A narrativa dos bastidores que colocou a Netflix nos esportes tem esbarrado na resistência de atletas

Em meio à divulgação de “Beckham”, serviço de streaming encontra dificuldades para ter passe livre durante gravações que dão sequência a séries já lançadas

Eduardo Mendes
3 min readSep 23, 2023

Quando a equipe de filmagem pergunta por que a cozinha está impecavelmente limpa, David Beckham explica: “Eu a limpo tão bem, mas não tenho certeza se ela é realmente apreciada tanto pela minha esposa. Enquanto todos estão na cama eu saio por aí, limpo as velas, acendo as luzes na posição certa, certifico-me de que tudo está arrumado.”

Este foi o primeiro clipe mostrado pela Netflix, no fim de abril, sobre a rotina matinal do ex-jogador. A luta contra o TOC já havia sido relatada por Beckham em uma longa entrevista ao Daily Mail, no longínquo ano de 2006, quando ele ainda defendia o Real Madrid.

Desta vez, em 2023, poderemos ver na intimidade como o atual empresário lida com o transtorno ligado à limpeza e organização, além de outros momentos que contam sobre como ele “tornou-se um fenômeno global.”

Nesta semana, a Netflix divulgou oficialmente o vídeo que anuncia “Beckham”, o documentário dividido em quatro capítulos que irá ao ar em 4 de outubro, e promete trazer histórias inéditas sobre o ex- futebolista e sua trajetória.

Balizada pelo sucesso de Drive to Survive, a plataforma líder segue apostando em sua força narrativa para levar os esportes ao streaming, contando histórias e revelando detalhes da privacidade dos astros.

No momento de eclosão e do apelo por conteúdos sobre bastidores, o formato teria atingido uma certa fadiga? Foi este o termo usado pelo Front Office Sports para relatar a postura “menos acolhedora de alguns atletas para as câmeras.”

Para a Ryder Cup que tem início na próxima sexta, na Itália, a Netflix não terá acesso total à equipe EUA para concluir as filmagens da 2ª temporada de “Full Swing”. O capitão dos EUA, Zach Johnson, disse que os 12 golfistas decidiram não permitir que os profissionais da empresa entrassem em suas salas.

Enquanto isso, a série “Quarterback” protagonizada por Patrick Mahomes, Kirk Cousins e Marcus Mariota, tem tido problemas para encontrar participantes para a continuidade da série.

“Acho que, talvez, alguns caras estejam pensando que será uma distração”, disse Peyton Manning, produtor executivo do programa, ao FOS.

Recentemente, a Fortune trouxe uma reportagem, destacando o fato de a Netflix não ter um único acordo de transmissão, “mas está dominando o esporte.”

Drive to Survive aparece rotineiramente na lista das dez produções mais assistidas, com mais de 6,8 milhões visualizações. Segundo a Nielsen, o programa provocou um aumento de 2,3% na audiência da F1, que conseguiu vender os direitos de transmissão para a ESPN por mais de US$ 75 milhões, em 2022.

Depois da F1, o serviço incorporou rapidamente aos roteiros outras modalidades como tênis, golfe, atletismo e ciclismo.

Para Dan Rayburn, analista e consultor sobre streaming, “essa estratégia permite que a Netflix alcance o mesmo público amante de esportes sem ter que pagar o alto preço de exibí-lo ao vivo.”

Se o desgaste em relação à exibição dos bastidores pode indicar algum cerco à estratégia no longo prazo, não podemos projetar agora. Por ora, a fórmula tem funcionado.

Amanhã, mostrarei detalhadamente a visão da Apple sobre streaming e esportes, e por que a posição da Maçã destoa totalmente do show revelador de intimidades da Netflix.

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Eduardo Mendes

Advisor for Culture and Innovation | Co-Founder na The Block Point | Web3 & New Technologies | Strategy, Research & Content | Sports | Entertainment | Media