Na noite brilhante dos goleiros, prevaleceu Subasic, que levou a Croácia às quartas da Copa

Luiz Henrique Zart
Popytka
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11 min readJul 1, 2018
O camisa 23 da Croácia brilhou na noite

Dez minutos do segundo tempo da prorrogação. Luka Modric, uma das referências técnicas do elenco croata, tinha um pênalti à disposição. Da marca da cal, respirou fundo, secou o rosto, foi para a bola e bateu mal. Kasper Schmeichel acertou o canto e caiu para ficar com a redonda. Poderia ter sido o desfecho negativo aos croatas. Mas o roteiro do jogo reservava outras surpresas. Antes do camisa 10 bater sua penalidade, houve o tempo normal: Mathias Jorgensen abriu o placar para a Dinamarca depois da primeira volta do ponteiro do relógio e, em três minutos, veio a resposta e o empate croata, com Mario Mandzukic. Então, o jogo eletrizante ficou equilibrado, muito travado. Foi levado em banho-maria e se arrastou em Nizhny Novgorod. Nem merecia a prorrogação, tão baixo era o ritmo. E se Modric desperdiçou a chance de ser o salvador no tempo extra, nas cobranças de pênaltis o goleiro dinamarquês Schmeichel pegou mais duas, e só não foi melhor que o vatreni Danijel Subasic, impedindo três tentos. Então, o caminho ficou aberto para que Ivan Rakitic convertesse a bola da classificação croata — com mais trabalho do que se esperava — às quartas de final, contra a Rússia.

A Dinamarca atuou com as armas que tinha. Já na primeira fase demonstrava pouca produtividade ofensiva, e a defesa, ainda que organizada, não bastaria em um cenário diante de uma equipe mais forte. A campanha não é decepcionante, mas as esperanças depositadas em Eriksen dão a entender que até dava para sonhar. O problema era o adversário. A Croácia tem um time que tem categoria de sobra no setor de meio, com jogadores com experiência e poder de decisão tanto na defesa quanto no ataque. Assim segue e, diante dos anfitriões, precisa jogar mais para não passar sufoco — como hoje — ou ser surpreendida como a Espanha.

Os times

A última partida da fase de grupos foi, para a Croácia, um momento de descanso. O técnico Zlatko Dalic poupou a maioria dos seus jogadores contra os Islandeses, já classificado às oitavas. No mata-mata, mandou a campo o que tinha de melhor. Danijel Subasic retomou seu espaço no gol, com Dejan Lovren e Domagoj Vida no miolo e Ivan Strinic e Sime Versaljko pelas laterais.

Ivan Rakitic e Marcelo Brozovic apareciam mais atrás no meio de campo, com o primeiro com mais capacidade de saída de bola, enquanto o segundo ficava mais preso à marcação. Pelas pontas, o comandante apostava nas subidas de Ante Rebic e Ivan Perisic. Centralizado na criação, Luka Modric era a arma para quebrar a linha de marcação que a Dinamarca provavelmente colocaria à sua frente — especialmente à atuação de gala diante da Argentina. No comando de ataque, apenas Mario Mandzukic.

A Dinamarca, por sua vez, após fazer uma primeira fase bem morna, na última rodada protagonizou um jogo de poucas alternativas com a França. Para as oitavas, tinha em Kasper Schmeichel um bom goleiro. Andreas Christensen, zagueiro de origem, foi adiantado ao meio de campo, com Mathias Jorgensen ocupando sua vaga atrás e Simon Kjaer mantido pelo meio da defesa. Na esquerda, Jonas Knudsen aparecia entre os titulares, substituindo Jens Stryger Larsen.

Além do camisa 6 adiantado como volante, Thomas Delaney, com força física, dava mais liberdade à flutuação de Christian Eriksen pelos setores ofensivos do último terço do campo. Na frente, Martin Braithwaite e Yussuf Yurary Poulsen apareciam pelas pontas com Andreas Cornelius de centroavante.

O campinho de Croácia x Dinamarca (Fifa.com)

O jogo

Foi o tempo de o ponteiro dar uma volta no relógio e o placar já estava inaugurado. A Dinamarca se lançou ao ataque depois da saída de bola e, com a pressão, conseguiu um lateral. Knudsen cobrou direto para a área e no bate-rebate, Mathias Jorgensen ficou com a bola. Ele chutou sem força, mas tinha tantas pernas na frente que o goleiro Subasic não defendeu. A bola veio mansinha e bateu na perna do arqueiro antes de entrar devagarinho no gol.

Um minuto foi o suficiente para que a Dinamarca abrisse o placar em confusão na área (Getty Images)

A resposta foi praticamente imediata. Veio três minutos depois. A jogada nasceu pela direita, com Vrsaljko avançando a linha de fundo e mandando para dentro da área. Dalsgaard tentou afastar, mas rebateu mal, chutando no rosto de Knudsen. A bola voltou nos pés de Mandzukic, na risca da pequena área, e o atacante não perdoou: Bateu de perna direita para vencer o estático Schmeichel. A partida estava empatada.

Mario Mandzukic estava na hora certa no lugar certo: arrematou e encontrou a rede (Getty Images)

Depois do começo elétrico, o jogo entrou num ritmo mais cadenciado. A Croácia tinha mais a bola e se apresentava com mais qualidade à frente, deixando sempre o princípio das jogadas nos pés de Luka Modric. Enquanto isso, os dinamarqueses marcavam forte e se fechavam na defesa, afastando as bolas lançadas na área. Isso porque a Croácia também tinha as subidas dos laterais Vrsaljko e Strinic, com Rebic e Perisic nas pontas, procurando o jogo. Assim, as bolas paradas eram uma boa alternativa.

Se o domínio era completo dos Croatas, a Dinamarca ameaçava em chegadas esporádicas, como foi com Braithwaite, lançado por Eriksen ao ataque em boas condições, para bater em cima de Subasic, que fechou bem o ângulo. Mas os Vatreni apertavam mais: Primeiro, Perisic teve uma falta frontal para cobrar, mas mandou em cima da barreira. Depois, Rakitic arriscou o arremate de longe e Schmeichel caiu bem para espalmar em uma grande defesa, dando rebote a Strinic. O lateral fez boa jogada pela esquerda e bateu novamente em cima do arqueiro dinamarquês. Na sobra, Rakitic encontrou Perisic, mas o ponta mandou por cima do gol.

Outra chance perigosa dos comandados de Zlatko Dalic veio em uma falta pelo lado esquerdo, perto da área. Modric mandou para o meio da bagunça, Lovren se antecipou e subiu mais que a marcação para fazer o desvio. A bola passou à esquerda de Schmeichel, muito perto da trave. Depois, Rakitic também apareceu bem posicionado: recebeu passe pela esquerda e, já dentro da área, bateu de primeira, sem tanta força. Schmeichel caiu para segurar.

Por sua vez, a oportunidade mais clara de a Dinamarca tomar a frente no placar veio aos 41 minutos, com Eriksen. O camisa 10 recebeu no bico da área e arriscou de chapa — não dá pra saber se foi um chute ou um cruzamento, mas a bola triscou a trave, com Subasic já batido. A dependência do camisa 10 era visível diante do domínio croata.

O segundo tempo

Na segunda etapa, se confirmou, ao menos no início, a queda de rendimento das equipes. Foram os cinco primeiros minutos alucinantes no primeiro tempo, e depois ninguém mais queria tanto jogo. A Croácia era passiva, enquanto a Dinamarca estava muito satisfeita com o empate, resistindo e dificultando o jogo, com poucos recursos à frente.

Então, Age Hareide fez duas trocas em momentos distintos. Tirou Christensen e Cornelius, e mandou a campo Lasse Schöne, mais ofensivo e bom nas bolas paradas, além de Jorgensen, que antes ocupava a vaga de centroavante titular. Assim, a Dinamarca se formava em um 4–3–3. Dalic também tentou mudar o panorama da partida, mandando a campo Mateo Kovacic na vaga de Marcelo Brozovic. Com isso, os croatas teriam mais qualidade na criação e apoio a Modric e Rakitic pelo meio.

O jogo, no entanto, era amarrado. Depois da meia hora de partida, os Vatreni chegaram, de uma maneira um tanto descoordenada. Primeiro, em uma série de bolas rebatidas pela defesa, Modric pegou a sobra e arriscou de primeira, de longe, mandando para fora. Pouco tempo depois, foi a vez de Rebic cortar para o meio e bater no centro do gol, com Schmeichel encaixando. Mas os cinco minutos iniciais pareciam cada vez mais distantes.

Aos 40, finalmente, as seleções decidiram tentar alguma coisa, mais à base do abafa e das jogadas individuais. Do lado croata, Perisic dançou para cima do defensor e deixou a marcação no chão. Tentou o cruzamento para a área e ninguém conseguiu bater para o gol com firmeza; e Rakitic bateu de longe, e a redonda passou perto da trave. Já os dinamarqueses fizeram algo dos pés de Schöne, que bateu de fora, à direita do gol. Mas o jogo seguia sonolento… E foi para a prorrogação. Jogo fraco, bem fraco, em que ninguém se destacou a ponto de merecer a vitória.

A prorrogação

E foi a primeira prorrogação na história das duas seleções em Copas do Mundo. Haviam duas impressões na prorrogação. Os técnicos tentavam fazer algo enchendo suas escalações de atacantes. Na Croácia, Andrej Kramaric substituiu Perisic e foi para a área. No campo dinamarquês, Delaney, volante, saiu para a vinda de Michael Krohn-Dehli. Dos primeiros quinze minutos, uma chance para cada lado: Shöne tentou mais uma de longe, de novo para fora. Enquanto Modric fez o lançamento para Kramaric pela esquerda. Ele tentou o cruzamento e o desvio da zaga quase encobriu Schmeichel.

Na segunda etapa, o técnico Age Hareide colocou Pione Sisto em campo, para arriscar a velocidade. Ele até tentou: caiu pela esquerda, girou e tirou Lovren e Vrsaljko da marcação e bateu forte, mandando à esquerda do gol. Mas quem apareceu para decidir foi Modric. Em um dos poucos lampejos do jogo, o camisa 10 deu um lançamento perfeito para Rebic. Na velocidade, ele driblou Schmeichel e foi derrubado por Jorgensen, como último recurso. Na cobrança, era a chance de Modric aparecer de novo, mas ele bateu mal, nem no meio, nem no canto: Schmeichel caiu para abraçar a bola. Ele pegou um penal para levar sua seleção à série de cobranças decisivas.

Kasper Schmeichel impediu a classificação da Croácia — ao menos antes das cobranças de pênalti (Getty Images)

Os pênaltis

Christian Eriksen foi para a primeira cobrança, bateu firme e rasteiro, mas parou na defesaça de Subasic. Poderia começar atrás, mas Peter Schmeichel defendeu a cobrança de Milan Badelj. O jogo seguia tenso. Zerado. Até que Kjaer mandou uma sapatada na gaveta, sem chances para Subasic. 1 a 0 Dinamarca. O croata Kramaric foi o próximo, de perna direita, apenas deslocando Schmeichel para mandar para as redes e empatar: 1 a 1.

O próximo da fila, o dinamarquês Krohn-Dehli, bateu de pé direito no cantinho, com o goleiro caindo para o outro lado: 2 a 1 Dinamarca. A terceira cobrança da Croácia ficava com Modric, em busca da redenção. Depois de perder na prorrogação, ele bateu no meio e Schmeichel passou com os pés a centímetros da bola: 2 a 2.

Lasse Schöne teve responsabilidade pela cobrança seguinte, mas Subasic voou para defender a segunda cobrança, se adiantando. A Croácia partiu para o quarto pênalti com Pivaric para assegurar a vantagem. De perna esquerda ele perdeu. Schmeichel negou a bola nas redes. E tudo seguia igual ainda, 2 a 2. Na quinta cobrança, Jorgensen bateu no meio e Subasic defendeu com os pés. Então, enfim, a Croácia teria a chance de decidir com Ivan Rakitic. O meia do Barcelona mandou no canto oposto de Schmeichel, rasteirinho, e classificou a Croácia às quartas com muito sofrimento.

O camisa 7 foi o responsável por colocar a última cobrança no fundo do gol dinamarquês (Getty Images)

O cara da partida

Danijel Subasic. Pouco teve o que fazer quando a bola de Jorgensen veio em sua direção. Havia um sem-número de pernas à frente bloqueando sua visão do lance. No restante da partida, não comprometeu. E quando o guarda-redes do outro lado do campo parecia requerer o protagonismo para si, tirou três bolas do destino da rede e foi providencial, em uma atuação iluminada sob as traves, para fazer seu país seguir adiante na Copa.

Subasic marcou seu nome na história do futebol croata, levando o time às quartas da Copa (Getty Images)

O caminho das seleções: a queda e o próximo passo

Croácia

Com um time de muita técnica, a Croácia era bem cotada no Grupo D. A principal adversária, a tradicional Argentina, vinha de uma desordem administrativa e futebolística que gerou uma crise transportada à Copa. Assim, os vatreni asseguraram o primeiro posto. A primeira partida, porém, não inspirou tanta confiança. Contra a Nigéria, o time se apresentou em marcha lenta. Saiu com a vitória por 2 a 0 também pela incapacidade de o adversário oferecer perigo. Já na segunda partida pareceu trazer a campo tudo que havia poupado: deu um baile na Argentina, regido pela dupla Rakitic-Modric. Já classificada, garantiu uma das melhores campanhas de toda a primeira etapa da Copa ao bater e mandar a Islândia para casa, alcançando os nove pontos e o 100% de aproveitamento.

Dinamarca

Olhando para o grupo C, a primeira fase da Dinamarca aparentava ter duas seleções com mais capacidade de desafiar os nórdicos: a França tinha clara vantagem, tanto pelas boas campanhas, com o vice-campeonato da Eurocopa em 2016 quanto nas Eliminatórias para a Copa, com uma geração promissora. Já o Peru, com o ímpeto trazido pelo retorno ao mundial depois de quase quatro décadas, poderia ameaçar. E a Austrália corria por fora. E os três primeiros jogos dinamarqueses na Rússia tiveram atuações diferentes. Na estreia contra o Peru, o gol de Poulsen deu a vitória, mas não escondeu um jogo de várias falhas. Do lado sul-americano, Cueva ainda desperdiçou um pênalti e os europeus saíram com os três pontos. Na segunda rodada, a adversária era a Austrália. E os Socceroos tiveram mais atitude, impuseram dificuldades, mas pararam nas luvas de Schmeichel no fim da partida. A terceira rodada, sim, reservou um jogo para se esquecer, tanto aos alvirrubros quanto à França. O ritmo foi baixíssimo e o 0 a 0 foi mesmo o resultado mais justo.

O embate

No duelo das oitavas, a primeira intenção da Dinamarca era se fechar. Reconhecendo suas limitações técnicas diante de uma Croácia de jogadores reconhecidos em grandes clubes da Europa, foi valente atrás e ofereceu algum perigo quando avançou. Já do lado da Croácia, a partida eliminatória mostraria se o time capitaneado por Modric e Rakitic conseguiria propor o jogo, o que aconteceu em raros momentos. Colocada em outra posição após a derrota imposta à Argentina, não engrenou hoje. O jogo morno até poderia ter tido um final feliz (antecipado), mas Schmeichel negou este deleite ao camisa 10 dos selecionados de Zlatko Dalic. Tentaria se colocar no caminho adversário mais uma vez, mas Subasic pegou uma cobrança de pênalti a mais e fez a Croácia deixar os comandados de Age Hareide para trás.

Desapontamento: não foi desta vez para a Dinamarca, nem com Eriksen como cérebro (Getty Images)

Como fica o chaveamento

Mais um jogo das quartas definido: A Croácia encara a Rússia (Fifa.com)

Ficha técnica

Croácia 1 (3) x (2) 1 Dinamarca

Local: Estádio Nizhny Novgorod, em Nizhny Novgorod
Árbitro: Nestor Pitana (Argentina)
Gols: Mathias Jorgensen (DIN); Mario Mandzukic (CRO)
Cartões amarelos: Mathias Jorgensen (DIN)

Croácia: Danijel Subasic; Sime Vrsaljko, Dejan Lovren, Domagoj Vida e Ivan Strinic (Josip Pivaric); Marcelo Brozovic (Mateo Kovacic), Ivan Rakitic e Luka Modric; Ante Rebic, Ivan Perisic (Andrej Kramaric) e Mario Mandzukic (Milan Badelj). Técnico: Zlatko Dalic

Dinamarca: Kasper Schmeichel; Henrik Dalsgaard, Simon Kjaer, Mathias Jorgensen e Jonas Knudsen; Thomas Delaney (Michael Krohn-Dehli), Andreas Christensen (Lasse Schöne) e Christian Eriksen; Yussuf Poulsen, Martin Braithwaite (Pione Sisto) e Andreas Cornelius (Nicolai Jorgensen). Técnico: Aage Hareide.

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