EDITORIAL | Há dois anos, uma nova revista

A Revista Brado nasceu no Dia Nacional da Liberdade de Imprensa

Revista Brado
Revista Brado
5 min readJun 7, 2022

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Reprodução de rascunho da primeira logo da Brado (2020). Arte: Iáscara Cotta

H á dois anos, a Revista Brado lançava seu primeiro editorial. Nele, anunciamos:

“Esta Revista toma para sua estreia este dia como marco simbólico de como atuaremos: com ética, rigor e compromisso, defendendo acima de tudo e gozando da liberdade conquistada a duras penas por exímios e exemplares colegas de profissão e ídolos, que deram suas vidas e sua liberdade pela liberdade de informar. Governos e oposições são passageiros. A imprensa profissional, não”.

Era um domingo, e naquele dia havia manifestações contra e a favor do presidente Jair Bolsonaro em diversas cidades do país. Nas semanas anteriores, eram divulgadas as gravações da reunião ministerial de 22 de abril; o Ministério da Saúde, recém ocupado pelo general Eduardo Pazuello, tentava maquiar os dados sobre a pandemia da Covid-19; o governo e seus apoiadores escalavam o discurso golpista; o Brasil se aproximava das mil mortes diárias por Covid; e protestos antirracistas sacudiam os Estados Unidos e o mundo após a morte de George Floyd.

Esta Revista foi idealizada e iniciada no que talvez tenha sido o momento mais disruptivo e caótico que as gerações pós-democratização viveram no país. Um momento em que a crise econômica, o desemprego e a pandemia traziam de volta o fantasma da fome, em que democracias — não só a brasileira — enfrentavam seus maiores desafios desde a queda do Muro de Berlim, em que uma doença sobre a qual ainda pouco se conhecia promovia cenas de horror em todo o mundo. Sobretudo, um momento em que o jornalismo se provava mais que necessário, diante de uma maré de desinformação misturada a um contexto de hiperinformação. Um momento em que o Jornal Nacional entrava no ar pedindo ‘calma’.

A data que escolhemos para o nascimento da Brado também não foi por acaso. 7 de junho é o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa. Poucas semanas antes, o repórter Dida Sampaio, do Estadão, havia sido agredido por manifestantes bolsonaristas em Brasília; um relatório da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) demonstrava que 2019 quebrou recordes de ataques à imprensa e a jornalistas no país; o governo tentava esconder dados de uma pandemia que matava mil brasileiros por dia, em meio a agressões sucessivas promovidas pelo próprio presidente no cercadinho do Palácio da Alvorada. Naquele 7 de junho, para nós, estudantes e profissionais da informação, ainda mais importante do que nos proteger do vírus era demonstrar publicamente nossa posição em favor das condições básicas para o exercício livre e seguro da profissão que escolhemos.

Tudo foi pensado por nossa equipe para que naquela data se tornasse acessível uma revista embebida pelo espírito do tempo em que ela foi criada. Nossa primeira identidade visual trazia cores que reforçavam nosso compromisso com a informação, com a democracia e com a liberdade e que referenciavam as tradições do jornalismo brasileiro, além de uma logo forte como a posição que passaríamos a marcar. Nosso slogan, “Para que todos possam ouvir”, fala por si só, assim como nosso nome: Brado. Nossa equipe, formada por pessoas de diversas áreas e de diversas opiniões políticas, era — e é — exatamente o que queríamos: diversa e plural, fazendo jus à nossa linha editorial que exige de todos apenas um ponto em comum: um compromisso incontestável com a democracia, os direitos humanos e as liberdades de expressão, opinião e imprensa.

Menos de dois meses após nossa estreia, iniciamos uma campanha, inspirada no “#UseAmareloPelaDemocracia”, da Folha de S. Paulo, na qual entrevistamos personalidades importantes e destacadas no Espírito Santo e no Brasil, como a epidemiologista Ethel Maciel, o economista José Luís Oreiro, o jornalista Fábio Malini, a ativista Deborah Sabará e os políticos Camila Valadão e Sergio Majeski. Também tivemos campanhas, integrando todas as nossas dez editorias e as nossas equipes de chargistas e de Comunicação, sobre o combate e prevenção à Aids, o combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes e a Agenda 2030 da ONU, e teremos, ainda neste mês, uma campanha sobre as mídias sociais.

Também participamos da cobertura do debate entre os candidatos à prefeitura de Vitória, em 2020, realizado pelo grupo Universidade Vai Às Urnas ES(UVAU-ES), e entrevistamos, ao longo de nossa trajetória, outras figuras de destaque no Espírito Santo e no país, como o rapper Cesar MC, a escritora Bernadette Lyra, o líder do Movimento Acredito no Rio de Janeiro Thiago Süssekind, o biólogo André Aroeira e a atriz Laura Cardoso.

Em dois anos, publicamos editoriais contra a violência policial, o racismo, a misoginia e a LGBTfobia, em defesa da democracia, da cultura e do meio ambiente, e nos posicionamos, após o 7 de setembro golpista, a favor do impeachment do presidente Jair Bolsonaro.

A revista cresceu, atingiu novos públicos, amadureceu, se transformou, e com ela se transformou também nossa identidade visual. Contudo, nossos pilares nunca se transformarão. Esta é uma revista que tem lado: o lado da democracia, da justiça e da ética — e, enquanto existir, nunca deixará de ter. Nossa credibilidade advém desse compromisso infatigável.

Reconhecemos que a Brado ainda é uma revista em formação, mas já nos orgulhamos — e muito — da nossa equipe e da nossa trajetória nesses dois anos de existência, nos quais acreditamos que cumprimos com qualidade o papel ao qual nos propusemos. Com todas as dificuldades — financeiras, organizacionais e de diversas outras naturezas —, entregamos, em todas as nossas matérias, informações, opiniões, análises e críticas com compromisso factual, profundidade e credibilidade.

Reiteramos, neste 7 de junho de um ano que será decisivo para tudo que defendemos, o nosso compromisso inabalável com tudo que já foi citado, e encerramos este editorial reforçando os últimos parágrafos do editorial lançado há um ano, no primeiro aniversário da Brado:

“Enquanto nossos dedos não forem arrancados e nossas vozes não forem silenciadas, o Brado que ali nasceu não cessará de gritar. Não há ameaça, ataque, censura, prisão, tortura ou assassinato capaz de roubar de um povo uma liberdade conquistada e experimentada. O Brasil não se entregará novamente à sombra do medo e ao horror do autoritarismo.

Repudiamos veementemente quaisquer ataques direcionados à imprensa e a todas as instituições democráticas, venham de onde vier. E amaldiçoamos a tirania, como o Dr. Ulysses Guimarães, pai da Constituição de 1988, ‘onde quer que ela desgrace homens e nações’.

A democracia não é negociável”.

Este texto representa toda a equipe da Revista Brado.

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