Padrão ouro do jornalismo esportivo, Sports Illustrated fica à deriva após nova crise no grupo dono da marca
Arena Group, que tinha adquirido a licença para gerir a publicação até pelo menos 2029, abdicou da propriedade por causa de dívida. ABS procura nova editora para “garantir pilar de mídia apoiado por anúncio.” Fechar a conta e gerar rendimentos dentro da máquina de mídia gratuita, que é remixada, distribuída por algoritmos e gerada infinitamente, tornou-se inviável
Em meio a informações desencontradas sobre total de demissões, o futuro da Sports Illustrated será determinado por uma nova editora a ser escolhida pela Authentic Brands Group, dono da marca desde 2019.
Depois de informar que não conseguiria fazer um pagamento trimestral de US$ 3,75 milhões, o Arena Group, que tinha adquirido a licença da gestão até pelo menos 2029, abdicou da propriedade.
A dívida é apenas o sintoma mais emergente de uma crise que atravessou a última década e minou o padrão ouro do jornalismo esportivo, como Mike Freeman, do Usa Today, bem definiu a publicação.
Na verdade, o declínio da Sports Illustrated “nunca deixará de ser um choque”. Neil Best, do Newsday, foi taxativo ao dizer que a queda “traça um pouco de sua história de erros nos primeiros anos da era da Internet”, quando a SI “tomou uma decisão malfadada de favorecer a quantidade em vez da qualidade.”
Segundo o Front Office Sports , a ABG já estava em contato com potenciais substitutos, “cada vez mais frustrados com a forma como a Arena lida com uma das instituições mais reverenciadas do esporte dos EUA.”
O mandato foi marcado por acusações de má gestão, cortes de jornalistas e preocupações sobre a diminuição da qualidade da cobertura da SI. Mais recentemente, a publicação usou inteligência artificial (AI) para criar artigos atribuídos a autores inexistentes, fato que repercutiu mal e gerou a demissão de três editores.
Tenho mostrado com frequência como a corrida infinita pelo clickbait e a escala de audiência em detrimento da qualidade e otimizada para as plataformas algorítmicas das big techs criaram um ciclo vicioso que coloca a indústria da mídia contra a parede.
E qual seria a solução?
Em comunicado, a ABG diz que está empenhada em “garantir que o tradicional pilar de mídia da Sports Illustrated, apoiado por anúncios, tenha a melhor administração para preservar a integridade da marca.”
Ao mencionar “anúncios”, mesmo que de forma sutil, o grupo dá um recado e parece entender que a publicação ainda dependerá das receitas publicitárias para sobreviver.
No ano passado, a The Block Point analisou a relação deficitária NY Times X The Athletic, e indicou por que a monetização via acesso e publicidade estagnou. Aliás, é um case bem semelhante ao da ABG e SI.
Fechar a conta e gerar rendimentos dentro da máquina de mídia gratuita, que é remixada, distribuída por algoritmos e gerada infinitamente, tornou-se inviável.
A estrutura para a sustentabilidade econômica da mídia nativa da internet passa pelas comunidades e pelo pagamento pelo acesso a um espaço privado gerador de valor para seus membros.
Este é o caminho que a Mundial, uma outra publicação histórica e icônica de futebol e pertencente a Footballco, optou por seguir, conforme mostrei na semana passada.
Confira esta história e outros artigos relacionados que trazem mais cases e insights sobre o futuro da mídia.
No ano passado, a The Block Point apresentou o conceito mídia de luxo: membros que pagam pelo espaço x anunciantes que pagam pelo alcance
O próximo negócio deste setor será sustentado por uma história de comunidade e patrocínio. A relação deficitária NY Times X The Athletic mostra por que a monetização via acesso e publicidade estagnou
Na semana passada, trouxe o case Mundial para explicar como funcionará o negócio das editorias de nicho
Tradicional publicação de cultura e lifestyle de futebol prioriza assinaturas e construção de comunidades por meio de boletins informativos e tráfego direto. A escalada mira crescimento orgânico através de conexões diretas em vez de visualizações de página dentro de seu canal no Discord
Notem que há uma validação do conceito de mídia de luxo
Contei, ontem, sobre a queda da Pitchfork, mais uma a integrar lista de negócios de mídia que tornam-se insustentáveis financeiramente por não encontrar a receita da monetização na era do conteúdo abundante e gratuito
Em uma época em que a Rolling Stone já exercia uma influência notória, a Pitchfork conquistou seu devido espaço movida por suas críticas obsessivas, audaciosas e muitas vezes desagradáveis. Em 28 anos, distribuiu um 10 para álbuns lançados somente 11 vezes, conforme lembrou Casey Newton.
Para o blog Decential Media, a decisão tomada pela Condè Nast , que adquiriu a marca independente em 2015, derruba uma das balaustradas da era da música na Internet ( e uma das últimas do género).
Em maio passado, a The Block Point analisou detalhadamente a crise da mídia a partir da quebra da Vice e alertou: derrocada acontecia na sequência de quebras no setor, expondo saturação do modelo de alcance e cliques. Contra ditadura algorítmica, formato centrado na comunidade pode ser bote de resgate desta indústria
O pedido de falência é resultado de um período desafiador para muitas empresas de tecnologia e mídia que vêm cortando custos para sobreviver a um mercado publicitário fraco em meio à desaceleração do crescimento econômico.
Projetando o futuro deste mercado a partir da distinção entre audiência e comunidade, mostramos como recompensar a participação dentro de grupos impulsiona a criação de valor.
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