Boas produções marcam a ficção brasileira em 2013

“Pecado Mortal” e “A Menina sem Qualidades” foram as melhores obras da TV neste ano

Bruno Viterbo
Ficção brasileira

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2013 foi um ano de transformações na mídia brasileira. O jornalismo enfrenta sua pior crise desde o advento da internet como principal meio de informação, as grandes empresas de mídia perdem cada vez mais a credibilidade e a TV aberta sofre cada vez mais quedas de audiência. Por outro lado, a TV paga (junte também plataformas como Netflix e YouTube) e as redes sociais são as “culpadas” desse movimento de transição, que ninguém sabe para onde vai.

Na TV aberta, a situação é a mesma. Muitas apostas juntas com muito conservadorismo e pudor em arriscar alto para não prejudicar os já baixos índices. Mas foi um ano interessante em nossa teledramaturgia.

A primeira a ser exibida foi a série “O Canto da Sereia”, na Globo. Um ótimo produto exibido em quatro capítulos, baseado no livro homônimo de Nelson Mota. Nas novelas, “Flor do Caribe” e “Joia Rara”, ambas das seis, trouxeram histórias já conhecidas com uma roupagem muito bem cuidada. “Sangue Bom”, novela das sete, é considerada por alguns como a melhor novela da emissora no ano por ter levado um texto e histórias bem contadas por Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari. Também teve a estréia do seriado “Pé na Cova”, com um humor pouco visto antes na emissora: subversivo, cínico, sem medo do politicamente correto. O remake de “Saramandaia” não fez sucesso, mas trouxe efeitos especiais nunca antes vistos na TV brasileira.

Amor à Vida”, que peca no texto pobre de Walcyr Carrasco, atravessará o ano como a maior audiência da emissora. Entre os fracassos, a série “O Dentista Mascarado” apostou no humor de Marcelo Adnet. Não funcionou. A série enfrentou baixa audiência e críticas ao trabalho de Adnet. “Além do Horizonte”, nova novela das sete, amarga a pior audiência do horário. Injustamente, pois a trama é uma aposta ousada de uma equipe estreante que não teve medo de mostrar um outro tipo de novela.

A Record, que passa por uma crise financeira, preferiu investir muito em poucas produções, o que prejudica a continuidade dos trabalhos. Foram apenas três: duas novelas e uma série. “José do Egito” foi o amadurecimento das produções bíblicas da emissora, com efeitos e produção de arte muito bem cuidados. Apesar do tema religioso, a Record faz bem em apostar em um gênero pouco explorado em nossa teledramaturgia. Nas novelas, “Dona Xepa” (mais uma versão da novela de 1977) foi exibida em 90 capítulos. Marcou uma média geral de 6 pontos. Logo depois, estreou a “superprodução” “Pecado Mortal”, que marca a estreia do ex-global Carlos Lombardi na emissora. Com uma trama ágil e um texto bem escrito, a novela é a melhor já feita pela Record desde a retomada na produção em 2004. No entanto, a audiência não corresponde à qualidade do produto apresentado e vem atingindo uma média que varia entre 5 e 6 pontos. Pouco, muito pouco para a melhor novela do ano.

O SBT estreou apenas o remake de “Chiquititas”. Uma aposta num público infantil que pouco recebe a atenção de nossas grandes emissoras. Vem dado certo: a novela tem marcado 10 pontos, índice satisfatório à emissora.

Por fim, a MTV se despediu da TV aberta com dignidade. Pouco antes do encerramento das transmissões, exibiu a série “A Menina sem Qualidades”, o melhor produto de ficção no ano. Bianca Comparato, a protagonista, foi gigante. O trabalho foi recompensado: a atriz, ao lado de Elisabeth Savalla (no ar em “Amor à Vida”, como Márcia), foi a vencedora do prêmio de melhor atriz pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte). Felipe Hirsch, o diretor da série, também foi premiado. “A Menina Sem Qualidades” foi o sopro de renovação que a TV precisava. Pena que foi exibida numa emissora fadada ao fim, com traço de audiência. Privilegiados foram os que tiveram oportunidade de assistir.

Cena de “Amores Roubados”, primeira estreia de 2014

2013 termina sem perspectivas de novas produções, já que poucos pilotos foram produzidos. A única certeza é a estréia de “A Teia”, seriado policial que a Globo prometeu para 2013, mas não exibiu. Dizem que é uma produção pesada e que está sofrendo cortes. Não surpreende, dado o conservadorismo da Globo em não querer arriscar demais. A emissora também estreará a que pode ser a última novela de Manoel Carlos, “Em Família”. A Globo também mostrará, no início do ano, “Amores Roubados”, série que tem repercutido mais pela polêmica entre o suposto relacionamento entre os protagonistas Cauã Reymond e Ísis Valverde. A Record já produz a nova série bíblica, “Os Milagres de Jesus” e o SBT vem com “Patrulha Salvadora”, do mesmo elenco do sucesso “Carrossel”.

Porém, o melhor de 2014, pelo menos até agora, fica com a exibição de “Breaking Bad”, na Record.

Atualização em 17/12 às 11h19: Esqueci de citar “A Mulher do Prefeito”, série que a Globo estreou este ano nas noites de sexta-feira. Apesar do elenco afiado (Tony Ramos, Denise Fraga e Felipe Abib) e do texto bem escrito, o produto parece “jogado” no horário. Não chega a ousar e por esse motivo deveria estar em um horário mais cedo. A audiência não empolgou e as sextas mantém-se como um dos grandes problemas da emissora.

Atualização em 17/12 às 23h41: Menção honrosa à “Pé na Cova”. O seriado teve duas temporadas exibidas este ano com sucesso e já garantiu uma terceira em 2014. O último episódio foi exibido no momento que escrevo essa atualização e, sem dúvidas, foi a melhor coisa que a Globo fez em 2013. Subversivo, cínico, sem medo do exagero e do politicamente correto — ainda que por vezes moralista —, “Pé na Cova” é também a melhor comédia dos últimos anos na TV aberta. A família de Russo (Miguel Falabella) tem tudo para substituir o porre chamado “A Grande Família”.

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Bruno Viterbo
Ficção brasileira

Redator, às vezes fotógrafo (como na foto ao lado) e às vezes jornalista. Mas sempre encontrando tempo para assistir alguma coisa (boa) na TV.