“The Will To Change”: oportunizando o amor aos homens

Resenha de The Will To Change: Men, Masculinity and Love, por bell hooks

Carol Correia
Revista Subjetiva
4 min readMay 11, 2020

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Retirado de Feminist Reads

Em meio a minhas leituras das obras de bell hooks, duas obras se destacam [para mim]: All about love e The will to change, e ambas têm algo em comum: falam sobre amor.

A escrita de bell hooks sobre amor não é piegas, não é repleta de clichês, não é romantizada; é tocante, é comovente, é visionária.

Em All about love, ela tenta estabelecer como amar, como ser amado, sobre os benefícios do amor e como todos os precisamos. Já em The Will to Change, ela volta a discussão do amor para os homens; que em uma sociedade patriarcal os rouba da capacidade de sentir, os roubando, portanto, a capacidade de estabelecer relações amorosas consigo mesmos e com outros.

Compreender o papel do patriarcado na construção de uma masculinidade [patriarcal] que prejudica a identidade de meninos e homens; de modo a prometer sucesso e grandiosidade a homens, desde que eles exerçam dominância sobre mulheres, crianças e homens mais fracos que eles, é fundamental para analisar a falta de satisfação, a infelicidade e a dor de homens.

Como hooks fala:

Se o patriarcado fosse verdadeiramente recompensador para os homens, a violência e o vício na vida familiar, tão onipresentes, não existiriam. (…) Se o patriarcado fosse recompensador, a insatisfação avassaladora que muitos homens sentem em suas vidas profissionais — uma insatisfação amplamente documentada no trabalho de Studs Terkel e ecoada no tratado de Faludi — não existiria.

hooks reflete sobre como essa masculinidade é encorajada pelos pais e mães, pelos colegas de escola e pela mídia. Ela observa a solidão de meninos e rapazes que constantemente recebem a mensagem de que eles devem ser violentos. A falta de ensino de que meninos e rapazes precisam aprender a lidar com seus sentimentos através de palavras, não de violência, prejudica a formação de uma inteligência emocional e dificulta sua interação com outras pessoas.

A mesma comenta sobre como a homofobia é utilizada, junto de outros artifícios, para podar meninos e homens a serem quem são sem vergonha.

Utilizando da frase “você não pode curar o que você não sente”, hooks fala da necessidade de cura para homens, e da dificuldade que é essa restauração já que eles não estão em contato consigo mesmo s— eles não estão em contato com seus sentimentos.

A máscara da masculinidade patriarcal é ensinada desde muito cedo a meninos e isso significa que desde muito cedo meninos aprendem a criar um self de si que corresponda a essas características da masculinidade hegemônica. Essa máscara os priva de amar.

Alongo-me nessa resenha, pois o livro mexeu comigo. The Will to Change foi um dos poucos livros que li que demonstra verdadeira preocupação para com os homens por um viés feminista. Em The Will to Change, hooks está preocupada com a humanidade de homens. Construir uma identidade que corresponda aos moldes patriarcais os roubou de sua humanidade, os roubou da capacidade de amar.

Felizmente, a discussão sobre masculinidade e outras masculinidades possíveis que não sejam patriarcais está aumentando, ou seja, homens desejam mudar; eles não são incapazes de melhorar, como muitas de nós já pensamos.

Homens merecem amar e ser amados; assim como eles precisam do amor para viverem plenamente. The Will to Change oportuniza aos homens a possibilidade de mudarem e do amor. O amor, para hooks, possui um poder transformador em que possibilita mudanças sociais. Homens conseguirem praticar o amor fará uma mudança social radical em que alterará a criação de meninos, melhorará as dinâmicas familiares, acabará com a violência masculina, possibilitará a construção de homens íntegros.

Eu não apenas recomendo essa leitura, eu urjo a sua leitura, assim como urjo para que suas reflexões sejam ampliadas mundo a fora.

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Carol Correia
Revista Subjetiva

uma coleção de traduções e textos sobre feminismo, cultura do estupro e racismo (em maior parte). email: carolcorreia21@yahoo.com.br