As brechas nos programas de pagamentos a criadores
Apesar de sua relevância e alcance, creators ainda são reféns das redes sociais, impedindo a abertura de caminho para que tornem-se as próprias plataformas
O novo Creativity Program Beta anunciado pelo TikTok promete ganhos de até 20 vezes mais do que o Fundo para Criadores, cujo encerramento está previsto para 16 de dezembro nos Estados Unidos.
Desde a sua criação há três anos, o programa saiu de US$ 200 milhões para US$ 2 bilhões em recursos pagos aos participantes. A divisão final, porém, era insuficiente. Há relatos de que os creators ganhavam centavos a cada mil visualizações de suas produções.
Sem divulgar os valores do novo fundo, o TikTok está em busca de produtores de vídeos longos, com número mínimo de 10.000 seguidores e com conteúdos geradores de pelo menos 100.000 views nos últimos 30 dias.
Enquanto isso, a Meta divulgou que agora existem 1 milhão de assinaturas pagas para criadores do Instagram, número ainda tímido comparado aos cerca de 2 bilhões de usuários mensais, segundo o The Verge.
Como parâmetro, o Patreon tem mais de 30 milhões de assinantes.
Lançado em julho de 2022, o sistema ganhou recentemente o botão “inscreva-se” no topo das postagens para incentivar a adesão. Além disso, os criadores podem oferecer teste gratuito por 30 dias.
Diferentemente da proposta do TikTok, as assinaturas do Instagram parecem mais um novo negócio gerador de receitas para a empresa do que um incentivo explícito para os seus creators.
Sejam uma saída para a não dependência do dinheiro (em queda abismal) da publicidade, ou uma fonte de apoio para reter os criadores, as modalidades de pagamentos à economia criativa revelam brechas em relação às mudanças de regras frequentes que jogam a favor das big techs.
A questão levantada pelo insider Rob Abelow traz uma provocação sobre como os criadores, apesar de sua relevância e alcance para estas redes, ainda são reféns de quem atua como distribuidora dos conteúdos.
“As regras estão sempre mudando, raramente a seu favor. Crie seus próprios modelos de negócios. Desenvolva seus próprios produtos. Seja dono de seus relacionamentos. Comece a se tornar a plataforma”, aconselhou o analista.
Tomar as rédeas por parte dos creators também implicaria em uma melhor relação com quem está disposto a pagar pelo acesso irrestrito.
A proliferação de serviços de assinaturas tem provocado o que Joan Westenberg chama de crescente fragmentação do conteúdo.
“ À medida em que as plataformas disputam a atenção dos clientes, os consumidores enfrentam inúmeras opções fragmentadas, cada uma exigindo uma assinatura individual. Isso resulta em custos mais elevados de acesso ao conteúdo e em uma experiência debilitante para o usuário ao lidar com múltiplas plataformas e assinaturas. A conveniência prometida das assinaturas está desgastada, deixando os clientes questionando os verdadeiros benefícios”, ponderou.
Na semana passada, mostrei o novo case do Spotify e como um modelo de negócios pautado por assinaturas direcionadas aos superfãs pode ser o pilar de plataformas centradas na relação artistas-fãs.
Aqui cabe uma boa comparação com o pedido de Abelow para que os creators “tornem-se as próprias plataformas.”
Conforme prometido, ainda detalharei este assunto, tendo o Patreon como base e suas dificuldades com este formato pague para apoiar/acessar.
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