A dinastia do YouTube caminha para virar mais uma década

Enquanto acompanha TikTok voltar atenções para vídeos longos, plataforma segue como a preferida da Gen Z, e vê seu maior criador lançar ferramentas para potencializar conteúdos por meio de análise de dados. Domínio da rede de vídeos também abre novas possibilidades de negócios suportados pelas tecnologias digitais

Eduardo Mendes
8 min readDec 16, 2023
( Ilustração de Kate Walker)

Os dados que orientaram cada decisão tomada por MrBeast para se tornar disparadamente o maior criador do YouTube, agora, estão disponíveis na ViewStats, a plataforma criada por ele para analisar minuciosamente o fluxo de informações dos canais na rede de vídeos.

As métricas contabilizam desde números simples, como visualizações e assinantes, a estatísticas mais avançadas, do tipo receita estimada e crescimento projetado.

Um dos recursos mais promissores traz uma página que mostra os resultados dos testes A/B envolvendo as miniaturas de um vídeo. Os usuários podem acessar as classificações dos conteúdos com melhor desempenho de cada canal e dividir as contagens de views entre uploads de formato longo e curto.

Por enquanto, o ViewStats não demanda assinatura e é livre de anúncios.

O mais novo negócio do MrBeast tem como sócio Chucky Appleby, um criador de conteúdos e empresário que trabalha na sede da empresa, em Carolina do Norte.

Aficionado por dados, Appleby passou a última década administrando canais no YouTube e, em 2019, mudou-se para Greenville para trabalhar com Jimmy Donaldson, o verdadeiro nome do influenciador. Ali, eles começaram as mastermind calls com o intuito de aperfeiçoar os vídeos municiados por muito estudo de estatísticas.

A Forbes prevê que o MrBeast pode mais do que dobrar seus ganhos em 2024, batendo US$ 110 milhões. Ao estimar que o negócio do criador vale US$ 500 milhões, a publicação questionou se Donaldson pode alcançar, em breve, o status de primeiro bilionário do YouTube.

Nove em cada dez adolescentes norte-americanos usam o YouTube. A despeito de uma ligeira queda comparada a 2022–95 para 93 — a plataforma segue reinando.

E quem confirma este domínio é o estudo feito pelo Pew Research Center com 1.453 adolescentes nos Estados Unidos.

Considerando o acesso diário em aplicativos sociais, o YouTube é visto por 71% deles. Na sequência, aparecem TikTok (58%) e Snapchat (51%).

Recentemente, executivos da empresa ligaram o sinal de alerta, demonstrando preocupações com o negócio por trás dos vídeos curtos: os shorts poderiam canibalizar o formato longo.

Conteúdos com menor duração têm poucas oportunidades para anunciantes e taxa de cliques mais baixas. E isso está impactando nas margens.

Ironicamente, a avaliação interna do YouTube acontece no momento em que o TikTok começa a incentivar seus usuários a produzirem vídeos maiores.

“Pode ser apenas que o TikTok esteja de olho no prêmio de se tornar o lar padrão das identidades on-line da Geração Z. O YouTube é parte integrante da Internet há tanto tempo que é semelhante à nossa Biblioteca de Alexandria. O TikTok, provavelmente, quer esse lugar na cultura daqui para frente e se vê como tendo uma chance de chegar lá.”

A disputa pelo posto de plataforma preferida da Gen Z é o cerne do debate promovido por Hanna Kahlert. Para a analista de tendências culturais, existe uma aspiração do TikTok a se parecer cada vez mais com o YouTube.

Quando despontou para reinventar o negócio das mídias sociais, o aplicativo da ByteDance combinou os influenciadores do Instagram e os criadores do YouTube, transformando-os em uma única persona: “o criador como influenciador, reunindo personalidade, marca e conteúdo em clipes facilmente digeríveis que os usuários poderiam consumir centenas de uma vez”, escreveu Kahlert.

O vídeo de formato curto, porém, leva ao looping infinito do jogo da descoberta.

“Parece ótimo para os aspirantes a criadores — até que eles percebam que estão em um jogo de serem descobertos constantemente, mas raramente conseguem atingir o mesmo público várias vezes, muito menos transformá-los em fãs”, avaliou a insider.

Então, começamos a entender por que o TikTok volta seu espelho para o concorrente: o YouTube mira o fandom.

“(É) o formato curto levando ao formato longo, no caso do YouTube, e depois o formato longo levando a bate-papos ao vivo, seguidores e comentários. Claramente, isso está funcionando, pois o YouTube e o Snapchat continuam firmes em suas taxas de adoção e uso semanal, apesar de serem maduros”, explicou Kahlert.

E a pesquisa do Pew Research Center está aí para ratificar o reinado do YouTube e mostrar que a rede social de vídeos nascida em 2005, quase uma década antes do TikTok, segue firme no trono, apesar das ameaças entrantes.

O FUTURO DA MONETIZAÇÃO DE CONTEÚDOS

Agora, voltemos ao MrBeast. Donaldson criou um modelo de negócios de distribuição de dinheiro via YouTube para acumular visualizações responsáveis por turbinar seus ganhos online e offline.

A despeito do triunfo deste formato, seus apoiadores e quem impulsionam os conteúdos quando assinam o canal e compartilham os vídeos, ficam à mercê dos ganhos reais. Ou seja, eles não têm a oportunidade de compartilhar do real sucesso milionário do MrBeast.

No início deste mês, mostrei como o renomado DJ e produtor Colyn está usando o YouTube para permitir que seus fãs tenham uma participação na receita gerada pelo documentário lançado por ele na rede de vídeos.

Em suma, o holandês está levando a copropriedade aos seus apoiadores mais fiéis.

Trata-se de uma iniciativa inédita e totalmente inovadora para a indústria musical e a creator economy.

É um conteúdo que empodera uma base cuja participação não se limita a ouvir músicas no streaming. Ou seja, Colyn está transformando a experiência casual e passiva em uma conexão profunda com seu fandom.

Depois de três semanas de campanha, o produtor ganhou 554 sócios dos royalties do primeiro episódio da série. Além disso, seu canal saiu de 9,45 mil para mais de 10,2 mil inscritos.

Usei a plataforma do MrBeast para checar outras métricas do canal neste período. O @colyn_music, entretanto, ainda não havia sido adicionado à biblioteca. O curioso é que o próprio ViewStats dá a opção para você inseri-lo para que estatísticas sejam geradas. Brilhante!

Depois de incluir o canal do Colyn, recebi o aviso: check back soon!

A proposta inovadora de Colyn é viabilizada pela Talentir, uma startup suíço-austríaca que está transformando os vídeos do YouTube em uma classe de ativos, permitindo que os criadores compartilhem, transfiram e negociem seu conteúdo.

Topei o desafio de uma colaboração com a Talentir para o Brasil. Juntos, iremos propor uma transformação sobre como o conteúdo é monetizado e partilhado.

No mar infinito, abundante e gratuito de conteúdos, e em um momento em que as assinaturas estão longe de solucionar o problema de monetização, soluções como as da Talentir sinalizam o caminho para o qual esta indústria poderá seguir.

E o surgimento de plataformas centradas em aproximar criadores e artistas e sua base fiel, reforça a oportunidade da janela para adicionar cada vez mais personalização em meio à queda do consumo em massa nas megaplataformas.

Lembram-se da principal diferença mencionada por Hanna Kahlert para distinguir o YouTube do TikTok? Fandom!

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Eduardo Mendes

Advisor for Culture and Innovation | Co-Founder na The Block Point | Web3 & New Technologies | Strategy, Research & Content | Sports | Entertainment | Media