Outubro de 1960: um mês da aplicação ao dever de casa

Museu da Memória Americana
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15 min readFeb 16, 2021
Goleada de 4 a 1 sobre o Olaria, em um mês em que o América fez 100% de aproveitamento

Emmanuel do Valle

Atenção, esse resgate é a quarta parte de uma série mensal começada aqui: Em julho de 60, América iniciava campanha rumo ao título da GB

O América havia terminado o primeiro turno na vice-liderança. Em seus 11 jogos, somou oito vitórias, dois empates e apenas uma derrota, perfazendo 18 pontos ganhos, dois a menos que o líder invicto Fluminense. Embora se colocasse como o terceiro mais positivo do certame, o ataque americano tinha desempenho modesto se comparado aos de Fluminense e Botafogo, os dois melhores: balançara as redes apenas 18 vezes, contra 31 dos tricolores e 28 dos alvinegros. Por outro lado, sofrera apenas sete gols, consolidando-se como a defesa menos vazada.

Agora, era o momento de confirmar o novo status alcançado. Colocá-lo à prova em um mês para o qual a tabela não previa duelos contra Botafogo, Flamengo, Fluminense ou Vasco.

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O maior goleador americano até aquele fim de turno era Quarentinha, com cinco gols. Ocupava a sétima colocação na lista de artilheiros, empatado com Maurinho (Fluminense), Pinga (Vasco) e Artoff (Bonsucesso), e bem distante do líder nesse quesito, o tricolor Waldo, que já anotara 12 gols, mais de um por partida. O desempenho ofensivo bastante inferior ao dos tricolores não deveria ser responsabilizado pelo América não alcançar a liderança (afinal, o time só passara em branco em um jogo, diante do Bangu), mas a pontaria sem dúvida poderia ser melhorada.

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E aquele início de returno indicaria um esforço nesse sentido. Na época, a tabela da metade final da competição era o que se chamava de “dirigida”, definida de acordo com as colocações dos clubes ao encerramento do primeiro turno, de modo a favorecer um confronto direto entre líder e vice-líder apenas na última rodada. Caso dois clubes terminassem empatados em pontos, um sorteio era realizado para definir que número simbolizariam na elaboração da lista de jogos. O América, número dois, estrearia contra a Portuguesa, sorteada com o oito.

A partida abriria a rodada na tarde de sábado, 9 de outubro, em São Januário. E os dias que a antecederam trouxeram ótimas notícias: após duas semanas de inatividade pela entorse no tornozelo direito, Antoninho voltara aos treinos e reagira bem, sentindo poucas dores. Outro que poderia retornar ao time era o zagueiro Leônidas, já refeito da cirurgia no joelho para a extração dos meniscos e que inclusive já havia atuado no time de aspirantes contra o Madureira. Também voltando de lesão no joelho, o atacante Fontoura era outro pronto para jogar.

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Dois dias antes do jogo, o Jornal dos Sports publicou reportagem de Lorem Falcão com elogios à equipe rubra intitulada “América esconde ambição e força na campanha da humildade”, na qual destacava o comando discreto de Jorge Vieira, o apoio de Álvaro Bragança ao trabalho do técnico, a união do elenco e a coesão da equipe técnica, reservando ainda palavras especiais ao meia João Carlos, pela qualidade técnica e liderança em campo, simbolizando um América que conhecia seu valor e não se intimidava por escritas ou pelo nome dos astros adversários.

Ainda segundo o texto, acima de tudo isso se colocava, entretanto, o discurso humilde do técnico e de seus comandados, sempre colocando o adversário como favorito. Era uma estratégia que se refletia no estilo de jogo da equipe em campo: “O América procura chamar o adversário para a sua meia-cancha e desferir estocadas fatais de contra-ataques, via de regra muito mais perigosos e positivos que o falso predomínio contrário”, escrevia o jornal. Havia ainda quem chamasse esse comportamento de covarde e defensivo. Mas era inegavelmente letal.

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Contra a Portuguesa, no entanto, o América sofreu para chegar à vitória, mesmo contando com o retorno de sua formação ideal, com Antoninho no ataque (Leônidas permaneceu no banco). No primeiro tempo, jogando contra o forte vento que soprava em São Januário, o time de Jorge Vieira não conseguiu abrir o placar deixando sua torcida nervosa, temendo um tropeço. Os rubro-verdes, que jogavam na base da bola longa, tentando pegar a defesa americana no contrapé, tiveram a chance mais clara: uma falta cobrada por Wellys acertou a quina da trave.

Na etapa final, agora atuando a favor do vento, o time conseguiu enfim furar a forte marcação adversária aos 17 minutos, depois que Nilo cruzou da esquerda, o goleiro Wagner não segurou e João Carlos chegou para tocar às redes. A vitória, no entanto, andou ameaçada e só foi garantida no último lance, quando Antoninho se antecipou ao lateral Tião e concluiu para o gol um novo centro de Nilo. O América ainda atuou durante todo o segundo tempo com Quarentinha em más condições físicas, por um pisão que levou no peito do pé pouco antes do intervalo.

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No dia seguinte, o atacante foi examinado pelos médicos do clube, Luciano de Oliveira e Álvaro Carrilho, e felizmente não foi constatado nada de grave, assim como no caso de Antoninho, que voltara a reclamar de dores no tornozelo direito. O que causava preocupação nos doutores naquele momento eram as altas temperaturas que vinham sendo registradas na cidade nos últimos dias. Para evitar os efeitos da insolação e da desidratação, Dr. Carrilho ministrava aos atletas dois comprimidos de cloreto de sódio nos intervalos das partidas diurnas.

Na quarta-feira, três dias antes do jogo com o Olaria, um jornal carioca publicou declarações atribuídas ao diretor de futebol americano Mário Pinto que davam a entender a existência de desavenças entre ele e o técnico Jorge Vieira. Segundo o jornal, o dirigente considerava o trabalho do treinador “sem importância” e que fundamental era mesmo “um bom preparo físico”, o que provocou espanto geral no clube. O suposto desentendimento foi prontamente desmentido pelo vice-presidente de futebol, Álvaro Bragança, que rebateu com veemência.

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“O América não está em crise e o treinador Jorge Vieira goza de todo o prestígio”, afirmou Bragança à coluna “Câmera”, do jornalista Luiz Bayer, no Jornal dos Sports. “Eu não sei o porquê de tudo isso numa hora em que o quadro do América está marchando com todo o brilho no campeonato. Deve ter outros propósitos que, estou seguro, não atingirão o objetivo. O América está coeso e firmemente decidido de cumprir a sua trajetória ao certame”, rechaçou o dirigente, enquanto Vieira se mostrava um tanto incrédulo e desorientado.

“Francamente, não sei o que dizer, não sei o que pensar, não sei se devo tomar atitudes, porque nem sei se isso é verdadeiro”, disse o treinador ao diário. “Que só mantenho entendimentos com Álvaro Bragança, é verdade. Mas simplesmente porque ele é o vice-presidente de futebol, sendo, portanto, o elemento responsável a quem os entendimentos devem ser endereçados. Isso não quer dizer que eu deixe de falar com os outros diretores. Pelo contrário, eu falo com todos eles, a não ser que algum pretenda influir na escalação do quadro”, explicou.

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O Olaria, adversário da segunda rodada do returno no dia 15 de outubro em São Januário, pagaria o pato pela tentativa de se criar um ambiente adverso em Campos Sales. O time bariri demitira o técnico Délio Neves após sofrer duas goleadas nos três jogos anteriores (4 a 1 para o Fluminense na penúltima rodada do turno e um arrasador 6 a 0 para o Botafogo na abertura do returno) e seria comandado de maneira interina pelo supervisor Jair Boaventura. Mas ainda tinha um time perigoso e que poderia entrar mordido pelos recentes maus resultados.

Vitória tranquila sobre o Olaria registrada nas páginas cor-de-rosa do Jornal dos Sports

A zebra, porém, passou longe de São Januário naquele dia: o América dominou inteiramente a partida e obteve uma de suas vitórias mais categóricas naquela campanha. Ao contrário de outras vezes, o destaque não foi a defesa e sim o ataque — ainda que frequentemente contando com o apoio de defensores, como Jorge. Como os ponteiros adversários atuavam recuados, tentando auxiliar o bloqueio no meio-campo, o lateral-direito americano nem precisava se preocupar em voltar para defender, permanecendo quase o jogo todo no campo de ataque.

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Mas o América atacava mais pelo lado esquerdo, e foi por lá que abriu a contagem logo aos cinco minutos, quando Antoninho recebeu passe de João Carlos e venceu seu homônimo na meta do Olaria. O segundo gol viria aos 18, desta vez com João Carlos sendo lançado por Quarentinha e avançando para ampliar o marcador. Depois disso, o time de Jorge Vieira ainda administrou a vantagem até o intervalo. Porém, na volta para a etapa final, o placar voltou a ser movimentado: Jorge, desmarcado, chutou de fora da área e fez o terceiro os cinco minutos.

Aos 15, um incidente forçou o América a jogar com um a menos e a reconfigurar seus defensores: numa subida ao ataque, Wlison Santos foi atingido pelo zagueiro Sérgio com uma cotovelada e perdeu três dentes e teve o lábio superior rasgado, precisando levar cinco pontos no local. Com isso, Calazans recuou para a lateral direita, enquanto Jorge passou para a zaga ao lado de Djalma. Diante disso, o Olaria ainda chegou a descontar numa cabeçada de Jaburu aos 33. Mas, a um minuto do fim, o beque Haroldo marcou contra, e o América chegou à goleada.

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A classificação nas principais posições não se alterou ao fim daquela rodada, mas dois resultados chamaram a atenção: o empate em 1 a 1 entre Botafogo e Bangu no Maracanã, fazendo com que o América abrisse mais um ponto de vantagem na segunda colocação sobre os alvinegros, e a vitória magra, chorada, de 1 a 0 do líder Fluminense sobre a Portuguesa em outra partida jogada em São Januário — principalmente diante do fato que os tricolores haviam balançado as redes 13 vezes nas últimas quatro partidas e pareciam ter deslanchado no certame.

A goleada sobre o Olaria serviu para afastar a conversa sobre crise interna no clube. O vice-presidente de futebol Álvaro Bragança voltou a negar qualquer rusga entre Jorge Vieira e Mário Pinto e lançou: “O América é vítima de inimigos invejosos”. O presidente Valdir Motta também declarou: “Parece estarem querendo trabalhar para um ‘terceiro’. Não sei quem é, e pelo amor de Deus não queiram interpretar mal as coisas. Mas que parece, parece”. O treinador, por sua vez, esquivava-se de comentar sobre intrigas entre dirigentes.

“Quando me perguntam algo sobre crise, eu respondo que da minha parte vai tudo bem, estou satisfeito. Não é da minha alçada saber o que os dirigentes pensam, nem falar sobre o que eles falam. Contra mim, nada existe. Contra os jogadores também. Que diabo de crise é essa?”, disse Jorge Vieira, encerrando a questão. Aquela semana, porém, não passaria sem problemas, ainda que de outra ordem: além de Wilson Santos, baixa confirmada contra o Bangu pelo corte no lábio que sofreu contra o Olaria, o América esteve perto de ficar sem seu outro zagueiro.

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No treino da quarta-feira, 19 de outubro, Djalma pisou num dos muitos buracos do gramado de Campos Sales e torceu o tornozelo, sendo substituído na atividade por Décio. Como não chegou a haver derrame no local, os médicos ficaram um pouco mais tranquilos em relação à escalação do titular. Já Wilson Santos, ainda com o rosto inchado, daria lugar a Leônidas, que se recuperara inteiramente da cirurgia para a extração dos meniscos e até chegara a atuar no time de aspirantes contra o Madureira, na última rodada do primeiro turno.

De qualquer modo, os dirigentes já começavam a se movimentar no sentido de procurar outro local para os treinamentos, visto que não era a primeira vez que o esburacado gramado de Campos Sales — considerado péssimo pelos próprios atletas — provocava lesões (algumas com gravidade). Outra mudança quanto à preparação, devido à forte onda de calor que assolou a cidade naqueles dias, foi a substituição das sessões de sauna pelas de ducha escocesa, realizadas no Hospital da Ordem do Carmo, na Rua Riachuelo, centro do Rio.

A recuperação de Djalma foi rápida e ele teve sua escalação confirmada já na antevéspera do jogo, marcado para o sábado no Maracanã. O América tinha a chance de revanche contra o único adversário que o havia derrotado até ali no campeonato. E contaria com praticamente a mesma equipe da desafortunada partida do turno, decidida com um gol sem querer do zagueiro Zózimo. As duas únicas diferenças seriam as presenças de Leônidas na zaga no lugar de Décio e de Amaro no meio-campo na vaga de Wilson Santos (que atuou como volante naquele dia).

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O Bangu, por outro lado, mantinha apenas seis jogadores do confronto do turno (Ubirajara, Joel, Zózimo, Nilton dos Santos, Décio Esteves e Zé Maria). Entre as cinco novidades para o jogo da volta, estavam o zagueiro Mário Tito e o meia Ademir da Guia. O time da Zona Oeste também havia trocado de técnico, de lá para cá: Tim havia sido demitido no fim de setembro, após uma derrota para o Canto do Rio em Moça Bonita, e Zizinho assumira o comando do time no início do returno — mas ainda estava em busca de sua primeira vitória à frente dos alvirrubros.

Na noite de sábado, o América partiu para cima desde o primeiro minuto, quando Ubirajara teve trabalho para deter um chute de Antoninho. E aos sete, seria a vez de Jorge testar o arqueiro banguense num chute forte. Aquele início de jogo mostrava o time de Jorge Vieira muito bem em todos os setores — firme na defesa, dinâmico no meio-campo e envolvente no ataque — enquanto o adversário apresentava a mesma solidez na retaguarda, mas um ataque menos operante, em que pese os bons passes de Ademir da Guia no setor de criação.

Antoninho finaliza sobre o goleiro Ubirajara | Jornal dos Sports

Os alvirrubros aos poucos se acertaram, a partir dos 20 minutos, mas, para deixar patente a sua superioridade em campo, o América logo marcou: numa perfeita cobrança de falta, a bomba de Nilo passou exatamente por um buraco na malformada barreira banguense, fez a curva no ar e foi morrer no ângulo de Ubirajara. Após o gol, o América intensificou a pressão, criou chances e esteve muito perto de ampliar o placar com o mesmo Nilo aos 38, numa cabeçada que acertou a trave. O Bangu, por sua vez, só ameaçava em esporádicos contragolpes.

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O segundo tempo teve desenrolar semelhante: pressão sufocante do América nos primeiros 15 minutos e melhora do Bangu no segundo terço da etapa. O desfecho, porém, seria diferente uma vez que os rubros não balançaram as redes e ainda perderam Leônidas, lesionado e tendo de fazer número em campo, passando à ponta direita, com Calazans recuando à lateral. Nos minutos finais, mais inteiro fisicamente, o Bangu voltou a pressionar e teve ótima chance com Décio Esteves. Mas o América segurou a vitória e deu o troco no time da Zona Oeste.

No vestiário após o jogo, porém, o clima esquentou: “Um diretor, enquanto assistia ao jogo na tribuna (do Maracanã), e sofria tremendamente com o 1 a 0 que podia tornar possível uma reviravolta, desabafou como torcedor apaixonado que é, dizendo palavras pouco elogiosas com referência aos jogadores”, descreveu o Jornal dos Sports. As críticas chegaram aos ouvidos dos atletas, que se revoltaram. Alguns chegaram a chorar de raiva. Mas rapidamente outros cartolas saíram em defesa dos jogadores, os ânimos foram serenados e a paz, reestabelecida.

Wilson Santos, recuperado | JS

Este, no entanto, não seria o único problema que ficaria como rescaldo daquele jogo da revanche contra o Bangu: Leônidas teve suspeita de derrame no mesmo joelho do qual havia extraído o menisco e poderia desfalcar novamente o América por um longo período. Menos mal que Wilson Santos se recuperava bem do corte no lábio (que também atingiu a gengiva) sofrido contra o Olaria e tinha volta quase certa no próximo jogo dos rubros, contra o São Cristóvão, pela quarta rodada do returno, marcado para o fim de semana seguinte em São Januário.

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A vitória do América sobre o Bangu não provocou alterações na classificação, já que todos os outros clubes que ocupavam as cinco primeiras posições também venceram na rodada. Mas voltou a chamar a atenção a queda de produção do Fluminense, que suou para derrotar de virada o mesmo Olaria que havia sido goleado com facilidade pelo América no fim de semana anterior. A vitória tricolor por 2 a 1 no Maracanã só veio graças a um gol de cabeça do ponta Maurinho a sete minutos do fim, após o time de Zezé Moreira ter ido para o intervalo perdendo.

No domingo, dia seguinte à vitória sobre o Bangu, o América perdeu seu ex-presidente Álvaro Zamith, que ocupou o cargo em 1911, quando da fusão com o Haddock Lobo, e que também se tornaria o primeiro presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD, atual CBF), entre novembro de 1915 e novembro de 1916. Já na segunda-feira, um jogo em benefício do ex-lateral Hélio, cuja carreira foi encerrada no ano anterior por uma grave fratura na perna sofrida num América x Vasco, foi realizado no estádio botafoguense de General Severiano.

A partida, disputada entre os combinados da Zona Norte (formado majoritariamente por atletas de América e Vasco) e da Zona Sul (que mesclava nomes de Botafogo, Flamengo e Fluminense), contou com a presença dos americanos Pompeia, Jorge, Quarentinha, João Carlos e Nilo entre os titulares, além de Djalma, Amaro e Calazans, que entraram no decorrer do jogo. A vitória ficou com o time da Zona Norte por 4 a 2, com dois gols de Nilo e um de João Carlos. O mais importante, porém, foi mesmo o montante de pouco mais de Cr$ 800 mil arrecadado para Hélio.

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Enquanto isso, o presidente rubro Valdir Motta celebrava a grande fase vivida pelo time numa entrevista ao repórter Lorem Falcão publicada no Jornal dos Sports na edição de terça-feira, 28 de outubro: “Se eu disser que vejo com satisfação a campanha do América neste campeonato não estarei desnudando por completo a verdade. Tenho muito mais que satisfação: tenho orgulho autêntico, elevado ao máximo de potencialidade”, declarou o mandatário, tratando de encher a bola dos atletas após os incidentes de vestiário no último jogo.

E Valdir Motta prosseguia: “Não sou muito expansivo, nem nas alegrias, nem nas tristezas, mas não consigo furtar-me a exclamações dessa natureza quando analiso as atuações do meu time. Francamente é difícil ver tanto valor conjugado a tamanha dose de desprendimento. Só lamento que a situação financeira não permita, por enquanto, dar monetariamente aos jogadores o valor que merecem”, avaliou o mandatário, antes de explicar: “O futebol continua deficitário, mas a receita do quadro social coloca as coisas no devido pé”.

As esperanças de Motta para que a saúde financeira do clube melhorasse residiam nas rendas dos clássicos que o clube faria pelo Carioca a partir da quinta rodada. Mas antes disso, o jeito era entrar em campo e ganhar do São Cristóvão, lanterna da competição. Os cadetes pareciam querer deixar essa incômoda posição e começaram firmes na defesa e perigosos nos contra-ataques. Mas não resistiriam por muito tempo e logo o América marcaria dois gols em lances praticamente seguidos, aos 26 e aos 27 minutos da primeira etapa.

Contra o São Cristóvão, uma vitória sem sobressaltos | Jornal dos Sports

No primeiro gol, Antoninho passou pelo lateral Moacir e cruzou da linha de fundo. A bola passou por baixo do pé de um zagueiro e das mãos do goleiro Orlando e chegou até Quarentinha, que só teve o trabalho de escorar para as redes. O segundo nasceu de uma rebatida falha de cabeça do ponta Dejair que Nilo aproveitou já dentro da área para tocar no canto de Orlando. Na etapa final, o São Cristóvão baixou de vez a guarda, mas o América não aproveitou as inúmeras chances que criou — entre elas um chute forte de Jorge que acertou a trave.

A vitória tranquila — num jogo em que o América voltou a ter Wilson Santos na defesa — foi ainda mais celebrada depois que, na noite daquele mesmo sábado, 29 de outubro, o líder Fluminense parou no empate em 1 a 1 diante do Bonsucesso, o que reduzia sua folga na ponta da tabela para apenas um ponto. Com isso, o América adentrava novembro num momento importante para tentar alcançar os tricolores e ao mesmo tempo tendo logo adiante dois clássicos seguidos contra Flamengo e Vasco. Duros obstáculos num certame que se aproximava da reta final.

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No próximo capítulo, o penúltimo da saga rubra rumo ao título de 1960: cada vez mais visado pelos rivais pela ótima campanha, o América segue em sua perseguição de gato e rato com o Fluminense, tendo ainda de enfrentar outros problemas internos: mais baixas por lesões e um rumoroso caso de indisciplina — provocado, acreditem, por uma curiosa superstição.

*Emmanuel do Valle é jornalista e pesquisador da história do futebol brasileiro e internacional.

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