após a partida, as reclamações quanto à arbitragem eram frequentes em ambos os vestiários. Mas do lado do América, havia também a felicidade de ter enfim contado com a sorte depois da partida um tanto azarada diante do Bangu. Além disso, vitória era muito bem-vinda por manter o aproveitamento perfeito nos confrontos contra os pequenos, algo considerado uma regra de ouro no clube com vistas ao título. Com a vitória, o América chegava aos nove pontos e seguia na perseguição ao Flamengo (com 10) e ao Fluminense (líder com 11).

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O adversário seguinte seria a surpreendente Portuguesa, que vencera o Bangu por 2 a 0 dentro de Moça Bonita e ultrapassara os alvirrubros na tabela, pulando para a sexta colocação. Mas este e os demais jogos de outubro — as cinco últimas partidas do primeiro turno do campeonato, incluindo os clássicos contra Botafogo e Flamengo — serão contados em detalhes no próximo capítulo da saga rubra rumo ao seu sétimo título carioca.

*Emmanuel do Valle é jornalista e pesquisador da história do futebol brasileiro e internacional.

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