Como empreendedores podem extrair ao máximo o valor de ecossistemas?

Filipi Tieppo Barbaro
Center for Design Acceleration
6 min readSep 9, 2020

Um texto que busca estabelecer vias onde o empreendedor pode adquirir mais valor para seu empreendimento e aumentar o resultado daquele cafézinho.

Photo by Caleb Jones on Unplash

Pode parecer estranho iniciar um texto em pleno 2020 falando sobre aproveitar ao máximo algo que era muito mais viável quando o “estar presente” era mais tranquilo do que atual cenário em que vivemos (caso você esteja lendo esse texto em 2080 ou para frente saiba que passamos por alguns perrengues em 2020), mas a intenção aqui é mostrar os mecanismos existentes no ecossistema brasileiro e como elas podem te ajudar a conduzir seu negócio ao sucesso.

Já falamos em outras oportunidades sobre o relacionamento com fundos VC, também já discutimos sobre quais são as boas práticas que um VC adota para avaliar uma startup. Além de mostrar como chegar ao product market fit, como calcular valuation, como fazer um pitch sem viajar em grandes projeções e para aqueles que não querem se aventurar na onda do VC, sobre a importância dos camelos. Ah! E se você for um empreendedor que ainda está bem no comecinho da sua jornada, aconselhamos ler dois textos, que falam um pouco sobre o processo de customer discovery e a questão da jornada do seu futuro cliente.

Enfim, criamos nesses últimos meses uma série de conteúdos bem bacanas para que você, empreendedor não sofra tanto na maratona que é a vida de empreender. No entanto, algo ainda falta falar.

Muita gente tem abordado a gente no CDA. E a gente fala repetidas vezes que o dinheiro não é o principal do desenvolvimento de startups e etc. MAS…

Como ainda vemos muita gente perdida, vamos ajudar você a identificar algumas oportunidades. E aproveitamos para fazer um disclaimer: existe muito material na internet sobre isso, mas pouca gente consegue fazer uma análise “sem coração” para tomar a decisão mais adequada. Acredite, tem muita gente escolhendo investidor por nome ou por fama. Não é bem assim que a coisa funciona…

Se você chegou aqui porque não sabe por onde começar, esse texto é ideal para você. Se, por ventura, já tenha começado a fazer alguma captação e quiser conversar com a gente, agende seu papo aqui que vai ser um prazer te ajudar.

Vamos lá!

Tomando como base o estudo feito pela Endeavor (perdoe-nos por começar por gráficos, somos de exatas e curtimos muito esse trabalho do pessoal) podemos notar que a jornada empreendedora possui um grande ponto de quebra chamado “Product-Market fit”. E o que isso significa?

Imagem retirada de https://capital.endeavor.org.br/

Na prática, quase nada, mas ajuda bastante na questão de caminhos possíveis (essa frase é a mais polêmica do texto, mas não será aqui que debateremos o real significado do conceito de product-market fit).

Hoje no país temos uma série de iniciativas que ajudam os empreendedores no começo e aí é que o bicho pega. Num progresso de sair do cheque de amigos e familiares, alguns empreendedores se deparam com a indecisão: De quem pedir mais recursos ? Bancos, aceleradoras, anjos, crowdfunding, mais familiares ou quem? Para responder essa pergunta eu te faço outra pergunta: Quem te agrega mais valor?

Quando falamos em bancos, estamos falando em financiar operações corriqueiras, ajustes de caixa, operações com alta taxa de juros e condições que, às vezes, não são tão boas. Falar com o banco é bom, mas para um mundo de empreendedor onde o retorno é por vezes muito incerto, eles são a última fronteira, por N motivos. Busque por iniciativas do mercado tradicional para pequenos acertos e montantes pequenos de dinheiro.

Dentro do universo de construção de empreendimentos e validações, podemos notar uma série de iniciativas que podem auxiliar os empreendedores: investidores anjo, crowdfunding, aceleradoras diversas.

Começando pelas aceleradoras, nós gostaríamos de levantar um ponto que pouquíssimas pessoas falaram até hoje, apesar de ser algo muito claro na prática: Nenhuma aceleradora é igual a outra e todas possuem um direcionamento que é mais adequado a seu contexto. Por isso, escolher bem uma aceleradora passa necessariamente pela análise do tamanho do cheque, do percentual captado, mas também, no valor agregado que elas fornecem.

Em um artigo muito bacana, as(os) autoras(res) Shu Yang, Romi Kher e Thomas Lyons debatem como as aceleradoras podem atuar e quais são os tipos de resultados esperados para cada tipo de aceleradora, veja só:

Imagem retirada do artigo “Where Do Accelerators Fit in the Venture Creation Pipeline? Different Values Brought by Different Types of Accelerators” de Yang, Kher e Lyons.

Para os autores existem três tipos de atuação de aceleradoras: o “welfare stimulator” que são formadas por institutos de fomento público e procuram por empreendimentos mais incipientes. Aceleradoras universitárias (FGV Ventures, FIAP On), ou programas de desenvolvimento empreendedor aqui no Brasil (StartupSP do SEBRAE) fazem esse papel e buscam em sua maioria por empreendimentos nascentes ou com alguma ligação com a instituição patrocinadora (no caso das aceleradoras universitárias).
O segundo tipo é chamado de “Ecosystem Builders” geralmente formado por aceleradoras corporativas (VISA, A2G, Liga, entre outras) são aquelas que buscam levar inovação para dentro de grandes empresas. Elas buscam empreendimentos mais maduros e visam a geração de negócios para a empresa.
Já o terceiro tipo visa a formação de negócios (Deal-flow maker) atuando geralmente com startups mais avançadas dos outros dois tipos buscando retorno financeiro considerável ao investimento realizado (exemplos, WOW Aceleradora). Para o empreendedor, a escolha mais adequada significa a economia de esforços e recursos. Por isso, caso você, empreendedor, esteja procurando por aceleradoras, busque responder as seguintes perguntas:

  1. Qual tipo de empreendimento essa aceleradora busca? Eu estou no nível adequado para submeter minha startup?
  2. Qual valor, seja ele monetário ou não, eu posso adquirir ao entrar nessa aceleradora? O que eu busco com essa aceleradora?
  3. Quanto eu estou disposto a ceder da minha participação da empresa? Caso não haja venda de participação acionária, como eu fico atrelado a essa aceleradora?
  4. Há alguma outra forma de investimento que eu possa receber que valha mais a pena que uma aceleradora?

Uma outra forma de financiar sua startup é através de Investidores Anjos. Eles podem estar ligados a alguma instituição de ensino (FEA Angels, Poli Angels, GVAngels), a alguma instituição que trabalha especificamente com esse tipo de investimento (Anjos do Brasil, por exemplo) ou ainda algum fundo de investimento que trabalhe com investimento anjo (a Domo tem essa modalidade em seu portfólio). O Investidor-Anjo, assim como as outras formas de investimento de risco, busca te ajudar em diversos momentos da sua jornada, alguns anjos gostam de posicionar sua tese em investimentos mais maduros, previamente ao investimento seed, outros funcionam com uma atuação em empreendimentos mais incipientes, isto é, com cheques menores e desafios menores.

Uma terceira forma de auxílio aos empreendedores é através de financiamentos coletivos (ou crowdfunding em inglês). Fora do Brasil, esse tipo de financiamento é bastante utilizado para auxiliar criadores de conteúdos de entretenimento a lançar seus projetos, desde álbuns de música, documentários, jogos de tabuleiro e até para o lançamento de startups. É uma modalidade que começa a crescer no país por conta do valor de cheque aplicado por investidor ser inferior aos anjos e também contribuir para o desenvolvimento do empreendedorismo no país. Aqui no Brasil, a Captable faz um trabalho bem bacana com crowdfunding.

Para auxiliá-lo na escolha de qual melhor veículo para financiar sua startup , convém informar que adentrar nessa jornada de investimentos de risco é algo que precisa ser levado muito a sério, pois o dinheiro que você recebe é de alguém que espera que você tenha resultados, ter noção que você terá uma companhia te cobrando resultados é algo extremamente normal, mesmo que essa cobrança seja basicamente “como estão indo as coisas?”. Exige também uma atenção especial aos documentos exigidos e toda governança aplicada sob a startup. Lembre-se que você é dono da ideia e sua participação acionária é vital para a longevidade do seu negócio.

E se depois de todo esse texto você precisar de uma ajuda para saber onde ir, fale com a gente, teremos o prazer de ouvir sua história!!

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Filipi Tieppo Barbaro
Center for Design Acceleration

MSc Production Engineering — Open Innovation Enthusiastic. Startups and Entrepreneurship Advisor.