13. Sozinho, Junto

Você já tentou escrever um romance? Sim? Então você sabe o desespero incessante que é você sentado, sozinho, em frente a um cursor piscando.

Agora, imagine como seria escrever um romance sendo adolescente. Você conseguiria motivação suficiente para terminar um livro inteiro nessa idade? Para a maioria das pessoas, tal perspectiva parece impossível.

Contudo, em 2009, como parte da primeira imersão de escrita do Unschool Adventures, nós levamos 15 adolescentes para passar um mês numa casa de praia no estado do Oregon e assistimos a cada um deles escrever 50.000 palavras da mais pura ficção.

Nós repetimos a dose no Colorado com 20 jovens. Depois em Cabo Cod com 25. Todo ano presenciávamos os jovens — ainda que apaixonados pela escrita, a maioria deles amadores destreinados — escrevendo toneladas de texto.

Qual era o segredo? Nós treinamos intensamente os jovens ou monitoramos de perto sua contagem diária de palavras? Nós proibimos conversas que não eram relacionadas à escrita, fizemos eles dormirem cedo para assegurar o tempo de descanso necessário, requisitamos a presença de todos em todas as oficinas e atividades em grupo, ou será que utilizamos algum truque mais complexo para motivá-los a trabalhar rumo aos seus objetivos?

Nós não fizemos nada disso.

O segredo do sucesso das imersões de escrita, creio eu, foi a criação de um espaço para que nossos escritores trabalhassem sozinhos, juntos.

Aqui vai um gostinho de como era a vida na imersão de escrita. Imagine acordar numa cama beliche com o cheiro de pão recém-saído do forno, ir cambaleando até uma área comum e lá encontrar quatro pessoas digitando disciplinadamente em seus notebooks. O que parece a coisa lógica a se fazer? Começar a digitar também.

Mas vamos supor que você não faça isso. Você, ignorando a cena, opta por fazer uma caminhada na praia. Ao passar pela cafeteria na volta, você tropeça em mais dois dos seus colegas, e ambos estão… escrevendo. O que parece a coisa lógica a se fazer? Escrever.

Mas talvez, ainda assim, você resista. Você volta para a casa e lá se depara com o desafio da “Hora Intensa”, um jogo para saber quem consegue agregar mais palavras em seu texto durante uma hora. Ou então uma oficina sobre enredos de uma narrativa. Ou uma conversa informal sobre como se desenvolver um personagem. O que você faz em seguida? Bom, provavelmente você começará a escrever.

Na imersão de escrita, não importa onde você vá, algum tipo de escrita está acontecendo. As pessoas estão trabalhando em seus livros individuais, mas estão fazendo isso juntas. Na cultura que um espaço como esse estabelece, escrever é simplesmente a coisa natural a se fazer. Tão natural quanto respirar.

E então, de repente é o final do mês e você escreveu 50.000 palavras, mas com muito menos dor e sofrimento do que se você tivesse tentado fazer o mesmo por conta própria.

Aprendizes autodirigidos muitas vezes precisam lidar com desafios solitários simplesmente porque eles não estão fazendo a mesma coisa que todo mundo. E assim eles acabam se culpando por não se sentirem motivados.

Mas a aprendizagem autodirigida não significa que você precisa fazer tudo sozinho. Inserir-se na atmosfera certa, com pessoas que compartilham dos seus interesses e dosar a quantidade exata de estrutura pode fazer toda a diferença.

Quando o desafio do trabalho individual fica sufocante, reúna uma comunidade de pessoas que compartilham o mesmo desafio.

Humanos são criaturas que só vivem em bando. Se nos colocam numa solitária, enlouquecemos. Isso é verdade até mesmo para pessoas introvertidas; somente na última porção da curva normal é que você encontra pessoas que anseiam por solidão absoluta durante semanas ou meses (e essas pessoas costumam ser bem esquisitas, e é sempre complicado dizer se a esquisitice é causa ou efeito).

De toda forma, estar rodeado por um monte de pessoas que te interrompem constantemente faz com que seja difícil manter o foco. É por isso que nossa sociedade inventou a biblioteca, a cafeteria e os espaços de coworking: lugares em que você consegue se concentrar, ainda que esteja cercado de gente.

O segredo é se cercar de pessoas que não estão trabalhando na mesma coisa que você. Assim você não será interrompido inutilmente: bom, talvez algum funcionário te pergunte se ele deve te trazer mais uma xícara de café, e certamente você será interrompido se o prédio pegar fogo, mas caso isso não aconteça você conseguirá trabalhar tranquilamente naquilo que importa.

Comentário de Michael F. Booth num post da Hacker News

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Alex Bretas
A Arte da Aprendizagem Autodirigida

Alex Bretas é escritor, palestrante e fundador do Mol, a maior comunidade de aprendizagem autodirigida do Brasil. Saiba mais em www.alexbretas.com.